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RAZÃO, EMOÇÃO E AFETIVIDADE

No documento RELAÇÃO DE AJUDA COMO AÇÃO EDUCATIVA. (páginas 96-107)

O conceito de emoção e afetividade ao longo da história do conhecimento ocupou um

lugar menos privilegiado que o conceito da razão. A razão foi ao longo da História e Filosofia

ocidental considerada uma “faculdade” própria do homem e responsável pela diferenciação do

ser humano dos demais animais, enquanto que as emoções e a afetividade foram consideradas

como algo que precisa ser suprimido para que a analítica sobre as coisas não se perdesse, e

assim, longe destes aspectos considerados inferiores, a emoção e a afetividade, a neutralidade

da ciência e sua aplicabilidade estaria assegurada.

Abbagnano (1986) em seu dicionário de Filosofia, nas páginas 19, 293-306, 842-846,

792-796, apresenta a visão que autores como Platão, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino,

Descartes e Espinosa tiveram sobre a questão.

Na contemporaneidade, Vigotski2 (1998a) em seu livro Desenvolvimento Psicológico

na Infância, afirma que em geral a emoção é concebida segundo a abordagem naturalista.

Neste mesmo livro apresenta o olhar dos pesquisadores Darwin, James e Lange, Cannon,

Adler, Claparède, Lewin, outros, sobre as emoções, conforme serão apresentados a seguir.

Darwin em sua teoria da Evolução defende que as emoções são responsáveis pelos

movimentos expressivos do homem, defende também que o homem não é apenas uma

determinação divina e um ser isolado da natureza; o homem é um membro da natureza, fruto

de um processo evolucionista onde a origem dos movimentos expressivos (as emoções) são

de origem animal.

Sendo assim, em Darwin, as paixões terrenas do homem, as inclinações egoístas e as

emoções relacionadas com as preocupações concernentes ao seu próprio corpo são na

verdade, de origem animal.

O pensamento evolucionista orientou o desenvolvimento das ideias psicológicas que

defendiam a origem das emoções humanas a partir das reações instintivas dos animais. Os

2

Utiliza-se o nome Vigotski por este ser o utilizado pelos autores da obra: VERESK. Cadernos Acadêmicos Internacionais.

Estudo sobre a perspectiva histórico cultural de Vigotski. Tradução Zóia Ribeiro Prestes. Brasília. UniCEUB. 2014.

Apesar de nas referências bibliográficas desta tese manter o nome Vigotsky, Vygotsky ou Vygotski para ser fiel as

publicações das obras citadas.

psicólogos da escola positivista francesa, como também, os psicólogos alemães de orientação

biológica se basearam nas teorias de Darwin para desenvolver suas pesquisas.

Segundo Vigotski (1998a) foi através destas duas escolas que surgiu a teoria das

emoções conhecida como a “teoria dos rudimentos”.

Esta teoria propõe que:

[...] os movimentos expressivos que acompanham nosso temor são considerados,

segundo uma conhecida expressão, restos rudimentares de reações animais na fuga e

na defesa, e os movimentos expressivos que acompanham nossa ira são

considerados restos rudimentares de movimentos que acompanham, em outros

tempos, a reação de nossos antepassados animais. (VIGOTSKI, 1998a, p. 81)

Sendo assim, as emoções são puramente entendidas nas escolas psicológicas de

orientação darwiniana, como herança dos antepassados nos deixadas através do processo

evolutivo.

Emocionar nesta perspectiva é manifestar mecanismos de temor, de fuga e de ataque,

por isso:

[...] as reações afetivas do homem são restos de sua existência animal, restos

infinitamente debilitados em sua manifestação exterior e desenvolvimento interno.

(RIBOT, s/d, APUD VIGOTSKI, 1998a, p. 81)

Vigotski (1998a) escreve que as emoções durante o desenvolvimento da história

passariam a ocupar o último lugar, visto que se passaria a acreditar que os homens do futuro

deveriam buscar cada vez mais o aperfeiçoamento do raciocínio lógico e objetivo, não os

pensamentos que poderiam estar influenciados pelas emoções, pois estes são herança do

mundo animal.

