Utiliza-se, por acreditar que o todo é maior que a soma das partes e na compreensão
interdisciplinar dos fenômenos humanos, a Psicologia histórico-cultural de Vigotski e a
metodologia que lhe é compatível, a análise gráfica do discurso, AGD, a Psicologia humanista
de Carl Rogers e o olhar progressista sobre Educação de Paulo Freire, para analisar o núcleo
dos pensamentos dos psicólogos entrevistados.
Acredita-se que apesar de cada uma das abordagens teóricas acima ter brotado em
solos geográficos, históricos, culturais, políticos, ideológicos, experienciais e científicos
diferentes, estas consideram que o ser humano está em constante processo de construção de
sua consciência, que está em constante interação com o meio social e que, através desta
interação se transforma e transforma o meio social no qual está inserido, sendo que Vigotski
nomeia este potencial de desenvolvimento iminente, Rogers de tornar-se pessoa, e Freire de
empoderamento.
Opta-se também por buscar uma compreensão interdisciplinar do que se pretende aqui
estudar, por discordar dos separatismos teóricos comuns no meio acadêmico, cujos defensores
de determinadas abordagens teóricas, pelo que se observa comumente não se abrem ao novo,
fixando-se em “uma verdade” sobre a compreensão dos fenômenos humanos.
Refuta-se o posicionamento separatista e reducionista sobre o ser humano, e
defende-se o diálogo interdisciplinar entre os saberes mesmo que advindos de epistemologias
diferentes, pois é importante que se desenvolva saberes sobre o Homem de maneira
interdisciplinar onde diversas narrativas sejam integradas, ou dialogadas entre si.
Visa-se através desta metodologia demonstrar que é possível dialogar sobre narrativas
teóricas e metodológicas diferentes, desde que a perspectiva do “entre” esteja presente, visto
que só na promoção da relação dialógica entre as narrativas do conhecimento científico, e
outros, é que se consegue promover aproximações, identificar posicionamentos comuns e não
comuns, e com isso lapidar-se intelectualmente e se lançar as mudanças de valores, logo de
compreensão das “coisas”.
Defende-se que se pode buscar a interdisciplinaridade entre diversos olhares sobre o
homem, pois em essência está o ser humano e sua capacidade de transformação, adaptação,
ressignificação, trabalho/atividade, luta, conquista, inteligência, fé, existência, política,
criatividade, sensibilidade, compreensão, aceitação, congruência... E, como já escrito, o todo,
a soma das forças, a união de intenções positivas e a diversidade dos saberes, é maior que uma
simples parte, ou seja, que uma especificidade teórica e conceitual.
Contudo, deixa-se claro que não se defende a superficialidade, o conhecimento raso,
aglutinações infundadas, aproximações impossíveis, colchas de retalhos, leituras teóricas de
rodapé, defende-se sim, a possibilidade do diálogo entre os conhecimentos, a construção de
um saber onde a dicotomização do ser humano deixe de ser presente, e a promoção do “entre”
nos diálogos teóricos seja alcançado.
Escolhe-se, como já escrito acima, a teoria histórico cultural de Vigotski, a humanista
de Rogers e a progressista de Freire para dialogarem com o tema aqui em estudo e
fundamentar a análise das entrevistas, pois nestas abordagens, a consciência pode ser estudada
em sua materialidade como algo concreto, conforme diz Vigotski, Rogers e Freire. Para o
primeiro, a consciência é ao mesmo tempo um fenômeno do pensamento e da linguagem, para
o segundo, a consciência é uma manifestação das experiências que compõem o ser humano, e
para o terceiro, a consciência se constrói na materialidade do homem em contato com sua
realidade histórica.
Pode-se, portanto, nestas concepções, ter acesso à consciência através da palavra e por
meio desta, estudar detalhadamente os núcleos dos pensamentos e o conteúdo das
representações que os sujeitos vivenciam, elaboram e significam no seu percurso social,
histórico, cultural e experiencial; frente ao meio no qual está inserido.
Busca-se então identificar concretamente através da linguagem o conteúdo das
representações simbólicas que psicólogos que trabalham com a construção da Relação de
Ajuda possuem sobre o lugar da afetividade nesta relação.
[...] se tratar de uma abordagem descritiva e [que] aborda aspectos da realidade
relacionada ao universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e
atitudes. (MINAYO, S/D, APUD SACAMOTO; SILVEIRA, 2014, p.47)
O olhar qualitativo se materializará por meio de pesquisa bibliográfica, cuja principal
atividade de investigação é analisar e identificar autores que estudam o tema, e através destes
atribuir sentido ao fenômeno em questão, pois segundo Ruiz (2002) a pesquisa bibliográfica
está relacionada ao exame do manancial teórico produzido sobre determinado assunto, que se
elege como objeto de investigação científica.
Quanto aos objetivos gerais estes serão investigados de maneira exploratória, pois
pretende-se proporcionar uma visão aprofundada de um determinado tema ou fato, onde
se visa tornar familiares novos objetos de estudo, muitas vezes buscando constituir
um conhecimento que permita elaborar novas hipóteses. (SAKAMOTO;
SILVEIRA, 2014, p. 50)
Sendo que o objetivo geral enquanto tema de investigação aqui é a Relação de Ajuda
como ação Educativa.
E quanto ao procedimento, este será por meio de análise do discurso onde:
esta[e] se apoia na investigação de alguns casos particulares, porém representativos,
que possibilitam elaborar hipóteses válidas fundamentadas em construções teóricas
plausíveis. (SAKAMOTO; SILVEIRA, 2014, p. 54)
Ressalta, portanto, que nesta investigação o objetivo específico é a análise do discurso
das entrevistas produzidas frente a questão: Em sua opinião qual o lugar da Afetividade na
construção da Relação de Ajuda?
