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Perspectiva Etnográfica e Antropológica

68 3.4.2.1 Indumentária

3.4.2.2. Aspectos Musicais Técnicos

Tal como referido no ponto 3.4.1.2 as partituras que existem onde está registada a melodia desta dança e à semelhança da dança das virgens, pertencem aos autores Ernesto Veiga de Oliveira em 2002 e encontram-se compilados no estudo de Isabel Leal da Costa em 2005, e num registo auditivo de Giacometti em (1958 – 1985) que se encontra disponível para consulta no museu da musica tradicional portuguesa e que permitiu a Costa (2005) elaborar um estudo comparativo, acerca das questões técnicas entre ambas as melodias. Fizemos uma análise, através dos registos auditivos observados em campo neste nosso estudo e comparativamente àqueles autores, não se verificaram modificações significativas entre a partitura de 2005 resultante da apresentação pública do mesmo ano e a melodia executada em 2010 e 2011. No entanto tendo em consideração a analise levada a cabo por Isabel leal da Costa (2005), consideramos importante referir neste nosso trabalho os seguintes elementos técnicos que constituem esta musicalidade específica: A melodia consta apenas de uma mudança de dois acordes e o ritmo é o mesmo interpretado pelo genebres. A melodia ou melhor

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dizendo, o acompanhamento musical das viloas beiroas é simples, composto apenas por 2 posições executadas alternadamente pela mão esquerda, com o rasgado da mão direita. Essas posições não se podem considerar acordes, uma vez que a afinação acústica das violas beiroas não permite uma clareza técnica do som. Assim, o suposto acompanhamento parece exercer apenas uma função rítmica uma vez que reproduz na integra o esquema rítmico das genebres e dos trinchos. A finação é bastante irregular, devido ao carater rústico das violas, não sendo a afinação um dos pontos primordiais da execução técnica deste instrumento. A própria construção acusticamente não está pensada a rigor. Relativamente aos elementos musicais analisados, há a referir que o Andamento não se manteve em nenhuma das transcrições sendo que, em Giacometti (1958-1985), Andante; em Oliveira, (2000), Moderato em (Costa, 2006), Allegro. Nota- se um visível acelerar da velocidade, na interpretação da melodia. A Tonalidade é Sib maior em Giacometti e Oliveira mas em Costa ouve uma alteração passando a ser em Láb Maior. Quanto à forma da peça musical foi mantida ao longo dos tempos em ambas as transcrições, obedecendo ao esquema ternário ABA. As melodias eram interpretadas em compasso binário, ternário e quaternário alternadamente, exceto em Oliveira que apenas transcreve o compasso ternário. Não existe desfasamento formal, relativamente à melodia e à coreografia, na opinião de Costa (2005:149).

Não há letra, só a melodia preenche o cenário que envolve os passos de dança. Apenas se ouvem os acordes básicos na viola beiroa, que servem simplesmente para apoiar a estrutura rítmica imitando os genebres e os trinchos. A dinâmica, na interpretação, apenas se verifica nos genebres, quando o tocador faz determinados fortes e fortíssimos no instrumento ao mesmo tempo que salta em direção a uma donzela, a um dançante e/ou ao público.

A sonoridade das 6 violas é abafada pelo estridente som das genebres e como a dança é executada em praça publica o seu som perde-se misturando-se com o cherreque

cherreque do genebres, que embora desprovido de caixa-de-ressonância emite um som

fortíssimo e bastante característico.

Tal como foi referido na caracterização técnica musical da dança das virgens nenhuma destas alterações é significativa, desde o estudo de 2005 até à apresentação pública deste ano de 2010 e 2011 em que foi feito e registado sonoramente o ritual. Qualquer uma das

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alterações verificadas nestas diferentes práticas, não é significativa quanto ao risco de perder no seu carácter o reconhecimento intemporal da história que as acompanhará.

