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Centro Universitário do Distrito Federal UDF. Coordenação do Curso de Direito. Kelly Soares Fonseca

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Centro Universitário do Distrito Federal – UDF Coordenação do Curso de Direito

Kelly Soares Fonseca

O DIREITO FUNDAMENTAL AO PROJETO DE VIDA E À VIDA DE RELAÇÕES DO TRABALHADOR E TELETRABALHADOR: A PROTEÇÃO AO DIREITO DE

DESCONEXÃO E AO LAZER

Brasília 2019

(2)

Kelly Soares Fonseca

O DIREITO FUNDAMENTAL AO PROJETO DE VIDA E À VIDA DE RELAÇÕES DO TRABALHADOR E TELETRABALHADOR: A PROTEÇÃO AO DIREITO DE

DESCONEXÃO E AO LAZER

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Coordenação de Direito do Centro Universitário do Distrito Federal – UDF, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito.

Orientadora: Rúbia Zanotelli Alvarenga.

Brasília 2019

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Reprodução parcial permitida desde que citada a fonte.

Fonseca, Kelly Soares

O direito fundamental ao projeto de vida e à vida de relações do trabalhador e teletrabalhador: a proteção ao direito de desconexão e ao lazer. / Kelly Soares

Fonseca. – Brasília, 2019.

58 f.

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Coordenação de Direito do Centro Universitário do Distrito Federal – UDF, como requisito parcial para

obtenção do grau de bacharel em Direito. Orientadora: Rúbia Zanotelli Alvarenga.

1. Dano existencial. 2. Direito a desconexão. 3.Teletrabalho . 4.Direito da personalidade. 5. Princípio da dignidade da pessoa humana.

CDU 349.2:331.1

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Kelly Soares Fonseca

O DIREITO FUNDAMENTAL AO PROJETO DE VIDA E À VIDA DE RELAÇÕES DO TRABALHADOR E TELETRABALHADOR: A PROTEÇÃO AO DIREITO DE

DESCONEXÃO E AO LAZER

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Coordenação de Direito do Centro Universitário do Distrito Federal - UDF, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito.

Orientadora: Rúbia Zanotelli Alvarenga.

Brasília, _____ de _________ de 2019.

Banca Examinadora

_________________________________________

Rúbia Zanotelli Alvarenga

Doutora em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Professora do Centro Universitário do Distrito Federal – UDF

__________________________________________

Nome do Examinador Titulação

Instituição a qual é filiado

___________________________________________

Nome do Examinador Titulação

Instituição a qual é filiado

Nota: ______

(5)

Dedico o presente trabalho primeiramente a Deus, que sempre me encheu de sabedoria para concluir esta obra com excelência.

Aos meus pais e amigos (em especial Ludmila Dias e Patrícia Medeiros) por sempre me apoiarem e me ajudarem nos momentos difíceis dessa caminhada, e ao meu noivo Lucas que sempre confiou no meu potencial. Também dedico à minha orientadora Rúbia, que desde o início acreditou em mim para realizar mais esse sonho.

(6)

“Ande e ame devagar. Ande sem pressa. Ame com jeito. Por mais distante que ele esteja, o amor também mora no peito.” (Lucão)

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RESUMO

Garantir qualidade de vida em todas as esferas do ser humano é o principal objetivo da Constituição Federal de 1988. Na vida do trabalhador, essa proteção é mais pontual, tendo em vista ser a parte mais vulnerável da relação laboral. E é devido a essa vulnerabilidade que o seu projeto de vida e a sua vida de relações deve ser protegida, para evitar eventuais danos existenciais já estabelecidos na Consolidação das Leis do Trabalho, através da Reforma Trabalhista (Lei 13.467/2017). No caso do teletrabalhador, é de difícil constatação que este se desconecte de seu trabalho, pois não é abrangido pelo regime da jornada de trabalho, podendo, então, sofrer danos existenciais, decorrentes dessa modalidade. Para que se obtenham soluções e se identifiquem os principais problemas desse dano é que foi desenvolvido o presente trabalho, para buscar a efetivação do direito à personalidade e a tutela do princípio da dignidade da pessoa humana.

Palavras-chave: Dano existencial; Direito à desconexão; Teletrabalho; Direito da personalidade; Princípio da dignidade da pessoa humana.

(8)

ABSTRACT

The main objective of the 1998 Federal Constitution is to ensure quality of life in all the areas of a human being. At the worker’s life this protection is more punctual, given that this is the most vulnerable part of the labor relationship and is through this vulnerability that your life project and your life of relationships must be protected to avoid eventual existencial damages, already established in the Consolidation of labor laws through the Labor Reform ( Law 13.467/2017). Besides that, it’s hard to see the teleworker to disconnect from your job because this mode of work is not covered by the working hours regime, being able then suffer existential damages. Focused on getting solutions and identifying the main problems caused by these damages, this following work was developed to search the enforcement of the right to personality and the guardianship of the principle of the dignity of the human person.

Keywords: Existential damage; Right to disconnexion; Telecommuting; Right to personality; Principle of the dignity of the human person.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABREVIATURAS

Art. Artigo

Arts. Artigos

SIGLAS

CC Código Civil

CF Constituição Federal

CLT Consolidação das Leis do Trabalho OIT Organização Internacional do Trabalho ONU Organização das Nações Unidas STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiça

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 11

1. O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO ... 13

1.1. CONCEITO E ELEMENTOS CARACTERIZADORES DO DANO EXISTENCIAL ... 13

1.1.1. O projeto de vida ... 16

1.1.2. A vida de relações ... 17

1.2. ODANOEXISTENCIALCOMO VIOLAÇÃOAOPRINCÍPIO DADIGNIDADE DAPESSOAHUMANA ... 19

1.3. A IMPORTÂNCIA DO DIREITO AO LAZER E À DESCONEXÃO DO TRABALHO ... 20

1.4. ODANOEXISTENCIALNALEI13.467/2017 ... 23

1.5. ODANOEXISTENCIALEODANOMORAL:DISTINÇÕESRELEVANTES 24 2. A CARACTERIZAÇÃO DO DANO EXISTENCIAL NO TELETRABALHO ... 27

2.1. OTELETRABALHO ... 27

2.2. ASPECTOSPOSITIVOSDOTELETRABALHO ... 29

2.3. ASPECTOSNEGATIVOSDOTELETRABALHO ... 31

2.4. ODIREITOÀDESCONEXÃODOTELETRABALHADOR ... 34

2.5. ODANOEXISTENCIALNOTELETRABALHO... 37

3. O DANO EXISTENCIAL E A PROTEÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR ... 39

3.1. CONCEITO DE SAÚDE DO TRABALHO E DE MEIO AMBIENTE DO TRABALHOSAUDÁVELEEQUILIBRADO ... 40

3.2. ODANOEXISTENCIALCOMOVIOLAÇÃOÀ SAÚDEEAOSDIREITOS DE PERSONALIDADEDOTRABALHADOR ... 43

3.3. ARESPONSABILIDADEDOEMPREGADORPORDANOEXISTENCIAL .. 46

3.3.1. Dano moral e dano existencial: a possibilidade de cumulação 47 3.4. OUTRAS SITUAÇÕES CONCRETAS RECORRENTES DE DANO EXISTENCIALNASRELAÇÕESDETRABALHO ... 49

CONCLUSÃO ... 53

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 54

(11)

INTRODUÇÃO

Atualmente, no Brasil, a Carta Magna de 1988 é uma das principais fontes que busca a proteção de todas as áreas da vida do ser humano. Por meio dela, princípios e fundamentos são, ou, ao menos, deveriam ser respeitados para garantir a efetivação de um dos princípios mais importantes, qual seja, o da dignidade da pessoa humana.

