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Resumo do Capítulo

Este capítulo fará uma breve reflexão acerca dos conceitos teóricos que envolvem esta dinâmica estudada e compara os resultados obtidos à luz das teorias existentes os modos de abordagem de vários autores. A intenção é a de conferir legitimidade ao estudo, uma vez que serão apresentados os dados recolhidos em trabalho de campo. A apresentação dos resultados foi direcionada numa tentativa de obter respostas concisas, coerentes e esclarecedoras. Consideramos pertinente fazer uma pequena reflexão acerca dos conceitos de identidade e pertença, coesão social, ritual e performance, economia da cultura e manifestações emocionais e sentimentais, relacionadas e manifestadas neste género de culturas locais. Neste estudo, o impacto visual dos gestos, expressões e manifestações sentimentais provocadas pelas emoções inerentes, serviu como ponto de referência, que se revelou bastante significativo. As tabelas em anexo a este trabalho, foram elaboradas a partir dos dados registados nas entrevistas e descrições que se encontram em anexo num cd rom, que será igualmente entregue juntamente com o presente estudo.

Considerações Iniciais

Para poder levar a cabo este estudo, teremos de nos familiarizar com um conjunto de conceitos a fim de compreendermos, inteiramente, as questões em causa. Trataremos, primeiramente, de estabelecer comparações, análises, e confrontar dados recolhidos em

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trabalho de campo com teorias existentes, relacioná-las, na perspetiva de lhes conferir interesse científico e académico.

O homem, desde sempre, manifesta uma enorme preocupação pela compreensão da sua existência e é sobre esta mesma preocupação que constrói teorias explicativas apoiadas em fenómenos culturais e comportamentais que vai explorando. Este estudo visa procurar entendimentos para o conjunto de formas de expressão de caráter ritualista, que evidenciam identidades e sentimentos de pertença das gentes da aldeia da Lousa. Consequentemente, refletiremos sobre o valor da cultura popular e os seus riscos de preservação, caso não seja estimada, face ao desenvolvimento e pensamento globais do mundo atual. Revela-se importante relacionar e analisar os dados recolhidos no terreno face ao estado da arte.

…”culture, the historically accumulated artifacts of the group”… (Cole, 1993)

Benedcit (s/d: 15) refere que

A história da vida individual de cada pessoa é acima de tudo uma acomodação aos padrões de forma e de medida tradicionalmente transmitidos na sua comunidade de geração para geração. Desde que o indivíduo vem ao mundo os costumes do ambiente em que nasceu moldam a sua experiência dos factos e a sua conduta. Quando começa a falar ele é o frutozinho da sua cultura, e quando crescido e capaz de tomar parte nas atividades desta, os hábitos dela são os seus hábitos, as crenças dela as suas crenças, as incapacidades dela as suas incapacidades.

Assim, apresentamos o resumo das categorias que nos propusemos estudar na seguinte tabela:

TABELA I

VARIÁVEIS DE ESTUDO –CATEGORIAS

Categorias Tema Investigado Subcategoria Elementos específicos de estudo

Categoria I

Identidade e Pertença

- Identidade legitimadora - Identidade de resistência - Identidade de projeto

Todos os elementos passiveis de registo

Categoria II

Coesão Social

Todos os elementos passiveis de registo

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TABELA I (cont.)

Categorias Tema Investigado Subcategoria Elementos específicos de estudo

Categoria III

Ritual e Performance - Momentos Religiosos - Momentos Pagãos

-Expressão facial e corporal - Movimentação no espaço - Vestuário e adornos -Uso simbólico do espaço -musicalidade técnica e ordinária do cenário envolvente

Categoria IV Sentimentos e Emoções

- Religiosos e de fé - Pelas danças tradicionais

Todos os elementos passiveis de registo

Categoria V Economia da festa - Todos os elementos passiveis de registo

4.1. Identidade e Pertença

A perceção do conceito de identidade e pertença está intimamente ligada ao objetivo deste estudo. Assim, poderemos determinar, até que ponto os “fantasmas” do passado enraizados na memória coletiva deste povo, e o modo como construíram a identidade que os define, poderá ajudar a compreender o valor da cultura desse grupo de cidadãos, comuns, de uma vila do interior do país como a da Lousa.

