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1. O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO

2.3. ASPECTOS NEGATIVOS DO TELETRABALHO

Dentre os inúmeros pontos positivos analisados anteriormente, cumpre analisar detalhadamente, os pontos negativos. Pontos esses que são mais comuns de acontecerem nessa modalidade de trabalho que os positivos. O teletrabalho seria uma excelente forma de se trabalhar caso fossem cumpridas e respeitadas as normas trazidas pelo ordenamento-jurídico trabalhista brasileiro. Apesar de, em alguns pontos, a própria Lei se mostrar inconstitucional e trazer mais desproteção social ao trabalhador.

É necessário abordar o teletrabalho, segundo Wilson Ramos Filho e Sylvia Malatesta das Neves, como uma “estratégia empresarial”, que tem como objetivo

51COLUMBU, Francesca; MASSONI, Túlio de Oliveira. Tempo de trabalho e teletrabalho. In: COLNAGO, Lorena de Mello Rezende el al (Coords.); STOLZ, Sheila; MARQUES, Carlos Alexandre Michaello Marques (Orgs.). Teletrabalho. São Paulo: LTr, 2017, p. 21.

52ALVES, Daniela Alves de. Gestão, produção e experiência do tempo no trabalho. 2018. 246 f. Tese (Doutorado em Sociologia)-Universidade Federal do Rio do Rio Grande do Sul, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-graduação, Porto Alegre, 2008. Disponível em:

https://lume.ufrgs.br/handle/10183/13577. Acesso em: 08 out.2019.

central incrementar a exploração do trabalho e trazer prejuízos à organização coletiva dos trabalhadores.53

Sob tal aspecto, Bruna Oliveira Sousa Kitanishi, apresenta pontos negativos no uso do teletrabalho, tanto no âmbito subordinado como no autônomo, veja-se:

Nessa seara, estariam as seguintes repercussões: o isolamento do teletrabalhador do ambiente de trabalho, provocando a interiorização dos problemas de trabalho, repassando-os para o interior da sua residência. A imagem que familiares e amigos têm do teletrabalhador como alguém que trabalha pouco. A diminuição de contato e convívio com os colegas de trabalho, o que reduz a troca de informações e experiências, bem como provoca estagnação da carreira, em virtude da pouca possibilidade de promoção. Ainda, num contexto mais amplo, tal isolamento pode influenciar a esfera sindical, já que provoca a redução das forças das categorias respectivas, diante da ausência da idéia de coletividade.54

Além dos elencados pela autora, a responsabilidade pela estrutura para a realização do trabalho, gastos com energia, internet, problemas de saúde pela falta de fiscalização, dentre outros, são outros pontos negativos que são percebidos no teletrabalho.

Com relação à saúde, podem-se destacar: a ansiedade quando é necessário o cumprimento de metas, aumento de peso pela ausência de exercício físico, dificuldade de concentração, e principalmente a dificuldade de ser demonstrado um acidente de trabalho.55

Para Jourberto de Quadros Pessoa Cavalcante e Francisco Ferreira Jorge Neto, a realização do teletrabalho pode provocar uma redução dos direitos trabalhistas:

[...] com a existência de relações autônomas ou de relações precárias de trabalho e sua informalização, com a ampliação dos obstáculos para aplicação e fiscalização da legislação trabalhista e de acordo e convenções coletivas de trabalho e ainda uma confusão de despesas do lar com despesas para a realização do trabalho para, além dos problemas de meio

53FILHO, Wilson Ramos; NEVES, Sylvia Malatest. Trabalho imaterial e teletrabalho: contradições e limites da sociedade informacional. In: COLNAGO, Lorena de Mello Rezende el al (Coords.); STOLZ, Sheila; MARQUES, Carlos Alexandre Michaello Marques (Orgs.). Teletrabalho. São Paulo: LTr, 2017, p. 39.

54KITANISHI, Bruna Oliveira Sousa. As faces do Teletrabalho e uma análise do Controle de Jornada à Luz da Lei 13.467/2017. Revista do Tribunal do Trabalho da 15ª Região, Campinas/SP, n. 54, jan./jun. 2019, p. 283.

55KITANISHI, Bruna Oliveira Sousa. As faces do Teletrabalho e uma análise do Controle de Jornada à Luz da Lei 13.467/2017. Revista do Tribunal do Trabalho da 15ª Região, Campinas/SP, n. 54, jan./jun. 2019, p. 289.

ambiente inadequado para o trabalho, com prejuízos à saúde do trabalhador.56

Diante disso, teletrabalho ainda é visto como uma espécie de trabalho onde o teletrabalhador possui uma carga maior de trabalho, do que para aquele que fica na sede da empresa, e ainda se submete às cobranças e a um controle virtual à distância.

Por estar ligado à tecnologia, o teletrabalhador se mantém conectado ao trabalho constantemente, fazendo surgir então o prolongamento da sua jornada de trabalho, e consequentemente problemas de visão, fadiga mental, dores nas costas, pescoço e mãos, a famosa LER, etc. Pelo elastecimento dessa jornada, o nível de estresse aumenta consideravelmente, o que acarreta a um sofrimento psíquico.

