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No documento, identifica-se o que é denominado de configuração espacial do Território Alto Jequitinhonha, MG, que abrange uma área de 19.930,30 km² e é composto por 21 municípios: Angelândia, Aricanduva, Capelinha, Coluna, Carbonita, Couto de Magalhães de Minas, Datas, Diamantina, Felício dos Santos, Gouveia, Itamarandiba, Leme do Prado, Minas Novas, Presidente Kubitschek, Rio Vermelho, São Gonçalo do Rio Preto, Senador Modestino Gonçalves, Serra Azul de Minas, Serro, Turmalina e Veredinha.

A população total do território, de acordo com o Plano, é de 270.516 habitantes, dos quais 97.184 vivem na área rural, o que corresponde a 35,93% do total. O território possui 15.089 agricultores familiares, 390 famílias assentadas ou reassentadas e cinco comunidades quilombolas. No documento é acrescentado ainda que ele possui uma forte atuação do IDEME e da SUDENE (PTDRSTAJ, 2006)46, o que é confirmado

pelos agricultores: “Aqui faz parte da SUDENE e sempre fez” – é uma bandeira territorial.

Assim, uma análise efetiva se processa sobre o Programa de Desenvolvimento Sustentável dos Territórios Rurais (PDSTR), do Governo Federal, através da Secretaria

46 A ação da SUDENE verificou-se o financiamento, em especial, do Banco do Nordeste para diversos

fins que não apenas para o agricultor familiar. A região foi incluída na SUDENE pela lei no 9.690, de

de Desenvolvimento Territorial, SDT, subordinada ao MDA e iniciada no ano de 2003, que estabeleceu inicialmente o Território Rural do Alto Jequitinhonha, vindo posteriormente a estabelecer o Território da Cidadania (TC) no ano de 2009, em um caso sobre uma região mineira do Alto Jequitinhonha, cuja localização é mostrada no Mapa 3.

Mapa 3 – Localização do Território Rural do Alto Jequitinhonha.

Quanto ao aspecto da realização por meio da participação, ela é a base de todo o documento na garantia da gestão social em consonância com a política territorial do MDA. O Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável – PTDRS – é um documento construído pelos atores sociais do Território Alto Jequitinhonha com o objetivo de nortear as ações territoriais, adotando como princípios: o planejamento participativo, a gestão coletiva, o desenvolvimento e empoderamento de pessoas participantes do processo. Contempla, também, a trajetória da instalação do programa, bem como a metodologia utilizada, as informações sobre a realidade socioeconômica do

Território e sobre os eixos definidos como prioritários para adoção de estratégias de ação, visando potencializar o desenvolvimento sustentável territorial (PTDRSAJ, 2006, p. 4).

Essa proposta metodológica possibilita aos atores territoriais uma participação maior na elaboração do planejamento das ações, ou seja, participação no próprio documento por meio de observações e anotações sobre esses passos metodológicos, em que se destaca a realização de oficinas. Foram registradas 21 oficinas territoriais com a participação de no mínimo 15 delegados por oficina em todos os municípios que compõem o território, além de encontros e reuniões de grupos temáticos (PTDRSAJ, 2006).

Especificamente quanto ao histórico de composição e estruturação do Território Alto Jequitinhonha, encontra-se no próprio corpo do PTDRSAJ uma retrospectiva das ações a partir do ano de homologação do Território – 2003 – até a conclusão do Plano em 2006, e este é reforçado pelas entrevistas.

Destacam-se aqui algumas dessas atividades:

 Junho de 2003: realização do I Fórum Territorial para socialização da proposta de instalação do Território na área de abrangência de 21 municípios do Vale Alto Jequitinhonha e criação da Comissão de Implementação de Ações Territoriais (CIAT);

 Julho a agosto de 2003: realização de reuniões em todos os 21 municípios, coordenadas pela CIAT provisória, para socialização da instalação do Território, visando envolvimento e comprometimento dos atores sociais, principalmente, representantes das entidades que atuam diretamente junto aos agricultores familiares nas comunidades rurais (CMDRS, Sindicatos de Trabalhadores Rurais e Associações Comunitárias);

 Agosto a Setembro de 2003: Realização de 21 reuniões organizadas pelas lideranças nos municípios, para elaboração de um diagnóstico para compor o Plano de Desenvolvimento Territorial, elencando as prioridades de projetos a serem implementados na área do Território. Em cada município foram indicados dois representantes para fazer parte da Comissão Territorial;

 Outubro de 2003: Realização da Primeira Oficina Territorial em Itamarandiba e reunião da CIAT Provisória, representantes do CEDRS, MDA/SDT, com os representantes dos municípios, para nivelamento de conceitos a respeito do Território, seleção dos projetos a serem apresentados e definição da equipe de elaboração dos projetos;

 Maio de 2004: Realização da segunda oficina em Diamantina;

 Abril de 2005: Reuniões da CIAT provisória para implantar a CIAT permanente, selecionar a entidade proponente da gestão do Território e contratar o Gestor;

 Junho de 2005: Instalação da CIAT permanente e seus membros;

 Agosto de 2005: Realização dos trabalhos de campo para elaboração do Estudo Propositivo para Dinamização Econômica do Território Alto Jequitinhonha;

 Setembro de 2005: Realização do III Oficina de Gestão e Planejamento Territorial;

 Dezembro de 2005: Realização de Oficina em Capelinha para priorizar os projetos a serem encaminhados. Elaboração dos projetos e encaminhamento à SDT. Realização de oficina para deliberar sobre a parceria no projeto de Apicultura;

 Maio de 2006: Realização do evento Dia da Agricultura Familiar em Capelinha, coordenada pela CIAT, com apoio da SDT e Banco do Nordeste, com a presença de aproximadamente 700 agricultores familiares. A programação do evento contemplou palestras sobre temas de interesse dos agricultores familiares, exposição sobre os programas desenvolvidos pelo Território e atrações culturais do Território, com apresentação do plano.