A questão da identidade pode ser entendida de duas formas distintas, por um lado “A identidade passa a ser qualificada como identidade pessoal (atributos específicos do indivíduo) e/ou identidade social (atributos que assinalam a pertença a grupos ou categorias)” (Jacques,1998: 161). O termo identidade pressupõe “…o sentimento pessoal e a consciência da pessoa, de um eu…” (Brandão, 1990: 37).

Do ponto de vista, de Hamelink (1989), o conceito de identidade abarca, igualmente, dois significados distintos. Se por um lado, está relacionado com as características que uma determinada cultura apresenta, por outro, a identidade cultural abarca um conjunto de características que um determinado grupo atribui aos indivíduos, por considerar e sentir este/s pertencentes a uma cultura determinada. Por sua vez Ibáñez (1990) encara a definição do conceito de identidade apenas a nível individual, ou seja, entende que a identidade individual é obtida através da cultura que socializa os cidadãos, contrapondo a ideia de que a identidade cultural se estabelece com base no sentido da posse.

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Leyens cit Santos afirma que “ser social é ter identidade pessoal através de uma pertença a um dos grupos de referência.”

Neste caso concreto em estudo, vamos debruçar-nos sobre o ponto de vista social. É imperativo compreender estas diferentes abordagens para que possamos relacioná-las com as informações que obtivemos em campo e que observámos no terreno, variáveis que estão intimamente ligadas aos conceitos de identidade e pertença. Já Vitor Turner (1975) referia que investigar sobre identidade, auxilia a consciencialização do conhecimento de nós mesmos e/ou da imagem que os outros fazem de nós.

Nesta prática e nesta procura de identificação é imperativo que o indivíduo sinta o reconhecimento de si, “Cada um de nós não apenas „tem‟, mas vive uma biografia reflexivamente organizada em termos de fluxosde informações, sociais e psicológicas, sobre possíveis modos de viver” (Giddens,1991: 14, itálico no original). Mas também não pode isolar-se do modo como os outros lhe atribuem esse reconhecimento.

Antes de mais, a sua existência e a qualidade de pertencer a um determinado grupo social, tem de ser reconhecida pelos demais elementos do grupo, premissa esta já referida por Duccini (2009) quando fala sobre a construção das identidades.

Construir uma identidade passa por estabelecer uma relação com a envolvência física. O próprio local onde se realizam os rituais tem igual significado perante a atribuição da designação de ritual. Normalmente são realizados em locais públicos e com significado relacionado com o mito em questão. As palavras sagradas ou atitudes comportamentais relacionadas com o pensar sagrado também são reveladoras e indiciais de culto ou de prática ritual.

Essa construção passa também por fatores pessoais e psicológicos em que as memórias constituem um contributo significativo para a reconstrução fidedigna do sentimento que faz o indivíduo “pertencer a”.

A construção da identidade justifica-se quando está presente no imaginário dos seus praticantes (vindo a enraizar-se através de memórias passadas). No entanto, ela existe, ainda, no momento presente, mas prevê-se, também, que se perpetue no futuro. Assim, o povo da Lousa estabelece os seus padrões identitários que passam por excluir ou incluir um sujeito, conforme os seus distintos modos de atuação, reconhecimento das diferenças e as semelhanças entre práticas e modos de sentir o ritual, de modo a

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preservar e defender do conjunto de ideias comuns, que servem o interesse coletivo. Teremos em conta as considerações de Manuel Castells (2000: 24), no que diz respeito às três formas distintas de construir uma identidade:

Identidade legitimadora: introduzida pelas instituições dominantes da sociedade no intuito de expandir e racionalizar sua dominação em relação aos atores sociais. Identidade de resistência: criada por atores que se encontram em posições/condições desvalorizadas e/ou estigmatizadas pela lógica da dominação, construindo, assim, trincheiras de resistência e sobrevivência com base em princípios diferentes dos que permeiam as instituições da sociedade, ou mesmo opostos a estes últimos. Identidade de projeto: quando os atores sociais, utilizando-se de qualquer tipo de material cultural ao seu alcance, constroem uma nova identidade capaz de redefinir sua posição na sociedade e, ao fazê-lo de buscar a transformação de toda a estrutura social.”

Refletindo acerca destas considerações traçamos as categorias que nos poderiam ajudar a compreender as práticas que nos propusemos investigar e apresentamos os resultados obtidos do trabalho de campo nas seguintes tabelas:

TABELA II