Nesta perspectiva, as emoções estão claramente relacionadas às expressões primitivas,

rudes, não elaboradas e primárias, cujas reações são demonstrações da involução da

consciência humana. As emoções nesta perspectiva impedem o crescimento e por isso, uma

pessoa culta, bem preparada intelectualmente, com discernimento perceptivo devem se

afastar, repudiar, condenar, não valorizar e não se permitir viver estados emocionais, já que

elas são heranças da existência primitiva.

As marcas destas abordagens fazem com que:

[...] tal formulação da questão, em vez e esclarecer como se enriquecem as emoções

[...], [...] mostra pelo contrário, como se reprimem, se debilitam, se eliminam as

descargas emocionais imediatas [...]. (VIGOTSKI, 1998a, p. 82)

Por isso, a força das emoções, que é considerada herança do homem primitivo e do

processo evolutivo, é aprisionada, negada, fixada, não potencializada e não fluídica em

direção ao dialógico, construindo assim um tornar-se pessoa pouco voltada à intenção de estar

para o outro numa relação mútua, construtiva, curativa, criativa, experiencial e transcendente.

Já que na leitura evolucionista se as emoções fossem cultivadas, o futuro da esfera psíquica

lógica e objetiva sofreria no mínimo grandes prejuízos.

Como não se pode negar, a abordagem evolucionista das emoções encontrou seu lugar

na história da Psicologia, com isso é de fácil verificação as influências que ela deixou na

compreensão que muitos pesquisadores ainda hoje têm em relação ao homem e suas emoções.

Contudo, no percorrer histórico da Psicologia, opiniões contrárias as ideias evolucionistas

sobre as emoções buscaram se fundamentar em outros constructos epistemológicos, veja-se:

James e Lange se propuseram a pesquisar o que chamavam de fonte da vitalidade das

emoções e encontraram essa fonte nas reações orgânicas que estão presentes nas reações

emocionais. Consideraram que, depois de qualquer percepção, o organismo sofre mudanças

provocadas pelos reflexos e que, as mudanças que ocorrem no organismo são percebidas e

constituem a base das emoções.

Havia um ponto divergente entre James e Lange, pois para Lange, as alterações

reflexas eram determinadas pelas reações vasomotoras, enquanto que para James o que

determinavam as alterações reflexas eram as vísceras.

As divergências entre os dois pesquisadores foram superadas e James propôs uma

fórmula clássica que se opõe as ideias evolucionistas, diz ele:

[...] costumava-se considerar que choramos porque estamos aflitos, trememos

porque estamos irritados; na verdade, dever-se-ia dizer que estamos aflitos porque

choramos, que estamos assustados porque trememos e que estamos irritados porque

batemos. (JAMES, s/d, APUD VIGOTSKI, 1998a, p.83)

James deixa implícito que as emoções são consequências dos comportamentos sociais,

pois basta que se reprima sua manifestação externa para que ela desapareça e que, basta que

os comportamentos sociais provoquem as emoções para sua manifestação existir novamente.

As emoções e sua natureza são fundamentadas nos órgãos internos do organismo, pois

na teoria de James,

As mais delicadas reações do intestino e do coração, as sensações que partem das

cavidades e dos órgãos internos, o jogo das reações vasomotoras e outras mudanças

semelhantes são momentos vegetativos, viscerais, humorais, a partir de cuja

percepção se formam [...] as emoções. (JAMES, s/d, APUD VIGOTSKI, 1998a,

p.86)

As emoções, conforme nota-se, foram consideradas na história do conhecimento

psicológico como funções inferiores do organismo, já que eram consideradas isoladas das

funções superiores que é o pensar racional, eram também consideradas desvinculadas dos

potenciais criativos e do resto da vida psíquica do homem, pois as emoções eram frutos das

funções vegetativas, viscerais, humorais ou vasomotoras, funções estas como já dito,

inferiores frente à excelência da racionalidade, que era a responsável pela construção do

pensamento e com isso, pela capacidade de elaborar, julgar e raciocinar de maneira lógica,

formal e cartesiana, sem a infeliz influência da “prima pobre”, as emoções.

O pensamento, ao contrário das emoções, é produzido pelo cérebro, órgão

considerado, conforme o estudado acima, superior às funções vegetativas, viscerais, humorais

e vasomotoras, que é quem produzem as emoções; o pensamento, ao contrário desta condição

inferiorizada atribuída as emoções, tem um lugar privilegiado já que tem como base de sua

estrutura funcional o superior, independente, neutro, cartesiano, e evoluído, o Cérebro.