Ter dignidade em ambientes laborais é de suma importância, tendo em vista que se relaciona diretamente com a vida do trabalhador. Por meio disso, eventuais danos devem ser evitados constantemente, para que o trabalhador tenha uma vida saudável, com todos os seus direitos garantidos.

Observa-se que, diariamente, diversos são os danos ocorridos em face do trabalhador. Dano esse não só moral, como também existencial, que começou a aparecer e ter importância em meados dos anos 2000, no Brasil. Dano que é elencado como uma espécie do gênero danos extrapatrimoniais, onde figuram, como seus principais elementos, o projeto de vida e a vida de relação.

Diante do crescimento desse dano causado aos trabalhadores e aos teletrabalhadores, que, por muitas vezes, não se desconectam do trabalho e não buscam realizar suas satisfações pessoais, tem-se, como consequência, o fato de estes passarem a ver suas vidas e as relações que os cercam como segundo plano, pois se misturam com o tempo de trabalho e se tornam uma única coisa.

Para tanto, inicialmente, no primeiro capítulo deste trabalho será abordado o conceito e os elementos caracterizadores do dano existencial no direito do trabalho, explicando afundo os seus dois principais elementos que o integram, bem como depois da lei 13.467/2017 e como esse tipo de dano pode violar o princípio da dignidade humana.

Será tratado ainda, no capítulo inicial, o direito que o trabalhador tem ao lazer e o seu direito de se desconectar do trabalho, para realizar seus desejos que não estão ligados ao labor, como, também, as principais diferenças entre dano existencial e dano moral, institutos que são vistos por alguns autores como semelhantes.

Já no segundo capítulo, serão analisados os aspectos positivos e negativos do teletrabalho, como, ainda, a caracterização do dano existencial nessa modalidade e o direito à desconexão.

(12)

Por fim, o terceiro capítulo irá se concentrar na saúde do trabalhador, conceituando e demonstrando pontos de um ambiente saudável e equilibrado para o mesmo. Será demonstrado o dano existencial como uma violação à saúde e aos direitos da personalidade do trabalhador, trazendo apontamentos jurisprudenciais.

Ainda terá como análise a responsabilidade do empregador diante de tais danos sofridos pelo trabalhador e a possibilidade de cumulação do dano existencial com dano moral.

Ao final, serão traçados os reais danos que o trabalhador sofre e poderá sofrer ao ser submetido a formas de trabalhos proibidas pela Constituição Federal de 1988 como, também, analisar o teletrabalhador, como sendo um dos principais afetados do dano existencial, sendo privado, muitas vezes, do seu direito ao lazer e de se desconectar do trabalho, mesmo que seu trabalho seja realizado no conforto de sua casa.

(13)

1. O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO

1.1. CONCEITO E ELEMENTOS CARACTERIZADORES DO DANO EXISTENCIAL

O equilíbrio entre a vida social e a vida laborativa é um objeto de proteção no ordenamento jurídico brasileiro. A Constituição da República de 1988 traz diversos direitos fundamentais acerca dessa proteção, como o direito a um trabalho digno e a proteção à dignidade da pessoa humana e aos seus direitos da personalidade.

De acordo com Flavianna Rampazzo Soares, no Brasil, o dano existencial começou a ser referido doutrinariamente a partir dos anos 2000.1

Em razão disso, o dano existencial pode ser analisado como um tipo de dano novo para a análise e aplicação na sociedade como um todo, mas, principalmente, no direito do trabalho.

Importante pontuar que o primeiro acórdão proferido com referência expressa ao dano existencial é o Recurso Ordinário nº 0000105-14.2011.5.04.0241, de Março de 2012, tendo como relator o Desembargador José Felipe Lebur, no qual o Tribunal afirmou que as jornadas excessivas habituais fazem com que existam privações injustas dos empregados à esfera realizadora pessoal fora do ambiente de trabalho, tendo sido reconhecido o dano existencial como espécie autônoma de dano extrapatrimonial, passível de indenização, tendo como fundamento a dignidade da pessoa humana. Veja-se:

EMENTA: DANO EXISTENCIAL. JORNADA EXTRA EXCEDENTE DO LIMITE LEGAL DE TOLERÂNCIA. DIREITOS FUNDAMENTAIS. O dano existencial é uma espécie de dano imaterial, mediante o qual, no caso das relações de trabalho, o trabalhador sofre danos/limitações em relação à sua vida fora do ambiente de trabalho em razão de condutas ilícitas praticadas pelo tomador do trabalho. Havendo a prestação habitual de trabalho em jornadas extras excedentes do limite legal relativo à quantidade de horas extras, resta configurado dano à existência, dada a violação de direitos fundamentais do trabalho que integram decisão jurídico-objetiva adotada pela Constituição. Do princípio fundamental da dignidade da pessoa humana decorre o direito ao livre desenvolvimento da personalidade do trabalhador, nele integrado o direito ao desenvolvimento profissional, o que exige condições dignas de trabalho e observância dos direitos fundamentais

1SOARES, Flaviana Rampazo. A construção de uma teoria do dano existencial no direito do trabalho.

Danos extrapatrimoniais no direito do trabalho. SOARES, Flaviana Rampazzo (Coord.). São Paulo: LTr, 2017, p. 119.

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também pelos empregadores (eficácia horizontal dos direitos fundamentais).

Recurso provido.2

Seguindo a assaz visão de Amaro Alves de Almeida Neto, dano existencial é todo dano imaterial que alguém (seja trabalhador ou não) sofre por se ver privado de atividades que impossibilitem ou impeçam de executar total ou parcialmente o seu projeto de vida e a sua vida de relações. O dano existencial, portanto, se caracteriza como um prejuízo não econômico, não patrimonial e de abrangência ilimitada.3

O dano existencial, assim, está elencado como uma espécie do gênero dos danos extrapatrimoniais, no qual se tem, como outras espécies, o dano estético e biológico. Nesse aspecto, Júlio César Bebber acentua que o “dano existencial decorre da frustração de uma projeção que impede a realização pessoal, impõe a reprogramação e obriga um relacionar-se de modo diferente no contexto social”.4

Imperioso frisar que Rúbia Zanotelli de Alvarenga e Jorge Cavalcanti Boucinhas Filho assinalam que o dano existencial, no Direito do Trabalho, também chamado de dano à existência do trabalhador:

[...] decorre da conduta patronal que impossibilita o empregado de se relacionar e de conviver em sociedade por meio de atividades recreativas, afetivas, espirituais, culturais, esportivas, sociais e de descanso, que lhe trarão bem-estar físico e psíquico e, por consequência, felicidade; ou que o impede de executar, de prosseguir ou mesmo de recomeçar os seus projetos de vida, que serão, por sua vez, responsáveis pelo seu crescimento ou realização profissional, social e pessoal.5

Sob tal aspecto, a busca por uma quantidade excessiva e desordenada de trabalho e o fato de o trabalhador não estar pleno, saudável e feliz, faz com que toda essa busca seja em vão, tendo em vista que o grande mal do século da sociedade contemporânea são a ansiedade e a depressão, oriundas justamente da insatisfação profissional.

