• Nenhum resultado encontrado

O DANO EXISTENCIAL COMO VIOLAÇÃO À SAÚDE E AOS DIREITOS DE

3. O DANO EXISTENCIAL E A PROTEÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR

3.2. O DANO EXISTENCIAL COMO VIOLAÇÃO À SAÚDE E AOS DIREITOS DE

O objetivo central do direito do trabalho é a busca constante pela proteção e preservação da dignidade do ser humano em todos os seus níveis. E é por meio da proteção dada por este instituto que o princípio da dignidade da pessoa do trabalhador, previsto no artigo 1º, III da CF/8884, assegura a realização do ser humano e o atendimento aos reclamos sociais.

A Constituição da República é repleta de dispositivos que trazem proteção ao trabalhador. Em seu Título II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais – foi a primeira a elencar o trabalho decente como um direito fundamental social, ao inseri-lo entre os demais direitos sociais previstos no rol do art. 6º. Já o caput e o inciso VIII do art. 17085 também destacam a importância do direito social ao trabalho decente:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa , tem por finalidade assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

82WUNSCH, Guilherme; TITTONI, Marta Lúcia; GALIA, Rodrigo Wasem. Inquietações sobre o dano existencial no direito do trabalho: o projeto de vida e a vida de relação como proteção à saúde do trabalhador. Porto Alegre: HS Editora, 2015. p. 51.

83WUNSCH, Guilherme; TITTONI, Marta Lúcia; GALIA, Rodrigo Wasem. Inquietações sobre o dano existencial no direito do trabalho: o projeto de vida e a vida de relação como proteção à saúde do trabalhador. Porto Alegre: HS Editora, 2015. p. 53.

84 “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamento: III- a dignidade da pessoa humana”. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Vade Mecum Acadêmico de Direito Rideel/Anne Joyce Angher, organização.-24. ed.- São Paulo: Rideel, 2017 (Série Vade Mecum). p. 18.

85Vade Mecum Acadêmico de Direito Rideel/Anne Joyce Angher, organização.-24. ed.- São Paulo:

Rideel, 2017 (Série Vade Mecum). p. 66.

[...]

VIII – busca do pleno emprego.

Por fim, o art. 193 da Carta Magna de 1988 também estabelece que “a ordem econômica tem como base o primado do trabalho e, como objetivos, o bem-estar e a justiça sociais”.

Tendo em vista todos os dispositivos constitucionais que asseguram um trabalho digno ao ser humano e que elevam o trabalho humano à categoria de princípio, José Claudio Monteiro de Brito Filho constitui ser trabalho descente:

O conjunto mínimo de direitos do trabalhador, necessários à preservação de sua dignidade, que corresponde: à existência de trabalho; à liberdade de trabalho; à igualdade no trabalho; ao trabalho com condições justas, incluindo a remuneração, que preservem sua saúde e segurança; à proibição do trabalho da criança e as restrições ao trabalho do adolescente;

à liberdade sindical; e à proteção contra os riscos sociais.86

Sendo assim, um novo conceito de trabalho surge, visto que a palavra trabalho, não está mais ligada à ideia de castigo, pena, sofrimento ou somente uma visão de sustento, mas sim como um elemento de valorização social e agregador do ser humano.

Consoante ensina Rúbia Zanotelli de Alvarenga:

[...]. O trabalho passa a ser uma atividade desenvolvida pelo homem com o fim último de atender às exigências básicas do ser humano, no plano da realidade material e espiritual, dando à pessoa humana garantia de vida e de subsistência, para que ao homem seja oferecido um todo imprescindível a uma vida digna e saudável, encontrando-se ligado não apenas aos direitos da personalidade do ser humano como também à sua afirmação econômica, social, cultural e pessoal”.

Ao ser respeitado o art. 6º da CF/88, importante direito fundamental, e todos os outros dispositivos sobre esse tema, é que será concretizado o mandamento do art. 1º, III e caput do art. 170 da Constituição Federal de 1988. Pois não tem como alguém ver sua dignidade humana sendo respeitada, sem, concomitantemente, vincular com o trabalho, sendo esse primordial para a promoção da dignidade.

86 BRITO FILHO, José Claudio Monteiro. Trabalho escravo: caracterização jurídica. São Paulo: LTr, 2014. p. 33.

Tendo o direito do trabalho como principal objetivo o trabalhador, a principal finalidade do trabalho descente é respeitar os direitos fundamentais do empregado.

Direitos esses que, se não forem observados, causam sérios danos, dentre eles o dano existencial.

