Categoria I: Id entid ade e Pertença Tabel a
Entrevista 7 José Teles
Chaves - 60 anos, atual Presidente da Junta de Freguesia da Lousa. Setembro de 2011
Acerca de um episódio onde foram pedidos direitos de autor á junta de freguesia pro colocarem publicidade as danças da lousa no cartaz da festa:
JT-“ Nesse ano os indivíduos
queriam obrigar-nos a pagar direitos sobre as danças tradicionais. Fiz la um pé-de- vento… então se nos obrigam a pagar direitos de autor, queremos saber quando é que nos pagam a nós, por isto ser tão nosso e de nos pertencer tão genuinamente. Mas desde sempre puseram em causa ao facto de isto ser mesmo nosso…”
JT-“ Para os miúdos e no meu
tempo de miúdo, aquilo era… sei lá qualquer coisa transcendente.”
JT-“ Consideram que estão a
pecar se não fizerem a festa a Nossa Senhora, segundo a origem e o compromisso que vêm de mil seiscentos e tal ….“
JT-“ Hoje em dia encaram mais
a situação como um bem que chegou até nós e que representa uma situação muito antiga e consideram isto como património cultural da freguesia. Digamos que é o nosso cartão-de-visita e sem dúvida nenhuma que é, quer a festa quer as danças tradicionais.”
JT-“… Isto é uma situação que
está muito enraizada nas pessoas” (relativamente à festa a Nossa Senhora)…”
JT-“ Esta festa é aqui na zona das poucas
que se mantem um carinho especial por parte da população e mantem-se com algum esforço, inclusivamente.”
JT-“ Ultimamente o número de residentes
está a diminuir e as faixas etárias a tornar- se muito baixas e por isso mesmo tem-se notado um esforça grande de todos os filhos da Lousa, que moram fora e que se resignam ao fato de virem cá na altura da festa, como festeiros, a fazer a festa. “
JT-“ Houve aí um ano em que não houve
festeiros mas ainda assim não deixaram cair isto. Juntaram-se algumas pessoas e fizeram uma festa na mesma.”
JT-“ Há uns anos atrás comecei a ficar um
pouco preocupado, ainda nem estava na junta, com o destino da festa… Começamos a ver que as pessoas eram poucas, a nossa tradição só deixava que casais que morassem cá na terra e com uma vida económica estável pudessem fazer a festa… pessoas que não morassem cá e que não tivessem cá casa não podiam fazer… isso estava a deixar-me ficar preocupado.”
JT-“ Mas entretanto houve aí um ano que
começaram a nomear festeiros, pessoas que já saiam fora deste normativo que foi obrigatório durante todos estes anos. E as pessoas aceitaram bem!”
JT-“ O Padre Castanheira teve uma
importância bastante grande. Até há 15, 20 anos atrás, o conceito da festa era o festeiro homem.”
JT-“ As mulheres não tinham participação
na festa ativamente, estavam mais sujeitas à logística da casa, às lides da casa. Ao longo dos anos o conceito muda, o festeiro não é o homem, é a família e nota-se que as mulheres já participam mais ativamente na festa.”
JT-“ eu defendo que as
nossas danças fora da festa ficam fora de contexto… é uma dança que não é um racho, tem de estar contextualizada e com uma determinada envolvente, para que pudesse de alguma forma ser geradora de receitas teriam de ser tomadas um conjunto de medidas para criar esse ambiente e essa envolvência.”
JT-“ eu vejo por exemplo
programas de Tv feitos cá na zona nomeadamente em castelo branco que trazem grupos e artistas de todos os géneros e culturas variadas distintas no entanto as nossas danças nunca constam. A própria camara não esta mentalizada para isto…” JT-“ eu farto-me de batalhar nisso.”
JT-“ condecorar 3 pessoas
ligadas às danças. E fi-lo no ano passado no domingo da festa uma e uma das coisas que disse lá, foi que dada a importância destas danças a Junta estará sempre disponível para coloca-las ao serviço de um plano mais abrangente de turismo e a camara municipal estava lá e nada!”
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Tabel a 9 (con t.)
Identidade legitimadora Identidade de resistência Identidade de projeto
Entrevista 7 José Teles Chaves - 60 anos, atual Presidente da Junta de Freguesia da Lousa. Setembro de 2011 JT-“ eu defendo que as
nossas danças fora da festa ficam fora de contexto… “.
JT-“Eu não tenho dúvidas
que as nossas danças são um produto cultural genuíno não é fabricado… é do povo das origens, das mentalidades…”
JT-“ Nós temos, inclusivamente ido a muitos lados e somos sempre muito bem recebidos porque aquilo é diferente…”
JT-“… para mim, o que
interessa mais não é a parte religiosa da festa, o que importa mais é a parte cultural, a cultura a etnografia, a antropologia, os hábitos, costumes e tradições.”
JT-“… nota-se que a altura
da procissão e o recolher da nossa senhora à igreja representa um marco…. Quer a gente queira, quer não.”
JT-“ Mas aquele bocadinho,
ali, representa toda a nossa tradição todas as nossas raízes tudo quilo que somos…”
JT-“ As pessoas que estão
nas danças têm de sentir mesmo senão não estariam lá.”
JT-“ Sentirão apenas o dever
de, sendo Lousence dar
continuidade a uma
tradição…”
JT-“… os solteiros viúvos e
divorciados neste momento ainda não fazem parte das comissões de festas. Mas o que mais custa é abrir um precedente, não quer dizer que isso não venha a acontecer.”