2RIO GRANDE DO SUL, Tribunal Regional do Trabalho, RO 105-14.2011.5.04.0241, Relator Des.

José Felipe Ledur, 1ª Turma, Diário eletrônico da Justiça do Trabalho, Porto Alegre, 3 jun. 2011

3ALMEIDA NETO, Amaro Alves. Dano existencial: a tutela da dignidade da pessoa humana.

Disponível em: https://gbonavita.jusbrasil.com.br/artigos/516632109/dano-existencial-a-tutela-da- dignidade-da-pessoa-humana. Acesso em 10 set. 2019.

4BEBBER, Júlio César. Danos extrapatrimoniais (estético, biológico e existencial). Revista LTr, São Paulo, nº 1, jan. 2009, p. 26-29.

5ALVARENGA, Rúbia Zanotelli; BOUCINHAS, Jorge Cavalcanti. O dano existencial no direito do trabalho. ALVARENGA, Rúbia Zanotelli; TEIXEIRA, Érica Fernandes (Coords.). Novidades em direito e processo do trabalho. São Paulo: LTr, p. 185.

(15)

A esse respeito, assinalam Rúbia Zanotelli de Alvarenga e Jorge Cavalcanti Boucinhas Filho:

No âmbito das relações de trabalho, verifica-se a existência de dano existencial quando o empregador impõe um volume excessivo de trabalho ao empregado, impossibilitando-o de estabelecer a prática de um conjunto de atividades culturais, sociais, recreativas, esportivas, afetivas, familiares, etc., ou de desenvolver seus projetos de vida nos âmbitos profissional, social e pessoal.6

Com a sociedade cada vez mais tecnológica, rápida e cheia de informações, o ambiente de competição dentro das empresas aumenta, fazendo com que, cada vez mais, os empregadores cobrem produtividade de suas equipes, não se importando, muitas vezes, com a saúde mental e física dos trabalhadores e com a qualidade de vida e de trabalho destes.

Dessa maneira, inúmeros elementos caracterizam o dano existencial no direito do trabalho, dentre eles, a extensiva e excessiva jornada de trabalho, fazendo com que o trabalhador tenha dificuldade de praticar tudo aquilo que não esteja envolvido com o seu labor ou com o seu tempo livre, pois a maior parte de seu tempo gasto é realizando trabalhos para seu empregador.

Então, como destaca Hidemberg Alves da Frota em seu artigo doutrinário, no qual aborda as noções fundamentais sobre o dano existencial, há dois elementos que integram essa espécie de dano extrapatrimonial, quais sejam: a) o projeto de vida; e b) a vida de relações.7

6ALVARENGA, Rúbia Zanotelli; BOUCINHAS, Jorge Cavalcanti. O dano existencial no direito do trabalho. ALVARENGA, Rúbia Zanotelli; TEIXEIRA, Érica Fernandes (Coords.). Novidades em direito e processo do trabalho. São Paulo: LTr, p. 186.

7FROTA, Hidemberg Alves da. Noções fundamentais sobre o dano existencial. Revista eletrônica do Tribunal Regional do Trabalho do Paraná, vol. 2, n. 22, Setembro, 2013, p. 60-76.

(16)

1.1.1. O projeto de vida

O excesso de trabalho faz com que ocorra o dano existencial ao trabalhador.

Logo, “sendo atingido por esse dano, o mesmo se vê com seu projeto de vida prejudicado, fruto da hiperexploração da mão de obra humana”.8

Vê-se, assim, que projetar a vida, o futuro e todas as coisas que se quer realizar, é um direito de todo cidadão. É um direito de sua personalidade como ser humano inserido em uma sociedade. Em razão disso, Hidemberg Alves da Frota preceitua ser o projeto de vida, “o destino escolhido pela pessoa, o que decidiu fazer com sua vida”.9

Imperioso ressaltar que a vida não é só trabalho, porém passa-se a maior parte dela exercendo essa função. Por isso, Domenico de Masi, em seu livro “O ócio criativo”, se viu questionado no momento em que a entrevistadora lhe perguntou e afirmou que ao longo de um dia, trabalha-se oito horas, dorme em outras oito e a diversão e os outros cuidados, como com a saúde, são exercidos nas outras oito horas restantes. Conclui-se então que, ao longo de um ano, onze meses são de trabalho e somente um é dedicado ao ócio.10

Como consequência, ainda segundo Júlio César Bebber, qualquer fato injusto que frustre o destino que determinada pessoa decidiu fazer com sua vida, impedindo a sua plena realização e obrigando a pessoa a resignar-se com o seu futuro, deve ser considerado um dano existencial.11

Por assim ser, pode-se perceber que atualmente o ser humano passa a maior parte de sua vida trabalhando em vez de estar cuidando do seu projeto de vida e da sua vida de relações, que é tudo aquilo que se escolheu para fazer e usufruir, desvinculado do trabalho produtivo. Com essa troca de prioridades, o projeto de vida se vê totalmente prejudicado.

8ALVARENGA, Rúbia Zanotelli. Trabalho decente: direito humano e fundamental. São Paulo: LTr, 2016, p. 168.

9FROTA, Hidemberg Alves da. Noções fundamentais sobre o dano existencial. Revista eletrônica do Tribunal Regional do Trabalho do Paraná, vol. 2, n. 22, Setembro, 2013, p. 60-76.

10DE MASI, Domenico. O ócio criativo. São Paulo: Sextante, 2000, p. 14.

11BEBBER, Júlio César. Danos extrapatrimoniais (estético, biológico e existencial). Revista LTr, São Paulo, nº 1, jan. 2009, p. 26-29.

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1.1.2. A vida de relações

Como segundo elemento do dano existencial, tem-se a vida de relações, que, como bem conceitua Hidemberg Alves da Frota, consiste em:

[...] um conjunto de relações interpessoais, nos mais diversos ambientes e contextos, que permite ao ser humano estabelecer a sua história vivencial e se desenvolver de forma ampla e saudável [...] compartilhando pensamentos, sentimentos, emoções, hábitos, reflexões, aspirações, atividades e afinidades.12

A partir do momento em que o ser humano trabalhador se vê impedido de realizar qualquer tipo de atividade fora do trabalho, o dano está caracterizado e a sua vida de relações será afetada. Constituem exemplos dessas atividades, a simples prática de esportes, um tempo de qualidade com os filhos para ir ao cinema, um curso de graduação, mestrado ou doutorado, dentre outras.

Em face disso, Amaro Alves de Almeida Neto elucida que o dano à vida de relações “indica a ofensa física ou psíquica a uma pessoa que determinada uma dificuldade ou mesmo a impossibilidade do seu relacionamento com terceiros, o que causa uma alteração indireta na sua capacidade de obter rendimentos.”13

Desse modo, o dano à vida de relações será caracterizado sempre que o trabalhador deixar ou não puder mais fazer as atividades extra laborativas que antes realizava.

Ainda sobre tal aspecto, ensina Amaro Alves de Almeida:

[...] toda pessoa tem o direito de não ser molestada por quem quer que seja, em qualquer aspecto da vida, seja físico, psíquico ou social. Submetido ao regramento social, o indivíduo tem o dever de respeitar e o direito de ser respeitado, [...]. O ser humano tem o direito de programar o transcorrer da sua vida da melhor forma que lhe pareça, sem a interferência nociva de ninguém. Tem a pessoa o direito às suas expectativas, aos seus anseios, aos seus projetos, aos seus ideais, desde os mais singelos até os mais grandiosos; tem o direito a uma infância feliz, a constituir uma família, estudar e adquirir capacitação técnica, a obter o seu sustento e o seu lazer, a ter saúde física e mental, a ler, praticar esportes, divertir-se, conviver com os amigos, a praticar sua crença, seu culto, a descansar na velhice, enfim, a gozar a vida com dignidade. Essa é a agenda do ser humano: caminhar

12FROTA, Hidemberg Alves da. Noções fundamentais sobre o dano existencial. Revista eletrônica do Tribunal Regional do Trabalho do Paraná, vol. 2, n. 22, Setembro, 2013, p. 60-76.

