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CAPÍTULO 3 – O PROCESSO DE ANÁLISE

3.6 Aspectos Gerais Comparativos

Com a definição apresentada sobre o marco político de ação que sustenta todo aparato da UNESCO para suas ações internacionais no campo da educação, inicio as discussões pontuais sobre as políticas de educação não-formal que estão em funcionamento em alguns países do globo, na tentativa de compreender a operacionalização de um sistema de gestão complexo que usufrui de mecanismos dos governos locais e concepção teórica internacional em um mesmo pacote.

A política de educação não-formal da UNESCO obedece a alguns critérios definidos pela organização quanto a sua aplicabilidade técnica, público alvo, metas e objetivos a serem alcançados, como observado no capítulo anterior, e seus mecanismos de avaliação compreendem análises locais dentro de um contexto difundido pelo sistema NFE-MIS amparado por uma estrutura jurídico-política que fundamente os campos de ações dos programas e projetos da área tal qual o pretendido pelo sistema RVA. Tais articulações nas etapas de implantação e avaliação das políticas de educação não-formal podem configurar-se de formas distintas em cada país e cada localidade.

Dessa forma, tendo como referência o acesso ao banco de dados on line da UNESCO em Paris, o UNESCODoc, foi realizado um levantamento acerca dos relatórios oficiais da organização sobre o panorama da educação não-formal no mundo, sendo encontrado referência a relatórios de 31 países distintos e a forma peculiar como cada um deles desenvolveram suas políticas públicas no campo da educação não-formal. Os relatórios da UNESCO em sua grande maioria analisam países com graves crises econômicas e estruturais, e em alguns casos países em processos de rápida expansão econômica e social, o que de forma geral, pode indicar caminhos distintos para aplicação e fins da educação não-formal em contextos semelhantes e díspares.

Os documentos analisados da organização fazem referência aos seguintes países: Afeganistão, África do Sul, Bangladesh, Botsuana, Brasil, Camboja, China, Etiópia, Egito, Gana, Honduras, Índia, Indonésia, Quênia, Laos, Mali, Malawi, México, Namíbia, Nepal, Nigéria, Paquistão, Peru, Filipinas, Senegal, Sudão, Tailândia, Tanzânia, Uganda, Vietnam, Zâmbia e foram produzidos entre os anos de 2007 e 2008.

Os relatórios produzidos pela UNESCO não apresentam dados relacionados a países europeus e limita as análises no continente americano em países de origem latina, não havendo informações sobre políticas de educação não-formal nos países de origem anglo- saxônica na região. Isso reforça a tese de interesse da organização na utilização desses sistemas educativos como ferramenta de recuperação em países com algum tipo de dificuldade socioeconômica.

Na região do continente Americano foram encontradas informações sobre México, Honduras, Brasil e Peru, países que diferem entre si quanto ao seu posicionamento geopolítico frente à Organização das Nações Unidas (ONU) e quanto aos avanços econômicos e sociais ocorridos nos últimos anos.

Na África, foram produzidos relatórios sobre a África do Sul, Botsuana, Etiópia, Egito, Gana, Quênia, Mali, Malawi, Namíbia, Nigéria, Senegal, Sudão, Tanzânia, Uganda, Zâmbia, países que, com exceção da África do Sul, posicionam-se como economicamente conturbados e com grandes dificuldades de avanços sociais.

Em relação ao continente Asiático, a pluralidade em relação ao desenvolvimento econômico e social dos países analisados, varia desde a China, um país com elevadas taxas de crescimento anuais de seu Produto Interno Bruto (PIB), ao Afeganistão, país com grave conflito armado e com intervenção armada internacional. As informações sobre as políticas de educação não-formal na Ásia centraram-se no Afeganistão, Bangladesh, Camboja, China, Índia, Indonésia, Laos, Nepal, Paquistão, Filipinas, Tailândia, e Vietnam.

Os dados referentes aos relatórios foram obtidos junto à UNESCO43 através do sistema de informações gerenciais da organização, o UNESCODOC, e através do Instituto de Estatística da UNESCO (UIS), indicando que o somatório populacional dos países analisados corresponde a um universo aproximado de 4.444.585.807 pessoas, inferindo uma composição superior a 50% da população mundial. As informações específicas e pontuais sobre o desenvolvimento das políticas de educação não-formal em cada um desses países podem trazer importantes pontos de reflexão sobre a forma de condução de ações de mesma natureza no Brasil, contribuindo para o entendimento da educação não-formal como processo de aprendizagem integrado indissociavelmente à formação humana geral.

