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O Curso de Formação para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileiras

2.1 Formação de professores a distância

Nas duas últimas décadas, programas de formação continuada de professores, presenciais e a distância, têm sido implementados pelo Governo Federal1, marcando uma diferença no desenvolvimento da EAD no Brasil. Se até a década de 1990, os cursos à distância tinham um caráter temporário, voltados a populações pouco escolarizadas ou à formação de professores leigos, a partir da década de 1990, órgãos governamentais foram criados para o desenvolvimento de programas educacionais à distância, como parte do processo de mudança da EAD

“da periferia ao centro das políticas educacionais” (PEREIRA & PEIXOTO, 2010).

1 O Ministério da Educação desenvolve vários programas na área de formação continuada de professores da Educação Básica. A Rede Nacional de Formação Continuada de Professores é formada por um consórcio de universidades federais que atuam nas áreas: Alfabetização e Linguagem (UFPE, UFMG, UnB, Unicamp, UEPG), Educação Matemática e Científica (UFPA, UFRJ, UFES, Unesp, Unisinos), Ensino de Ciências Humanas e Sociais (UFAM, UFCE, PUC-MG), Artes e Educação Física (UFRGS, UFRN, PUC-SP), Gestão e Avaliação da Educação (UFBA, UFJF, UFPR). Cada universidade da Rede mantém uma equipe que coordena a elaboração de programas voltados para a formação continuada dos professores de Educação Básica em exercício nos Sistemas Estaduais e Municipais de Educação. Além da Rede, há os programas: Pró-

Letramento, para melhoria da qualidade de aprendizagem da leitura/escrita e matemática nas séries

iniciais do ensino fundamental; Pró-Licenciatura, dirigido a professores em exercício nas séries finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio dos sistemas públicos de ensino que não tenham a habilitação legal (licenciatura); Proinfantil, um curso em nível médio, a distância, na modalidade Normal, destinado aos professores da educação infantil; Programa Ética e Cidadania, voltado à promoção da inclusão nas escolas; Programa de Incentivo à Formação Continuada de Professores

do Ensino Médio, que tem por objetivo cadastrar instituições de ensino superior para realização de

cursos de formação continuada de professores em exercício nas redes públicas estaduais de educação.

A formação de professores em nível superior e a formação continuada à distância, em escala nacional, foram incrementadas com a criação da Universidade

Aberta do Brasil (UAB), consórcio de instituições de ensino superior criado através

do decreto n. 5.800, de 06 de junho de 2006. Anteriormente à UAB, foi criado, em 1995, Consórcio Interuniversitário de Educação Continuada e a Distância –

BRASILEAD, reunindo 54 instituições públicas de ensino superior. O BRASILEAD,

apesar de ter durado apenas 3 anos, resultou na criação, em dezembro de 1999, do consórcio formado por 82 instituições de ensino superior e 7 consórcios regionais, a

Universidade Virtual Pública do Brasil - UNIREDE, com o objetivo de lutar “por uma política de Estado visando a democratização do acesso ao ensino superior público, gratuito e de qualidade e o processo colaborativo na produção de materiais didáticos e na oferta nacional de cursos de graduação e pós-graduação” (UNIREDE, doc.

www).

Em 2000, foi criado um programa que oferecia cursos de licenciatura a distância, vinculado ao Centro de Educação Superior a Distância do Rio de Janeiro (CEDERJ), fruto de um consórcio formado por seis universidades públicas2. De 1999 a 2004, funcionou o Programa Pro-Formação, voltado à formação em nível médio, na modalidade Normal, de professores que exerciam atividades docentes nas séries iniciais, classes de alfabetização do Ensino Fundamental, ou Educação de Jovens e Adultos – EJA. Em 2004, através do edital 001/2004, o MEC convidou universidades públicas a ofertarem cursos de licenciatura Pedagogia, Física, Química, Biologia e Matemática a distância, do qual a Universidade Federal da Bahia participou promovendo o curso de Licenciatura em Matemática.

Na área de História e Cultura Afro-brasileiras3, o Governo Federal brasileiro,

através da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade

2 O consórcio reúne as seguintes universidades: Universidade do Estado do Rio de Janeiro/UERJ, Universidade Estadual do Norte Fluminense/UENF, Universidade Federal Fluminense/UFF, Universidade do Rio de Janeiro/Uni-Rio, Universidade Federal Rural do Rio de janeiro/UFRRJ e Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ.

3 Uma das recomendações constantes no Programa de Ação adotado na III Conferência Mundial de

Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata refere-se ao uso da Educação a Distância no combate ao racismo e à discriminação

racial: 10. Insta os Estados a assegurarem o acesso à educação e a promoverem o acesso a novas

tecnologias que ofereçam aos africanos e afrodescendentes, em particular, a mulheres e crianças, recursos adequados à educação, ao desenvolvimento tecnológico e ao ensino à distância em comunidades locais; ainda, insta os Estados a promoverem a plena e exata inclusão da história e da contribuição dos africanos e afrodescendentes no currículo educacional (CONFERÊNCIA...., 2001,

(SECAD), atual Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade e Inclusão (SECADI), realizou o curso a distância Educadores pela Diversidade, em 2004/2005, com 40 horas e 3.121 concluintes. O alcance das ações de formação de professores na área foi ampliado a partir do Programa de Ações Afirmativas para a

População Negra nas Instituições de Educação Superior (UNIAFRO), que foi criado

pelo Ministério da Educação, através das Secretarias de Educação Superior (SESU) e SECAD, em 20054.