Encontra-se na teoria de James as diferenças entre emoções inferiores e superiores.

Sendo que as emoções inferiores, tais como, o terror, a ira, o desespero, a fúria, têm por

natureza origem orgânica e foram herdadas pelo homem dos seus antepassados. As emoções

superiores, tais como, o sentimento religioso, o sentimento de amor pelo próximo, à sensação

estética, o bem querer, etc., são condições desenvolvidas pela capacidade psicológica do ser

humano na sua interação com outro.

Sendo assim, pode-se pensar que, ao se prontificar e lançar se no mundo para se

relacionar com outro ser humano, o homem revela possibilidades e se desenvolve rumo a

novos processos psicológicos, afetivos e vivenciais, que irão dia após dia capacitá-lo para um

tornar-se pessoa com maiores recursos, com maior disponibilidade para estar e se encontrar

com o outro ofertando o seu melhor nas mais diversas possibilidades e jeitos de ser.

As emoções, portanto, foram diferenciadas e passaram a ocupar duas classificações, as

herdadas, que são as inferiores, e as desenvolvidas, que são as superiores.

As emoções inferiores para James não fazem parte da construção do pensamento, pois

as declara como distintas à consciência, pois,

Todas as emoções, todas as sensações emocionais diretamente entrelaçadas em

nossos processos de pensamento e que são parte inalienável do processo integral dos

raciocínios, eram diferenciadas por ele dos fundamentos orgânicos, e considera-os

como um processo sui Genesis, isto é, como um processo de um gênero e de uma

natureza totalmente distintos. (JAMES, s/d, apud VIGOTSKI, 1998a, p.85).

E assim como se observa as emoções consideradas inferiores não eram contempladas

como pertencentes aos processos de pensamentos, visto que o pensar, ao contrário do

emocionar, é compreendido como um ato sublime e por isto jamais se deveria deixar que

coisas inferiores como as emoções advindas dos “resquícios orgânicos”, tais como as funções

vegetativas, viscerais, humorais e vasomotoras chegassem perto do pensamento, já que este é

produto do cérebro, um órgão superior em relações às outras funções do organismo.

Frente ao apresentado constata-se que o homem no decorrer do desenvolvimento do

tornar-se pessoa se aperfeiçoou, potencializou, provocou em si mesmo através da relação

consigo e com o outro, novas possibilidades de sentir, de transcender e experienciar as

vivências da vida, assim novas configurações emocionais e afetivas, novas possibilidades de

sentir, de estar, de se aperceber frente ao vivido, de lançar-se no contato consigo e com o

outro foram permitidas, possibilidades estas as quais a herança biológica por si só não é capaz

de proporcionar.

Desta forma, o homem na trajetória do tornar-se pessoa potencializou no seu jeito de

ser nuances emoções e afetos que até então não existiam, pois no entendimento dos teóricos

aqui estudados, as emoções que existiam eram apenas as herdadas do processo evolutivo e

estas se revelavam no comportamento através de respostas das funções vegetativas, viscerais,

humorais e vasomotoras.

Corroborando com esta ideia, Vigotski (1998a) escreve que são as emoções

superiores, ou seja, a afetividade, que ao serem adquiridas e transformadas no percorrer

histórico provocam a transformação da humanidade. Assim, o homem em sua historicidade

sempre será lançado num roteiro existencial e experiencial rumo à atualização dos potenciais

humanos, como o sentir em si mesmo, com e para o outro, já que a autorrealização, a

experiencialidade e a tendência à atualização, são caminhos inerentes à construção da

consciência, do desenvolvimento dos potenciais criativos, da historicidade e

consequentemente da transformação social.

Em suma, foi a partir de James que o entendimento sobre a “origem” das emoções

pôde deixar o paradigma e dogma puramente evolucionista, pois neste as emoções deveriam

ser impedidas de tocar a racionalidade, pois os pensamentos considerados nobres por serem

guiados pelo cérebro, não deveriam sofrer influência de quaisquer resquícios das emoções, já

que estas eram consideradas funções inferiores, pois estavam relacionadas às funções

vegetativa, visceral, humoral e vasomotora.