Essas atividades, acrescidas de dois estudos que depois foram incorporados, antecederam a elaboração final do documento. O primeiro estudo, realizado em 2003, era formado por uma equipe que criou estratégias para elaboração de Projetos Territoriais e cujos participantes eram membros do CIAT. Esse processo incluiu o levantamento e a organização das informações já existentes no Território; a sistematização das informações geradas nas oficinas municipais; e a elaboração de

projetos técnicos que contemplam as prioridades definidas pelos(as) agricultores(as) familiares e suas representatividades (Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável – CMDRS, Sindicatos de Trabalhadores Rurais – STRE, Associações Comunitárias Rurais) (PTDRSAJ, 2006).

A sua origem foi uma exigência da política pública, e sua elaboração uma reivindicação dos movimentos sociais e de acordo com a liderança entrevista (movimento social) foi proposto um estudo “passando pelas cadeias produtivas”. Um estudo propositivo, encomendado pelo Território para a Dinamização Econômica do Território Alto Jequitinhonha, MG, (FIRME-VIERA, 2005), com proposta participativa, que continha dados secundários consolidados; análise de estudos e planos realizados para o Território em questão; análise de projetos apoiados pelo Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), infraestrutura (2003 e 2004); e a sistematização sobre os principais sistemas produtivos em interface com os dados secundários.

Esses dois estudos, acrescidos dos relatórios de oficinas municipais, seguiu a elaboração do PTDRSAJ, que, segundo os entrevistados, foram úteis para a elaboração dos projetos que desenvolveram, pois não seguiram uma linha de incorporação apenas ao sistema econômico, mas procuraram na sua discussão “incorporar, além do agropecuário, educação, meio ambiente e cultura” (PTDRSAJ, 2006, p. 6).

Como revelado pelo entrevistado liderança social, no ano de 2009 ele “passou por um processo de requalificação”, o que significa que suas metas foram revistas. A técnica do IDEME afirmou que o plano não foi encomendado, mas sim elaborado pelos próprios atores do território. Segundo ela “não tinha recurso, nós fizemos o plano, nossa ‘Bíblia’”. Nota-se que o uso e conhecimento desse plano ficaram mais na liderança do Território, pois os outros atores não se referiram a ele.

A ausência de referência ao plano pelos outros atores não significou um desconhecimento, mas o fato é que nas discussões para a elaboração do plano estavam questões importantes para sua inclusão e participação, bem como para o atendimento das necessidades básicas, criando-se hibridismo entre realidade, plano e política territorial, muitas vezes difíceis de separar por fronteiras, mas um ordenamento pedido por parte do governo. Os atores, em especial as lideranças comunitárias, são unânimes em afirmar que “houve muitas reuniões”.

Dessa forma, ao recolher esse documento e buscar sua origem e utilização pela liderança do Território (movimento social), observou-se um instrumento com

credibilidade e a importância de sua análise com o auxílio dos dados coletados pelos trabalhos de campo, que mostram uma visão do pretendido ao executado pela política pública. Uma reunião de apresentação e correções ocorreu no período de maio a outubro de 2006 e foram realizadas outras reuniões dos subgrupos: Agropecuária, Educação, Saúde, Meio Ambiente e Cultura, para trabalhar na construção do documento e fazer uma análise preliminar do conteúdo já elaborado.

No período de 17 a 18/10/2006 foi realizada uma Oficina Territorial para fazer uma abordagem do Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável, também sobre Gestão Social e uma apresentação da primeira versão do Plano Territorial do Alto Jequitinhonha. O evento contou com a participação de representantes de 16 municípios do Território. No período de 28 a 29/11/2006, foi realizado um Fórum Territorial em Diamantina para socialização do PTDRS, com a participação de agricultores (as) familiares, lideranças rurais e representantes de instituições dos municípios membros do Território; eventos que extrapolam o colegiado territorial e com ampla participação dos agricultores.

Pode-se afirmar que esse documento – PTDRSAJ – serve de diretriz para nortear as realizações do território, além de ser um instrumento importante e essencial para a participação do movimento social bem como dos outros atores sociais e é a base para desenvolver as ações territoriais com uma visão comunitária que possibilitará ações de mudança. É necessário, então, que os atores sejam vistos não apenas como meros receptores de informações, mas que sejam incluídos como parceiros ativos na identificação e priorização dos fatores limitantes e na concepção, condução e validação das soluções alternativas, que são expressas por esse documento. A apresentação e o aspecto metodológico se resumem, portanto, na busca por um documento representativo e participativo do território, com diversas etapas de realizações.