A partir de um convênio com a Universidade de Brasília (UnB), em 2006, a SECAD promoveu o curso a distância Educação na Diversidade, que formou 927 professoras/es, educadoras/es populares e gestoras/es que atuam no sistema público de educação. De abrangência nacional, o curso se propôs a integrar as ideias acerca de diversidade de cinco áreas temáticas: Educação de Jovens e Adultos, Educação do Campo, Educação Escolar Indígena, Educação das Relações Étnico-raciais5 e Educação Ambiental (REGO, 2006). Outro curso realizado pelo MEC na área foi Educação e Africanidades. Realizado em 2006, o curso teve alcance nacional e formou 6.800 professoras/es, do total de 26.054 inscritas/os (GOMES, 2010, p. 61).

Com a criação da Rede de Educação para a Diversidade, no ano de 2008, a abordagem de temas relacionados à diversidade na formação de professores ampliou o seu alcance, pois congregou universidades de várias regiões do país para a oferta de cursos a distância nesta área. Fruto de uma articulação entre a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC) e a Universidade Aberta do Brasil (UAB), a rede foi criada com o objetivo de formar um grupo permanente de formação inicial e continuada a distância para o desenvolvimento e disseminação de metodologias educacionais para inclusão de temas relacionados à área de Diversidade: Educação de Jovens e Adultos, Educação do Campo, Educação Indígena, Educação Ambiental, Educação

4 O UNIAFRO foi criado com os objetivos de: incentivar as ações de mobilização e sensibilização de instituições de ensino superior com vistas à implementação de políticas de ação afirmativa; contribuir para a formação de estudantes afro-brasileiros nas instituições de Educação Superior, em especial as que adotam sistema de reserva de vagas; estimular a integração das ações de implementação das diretrizes curriculares étnico-raciais.

5 O Ensino de História e Cultura Afro-brasileiras e Africanas foi incluído pelo MEC na área da

Educação das Relações Étnico-raciais, em que pese o registro da distinção entre as duas áreas na Resolução nº 1, de 17 de junho de 2004, do Conselho Nacional de Educação.

Patrimonial, Educação para os Direitos Humanos, Educação das Relações Étnico- raciais, Gênero e Orientação Sexual.

Apesar da ampliação do número de pessoas que se beneficiam de ações de formação a distância, é preciso destacar que o fato de serem balizadas por parâmetros definidos pelo Ministério da Educação no que se refere à duração, formatação e avaliação dos cursos limitam as possibilidades de adaptação das propostas ao público docente e de consideração das distintas realidades escolares. Lucila Pesce (2009) também chama atenção para os efeitos da centralização do Estado na autonomia das escolas para construírem seus projetos pedagógicos, uma vez que são submetidas a uma classificação realizada a partir de critérios previamente definidos nos sistemas de avaliação de desempenho escolar. Ao tratar do modus operandi dos cursos de formação de professores a distância, nos diz a autora,

A proposição de conceitos complexos a serem trabalhados em tempo exíguo é emblemática de uma temporalidade desatenta às circunstâncias históricas dos educandos em questão: repertório cultural distante daquele suposto pelas ações de formação; percurso escolar com profundas lacunas conceituais, dupla jornada de trabalho aliada ao acúmulo de deveres domésticos. (PESCE, op. cit., p. 144)

No caso da abordagem de temas relacionados à História e Cultura Afro- brasileiras, devido ao longo período de ausência dos currículos escolares, o curto período de tempo em que são realizados tais cursos afeta negativamente a qualidade da formação.

Em que pese a criação da Rede de Educação para a Diversidade, muito ainda há de ser feito no que se refere à formação de professores nesta área. Ao mapear os municípios brasileiros que promovem formação de professoras/es na temática raça/etnia em 2009, o Laboratório de Análises Estatísticas Econômicas e Sociais das Relações Raciais (LAESER) identificou este tipo de iniciativa em apenas 35,1% do total de 5.565 municípios brasileiros. Considerando as ações por região, observou-se que as regiões com maiores índices foram: Sul, com 39,4% dos municípios; Nordeste, com 38%; Centro-Oeste, com 32,8%; Sudeste, 31,4% e Norte,

32,8%. Nos dados apresentados, destaca-se a ausência da Bahia entre os cinco primeiros Estados brasileiros com maior proporção de localidades a adotar medidas de capacitação na área: Pernambuco, liderando com 66,5% dos municípios; Ceará, com 64,1%; Espírito Santo, com 61,5%; Rio de Janeiro, com 59,8% e Acre, com 59,1% (LAESER, 2010, p. 3-4).

2.2 O Curso de Formação para o Ensino de História e Cultura Afro-