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Aspectos da formação para o ensino de História e Cultura Afro-brasileira a distância

TOTAL Amarela Branca Indígena Mestiça informou Não sabe Não Negra

3.3 Aspectos da interação no AVA

As principais atividades do curso eram os fóruns de discussão. Segundo Santos (2005, p. 228), os fóruns de discussão são

interfaces de comunicação assíncrona, pois permitem o registro e a partilha das narrativas e sentidos entre os sujeitos envolvidos. Emissão e recepção se imbricam e se confundem permitindo que a mensagem circulada seja comentada por todos os sujeitos do processo de comunicação.

No Curso de Formação para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileiras, havia três tipos de fóruns: o Fórum de Notícias, destinado ao envio de mensagens relacionadas à organização do curso, em que apenas a coordenação enviava mensagens às/aos cursistas; a Sala do Cafezinho, destinada à troca de informações entre as/aos cursistas e tutoras/es, não necessariamente relacionadas aos temas discutidos no curso; e os fóruns de discussão temática, abertos a cada unidade/semana para discussões entre tutoras/es e cursistas relacionadas aos temas abordados no curso.

Figura 8 – FÓRUM DE DISCUSSÃO DO CURSO DE FORMAÇÃO PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRAS, TURMA 2010

FONTE: CEAO-UFBA. AVA do Curso de Formação para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileiras, turma 2010.

A partir de um tema relacionado ao texto lido na unidade, que durava uma semana, era lançada uma questão para discussão que todas/os deveriam responder, também comentando as respostas das/os colegas. Essa atividade nos faz relativizar a flexibilização do tempo na EAD, pois as discussões nos fóruns ocorriam num prazo determinado. Esses momentos ressaltavam a importância das/os tutoras/es, pois elas/es eram responsáveis pela mediação das discussões.

Nas propostas tradicionais de EAD, o ensino é concebido como “transmissão de informação”, frequentemente ao encargo dos materiais instrucionais. A ênfase à dimensão reflexiva, de apoio à construção de conhecimento passou a ser disseminada em EAD a partir da década de 1980, com a progressiva valorização da presença do/a tutor/a. Segundo Mariana Maggio (2001), a visão do/a tutor/a como alguém que orienta de forma burocrática a aprendizagem dos/as alunos/as, mas não ensina, é ultrapassada. Nessa nova concepção de ensino, o papel do/a docente é de

...agente provocador de situações, arquiteto de percursos, mobilizador da inteligência coletiva. (...) O professor não se posiciona como detentor do monopólio do saber, mas como aquele que dispõe de teias, cria possibilidades de envolvimento, oferece ocasião de engendramentos, de agenciamentos e estimula a intervenção dos

aprendizes como co-autores da aprendizagem (SILVA, 2003, p. 56;57-58).

Atualmente, o/a tutor/a “cria propostas de atividades para a reflexão, apoia

sua resolução, sugere fontes de informação alternativas, oferece explicações, favorece os processos de compreensão” (MAGGIO, op. cit., p. 96). No trabalho com

conteúdos relacionados à história e cultura afro-brasileiras, este perfil de tutor/a é particularmente requerido, principalmente se considerarmos o longo período em que tais conteúdos permaneceram ausentes dos currículos escolares. Diante da importância assumida por este profissional numa proposta de Educação Online, por natureza colaborativa e interativa, é de fundamental importância para a compreensão da forma como constroem os conhecimentos no ciberespaço observar a interação entre tutoras/es e cursistas.

No Curso de Formação para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileiras, o entendimento, por parte das/os tutores, de seu papel mediadores/as na construção do conhecimento resultou no destaque à multidirecionalidade do processo educativo, o que podemos exemplificar com a afirmação da tutora Bashira (2009):

É importante ressaltar que é um aprendizado contínuo o trabalho de um tutor, pois, não são só os cursistas que aprendem com a interação e os conteúdos estudados, há um grande crescimento profissional e pessoal para nós.

Assim como as/os tutoras/es, as/os cursistas devem ter uma participação ativa num curso a distância que privilegia a interação. Se numa sala de aula presencial a/o docente pode contornar a situação de falta de participação de alguns estudantes, no AVA o grande número de cursistas vicários pode inviabilizar a realização de um fórum de discussão. Como veremos mais adiante, a frequência das/os cursistas aos fóruns variou significativamente. A participação tanto podia ser ativa, com intervenções e reflexões frequentes, como passiva, típica do “aprendiz vicário”.

É esperado que cursistas inexperientes em EAD desenvolvam maior dependência em relação à tutoria (HOLMBERG, 2003b). Para estes estudantes, em especial, a relação de empatia com o/a tutor/a é de fundamental importância para o

desenvolvimento de sua autonomia no processo de aprendizagem: “...se um curso

consistentemente representa um processo de comunicação que é sentido como tendo um caráter de conversação, então os estudantes serão mais motivados e mais bem sucedidos que se tiver um caráter impessoal de livro-texto” (Ibid., p. 42).

Diante das dificuldades de ordem técnica em relação ao manuseio do computador e aos vícios do instrucionismo, a dependência das/os cursistas em relação às/aos tutoras/es ficou patente nos momentos em que, por problemas pessoais, algumas tutoras tiveram que se afastar do ambiente. Neste período, o ritmo das discussões diminuía consideravelmente. No decorrer do curso, as dificuldades técnicas perderam a relevância e o maior ou menor entrosamento entre as/os cursistas e as/os tutoras/es garantiu o ritmo das interações.

Tanto a presença virtual como a interação face a face foi importante para transmitir segurança às/aos cursistas. Como num curso a distância a expressão escrita normalmente é o principal meio de comunicação, para as/os mais acostumadas/os a se expressar oralmente, a participação nos fóruns tornou-se enfadonha: “...tenho dificuldades em ficar debatendo muito, eu gosto de ir para

campo colocar a mão na massa. O tempo urge e não poderemos perdê-lo” (Amina,

negra, 2010). Por outro lado, a falta de familiaridade com o computador pode ter contribuído para essa “impaciência” em relação à interação virtual. A falta de participação era questionada pelas/os colegas:

Como vamos provocar o interesse de nossos alunos e alunas por essa literatura sem discutirmos propostas para levarmos para a sala de aula? Lembrem-se que só conseguiremos despertar o interesse dos nossos alunos pela literatura afro se começarmos a refletir sobre a necessidade de mudança do nosso comportamento. Portanto, vamos discutir lá no nosso wiki (Jorge, mestiço, 2010).

O predomínio da comunicação escrita, além da ausência de marcadores corporais, faz com que a frequência de emissão, o estilo e a qualidade de postagens atuem como sinais que particularizam as/os cursistas em interação nos fóruns (MOZO, 2004). A construção desses sinais diacríticos, por sua vez, é fortemente influenciada pela atuação do/a tutor/a.

Os procedimentos recomendados pela coordenação do curso foram incorporados ao estilo de cada profissional, o que, por sua vez, afetou a forma como

as/os cursistas interagiam no AVA. Ao observar a interações nos fóruns, pude distinguir três estilos de tutoria: tutoria ativa, tutoria moderada e tutoria pouco interativa.