43 As informações referentes à descrição dos indicadores dos países tomam como referência a consolidação do

banco de dados da UNESCO, que no período de coleta de dados dessa pesquisa estava finalizado no ano de 2011.

A expectativa de vida média da população dos países analisados foi registrada sendo de 63,4 anos com desvio padrão de ± 8,8 anos, o que indica uma grande variação negativa em relação à expectativa de vida mundial que é de 67,2 anos. A diferença em relação ao PIB per capita também é considerada elevada em relação aos países analisados, sendo a média de US$ 4.707,00 com um desvio padrão na ordem de ± US$ 4.352,89, sendo o menor PIB per capita encontrado de US$ 893,00 e o maior de US$ 16.588,00. A associação linear entre a expectativa de vida da população em relação ao PIB per capita com o teste do Qui-Quadrado indicou valores de p=0,039 (p”0,05), indicando uma forte associação entre as duas variáveis.

Os dados individuais de país a país pode ser observado a seguir:

Expectativa de Vida PIB per capita País População idade Valores em US$

Afeganistão 32.358.260 49 1.139,00 África do Sul 50.459.978 53 10.960,00 Bangladesh 150.493.658 69 1.177,00 Botsuana 2.030.738 53 14.706,00 Brasil 193.946.886 73 11.640,00 Camboja 14.305.183 63 2.358,00 China 1.347.565.324 73 8.400,00 Egito 82.536.770 73 6.281,00 Etiópia 84.734.262 59 1.109,00 Filipinas 94.852.030 69 4.119,00 Gana 24.965.816 64 1.871,00 Honduras 7.754.687 73 4.047,00 Índia 1.241.491.960 65 3.650,00 Indonésia 242.325.638 69 4.636,00 Laos 6.288.037 67 2.790,00 Mali 15.380.888 54 893,00 Malawi 15.839.538 51 1.091,00 México 114.793.341 77 16.588,00 Namíbia 2.324.004 62 6.801,00

Nepal Não divulgado 69 1.252,00

Nigéria 162.470.737 52 2.533,00

Paquistão 176.745.364 65 2.745,00

Peru 29.399.817 74 10.234,00

Quênia 41.609.728 57 1.710,00

Senegal 12.767.556 59 1.967,00

Sudão 44.632.406 Não divulgado Não divulgado

Tailândia 69.518.555 74 8.646,00 Tanzânia 46.218.486 58 1.512,00 Uganda 34.509.205 54 1.345,00 Vietnam 88.791.996 75 3.412,00 Zâmbia 13.474.959 49 1.621,00 Total 4.444.585.807 63,4 ± 8,8 4.707,77 ± 4.352,89 Quadro 10 - População, Expectativa de vida e PIB per capita dos países analisados.

A média do crescimento populacional dos países analisados foi registrada em 1,9% ao ano (±0,9) e a média da taxa populacional residente em áreas rurais foi da ordem de 59% (± 19), indicando que a média da população desses países concentra-se em áreas afastadas dos grandes centros urbanos e do acesso aos bens sociais e materiais disponíveis nesses centros. O IDH médio dos países foi de 0,554 (±0,115), o que pode ser caracterizado pela PNUD como sendo um IDH médio, porém próximo à escala de baixo desenvolvimento humano (até 0,499). O quadro 11 apresenta os valores de cada país.

IDH Crescimento Populacional População Rural País Escala PNUD % ao ano %

Afeganistão 0,374 2,7 76 África do Sul 0,629 1,2 38 Bangladesh 0,515 1,2 72 Botsuana 0,634 1,2 38 Brasil 0,730 0,9 15 Camboja 0,543 1,2 80 China 0,699 0,5 49 Egito 0,662 1,7 56 Etiópia 0,396 2,1 83 Filipinas 0,654 1,7 51 Gana 0,558 2,3 48 Honduras 0,632 2,0 48 Índia 0,554 1,4 69 Indonésia 0,629 1,0 49 Laos 0,543 1,4 66 Mali 0,344 3,0 65 Malawi 0,418 3,2 84 México 0,775 1,2 22 Namíbia 0,608 1,8 62 Nepal 0,463 1,7 83 Nigéria 0,471 2,5 50 Paquistão 0,515 1,8 64 Peru 0,741 1,1 23 Quênia 0,519 2,7 76 Senegal 0,470 2,6 57 Sudão 0,414 Não divulgado Não divulgado

Tailândia 0,690 0,6 66 Tanzânia 0,476 3,0 73 Uganda 0,456 3,2 84 Vietnam 0,617 1,0 69 Zâmbia 0,448 4,2 61 Total 0,554 ±0,115 1,9 ±0,9 59 ±19

Quadro 11 - IDH, crescimento populacional e população rural.