13ALMEIDA NETO, Amaro Alves. Dano existencial: a tutela da dignidade da pessoa humana.

Disponível em: https://gbonavita.jusbrasil.com.br/artigos/516632109/dano-existencial-a-tutela-da- dignidade-da-pessoa-humana. Acesso em 10 set. 2019.

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com tranquilidade, no ambiente em que sua vida se manifesta rumo ao seu projeto de vida.14

Nesta temática, acentuam com exatidão Rúbia Zanotelli de Alvarenga e Jorge Cavalcanti Boucinhas Filho que a determinação do empregador para que o empregado cumpra uma jornada exaustiva de trabalho, caracteriza dano à vida de relações. Em razão disso, mais doenças ocupacionais e seres humanos frustrados pessoalmente surgem no século XXI. Quanto maior a agressão à saúde do empregado no ambiente de trabalho, maior também será a agressão ao sistema imunológico, ficando este cada vez mais vulnerável a doenças decorrentes do trabalho.15

Ainda de acordo com Rúbia Zanotelli de Alvarenga e Jorge Cavalvanti Boucinhas Filho:

É fácil imaginar o dano causado à “vida de relação” de determinado empregado em decorrência de condutas ilícitas regulares do empregador, como a constante utilização de mão de obra em sobrejornada, impedindo o empregado de desenvolver regularmente outras atividades em seu meio social. Não se pode, contudo, descuidar da hipótese de o dano à vida da relação poder ser causado por um único ato. Um bom exemplo seria o do empregador que compele determinado empregado a terminar determinada tarefa, que não era tão urgente ou que poderia ser concluída por outro colega, no dia, por exemplo, da solenidade de formatura ou de primeira eucaristia de um de seus filhos, impedindo-o de comparecer à cerimônia.16

Cabe registrar, por último, que o ser humano em si, precisa se relacionar e conviver de forma saudável com os outros integrantes da sociedade. Precisa praticar esportes, atividades recreativas, ter direito ao lazer, etc., para suportar as pressões e stress do cotidiano laboral.

14ALMEIDA NETO, Amaro Alves. Dano existencial: a tutela da dignidade da pessoa humana.

Disponível em: https://gbonavita.jusbrasil.com.br/artigos/516632109/dano-existencial-a-tutela-da- dignidade-da-pessoa-humana. Acesso em 10 set. 2019.

15ALVARENGA, Rúbia Zanotelli; BOUCINHAS FILHO, Jorge Cavalcanti. O dano existencial no direito do trabalho. ALVARENGA, Rúbia Zanotelli; TEIXEIRA, Érica Fernandes (Coords.). Novidades em direito e processo do trabalho. São Paulo: LTr, p. 185.

16ALVARENGA, Rúbia Zanotelli; BOUCINHAS FILHO, Jorge Cavalcanti. O dano existencial no direito do trabalho. ALVARENGA, Rúbia Zanotelli; TEIXEIRA, Érica Fernandes (Coords.). Novidades em direito e processo do trabalho. São Paulo: LTr, p. 187.

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1.2. O DANO EXISTENCIAL COMO VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Sabe-se que não existe hierarquia ou grau de importância entre os princípios constitucionais elencados na Constituição Federal de 1988. Porém, o princípio da dignidade da pessoa humana, inserido no art. 1º, inciso III da Carta Magna, conforme preconiza Amaro Alves de Almeida Neto, “é o núcleo da existência humana, valor inato, imaterial, essencial, de máxima grandeza da pessoa”.17

Esse princípio traz a ideia de democracia, garantindo ao ser humano que ele não seja tratado como objeto ou mercadoria, garantindo, assim, uma existência digna, livre de qualquer tipo de abuso, seja na vida social, seja nas suas relações como trabalhador.

Como observa Flaviana Soares Rampazo, o trabalho é um dos elementos que contribui para a preservação da dignidade, e o trabalhador, consequentemente, é um ser humano cuja dignidade deve ser preservada e promovida. Sendo assim, o trabalho é uma das ferramentas que promove o bem-estar do trabalhador e o dignifica como homem na sociedade, fazendo jus ao bordão clássico replicado, que diz “o trabalho dignifica o homem”.18

Nessa mesma perspectiva, pontua Rúbia Zanotelli de Alvarenga:

O trabalho deve ser fator de dignidade e de valorização do ser humano, em todos os aspectos de sua vida, seja profissional ou pessoal. Razão pela qual denota-se o trabalho decente como um direito humano e fundamental do trabalhador, por assegurar-lhe o acesso a bens materiais, ao bem-estar, à satisfação profissional e ao completo desenvolvimento de suas potencialidades e de sua realização, bem como o direito à sua integração social (art. 6 da CF/88). Somente pela realização do direito ao trabalho decente, previsto no artigo 6º da CF/88, será preenchido o conteúdo reclamado no art. 1º, III, e do caput do art. 170 da CF/88.19

Esse direito deixa de ser alcançado, quando o ambiente de trabalho deixa de ser um ambiente saudável, harmônico, que promove felicidade e prazer, gerando

17ALMEIDA NETO, Amaro Alves. Dano existencial: a tutela da dignidade da pessoa humana.

Disponível em: https://gbonavita.jusbrasil.com.br/artigos/516632109/dano-existencial-a-tutela-da- dignidade-da-pessoa-humana. Acesso em 10 set. 2019.

18SOARES, Flaviana Rampazzo. A construção de uma teoria do dano existencial no direito do trabalho. Danos extrapatrimoniais no direito do trabalho. SOARES, Flaviana Rampazzo (Coord.).

São Paulo: LTr, 2017, p. 120.

19ALVARENGA, Rúbia Zanotelli. Trabalho decente: direito humano e fundamental. São Paulo: LTr, 2016, p. 92.

(20)

assim o dano existencial e ferindo um princípio tão importante no ordenamento jurídico brasileiro, que é a dignidade da pessoa humana do trabalhador.

Amaro Alves de Almeida Neto ainda preceitua que, ao ocorrer uma lesão a esse direito fundamental de qualquer pessoa, seja trabalhador ou não, não se afronta apenas e exclusivamente a saúde do indivíduo, mas, também, a sua dignidade e deve, por isso, ser objeto de ampla tutela e indenização.20

Analisa-se que, para a preservação desse princípio diante do direito do trabalho, o mesmo deve ser decente ao ser humano, que constitui segundo José Cláudio Monteiro de Brito Filho:

O conjunto mínimo de direitos do trabalhador, necessários à preservação de sua dignidade, que corresponde: à existência de trabalho; à liberdade de trabalho; à igualdade no trabalho; ao trabalho com condições justas, incluindo a remuneração, que preservem sua saúde e segurança; à proibição do trabalho da criança e as restrições ao trabalho do adolescente;

à liberdade sindical; e à proteção contra os riscos sociais.21

Em vista disso, ainda consoante José Cláudio Monteiro de Brito Filho, “dar trabalho, e em condições decentes, então, é forma de proporcionar ao homem os direitos que decorrem desse atributo que lhe é próprio: a dignidade”.22

1.3. A IMPORTÂNCIA DO DIREITO AO LAZER E À DESCONEXÃO DO TRABALHO

O dicionário Aurélio traz a definição de lazer como sendo:

1. Tempo que se dispõe livremente para repouso ou distração. 2. Atividade que se realiza nesse tempo”. Pode-se perceber então, que o lazer, como traz o significado, serve para o trabalhador dispor livremente do que quiser e como bem entender. O seu tempo de lazer serve para que ele realize todas as atividades que em seu tempo de trabalho, não consiga realizar.23

A partir do momento em que o trabalhador não consegue realizar suas atividades e ter seu tempo de lazer de qualidade, a saúde física, mental e social do trabalhador começa a ser lesada.