Cannon um pesquisador contemporâneo de James e Lange, afirma que as emoções não

são distintas das sensações, pois a fúria, o terror, o medo, a ira...têm a mesma expressão

orgânica. Cannon discorda da teoria de James que defende que para cada ação reflexa existe

uma emoção correspondente. Para Cannon uma pessoa pode estar aflita, comovida,

enternecida, irada e ter a mesma expressão orgânica como resposta, e não necessariamente

respostas emocionais distintas para cada ação reflexa como defende James.

Apesar da divergência de Cannon em relação a James, este nunca colocou em dúvida a

tese fundamental de James onde este defende que as emoções são reflexos na consciência das

mudanças orgânicas, e que as emoções no psiquismo humano possibilitam ao ser humano se

distanciar do reino dos instintos, promovendo-o a um plano mais intelectível, e

admiravelmente, aceitando a aproximação entre as emoções e seus reflexos na consciência do

ser humano.

Ressalta-se que a partir da Cannon existe um deslocamento do que se considera

periferia, ou seja, as funções vegetativas, viscerais, humorais ou vasomotoras, para o centro,

que são os processos do psiquismo humano responsáveis pela construção do pensar e

perceber, guiados pelo cérebro, e a partir deste novo entendimento a dicotomia histórica

existente entre as emoções e os pensamentos apresentaram estremecidas iniciais nesta

estrutura de entendimento secularmente construída,

Toda uma série de reações comparativas e dependências se revelou aos

pesquisadores nos experimentos quando, ao estudar a vida emocional, começaram a

dar conta da total impossibilidade..., que dividiam as emoções em duas classes que

nada tinham em comum entre si as emoções superiores e inferiores. (CANNON, s/d,

APUD VIGOTSKI, 1998a, p.95)

Adler afirma que as emoções não estão apenas relacionadas com a vida instintiva que

se manifesta. Elas são responsáveis pela formação do caráter, pois os conceitos que o homem

tem perante a vida são determinações emocionais. Portanto Adler se posiciona contrário do

que se viu nos trabalhos de James, Lange, Darwin e outros, pois defende que as emoções são

partes inseparáveis e centrais da doutrina e do desenvolvimento do caráter humano.

A teoria adleriana diz que são através das emoções que se organiza e se forma a

estrutura psicológica fundamental da nossa personalidade.

Claparède não se baseia nas teorias que se apoiam em bases biológicas para explicar as

emoções humanas, segundo ele, se fosse coerente que as emoções são em nível biológico

eficaz ao homem, como se explicaria as alterações dos comportamentos causados pelas

emoções não herdadas pelo homem?

A ideia central do questionamento teórico de Claparède consiste na argumentação que,

se reduzir as emoções em suas influências e determinações biológicas, como se explicaria as

emoções humanas e suas transformações no percorrer histórico, como também, as

diversidades dos conteúdos psíquicos?

Os questionamentos efetuados por Claparède às conceituações e explicações

fornecidos pelas teorias mencionadas a respeito das emoções, o fez estudar várias reações

obtidas em experimentos. Devido a estes experimentos concluiu que a vida afetiva pode ser

dividida entre emoções e os sentimentos e que não são a mesma coisa.

Como se verifica a conclusão de Claparède é divergente das teorias até então

mencionadas, pois nestas os traços das emoções e sentimentos se misturavam mecanicamente

e eram atribuídos a processos iguais.

Os estados emocionais para Lewin não são estanques, pois podem ser substituídos por

outra emoção a qualquer momento. Os afetos para ele fazem parte de qualquer atividade onde

se incluam as emoções e que de maneira alguma, as reações emocionais e afetivas podem se

separar.

Para Abbagnano (1986) os afetos são emoções positivas que se referem às pessoas e

que não tem caráter dominante da paixão, constituem aquela classe restrita de emoções que

acompanham algumas relações interpessoais, exclui-se o caráter exclusivista da paixão e

designa o conjunto de atos ou de atitudes como a bondade, a benevolência, a inclinação, a

devoção, a proteção, o apego, a gratidão, a ternura, etc.; não é senão uma forma de amor.

Camargo (1997) comenta que para Wallon no início da vida há uma indiferenciação

entre o Eu e o Outro. O recém-nascido para ele não tem individualidade psíquica, ou seja,

todas as influências externas e internas se misturam e se confundem, pois, os chamados

aspectos endógenos e exógenos se tornam uma unicidade psíquica; por isso que para Wallon

só através do contato com o mundo exterior é que a criança desenvolve seu próprio eu.