Fonte: Pesquisa Documental – UNESCO Institute for Statistics, 2012 (UIS)

No campo educacional a média populacional de alunos em idade adequada ao ensino primário ficou em 14.575.141, enquanto no ensino secundário ficou registrado em

17.149.028, indicando haver uma necessidade maior de vagas no ensino secundário do que no primário. O somatório geral dos dados dos 31 países indica que existe uma população de 905.425.757 que está em idade escolar.

Idade do Primário Idade do Secundário Despesa PIB em Educação País

População População % em 2011 Afeganistão 5.541.751 4.663.132 Não divulgado

África do Sul 7.053.390 4.950.184 Não divulgado

Bangladesh Não divulgado 22.241.120 Não divulgado

Botsuana 297.540 217.950 Não divulgado

Brasil Não divulgado Não divulgado 5,3

Camboja 1.770.344 2.010.235 Não divulgado

China 88.186.917 119.773.195 Não divulgado

Egito 10.032.719 9.483.270 Não divulgado

Etiópia 13.541.946 12.086.560 Não divulgado

Filipinas 13.311.803 8.196.948 Não divulgado

Gana 3.598.472 3.694.842 8,2

Honduras 1.103.763 895.932 Não divulgado

Índia 123.615.820 170.731.718 Não divulgado

Indonésia 25.907.660 25.731.836 2,8

Laos 714.365 1.070.562 Não divulgado

Mali 2.522.561 2.154.870 5,4

Malawi 2.589.583 2.079.922 4,7

México 13.227.296 13.048.567 Não divulgado

Namíbia 382.388 263.099 Não divulgado

Nepal Não divulgado Não divulgado Não divulgado

Nigéria 25.476.005 21.088.379 Não divulgado

Paquistão 19.515.394 28.413.134 Não divulgado

Peru 3.470.628 2.894.457 2,6

Quênia 6.720.850 5.536.994 Não divulgado

Senegal 2.001.963 1.981.986 Não divulgado

Sudão 6.794.018 4.966.006 Não divulgado

Tailândia 5.853.905 6.176.960 5,8

Tanzânia 8.508.812 5.889.968 Não divulgado

Uganda 7.152.814 4.793.416 3,2

Vietnam 6.629.052 10.787.043 Não divulgado

Zâmbia 2.582.196 1.499.517 Não divulgado

Média 14.575.141 17.149.028 4,8

Total 408.103.955 497.321.802 -

Quadro 12 - PIB educação e Idade de ingresso nos ensinos primários e secundários. Fonte: Pesquisa Documental – UNESCO Institute for Statistics, 2012 (UIS)

Em relação ao investimento do PIB em educação, poucos foram os países que divulgaram suas planilhas no sistema da UIS, no entanto, dos oito países que publicaram seus relatórios pode se observar que o percentual médio do PIB investido em educação ficou registrado em 4,8%, sendo que o maior investimento foi o de Gana com 8,3% enquanto que o menor foi o Peru com 2,6% .

Os dados gerais encontrados apresentam indicadores de similaridades e disparidades entre os países, corroborando para a tese de que modelos de educação não-formal são caracterizados como ferramentas pontuais a serviço da recuperação social e econômica em situações de crises, sejam elas de ordem financeira, natural ou militar. A participação dos governos e de organizações não-governamentais na condução dessas propostas vem no caminho de dar respostas imediatas a problemas que o sistema educacional formal não está apto a resolver.

A análise que se faz a seguir, das políticas, programas e projetos implantados nos últimos anos nos 31 países traz um panorama real de como a educação não-formal está sendo observada e entendida em contextos difusos com objetivos diversos, o que pode, a partir de uma compreensão macro-educacional contribuir para entender o papel de tais políticas no cenário nacional brasileiro.