20ALMEIDA NETO, Amaro Alves. Dano existencial: a tutela da dignidade da pessoa humana.

Disponível em: https://gbonavita.jusbrasil.com.br/artigos/516632109/dano-existencial-a-tutela-da- dignidade-da-pessoa-humana. Acesso em 10 set. 2019.

21BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro. Trabalho decente. São Paulo: LTr, 2014, p. 33.

22BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro. Trabalho decente. São Paulo: LTr, 2013, p. 42.

23FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 5 ed. Rio de Janeiro: Positivo. p. 1194.

(21)

Sob tal perspectiva, Liliana Andolpho, Duílio Antero de Camargo e Miryam C.

Mazieiro acentuam que o conceito de saúde definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em um primeiro momento era “o estado de completo bem-estar físico e metal”. No entanto, esse conceito foi ampliado para “estado de completo bem- estar físico, psíquico e social”.24

Desse modo, o direito ao lazer “compreende tudo aquilo que o ser humano realiza de livre vontade, seja o descanso, o divertimento, o entretenimento, ou mesmo a prática de atividades de aprendizado ou a realização de serviços desvinculados de obrigações profissionais, geralmente associados ao bem-estar próprio, familiar ou social”.25

Conforme elucida Rúbia Zanotelli de Alvarenga:

O direito social ao lazer ou ao tempo livre permite ao trabalhador desfrutar tudo o que não esteja relacionado ao trabalho produtivo, como o convívio familiar e o exercício de atividades físicas, artísticas, intelectuais e culturais;

associativas, turísticas e de entretenimento; e toda e qualquer atividade social recreativa que possibilite interação e convivência social com vistas ao seu desenvolvimento psicológico, social, pessoal e à recomposição de suas energias físicas e mentais.26

Então, a falta dessa prática, afeta não só o físico, como, também, as outras áreas da vida, que demonstram a importância de se desconectar do trabalho para cumprir o direito fundamental ao lazer.

O mundo nunca foi tão conectado e tão cheio de informação e velocidade como hoje em dia. A tecnologia tem escravizado o homem ao trabalho, e afastado o trabalhador de sua família como conclui Jorge Luiz Souto Maior. O mesmo ainda afirma que o direito de se desconectar, não é um direito individual do trabalhador, mas da sociedade e da própria família.27

Existem trabalhadores que, por terem uma grande demanda de trabalho, tiram férias com a justificativa de botar o trabalho em dia. Isso constitui uma total

24GUIMARÃES, Liliana Andolpho Magalhães; CAMARGO, Duílio Antero de; SILVA, Miryam C.

Mazieiro Vergueiro. Temas e pesquisas em saúde mental e trabalho. Curitiba: CRV, 2015. p. 23.

25LUNARDI, Alexandre. Função social do direito ao lazer nas relações de trabalho. São Paulo: LTr, 2010, p. 38.

26ALVARENGA, Rúbia Zanotelli. Trabalho decente: direito humano e fundamental. São Paulo: LTr, 2016, p. 157.

27MAIOR, Jorge Luiz Souto. Do direito à desconexão do trabalho. Revista do Departamento de Direito do Trabalho e da Seguridade Social, Vol. 1, 2006, p. 91-115.

(22)

afronta à dignidade da pessoa humana do trabalhador, bem como uma violência que atenta contra a sua vida e a sua saúde física, mental e social.

Consoante ensinam Liliane Andolpho Magalhães Guimarães, Duílio Antero de Camargo eMiryam C. Mazieiro Vergueiro da Silva:

Na relação homem-trabalho não existe apenas uma relação de ganho financeiro, mas de construção de um modus vivendi que vai conformar e definir sua posição social e pessoal no seu grupo societário. No espaço do trabalho é onde se situam importantes objetivos de vida e no qual parte de sua identidade é construída. Esse lugar, no entanto, tem se tornado competitivo, inseguro e instável, exigindo das pessoas, em ampla medida e de maneira crescente, habilidades mentais e emocionais compatíveis com as exigências de mercado, alterando o panorama das patologias profissionais.28

Nesse contexto, a tecnologia não pode ocupar o espaço e o tempo que as famílias têm para se relacionarem e construírem bases sólidas de relacionamento e comunhão entre si. Há relatos de filhos que pedem atenção aos pais mesmo estando no período de férias, porque, para elas, o importante é estar junto fazendo algo de qualidade, e não só estar por estar. Os filhos não têm mais a presença dos pais por estes levarem os seus trabalhos para casa, e a Constituição da República, em seu seus arts. 227 e 229 regula a convivência dos pais com os filhos, bem como a educação.

Preceituam, assim, os arts. 227 e 229 da Constituição, respectivamente:

Art. 227 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão29.

[...]

Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.30

28 GUIMARÃES, Liliana Andolpho Magalhães; CAMARGO, Duílio Antero de; SILVA, Miryam C.

Mazieiro Vergueiro. Temas e pesquisas em saúde mental e trabalho. Curitiba: CRV, 2015. p. 20.

29Vade Mecum Acadêmico de Direito Rideel/ Anne Joyce Angher, organização,-24. ed.- São Paulo:

Rideel, 2017. (Série Vade Mecum). p. 78

30Vade Mecum Acadêmico de Direito Rideel/ Anne Joyce Angher, organização,-24. ed.- São Paulo:

Rideel, 2017. (Série Vade Mecum). p. 78

(23)

Observa-se, de tal modo, conforme Jorge Luiz Souto Maior que, “enquanto uma parcela da população não tem acesso ao trabalho, outra parcela, não menos considerável, está se matando de tanto trabalhar ou alienando-se no trabalho.”31

Ademais, a depressão tem sido um dos maiores problemas que afetam os trabalhadores no século XXI e, sem dúvida, é causada, também, pelo avanço desenfreado da tecnologia, acumulado com a pressão de alguns empregadores em obter êxito em seus negócios e ao lucro sem limites.

Muitas vezes, as pessoas vivem do trabalho, mas sem viver suas vidas, sendo assim, trabalhar o suficiente para ter menos preocupações, seria o ideal. O lazer deveria ter a mesma importância, aos olhos do empregador, que o crescimento econômico, visto que este, quando buscado de forma desmedida, coloca em risco a saúde e a dignidade dos trabalhadores.