Aplica-se como instrumento de investigação a análise gráfica do discurso (anexo 1),
visto que nesta se propõe verificar de maneira qualitativa os padrões do pensamento,
linguagem e sentimentos comuns aos sujeitos entrevistados, pois o fato de serem humanos e
viverem no mesmo contexto sócio histórico, faz com que o desenvolvimento das funções da
consciência ocorra mediante valores determinados pela sociedade na qual se está inserido.
Assim, busca-se identificar concretamente através da linguagem o conteúdo das
representações simbólicas que os entrevistados construíram sobre o lugar da afetividade na
relação de ajuda, e para isso como já escrito, aplica-se a análise gráfica do discurso (AGD).
Fez-se aos entrevistados uma pergunta aberta, que é: Qual o lugar da Afetividade na
construção da Relação de Ajuda.
Os discursos dos entrevistados foram gravados e em seguida, conforme exige a análise
gráfica do discurso, transcritos, numerados linearmente, agrupados em categoria e núcleos.
O universo da pesquisa é constituído de psicólogos pelo fato de que são estes que, em
tese, devido sua formação, estão mais aptos para compreender os fundamentos e promover a
arte da relação de ajuda.
Portanto, pretende-se por meio da análise dos conteúdos das entrevistas, verificar os
núcleos dos pensamentos que os psicólogos entrevistados possuem sobre O lugar da
Afetividade na Relação de Ajuda, pois a palavra é uma das vias de acesso à consciência,
segundo a abordagem histórico cultural, a humanista centrada na pessoa, e a progressista.
Sobre o tema aqui proposto, foram entrevistados 14 (catorze) psicólogos, sendo que
cada um dos entrevistados recebeu aqui uma nomenclatura, que se inicia com Ps1, e termina
no Ps14. Não se levará em consideração o tempo de formação e de exercício profissional,
abordagem teórica, tempo da entrevista, sexo, naturalidade, estado civil, idade, titulação,
outros; o único critério que receberá relevância nesta pesquisa é: ser graduado (a) em
Psicologia e atuar como tal em São Luís do Maranhão.
O contato inicial com os psicólogos, que foram convidados para participar da
pesquisa, se deu por via whatsapp. Neste primeiro contato foi enviada a seguinte mensagem:
Bom dia, tudo bem? Estou desenvolvendo uma pesquisa e gostaria muito de saber
sua opinião sobre o assunto em estudo, posso contar com você? Caso aceite
participar podemos marcar um encontro no melhor horário e dia para você. Neste
encontro farei uma entrevista aberta com uma única pergunta, que será: Na sua
opinião, qual o lugar da afetividade na construção da Relação de Ajuda?
Os psicólogos Ps1, Ps2, Ps5, Ps6, Ps9, Ps10, Ps11 e Ps12 responderam de pronto ao
envio da mensagem se mostrando dispostos a participarem da pesquisa. As respostas foram:
Ps1: Bom dia Leal, quero sim. Interessante o tema.
Ps2: Quero sim, te retorno para dizer o dia.
Ps5: Essa pesquisa é sua cara, vou ver o melhor dia e te aviso.
Ps6: Com todo prazer quero participar da sua pesquisa.
Ps9: Está bem corrido meu dia-dia, mas vou organizar para responder.
Ps10: Ótimo tema, vai contribuir bastante. Te retorno.
Ps11: Estou em aula, retorno mais tarde enviando.
Ps12: Ótimo, quero sim.
Ps15: Vou enviar um áudio com o que penso sobre (mas o áudio não foi enviado).
Os psicólogos Ps3, Ps4, Ps7, Ps8, Ps13 e Ps14 responderam a mensagem enviada
pelo pesquisador no dia seguinte, com respostas afirmativas, contudo curtas. As
respostas foram:
Ps3: ok
Ps4: sinal de positivo
Ps7: Envio a resposta
Ps8: ok
Ps13: Envio a noite
Ps14: Te retorno
Curiosamente, as entrevistas que eram para ocorrer através de encontros pessoais entre
entrevistador e entrevistados com data e hora a serem combinadas não aconteceram como
previsto.
Cada entrevistado gravou um áudio e o enviou para o entrevistador, e por meio deste
cada psicólogo entrevistado registrou sua opinião sobre o tema, contribuindo desta forma com
a pesquisa. Alegaram, cada um deles a seu modo, muito corre-corre, fator este que segundo os
entrevistados inviabilizaram a possibilidade de encontro. O entrevistador respondeu a estes:
Entendo, obrigado pela contribuição.
Após as transcrições das gravações enviadas pelos áudios dos psicólogos (Ps1 a Ps14),
os discursos foram transcritos e analisados a luz das teorias apresentadas, e perante a
metodologia AGD, aqui proposta. E assim, conforme demonstrado no Apêndice Análise dos
Dados, transcreve-se as categorias e núcleos dos discursos referentes à questão: Qual o lugar
da Afetividade na Construção da Relação de Ajuda?
Ressalta-se que inicialmente após a efetivação das entrevistas cogitou-se
desconsiderá-las enquanto material para análise do discurso, devido a pouca produção verbal frente a
questão feita, pensou-se em deixar apenas como anexo. Em um segundo momento, após
reflexões fenomenológicas, as quais fundamentam a perspectiva rogeriana decidiu por
mantê-las visto que “ [...] as pessoas vêem o mundo de sua própria e única perspectiva”
(DAVIDOFF, 2001, p.14), conforme estão apresentadas e analisadas, segundo a AGD, no
apêndice Análise dos Dados.
No documento
RELAÇÃO DE AJUDA COMO AÇÃO EDUCATIVA.
(páginas 132-137)