Francesca Columbo e Túlio de Oliveira Massoni alertam que:

[...] nos vínculos telelaborais, logo se vê, pode ocorrer uma potencial precarização e maior vulnerabilidade em relação ao abuso de jornadas excessivas, uma vez que os teletrabalhadores estão longe das tradicionais medidas protetivas, seja de sindicato ou de órgãos de fiscalização estatal dos direitos laborais, humanos e sociais.57

O teletrabalho regulado pela CLT, como preconiza Bruna Oliveira Sousa Kitanishi, possui uma rotina que não é compatível com o controle de horário, sendo excluído o direito às horas extras, adicional noturno, hora noturna, intervalo intra e interjornada.58 Sobre as horas extras, é inconstitucional dizer que o teletrabalhador não faz jus por causa da sua jornada de trabalho, tendo em vista que o art. 7º, inciso XIII da Constituição da República trata do direito às horas extraordinárias para todo trabalhador, incluindo o teletrabalhador.

Preceitua o art. 7º, inciso XIII da Constituição Federal de 198859:

56CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa; JORGE NETO, Francisco Ferreira. Teletrabalho:

aspectos econômicos e jurídicos. In: COLNAGO, Lorena de Mello Rezende; CHAVES JUNIOR, José Eduardo de Resende; PINO ESTRADA, Manuel Martin (Coord.). Teletrabalho. São Paulo: LTr, 2017, p. 35.

57COLUMBU, Francesca; MASSONI, Túlio de Oliveira. Tempo de Trabalho e teletrabalho. In:

COLNAGO, Lorena de Mello Rezende; CHAVES JUNIOR, José Eduardo de Resende; PINO ESTRADA, Manuel Martin (Coord.). Teletrabalho. São Paulo: LTr, 2017, p. 22.

58KITANISHI, Bruna Oliveira Sousa. As faces do teletrabalho e uma análise do controle de jornada à luz da Lei 13.467/2017. Revista do Tribunal do Trabalho da 15ª Região, Campinas/SP, n. 54, jan./jun. 2019, p. 295.

59Vade Mecum Acadêmico de Direito Rideel/Anne Joyce Angher, organização.-24. ed.- São Paulo:

Rideel, 2017 (Série Vade Mecum). p. 23.

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...]

XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;

Para o juiz do Trabalho da 4ª Região, Átila da Rold Roesler, a inclusão do inciso III no art. 62 da CLT, provoca um retrocesso, pois o empregado, sem o controle de horas trabalhadas, pode ser cobrado apenas por metas estabelecidas, independentemente da carga horária semanal que tenha que realizar para atingi-las.

Dessa forma, a modalidade de teletrabalho é significativamente alterada, e as condições de trabalho realizado nessa situação são profundamente precárias.60

Logo, na prática, o teletrabalho acarreta mais prejuízos do que benefícios para o trabalhador que adere a essa modalidade, pois o intuito de grandes empresas é a redução de custos para elas e a obtenção de lucro. Tal modalidade tem grande semelhança com o modelo fordista, quando se trata da coerção, do controle imposto e a constante vigilância ostensiva e rigorosa. Porém, hoje em dia, essa vigilância é feita por sistemas de controle aprimorados, em decorrência da evolução da tecnologia.

Cabe registrar, por fim, conforme destacam Wilson Ramos Filho e Sylvia Malatesta das Neves:

O teletrabalho, desse modo, revela-se realidade complexa e ambígua, que ganha nova expressão no atual contexto do capitalismo flexível, como mais uma possibilidade de flexibilização que combina formas antigas e novas de gestão de força de trabalho. Não se pretende, obviamente, defender que todo o teletrabalho é sinônimo de precariedade, mas sim expor que o trabalho informacional não traz uma autonomia específica ao trabalhador, já que, ao contrário, tem gerado maior insegurança e precarização do trabalho, pois em grande parte continua a expressar empregos de baixa qualificação.61

2.4. O DIREITO À DESCONEXÃO DO TELETRABALHADOR

60ROESLER, Átila Da Rold. Reforma trabalhista prejudicou muito a vida de quem “trabalha em casa”.

Justificando, 29 ago. 2017. Disponível em: http://www.justificando.com/2017/08/29/reforma-trabalhista-prejudicou-muito-vida-de-quem-trabalha-de-casa/. Acesso em: 08 out. 2019.

61FILHO, Wilson Ramos; NEVES, Sylvia Malatesta das. Trabalho imaterial e teletrabalho:

contradições e limites da sociedade informacional. In: COLNAGO, Lorena de Mello Rezende el al (Coords.); STOLZ, Sheila; MARQUES, Carlos Alexandre Michaello Marques (Orgs.). Teletrabalho. São Paulo: LTr, 2017, p. 39.