Como observam Almiro Eduardo de Almeida e Valdete Souto Severo:

É preciso reconhecer que a sociedade paga o preço do desgaste físico e psíquico de um número cada vez mais expressivo de trabalhadores submetidos a jornadas extraordinárias. Essa é, inclusive, a razão pela qual as primeiras regras trabalhistas são, em realidade, regras de natureza previdenciária: a necessidade de resposta social à grande massa de trabalhadores mutilados e exauridos.32

Sendo assim, “exigir trabalho por mais de oito horas, prejudicando o direito à desconexão e ao lazer, é transformar homens em animais mal cuidados, destinados ao esgotamento físico e mental precoce”.33

Há que se preocupar quando o trabalho impede o empregado de desfrutar do seu direito à desconexão. A limitação ao número de horas extras (art. 59 CLT) e a permissão ao extrapolamento deste limite em situações excepcionais (art. 61 CLT), são exemplos desses impedimentos.

1.4. O DANO EXISTENCIAL NA LEI 13.467/2017

A Lei 13.467/2017 trouxe inúmeras inovações para dentro da CLT, havendo a inclusão e modificação de mais de 90 artigos, dentre eles, sobre o artigo

31MAIOR, Jorge Luiz Souto. Do direito à desconexão do trabalho. Revista do Departamento de Direito do Trabalho e da Seguridade Social, Vol. 1, 2006, p. 91-115.

32ALMEIDA, Almiro Eduardo de; SEVERO, Valdete Souto. Direito à desconexão nas relações sociais de trabalho. São Paulo: LTr, 2014, p. 20.

33ALMEIDA, Almiro Eduardo de; SEVERO, Valdete Souto. Direito à desconexão nas relações sociais de trabalho. São Paulo: LTr, 2014, p. 25.

(24)

regulamentando o dano extrapatrimonial, no art. 223-B e 223-C, no Título II-A (“Do dano extrapatrimonial”).

Com a melhor compreensão sobre esse tipo de dano dentro dos danos extrapatrimoniais, o dano existencia deixa de ser somente um assunto doutrinário e passa a configurar como uma tutela para o trabalhador.

Com a regulamentação desse importante tema para os direitos trabalhistas, o trabalhador poderá ver assegurado o seu direito de existência frente ao seu ambiente laboral, assim como ser ressarcido de um dano, caso ele ocorra.

Ademais, foi um grande avanço para o direito do trabalho, tendo em vista que a própria Constituição da República de 1988 já estabelecia, como fundamentos do Estado Democrático de Direito, a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho.

De acordo com Sebastião Geraldo de Oliveira, a reforma não trouxe a terminologia antes adotada no Brasil do dano imaterial, mas trouxe a expressão

“dano extrapatrimonial” na seara trabalhista. Expressão essa que indica todas as outras espécies de danos não patrimoniais.34

Ainda segundo o autor, “após a introdução do art. 223-B na CLT, o dano moral, na seara trabalhista, deixa de ter o sentido genérico dos danos imateriais, até então considerados, e passa a figurar como uma das espécies dos danos extrapatrimoniais, ao lado do dano existencial e do dano estético.”35

Logo, pelo princípio da dignidade da pessoa humana, nasce para o trabalhador o direito ao livre desenvolvimento de sua personalidade, sendo integrado o direito ao seu desenvolvimento profissional, exigindo, assim, condições dignas de trabalho, respeito e uma observação mais detalhada, cuidadosa e respeitosa dos direitos dos trabalhadores por parte do empregador.

1.5. O DANO EXISTENCIAL E O DANO MORAL: DISTINÇÕES RELEVANTES

34OLIVEIRA, Sebastião Geraldo. O advento legal do dano existencial trabalhista. Revista LTr, São Paulo, n. 10, Out. 2018, p. 82-104.

35OLIVEIRA, Sebastião Geraldo. O advento legal do dano existencial trabalhista. Revista LTr, São Paulo, n. 10, Out. 2018, p. 82-104.

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A distinção entre dano existencial e dano moral não é uma tarefa fácil, pois são espécies do mesmo gênero (o dano extrapatrimonial) e ocupam territórios adjacentes, separados por uma linha demarcatória pouco precisa.

No entanto, segue-se, aqui, o entendimento de que, na ocorrência de dano existencial e de dano moral, poderá haver a cumulação entre ambos, desde que sejam provenientes do mesmo fato.

Apesar disso, muito é discutido sobre as semelhanças e diferenças entre o dano moral e o dano existencial. É preciso ressaltar que há diferença entre ambos os institutos, em decorrência do caráter emocional do dano moral e do caráter extrapatrimonial do dano existencial.

O dano existencial se revela perfeitamente independente e com sentido diferenciado do dano moral, visto que não se trata de um sentimento, angústia ou sofrimento, mas sim de uma perda, por parte do trabalhador, de atividades concretas e importantes para a vida do ser humano, integrante da sociedade.

Consoante ensina Amaro de Almeida Neto, sobre o dano existencial:

O dano existencial, em suma, causa uma frustração no projeto de vida do ser humano, colocando-o em uma situação de manifesta inferioridade – no aspecto de felicidade e bem estar – comparada àquela antes de sofrer o dano, sem necessariamente importar em um prejuízo econômico. Mais do que isso, ofende diretamente a dignidade da pessoa, dela retirando, anulando, uma aspiração legítima.36

Já o dano moral, é caracterizado como lesões sofridas pelo sujeito físico ou pessoa natural de direito em seu patrimônio ideal, que é tudo aquilo que não pode ter um valor econômico, segundo o autor Amaro Alves de Almeida Neto.37

Sobre o tema, Sebastião Geraldo de Oliveira apresenta as seguintes diferenças entre ambos os institutos:

1.Dano Moral compromete o equilíbrio emocional (angústia, desconforto, desânimo, tristeza, humilhação etc), já o dano existencial, compromete a fruição das atividades incorporadas ao modus vivendi: convívio, lazer, religião, arte, esporte etc. 2. Identifica o prejuízo no dano moral, principalmente por sentimentos na esfera íntima. No dano existencial,

36ALMEIDA NETO, Amaro Alves. Dano existencial: a tutela da dignidade da pessoa humana.

Disponível em: https://gbonavita.jusbrasil.com.br/artigos/516632109/dano-existencial-a-tutela-da- dignidade-da-pessoa-humana. Acesso em 10 set. 2019.

37ALMEIDA NETO, Amaro Alves. Dano existencial: a tutela da dignidade da pessoa humana.

Disponível em: https://gbonavita.jusbrasil.com.br/artigos/516632109/dano-existencial-a-tutela-da- dignidade-da-pessoa-humana. Acesso em 10 set. 2019.

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identifica-se o prejuízo principalmente por impedimentos na vida de relação.

3. O dano moral afeta as sensações de bem-estar imediato (tende a ser transitório), um incômodo sentimento dolorido, revolta-abatimento pelo dano injusto. Já o dano existencial afeta as aspirações de realização do projeto de vida (tende a ser duradouro), um não mais poder fazer frustrante e a reprogramação compulsória do projeto de vida.38

No mesmo sentido, sustenta Amaro Alves de Almeida Neto que “o dano moral seria melhor conceituado como dano psicológico ou imaterial, visto que é a causação de um aborrecimento extremo. Perturbação da psique do indivíduo”.39

Segundo o autor acima citado, parece ser uma grande contradição sustentar que somente o dano moral deva ser indenizado, e não toda e qualquer espécie de dano imaterial, se aquele é uma espécie deste. Para o autor, é inquestionável que os artigos 12, 186 e 927 autorizam a reparabilidade dos danos cometidos contra a pessoa, e não apenas do dano moral.