Portanto, para Wallon o desenvolvimento do eu é consequência das vivências afetivas

já que os primeiros contatos entre o sujeito e o outro ocorrem através dos afetos, por isto

afirma que o sujeito está por inteiro em sua emoção; está único, confundido nela (WALLON,

1941/1986).

Portanto é no início da vida, a partir da fase sensório-motora, onde as respostas

emocionais são indiferenciadas e imediatas com o outro, que percursos psíquicos mais

complexos serão potencializados e desenvolvidos. Sendo assim, conclui-se que para Wallon é

a partir das respostas emocionais indiferenciadas e imediatas com o outro que se desenvolvem

as vivências afetivas e consequentemente, as funções simbólicas, a atividade intelectual e as

condutas socialmente adaptadas, e assim, o comportamento emocional primário e

indiferenciado transforma-se em atitudes afetivas complexas e orientadas para o mundo.

Na concepção de Camargo (1997), Wallon não desconsidera as influências do

ambiente no desenvolvimento afetivo da criança, pois afirma que o indivíduo é

essencialmente social, não por aprender a ser social, mas por ser geneticamente social, já que

conviver em grupo é uma determinação genética do homem.

No início da vida, quando se entra em contato com o meio social, as emoções já estão

presentes através do choro, do sorriso, da dor, do medo, da falta, etc. Com isso, afirma-se que

desde o início do desenvolvimento psicológico as emoções estão presentes no fazer humano,

mesmo que nas atividades psíquicas mais rudimentares, e conforme o psiquismo se

potencializa e consequentemente se desenvolve, vão se estabelecendo relações mais

complexas, as primeiras vinculações com o outro, consequentemente o potencializar e o

desenvolver da afetividade.

A emoção é o suporte para o desenvolvimento das atividades simbólicas simples e

complexas, e mesmo que a ciência cartesiana tente negar, as emoções estão sempre presentes

nas funções psicológicas, tais como, a linguagem, a memória, a percepção, a atenção, mesmo

que estejam encobertas por mecanismos psicológicos de contenção, negação, resistência de

contato, fixidez, ausência de liberdade experiencial, coartação e incongruência.

Após o nascimento, Camargo (1997) as emoções determinam todo o comportamento

humano, já que ainda não possui neste período um código simbólico e uma linguagem

capazes de significar e elaborar, mesmo que de maneira rudimentar, as reações advindas do

sistema nervoso autônomo. Sendo assim, defende-se que o ser humano se desenvolve através

da maturação biológica e da interação com a realidade social, já que gradualmente se apropria

através da construção da linguagem, as formas sociais de comportamentos que aos poucos

mediam as manifestações emocionais e potencializam a construção e manifestação da

afetividade.

Assim, ao assimilar os códigos da linguagem e as formas aceitas de comportamento,

as emoções já não se expressam, conforme Camargo (1997), de forma espontânea, pois

passam a ser mediatizadas por códigos de conduta que dominam o comportamento e a

expressão, portanto, são nas relações intersubjetivas que as emoções se apropriam da cultura e

se desenvolvem.

São nas relações intersubjetivas que ocorrem a internalização e a apropriação dos

significados simbólicos, e assim, por se desenvolver paulatinamente através da linguagem na

interação com meio social, o ser humano internaliza os valores morais e por meio destes,

potencializa e constrói as representações simbólicas sobre a afetividade. Assim, Wallon

(1979, p. 22), afirma que “a emoção faz o traço de união entre o movimento que preexiste e a

consciência que se inaugura”.

Em Wallon (1979) as emoções estão presentes no interior de qualquer forma de

pensamento, de memória, de linguagem e expressão, sendo a emoção, elemento construtivo

em todas as atividades intelectuais humanas. Pode-se afirmar então, que o processo cognitivo

nunca existe independente da emoção, e, além disso, que toda cognição está a serviço das

emoções, pois como se sabe, a emoção é a gênese do simbólico e que, quando o choro não

mais desempenha a função de busca da satisfação fisiológica, já se instaura um segundo

sistema que é a capacidade representativa. Logo, defende-se que é a partir da influência mútua

entre emoção e cognição que ambos se potencializam, desenvolvem, estabelecem e se

modificam.

Os primeiros comportamentos são expressões diretas das emoções e estes

No documento RELAÇÃO DE AJUDA COMO AÇÃO EDUCATIVA. (páginas 96-107)

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