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Resumo do Capítulo

C ATEGORIA V – ECONOMIA DA FESTA

Entrevistas

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Observando e registando características ritualistas, traços de identidade e pertença, marcas de coesão social e pesquisando sobre a economia da festa tentaremos compreender todo um conjunto de símbolos que nos ajudarão a desvendar as questões que estão na base desta investigação e podermos comprovar as hipóteses que nos propusemos confirmar.

2.2.1. Notas de Campo

“As notas de campo são fundamentalmente apontamentos realizados durante o dia para refrescar a memória acerca do que viu e ouviu e se deseja registar” (Ribeiro 3003: 98). Neste sentido, para levar a cabo este estudo realizamos uma série de notas de campo, “curtas e nem sempre estruturadas” (Ribeiro 3003: 98), aquando dos ensaios das danças, das procissões, da envolvência ambiental destes contextos referidos. Sobre essas notas de campo foram “reescritas posteriormente notas mais extensas” (Ribeiro 3003: 98), em forma de texto para que o pormenor não falhasse e descrevesse o mais fielmente possível aquilo que foi observado. Segundo os critérios de Richardson, foram utilizadas as notas de observação e as notas pessoais como estratégia pessoal para futura leitura e (re) interpretação. Segundo o mesmo autor as notas de observação ”são as mais detalhadas e concretas que eu for capaz de fazer. Quero pensar nelas como interpretações bastante precisas do que vejo e do, ouço, sinto, provo etc” (Richardson, 1999: 527cit Ribeiro, 2003:100). Como notas pessoais o mesmo autor considera serem

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“afirmações de sentimentos em relação, à pesquisa, às pessoas com quem estou a falar, a mim próprio no desenvolver do processo, às minhas dúvidas, às minhas ansiedades aos meus prazeres” (Richardson, 1999: 527 cit Ribeiro, 2003: 100).

Identificamo-nos, neste estudo, com estas citações na medida em que consideramos que o investigador terá de transformar o que observou e traduzi-lo perante aquilo que a sua perceção lhe permitiu. Um estudo deste género subjetivo deixará sempre em aberto inúmeros pontos de vista relativamente ao modo como cada um o recebe, é aqui que o investigador terá de ter atenção redobrada e imparcial relativamente a determinados comportamentos. Até confirmação de determinados significados não deverá fazer anotações precipitadas, não deixando que o modo como processa o seu entendimento, interfira nos seus registos. Transformar a observação em notas de campo representará “um desafio para o investigador uma vez que constituem um registo científico das experiências vividas para referência futura” (Ribeiro, 2003: 101).

2.2.2. Entrevistas Livres

A Entrevista enquanto técnica de investigação assenta em processos de recolha de informação verbal desenvolvidos no contexto de uma interação orientada de acordo com as hipóteses de trabalho e os objetivos de pesquisa previamente definidos (Ribeiro, 2003: 261).

O recurso à entrevista justifica-se já que esta fornece informação adicional de grande interesse para o estudo. A entrevista apresenta um forte cunho de informação clara, desde que seja devidamente conduzida e permite ao investigador ter acesso a uma sequência de dados determinados e específicos, acompanhados de uma imagem visual que associa determinados comportamentos às descrições feitas. Muitos autores consagrados como Nogueira (1968), Bugeda (1974), Ander-Egg (1976), Bleger (1980), Queiroz, (1983), Triviños (1987), Manzini (1990/1991) e Dias & Omote (1995) têm manifestado opiniões determinantes no que toca ao uso da entrevista como estratégia de trabalho de campo em etnografia.

Foi escolhido este método de trabalho de investigação, uma vez que representa o que mais se adequa aos critérios de pesquisa pretendidos. Nesta investigação o universo de sujeitos envolvidos é relativamente reduzido. Pelas suas caraterísticas de estruturação e

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diretividade, consideramos ser o mais viável e o que mais poderia satisfazer o nosso propósito.

Como instrumento de recolha de informação mais precisa foi utilizada entrevista não estruturada, aberta ou não diretiva. É um diálogo informal, “próxima de uma conversa” (Ribeiro, 2003: 262), com hora marcada, com um tema ou temas de referência, onde apenas o entrevistador conduz a entrevista no sentido de ir orientado o discurso, não deixando que o entrevistado se afaste dos temas propostos.

Este tipo de entrevista permite a obtenção de dados mais livremente, não condicionando as respostas do entrevistado. Este pode manifestar a sua opinião expressar os seus sentimentos e dar por terminada a sua respostas quando bem o entender. Traça perguntas amplas, e conduz a repostas longas. O papel do entrevistador é também o de controlador. Gere a entrevista conduzindo ou encaminhando as respostas de modo a que o entrevistado não forneça informação supérflua ou fora de contexto.

Para além da entrevista livre optamos também por outro tipo de entrevista situado entre este género livre e o formal estruturado, as entrevistas semiestruturadas, ou semi abertas, ou ainda, simi-diretiva …”forma de pesquisa qualitativa, muito popular e importante em ciências sociais, especialmente em antropologia” (Edgerton, 1993; Spradley 1979 cit Ribeiro, 2003: 263). Já Triviños (1987:152) refere que “favorece não só a descrição dos fenómenos sociais, mas também sua explicação e a compreensão de sua totalidade…”), enquanto Manzini (1990/1991: 154), defende que este tipo de entrevista se centra num assunto principal e sobre ele realizamos um roteiro com perguntas chave, no decorrer da entrevista vamos complementando com questões pertinentes ao seguimento lógico da entrevista, sendo que, desta forma, o discurso do entrevistado surgirá de forma mais livre e menos condicionada.