Sentir-se vazio, incompleto ou melancólico, não são indenizáveis a título de dano patrimonial, porém as lesões aos direitos da personalidade configuram como um dano à existência da pessoa e do trabalhador. Portanto, como conclui Amaro Alves, o dano existencial se caracteriza como um prejuízo não econômico e de abrangência ilimitada, podendo se verificar ainda sob a forma reflexa, em parentes próximos à vítima de um dano físico.40

Dessa maneira, qualquer lesão no âmbito dos direitos da personalidade, pode produzir, conjuntamente, danos morais e existenciais, ensejando o deferimento de uma indenização compensatória. Como por exemplo, na hipótese de acidente de trabalho ou doença ocupacional, onde a figura do dano existencial aparece com mais nitidez, indicando a ocorrência de aproximadamente 2 mil casos por dia no Brasil.41

38OLIVEIRA, Sebastião Geraldo. O advento legal do dano existencial trabalhista. Revista LTr, São Paulo, n. 10, Out. 2018, p. 82-104.

39ALMEIDA NETO, Amaro Alves. Dano existencial: a tutela da dignidade da pessoa humana.

Disponível em: https://gbonavita.jusbrasil.com.br/artigos/516632109/dano-existencial-a-tutela-da- dignidade-da-pessoa-humana. Acesso em 10 set. 2019.

40ALMEIDA NETO, Amaro Alves. Dano existencial: a tutela da dignidade da pessoa humana.

Disponível em: https://gbonavita.jusbrasil.com.br/artigos/516632109/dano-existencial-a-tutela-da- dignidade-da-pessoa-humana. Acesso em 10 set. 2019.

41ALMEIDA NETO, Amaro Alves. Dano existencial: a tutela da dignidade da pessoa humana.

Disponível em: https://gbonavita.jusbrasil.com.br/artigos/516632109/dano-existencial-a-tutela-da- dignidade-da-pessoa-humana. Acesso em 10 set. 2019.

(27)

2. A CARACTERIZAÇÃO DO DANO EXISTENCIAL NO TELETRABALHO 2.1. O TELETRABALHO

Vive-se em uma sociedade onde a competição industrial avança a cada dia que passa. Uma incessante busca pelo desenvolvimento e crescimento econômico, aprimoramento e o mais visado pelos empregadores deste século, que é o lucro, constituem o maior anseio das empresas. Os avanços na área da tecnologia têm a capacidade de substituir o trabalho braçal humano, além de causar um caos inimaginável em relação à empregabilidade.

É certo que o avanço da tecnologia também tem seus lados positivos para a sociedade e trabalhadores, tendo como exemplo a criação de novas formas de trabalho. Mas são nítidos os prejuízos que ela causa, tendo em vista o seu alcance e pela facilidade de adaptação do ser humano pela crescente necessidade de mão-de- obra especializada, fazendo com que haja uma superexploração por parte do empregador.

Como bem enfatizam Wilson Ramos Filho e Sylvia Malatesta das Neves:

Neste ambiente de reestruturação da produção, tendo em vista uma racionalização produtiva das empresas no sentido de redução de custos e aumento da competitividade, ganha destaque o intenso crescimento do setor de serviços, que, voltado predominantemente à oferta de trabalho informal, assume importante papel no rebaixamento de custos almejado, com aumento dos índices de terceirização e flexibilização do trabalho42

Para o direito do trabalho, a tecnologia se mostra evidente com a utilização de uma modalidade de trabalho caracterizada como: teletrabalho. Modalidade esta que foi tratada pela BangermannReport, primeiro documento europeu a tratar especificamente de teletrabalho em 1994, segundo Francesca Columbo e Túlio de Oliveira Massoni.43

42FILHO, Wilson Ramos; NEVES, Sylvia Malatesta. Trabalho imaterial e teletrabalho: contradições e limites da sociedade informal. In: COLNAGO, Lorena de Mello Rezende el al (Coords.); STOLZ, Sheila; MARQUES, Carlos Alexandre Michaello Marques (Orgs.). Teletrabalho. São Paulo: LTr, 2017, p. 40.

43COLUMBU, Francesca; MASSONI, Túlio de Oliveira. Tempo de trabalho e teletrabalho. In: COLNAGO, Lorena de Mello Rezende el al (Coords.); STOLZ, Sheila; MARQUES, Carlos Alexandre Michaello Marques (Orgs.). Teletrabalho. São Paulo: LTr, 2017, p. 26.

(28)

Por meio de tantas mudanças e da economia globalizada, surge e se desenvolve com muita rapidez, o teletrabalho, que ganhou diversos conceitos que, ao longo do tempo, foram modificados ou completados.

Segundo Manuel Martín Pino Estrada, teletrabalho é:

aquele realizado com ou sem subordinação por meio do uso de antigas e novas formas de telecomunicação em virtude de uma relação de trabalho, permitindo a sua execução à distância, prescindindo da presença física do trabalhador em lugar específico de trabalho.44

O mesmo autor levanta um segundo conceito de teletrabalho, qual seja:

O teletrabalho é também aquele realizado com ou sem subordinação através do uso de antigas e novas formas de telecomunicação em virtude de uma relação de trabalho, permitindo a sua execução à distância, prescindindo da presença física do trabalhador em lugar específico de trabalho, ou seja, podendo ser executada também tanto na internet bidirecional, tridimensional conforme o seu uso como na internet superficial, profunda ou escura segundo a sua realidade.45

Insta destacar que a OIT (Organização Internacional do Trabalho), definiu o teletrabalho da seguinte forma:

aquele executado em um local distante do escritório central ou instalação de produção, onde o trabalhador não mantém contato pessoal com colegas, devendo, ainda, ser desenvolvido com o auxílio de tecnologias de comunicação e transmissão de dados (art. 1º).

Verifica-se que a Reforma Trabalhista (Lei 13.467/2017) inseriu o art. 75-B46 na Consolidação das Leis do Trabalho e definiu o teletrabalho da seguinte forma:

Art. 75-B. Considera-se teletrabalho a prestação de serviços preponderantemente fora das dependências do empregador, com a utilização de tecnologias de informação e de comunicação que, por sua natureza, não se constituam como trabalho externo.

Parágrafo único. O comparecimento às dependências do empregador para a realização de atividades específicas que exijam a presença do empregado no estabelecimento não descaracteriza o regime de teletrabalho.

44ESTRADA, Manuel Martín Pino. Teletrabalho: Conceitos e a sua classificação em face aos avanços tecnológicos. In: COLNAGO, Lorena de Mello Rezende el al (Coords.); STOLZ, Sheila; MARQUES, Carlos Alexandre Michaello Marques (Orgs.). Teletrabalho. São Paulo: LTr, 2017, p. 11.

45ESTRADA, Manuel Martín Pino. Teletrabalho: Conceitos e a sua classificação em face aos avanços tecnológicos. In: COLNAGO, Lorena de Mello Rezende el al (Coords.); STOLZ, Sheila; MARQUES, Carlos Alexandre Michaello Marques (Orgs.). Teletrabalho. São Paulo: LTr, 2017, p. 12.

46CLT: Consolidação das Leis do Trabalho/organização Renato Saraiva, Aryanna Linhares, Rafael Tonassi.-23. ed. ver. e atual.-Salvador: Juspodivm, 2019. p. 156.

(29)

Desse modo, teletrabalho é quando o trabalhador não fica nas dependências do seu local de trabalho, podendo ter seu tempo laboral em qualquer lugar que prefira, sendo até mesmo sua própria casa, fazendo uso dos meios informatizados, podendo ter ou não subordinação.