Ao ser privado de tempo para o lazer, para a família e para o seu próprio desenvolvimento pessoal, cultural, artístico e intelectual, dentre outros, o trabalhador pode sofrer prejuízos à sua saúde. Pois a sujeição do mesmo a um regime de trabalho que lhe cause desgaste e atinja o seu projeto de vida e a sua existência, faz com que surja o dano existencial ao trabalhador, dano esse que lhe impede de viver de forma plena e saudável.

Para Sebastião Geraldo de Oliveira, há uma ressonância direta do trabalho com o processo vital, o que permite instituir que:

[...] para exercer o trabalho, o homem não pode perder a saúde, sem a qual o direito à vida não se sustenta. Por essa razão, cada vez mais, as normas legais no mundo inteiro estão associando o trabalho humano à honra,

O direito fundamental à saúde está diretamente relacionado à qualidade de vida dos trabalhadores no ambiente de trabalho e visa promover a sua incolumidade física e psíquica durante o desenvolvimento da sua atividade profissional, de modo que o trabalho possa ser executado de forma saudável e equilibrada e que o trabalhador possa de lá sair em condições de desenvolver outras atividades, desfrutando assim dos prazeres de sua existência enquanto ser humano.88

A jurisprudência trabalhista tem entendido que, ao não ser observado o trabalho digno, como um ambiente equilibrado e saudável, o trabalhador merece ser indenizado. Veja-se:

EMENTA: DIREITO A UM AMBIENTE DE TRABALHO DIGNO. DANOS MORAIS. CONFIGURAÇÃO. O meio ambiente de trabalho possui proteção

87OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção Jurídica à Saúde do Trabalhador. 2. ed. São Paulo:

LTr, 1998. p. 98.

88 BOUCINHAS FILHO, Jorge Cavalcanti; ALVARENGA, Rúbia Zanotelli de. O dano existencial e o direito do trabalho.In: ALVARENGA, Rúbia Zanotelli; TEIXEIRA, Érica Fernandes (Orgs.) Novidades em direito e processo do trabalho. São Paulo: LTr, 2013, p.188.

constitucional, conforme art. 200, VIII. No mesmo sentido, o art. 225, da CR/88, estabelece que todos têm direito ao meio ambiente (de trabalho) equilibrado. O pagamento de indenização por danos morais exige a comprovação dos clássicos requisitos da responsabilidade civil, considerados essenciais pela doutrina subjetivista, quais sejam, ato abusivo ou ilícito, nexo de causalidade e implemento do dano, pressupondo a lesão, dor física ou moral pela ofensa a bem jurídico inerente aos direitos da personalidade, quais sejam, à dignidade, à honra, ao decoro, à paz interior, aos sentimentos afetivos e à integridade. A sua reparabilidade está fundada na responsabilidade civil, segundo a qual, quem causa dano a outrem tem o dever de indenizá-lo, com o objetivo precípuo de garantir que todos os seres humanos se respeitem entre si e encontra previsão legal específica na Constituição da República, em seus arts. 5º, X, e 7º, XXVIII, e, também, nos arts. 186 e 927, do Código Civil.(TRT-3 - RO: 00109978120155030010 0010997-81.2015.5.03.0010, Relator: Convocada Ana Maria Espi Cavalcanti, Quarta Turma)89

Há que mencionar também a situação de configuração do dano por jornada extenuante. Veja-se:

EMENTA: DANOS EXISTENCIAIS. JORNADA EXTENUANTE.

CONFIGURAÇÃO. Os danos existenciais transcendem a lesão a um direito da personalidade específico, atingindo todo o conjunto de relações que compõem a própria existência do ofendido. Sendo assim, a mera prestação de horas extra habituais não é suficiente para embasar o pedido de indenização por danos existenciais. Todavia, comprovada a reiterada realização de atividades em ritmo extenuante, com duração maior do que um dia, capazes de impedir o convívio interpessoal, a realização dos projetos de vida e a própria plenipotencialização da personalidade do trabalhador, impõe-se a condenação da empresa a indenizar os danos existenciais sofridos.(TRT-3 - RO: 00103179120165030065 0010317-91.2016.5.03.0065, Sétima Turma)90

Portanto, os danos causados à saúde do trabalhador, seja pela ampliação da jornada, inclusive com a prestação de horas extras, seja pelo meio ambientes de trabalho inadequado, refletem na vida relacional do trabalhador, que interfere em seus direitos de personalidade, pois afetam sua existência, fazendo com que altere ou interrompa o seu projeto de vida e a sua vida de relação.

3.3. A RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR POR DANO EXISTENCIAL