Foram elaborados guiões com os temas chave de modo a estabelecer coerência entre determinados temas abordados pelos diferentes entrevistados. A ordem da colocação das questões foi aleatória a fim de não condicionar as respostas.

Em determinados momentos foi necessário solicitar entrevistas de grupo na tentativa de conseguir uma maior descontração por parte dos participantes, proporcionando-lhes a capacidade de proferir discursos menos tensos e mais espontâneos, acerca das questões colocadas. Algumas destas entrevistas de grupo foram solicitadas pelos próprios

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entrevistados, outras por sugestão nossa, por conhecer os entrevistados e reconhecer o fator inibição perante o questionamento, “criando condições mais favoráveis e estimulantes à sua participação” (Ribeiro, 2003: 263).

O número de entrevistas não foi determinado com rigor e inflexibilidade, uma vez que não se trata de um estudo de carácter quantitativo, foram realizadas entrevistas semi - estruturadas como referido em cima, mas à parte destas, sempre que necessário e enquanto consideramos necessário, outras, a fim de satisfazer as dúvidas que iam surgindo e/ou prevalecendo quer no tratamento da interpretação quer nas transcrições das mesmas.

Apesar de algumas entrevistas terem tido aproximadamente a duração de uma hora e meia, outras houve que duraram menos tempo e outras ainda foram novamente retomadas em outra ocasião, propicia ao entrevistado, por não ter sido possível completa-las de uma só vez. Ao prolongar as entrevistas para além de uma hora e meia começaram a ser “visíveis os efeitos do cansaço e quebra de atenção/interesse por parte do entrevistador e do entrevistado” (Ribeiro, 2003: 264).

Posteriormente as entrevistas foram transcritas obedecendo aos critérios base de transcrição de entrevistas citados por (Ribeiro, 2003: 277-278). Esta transcrição tem de ser fiel e rigorosa passando na íntegra o discurso efetivo do entrevistado, sem adulterações do pensamento do mesmo.

Meios audiovisuais: Partindo desta compreensão, poderemos afirmar que o estudo antropológico visual pretende antes de mais utilizar as tecnologias do som e da imagem na realização do trabalho de campo, assim como construir discursos ou narrativas visuais (Pink, 1992: 124 cit Silva, 2005).

2.2.3. Gravações de Áudio

Registo fonográfico e de filmes sonoros. Não se conseguirá apenas a voz humana, mas toda a música, anotando os batimentos dos pés e das mãos. Por cada registo, transcrever os textos e, se possível, dar a tradução com comentário. Não chega a repetir; é necessário poder repetir (Mauss, 1993: 33 cit Ribeiro, 2003: 97).

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A utilização dos registos áudio como suporte de pesquisa em investigação começa a ter uma importância fulcral, na medida em que permitem toda uma extensão da voz da imagem e do movimento dos entrevistados. Os gravadores de áudio passaram a ser fiéis assistentes dos antropólogos aquando se equipam para levar a cabo as suas investigações em trabalhos no terreno.

Assim sendo, utilizamos nesta investigação no terreno um gravador de voz (Olympus – Digital Voice Recorder – VN-8600PC), o qual foi colocado ao serviço da investigação como complemento das anotações das entrevistas realizadas, como complemento das filmagens em vídeo e todo o registo empreendido desde o 1º dia da festa até ao ultimo, incluindo nesses registos todas as atividades que envolvem a situação estudada. Este recurso permitiu, muitas vezes decifrar dúvidas relacionadas com imagens que ao serem captadas, deixavam o registo sonoro muito aquém do que era pretendido, não permitindo muitas vezes que fosse possível decifrar a parte sonora do registo, sobretudo quando foram realizadas gravações do exterior. Consequentemente, servimo-nos desses registos, para facilitar e complementar a interpretação dos fatos de modo a não perder nenhuma informação, significativa, que pudesse por em causa os objetivos do estudo. Procedeu-se às gravações sempre com antecipada autorização dos intervenientes a fim de não causar nenhum transtorno moral e ético aos participantes. Ideia e recomendação defendida por diversos autores como Agar (1980), Erickson & Shultz (1981), Erickson & Wilson (1982), Erickson (1986, 1987) Ribeiro (2003).

Neste caso específico de estudo irá ser dada alguma importância ao estudo do som enquanto fator social, determinante crucial para o entendimento da significação determinante da identidade e pertença cultural do povo estudado. Assim sendo o registo do som de forma individual terá para este estudo um profundo significado e relevo, sendo este ritual musical por excelência. A utilização do gravador de som terá uma dupla função, para além das anunciadas anteriormente, que será o de permitir uma análise mais específica das sonoridades que envolvem o ritual quer na sua vertente social que na sua vertente mais técnica do ponto de vista da música enquanto forma organizada de sons e silêncios.

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