A flexibilização dessa modalidade com a reforma trabalhista, se não fiscalizada da forma correta, poderá acarretar ao teletrabalhador um dano já visto anteriormente, qual seja, o dano existencial. Dano esse, que impede total ou parcialmente, o trabalhador a construir o seu projeto de vida e ter sua vida de relação.

2.2. ASPECTOS POSITIVOS DO TELETRABALHO

Segundo o site da Câmara dos Deputados, em 2017, o Presidente da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividade (SOBRATT), Wolnei Tadeu Ferreira, informou que já seriam 15 milhões de teletrabalhadores no país.47 Número este, relativamente pequeno para a população do mesmo ano que era de 209,3 milhões de pessoas.

O teletrabalho veio para acompanhar não só a tecnologia que a cada dia se moderniza mais e mais, como também veio com uma forte perspectiva de diminuir a taxa de desemprego e dar mais autonomia para o trabalhador, tendo em vista a sua maior flexibilização. Em 2017, entrou em vigor a Lei 13.467, mais conhecida como Reforma Trabalhista, onde diversos dispositivos legais da CLT foram alterados, dentre eles, a regulamentação específica sobre o teletrabalho, com a inclusão do Capítulo II-A da CLT, através dos artigos 75-A a 75-E.

Com a introdução do teletrabalho no direito trabalhista, viu-se o surgimento de alguns benefícios para o trabalhador, empregador, sociedade e governo. Bruna Oliveira Sousa Kitanishi elenca as principais vantagens para cada um desses indivíduos, veja-se:

As principais vantagens sob a perspectiva do empregado seriam: a) evitar o deslocamento do trabalhador até a sede da empresa; b) a flexibilização de horários, facilitando-lhe a conciliação das atividades profissionais com os afazeres familiares, melhorando a respectiva qualidade de vida; c) o

47CÂMARA DOS DEPUTADOS. Página Institucional. Brasília, DF. Disponível em:

<https://www.camara.leg.br/noticias/509450-brasil-tem-15-milhoes-de-teletrabalhadores/>, Acesso em 04 out. 2019.

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aumento da produtividade, pois estaria comprovado que o teletrabalhador precisa de menos tempo para produzir em casa o que produziria no escritório; d) a interferência em casa é menor que no ambiente do trabalho;

e) a possibilidade de inclusão de pessoas com dificuldades de obtenção de empregos formais (deficientes físicos, mulheres com filhos pequenos e idosos, por exemplo).48

Portanto, para o empregador, os benefícios seriam inúmeros, podendo ser alegado até mesmo que estaria sendo respeitado o seu direito a personalidade e lazer, tendo em vista a sua maior administração de tempo e flexibilização do trabalho.

As vantagens para as empresas, segundo a autora, consistem em redução de custos, seja na parte de papelaria, energia, equipamentos, etc, bem como o aumento da produtividade, acreditando que o trabalho feito em casa ou fora das dependências do empregador geraria mais resultado por parte dos teletrabalhadores, bem como possibilidades de inclusão social de pessoas que são vistas como incapazes para a sociedade, alegando ser uma alternativa para a redução do desemprego e da desigualdade social.49

Ainda para a autora, no âmbito da sociedade e governo, os benefícios seriam:

[...] a) geração de empregos; b) diminuição nos congestionamentos nas grandes cidades, especialmente nos horários de pico, com a consequente diminuição da emissão de poluentes; c) melhor organização do território; d) a possibilidade de inclusão social nos segmentos frequentemente excluídos do mercado de trabalho (deficientes físicos, anciãos, dona de casa, idosos etc.), o que provocaria uma redução do desemprego e da desigualdade social.50

Para Francesca Columbu e Túlio de Oliveira Massoni:

[...] o trabalho a distância amplia a autodeterminação do tempo de trabalho, reduz os custos fixos de instalações das empresas, evita perda de tempo diária de casa ao trabalho, permitindo o desafogamento dos centros urbanos, a melhoria da circulação de automóveis, a redução da poluição, a melhor distribuição das populações nos territórios, a esperança de revalorização das zonas afetadas pela desertificação e pelo desemprego

48KITANISHI, Bruna Oliveira Sousa. As faces do teletrabalho e uma análise do controle de jornada à luz da lei n. 13.467/2017. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, Campinas/SP.

N.54, 2019.

49KITANISHI, Bruna Oliveira Sousa. As faces do teletrabalho e uma análise do controle de jornada à luz da lei n. 13.467/2017. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, Campinas/SP.

N.54, 2019.

50KITANISHI, Bruna Oliveira Sousa. As faces do Teletrabalho e uma análise do Controle de Jornada à Luz da Lei 13.467/2017. Revista do Tribunal do Trabalho da 15ª Região,Campinas/SP, n. 54, jan./jun. 2019, p. 288.

(31)

em massa, melhoria na qualidade de vida. Outros vislumbram, no teletrabalho, uma alternativa para o ingresso de pessoas portadoras de deficiência no mercado produtivo.51

Sabe-se que, as expectativas e análises apontadas, muitas vezes não se concretizam na esfera real. Isso ocorre quando a ansiedade em obter liberdade, autonomia e equilíbrio no trabalho e lazer, é revestido em mais tempo dedicado ao trabalho e menos tempo de lazer; quando a expectativa da diminuição do estresse pode provocar o seu aumento, e quando o trabalho flexível se mistura com ritmos de trabalho que impedem as atividades coletivas e familiares.52

Sendo assim, é fácil analisar e perceber a benesse que o teletrabalho traz, não só para quem está nessa modalidade de trabalho, mas para toda uma coletividade, a qual se beneficia de um mecanismo laboral quando é feito e fiscalizado de forma correta, respeitando-se norma e legislação. Caso contrário, o maior prejudicado de tal modalidade é o trabalhador e, consequentemente, sua família, haja vista o dano que o empregador pode sofrer por não poder usufruir do seu tempo livre e, consequentemente, do direito de se desconectar do trabalho.

2.3. ASPECTOS NEGATIVOS DO TELETRABALHO

Dentre os inúmeros pontos positivos analisados anteriormente, cumpre analisar detalhadamente, os pontos negativos. Pontos esses que são mais comuns de acontecerem nessa modalidade de trabalho que os positivos. O teletrabalho seria uma excelente forma de se trabalhar caso fossem cumpridas e respeitadas as normas trazidas pelo ordenamento-jurídico trabalhista brasileiro. Apesar de, em alguns pontos, a própria Lei se mostrar inconstitucional e trazer mais desproteção social ao trabalhador.

É necessário abordar o teletrabalho, segundo Wilson Ramos Filho e Sylvia Malatesta das Neves, como uma “estratégia empresarial”, que tem como objetivo

51COLUMBU, Francesca; MASSONI, Túlio de Oliveira. Tempo de trabalho e teletrabalho. In: COLNAGO, Lorena de Mello Rezende el al (Coords.); STOLZ, Sheila; MARQUES, Carlos Alexandre Michaello Marques (Orgs.). Teletrabalho. São Paulo: LTr, 2017, p. 21.

52ALVES, Daniela Alves de. Gestão, produção e experiência do tempo no trabalho. 2018. 246 f. Tese (Doutorado em Sociologia)-Universidade Federal do Rio do Rio Grande do Sul, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-graduação, Porto Alegre, 2008. Disponível em:

https://lume.ufrgs.br/handle/10183/13577. Acesso em: 08 out.2019.

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