JT-“Antigamente por exemplo, quando o meu sogro e o meu pai fizeram a festa, tinham de dar acolhimento durante a semana à banda, acordeonistas, 2 bandas naquela altura, pessoal da pirotecnia, da iluminação, dos enfeites… As festas faziam-se com 5 ou 6 festeiros, eram cento e tal pessoas divididas pelos festeiros, durante todos os 4 dias que durava a festa-“
JT-“ Era ali uma semana
daquilo! Muito complicado! Daí a necessidade de as pessoas terem cá a casa…”
JT-“ Hoje em dia acabou, as
pessoas já vão para os hotéis… a gente paga… As bandas já não têm esse problema, vêm e vão no mesmo dia… a comida vem o restaurante servir, ao clube… quando era miúdo todas as casas tinha um forro grande e então enchia-se o sótão com colchoes e “enchergas” de palha e aquela gente dormia lá todos ao monte. Hoje em dia era impossível por as pessoas nessas condições.”
JT-“… a própria modernidade já permite outras coisas que antigamente não permitia.”
JT-“ condecorar 3 pessoas ligadas às danças. E fi-lo no ano passado no domingo da festa uma e uma das coisas que disse lá, foi que dada a importância destas danças a Junta estará sempre disponível para coloca-las ao serviço de um plano mais abrangente de turismo e a camara municipal estava lá e nada!”
JT-“ A divulgação é uma coisa,
mas ativar o turismo é um processo diferente…!”
JT-“ Estas coisas têm forçosamente de partir do pelouro da camara municipal.”
JT-“ Assim, desse modo, poderia
trazer muitos benefícios para a nossa Lousa… agora só a festa em si, nos moldes em que está, não é viável…não acredito.” JT-“a Junta de freguesia candidatou-se a um projeto de financiamento o “ProDeR - Programa de Desenvolvimento Rural, através da medida Conservação e Valorização do Património Rural. Este programa é financiado pelo Estado Português e pela Comunidade Europeia e visa a dinamização das zonas rurais e a melhoria da qualidade de vida das suas populações. Assim sendo a Junta de Freguesia recebeu uma verba que lhe permitiu renovar o guarda roupa quer das danças tradicionais quer do grupo de teatro ada aldeia, assim como armários equipamento de som- microfones sem fios e instrumentos musicais, são alguns dos equipamentos já adquiridos nesta primeira fase e que será benéfico.”
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Identidade legitimadora Identidade de resistência Identidade de projeto
Entrevista 7 José Teles Chaves - 60 anos, atual Presidente da Junta de Freguesia da Lousa. Setembro de 2011 JT-“…é engraçado falar
com elas quando entram e depois quando saem.”
JT-“ Saem com pena e o
sentimento é diferente, relativamente à importância que representa para elas.”
JT-“A mãe de uma das miúdas mais novinhas diz sempre uma coisas interessante : “Elas agora
não entendem mas depois vão entender”, e é verdade isso”.
JT-“ Felizmente vão sempre
aparecendo umas pessoas assim, como a Maria João e o Alexandre que depois tentam incutir estes espirito nas suas filhas e filhos”.
JT-“ A Assunção o Sr. Zé,
(que já entregou a chave, mas que se for preciso alguma coisa estará presente), felizmente temos tido, assim, pessoas que se agarram e vivem esta tradição e que á conta disso tem movido montanhas para a manter.”
Sobre como é sentido o ritual por parte de quem está envolvido e da +parte de quem não está:
T-“ é um bocado pela questão da fé. Mas mesmo
dentro da fé temos de dividir aqui as coisas um bocado. Se acontecer que a parte civil da festa, não se faça, com este pároco, de certeza que a parte religiosa seria feita na mesma. E neste momento com muita parte do povo a ajudar. “
JT-“Acontece também, que muitos desses casais
são tão católicos quanto eu, o que não quer dizer que não tenham fé”. Eu defendo as danças e a festa da lousa como ninguém, mas E sou dos mais defensores desta situação, eu exteriorizo muito valorizando essa situação, agora não quer dizer que eu a interiorize para mim próprio. Eu vejo todo este aspeto do ponto de vista cultural e não como aspeto religiosos e de fé.”
“Ainda em relação à questão do reaproveitamento da festa para poder incentivar o desenvolvimento local. Existe uma questão que é fundamental para explicar essa possibilidade. Nos dias da festa há uma preocupação constante de as várias empresas (pequenas que existem cá assim como as instituições como por exemplo a União Lousence, de nos dias da festa não tirar a clientela à festa… não sei se esta a perceber onde quero chegar! Eles entendem que a festa tem de se sustentar de sobreviver sozinha sem prejuízo. Logo essa perspectiva de rentabilizar a festa para desenvolver localmente a região demoraria a implementar, porque é uma questão de mentalidade percebe?”
JT-“ O Sr. Vaz Preto e o
atual bispo marcelino, juntamente um com o outro falaram em fazer a festa nesse ano, e combinaram fazer um livrito que servisse de guião”.
JT-“… aquilo representa
uma espécie de bíblia… Já se editaram montes de livros daqueles.”
JT-“ Há tb o livro do Sales
viana onde as danças tem uma representação significativa, este senhor apaixonou-se pelas nossas danças… e mesmo recortes e fotografias…. O sales viana também deu muita divulgação a isso.”
JT-“ O professor Gardete
tb deu um grande impulso…”
JT-“ de então para cá… o
antigo presidente da junta, sempre acarinhou as danças no sentido de os levar aqui e ali e por ai fora…”
JT-“ mas a divulgação a
serio começou tb no dia 2 de janeiro de 2002. Quando e coloquei aquele site na internet…”
JT-“ No ano de 2006 José
alberto Sardinha e mais 2 ou 3 etnólogos nacionais também vieram cá…”
JT-“… já se editou um
livro, livro já se está a fazer um dvd. Temos folhetos de divulgação vários…”
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Tabel a 10
Identidade legitimadora Identidade de resistência Identidade de projeto
Entrevista 8