Instrumentos utilizados na dança

Genébres – Genébres – cherraque cherraque – Idiofone de raspagem. Não tem caixa de ressonância e as lâminas são substituídas por cilindros de madeira exótica maciça. É suspenso ao pescoço por uma tira de cabedal. As lâminas são 14, cilíndricas de pau-ferro ou de pau-preto, supostamente. Coloca-se ao pescoço, ficando mais perto deste a de menor dimensão, são raspadas por uma pequena baqueta feita do mesmo material e com a mesma forma e espessura das lâminas. Há quem afirme que quando a baçaneta se gasta retiram a mais pequena do instrumento substituindo-a por outra nova, a verdade é que relativamente a esta teoria há uma evidente divergência de opiniões, como podemos constatar na entrevista 5 e na descrição 1 e 2.

Modo de tocar – glissandos ou marcações mais ritmadas conforme o carácter das danças e de rasgado; deve afastar-se do corpo para que o som não seja abafado deixando uma passagem de ar entre o peito do tocador e o instrumento como que fazendo uma caixa- de-ressonância. Segundo pesquisas feitas por Costa (2005: 67, 68) a sua existência remonta o século VII. Poderá ter sido uma inspiração adaptada de muitos outros instrumentos, instrumentos africanos e do brasil.

Viola Beiroa ou Bandurra

A Lousa é o último reduto da viola beiroa, a qual, a par das genébres (instrumento musical único no país), ocupa papel de relevo na actuação da Dança dos Homens (http://jflousa.no.sapo.pt/index.htm).

Instrumento cerimonial, com 5 ordens de cordas de arame ainda um outro Cravelhal com duas cordas simples agudas e curtas as requintas também elas de arame e que ao serem tocadas não podem ser pisadas.

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Afinação natural com as cordas soltas. Presente na dança dos homens.

Trinchos, pandeiretas – idiofone percutido - sem pele com soalhas metálicas percutidos na mão, pernas ou ar; são entrelaçados com fitinhas brancas de seda para que abafe um pouco o som estridente do metal e são usados pelas 3 madames na dança dos homens.

3.4.2.3. Aspetos Coreográficos

Os homens colocam-se posicionados em duas filas, com as madamas ao meio. O tocador acena para os companheiros e a dança tem inicio. A melodia é muito longa e repetitiva, as madamas tocam trinchos, esta dança não é abordada na lenda dos gafanhotos, apenas a das virgens vem mencionada, mas muitos autores se referem a ela como parte integrante de todo o processo ritual apresentado na festa a nossa senhora. Poderá ter a mesma função e ter surgido em sequência de os homens querem eles mesmo agradecer à Virgem a sua bênção. Esta opinião e defendida por autores como (Marcelo, 1993), (Oliveira, 2000) e (Dias, 1944, cit Costa, 2005) e alguns dos entrevistados corroboram esta opinião (entrevistas 4, 5, 6, 7, 8, 9).

Esta dança acontece a seguir à Dança das Virgens e no mesmo espaço físico e com a mesma posição voltados de frente para a Nossa senhora, no adro da igreja. É composta por 7 figuras coreográficas

no inicio e no fim de cada figura os dançarinos estão virados de frente para a igreja em colunas simples laterais faciais, uns atrás dos outros, estando as colunas lado alado e todos de frente para o publico, Na estrutura espacial fazem voltas , cruzamentos e diagonais, utilizando um espaço coreográfico maior que na dança das virgens, deslocando-se maioritariamente em passo de passeio maneado, excepto na 4ª figura, onde o dançarino das genébres faz passo corrido em direcção a uma das dançarinas ou pessoas da assistência. Fazem vénias quando estão de frente uns para os outros (Costa, 2005:75).

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A mesma autora na sua análise coreográfica refere que “O tempo é regular ao longo da coreografia tem o valor da *semínima excepto na 4ª figura que passa ao valor da colcheia” (Costa, 2005:75).

Refere ainda que “O passo é maneado de passeio é rodado e no lugar. Em outras alturas da dança é corrido (Quando passa a colcheia). A forma final coreográfica é representada pelo seguinte esquema: ABCDEFG” (Costa, 2005:75).