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3 A PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL No Serviço Social, quando alguém resolve discorrer sobre a prática

3.2 ASPECTOS SÓCIO-HISTÓRICOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL

No Brasil e em diferentes partes do mundo, o advento do modo de produção capitalista e a exigência para sua concretização do trabalho livre colocou a questão da reprodução e manutenção da vida como algo a ser adquirido pelo trabalhador através da venda da força de trabalho, em troca de um salário; salário este que, para manter o lucro do patrão, não era suficiente para a manutenção da vida do empregado12. A apropriação privada dos frutos do trabalho pelo detentor do capital coloca no centro das atenções as contradições que atravessam a sociedade, evidenciando que a questão social, até então tratada pelo viés da caridade e da repressão, merecia, por parte das classes dominantes (detentoras dos meios de produção), um novo olhar. Com a consolidação do capitalismo, as desigualdades sociais e econômicas ficaram em evidência, fazendo com que os trabalhadores percebam a necessidade de defender seu único patrimônio: a própria força de trabalho; e algumas formas de organização coletiva por parte deles começam a surgir.

De acordo com Iamamoto (1997), inicialmente são criadas organizações como os grêmios corporativos e caixas beneficentes, que desenvolviam atividades principalmente com fins assistenciais e cooperativos, posteriormente surgem as sociedades de resistência e os sindicatos, que se constituirão nas principais formas de organização da classe operária nos períodos históricos que se seguem. Em torno da luta pela defesa dos salários, pela regulamentação e redução das jornadas de trabalho, na proibição do trabalho infantil, no direito a férias, contrato

12 Caravalho e Iamamoto (2011, p. 137) descrevem a situação dos trabalhadores

em 1920: "Amontoavam-se em bairros insalubres junto às aglomerações industriais, em casas infectas, sendo muito frequente a carência – ou mesmo falta absoluta – de água, esgoto e luz. Grande parte das empresas funciona em prédios adaptados, onde são mínimas as condições de higiene e segurança, e muito frequentes os acidentes. O poder aquisitivo dos salários é de tal forma ínfimo que, para uma família média, mesmo com o trabalho extenuante da maioria de seus membros, a renda obtida fica em nível insuficiente para subsistência. O preço da força de trabalho será constantemente pressionado para baixo daquele nível pela progressiva constituição de um relativamente amplo exército industrial de reserva. A pressão salarial força a entrada no mercado de trabalho das mulheres e das crianças de ambos os sexos em idade extremamente prematura, o que funciona também como mecanismo de reforço do rebaixamento salarial. É comum a observação sobre a existência de crianças operárias de até cinco anos e dos castigos corporais infligidos a aprendizes".

coletivo de trabalho, por exemplo, foram organizadas as primeiras greves e manifestações operárias. Desse modo, a questão social tomava forma de conflito entre a burguesia e o proletariado; da mesma forma, ideários do comunismo e do socialismo já se propagavam preocupando, além da Burguesia, a Igreja e o Estado. São estes três segmentos que, aliados, vão encontrar nas práticas sociais uma maneira de conter as lutas sociais e, ainda, de acordo com Martinelli (1997), de fortalecer a ilusão de que o Estado nutria um paternal interesse pelo cidadão. É por iniciativa desses segmentos, mas principalmente da Igreja, que surge o Serviço Social no Brasil.

Segundo, Carvalho e Iamamoto (2011), a partir de 1932 tem início uma diversificação e ampliação do aparato do movimento católico laico manifesto através da Ação Católica Brasileira em 1935, tendo como base as Encíclicas Rerum Novarum e Quadragessimo Anno. E, assim, os segmentos leigos envolvidos com as ações no meio social resolvem se reunir para o desenvolvimento de uma programação chamada de “Semanas Sociais”, delas surgiram grupos que programaram cursos de iniciação à Ação Social. Estes cursos, por sua vez, deram origem ao CEAS (Centro de Estudos e Ação Social) na cidade de São Paulo. A primeira escola de Serviço Social no Brasil surgiria da intensificação dos cursos promovidos pelos CEAS para a formação de Agentes Sociais. O CEAS de São Paulo desde o seu surgimento aspirava tornar-se uma escola, o que acabou acontecendo em 15 de fevereiro de 1936. No Rio de Janeiro, em julho do mesmo ano, foi criado o Instituto de Educação Familiar e Social o qual se compunha por duas escolas distintas: a Escola de Serviço Social e a Escola de Formação Familiar. Nas duas escolas eram pregados os mesmos fundamentos. Nos currículos, segundo Iamamoto e Carvalho (2011), havia matérias como Sociologia, Psicologia, Moral, Direito e Serviço Social, mais tarde seriam incluídas matérias de Pedagogia do Ensino Popular e Trabalhos Domésticos e, alguns anos depois, Biologia, Endocrinologia e História. O curso superior de Serviço Social foi oficializado no país pela Lei nº 1889 de 1953.

Iamamoto e Carvalho (2011) situam então que para além do componente assistencial e caridoso é necessário que se destaque o componente "modernizador" presente na prática dos primeiros agentes formados por essas escolas, cujos efeitos são essencialmente políticos, uma vez que promovem o enquadramento das populações “vulnerabilizadas”.

Poder-se-ia afirmar que o Serviço Social como profissão, inscrita na divisão social do trabalho,

situa-se no processo da reprodução das relações sociais, fundamentalmente como uma atividade auxiliar e subsidiária no exercício do controle social e na difusão da ideologia da classe dominante junto à classe trabalhadora. Assim, contribui como um dos mecanismos mobilizados pela burguesia e inserido no aparato burocrático do Estado, das empresas e outras entidades privadas, na criação de bases políticas que legitimem o exercício do poder de classe, contrapondo-se às iniciativas autônomas de organização e representação dos trabalhadores. Intervém, ainda, na criação de condições favorecedoras da reprodução da força de trabalho, através da mediação dos serviços sociais, previstos e regulados pela política social do Estado, que constituem o suporte material de uma ação de cunho ‘educativo’, exercido por esses agentes profissionais (IAMAMOTO; CARVALHO, 2011, p. 101).

Sendo assim, nas instituições oficiais e patronais encontra-se, segundo os mesmos autores, a primeira vertente de formação de pessoas especializadas na assistência. Mas outro segmento também se encontrava particularmente interessado: o Juízo de Menores, com apoio federal do Ministério da Justiça. Segundo Rizzini (2011), em 1930 o número de crianças que perambulavam pelas ruas esmolando, prostituindo-se ou ainda praticando pequenos furtos, era bastante grande, tão grande que esse contingente de crianças abandonadas, começava a assustar/preocupar a sociedade. O significativo aumento do número de crianças nessa situação contribuiu para que se instaure uma distinção no plano ideológico, entre criança e "menor", estando essa última diretamente relacionada à "delinquência", o que possibilitou o trânsito do problema da infância, do âmbito da assistência e da religião, para o âmbito do setor jurídico, onde passou a ser concebida como "problema do menor". Cabe destacar que em 1927 foi instituída a primeira legislação voltada especificamente a crianças e adolescentes. Trata-se do Código dos Menores, através do qual a Justiça buscou suas maneiras de “lidar” com as crianças e adolescentes pobres, abandonados, marginalizados, denominados “menores”.

O Código de 1927 incorpora tanto a visão higienista de proteção do meio e do indivíduo,

como a visão jurídica repressiva e moralista. Prevê a vigilância da saúde da criança, dos lactantes, das nutrizes, e estabelece inspeção médica da higiene. No sentido de intervir no abandono físico e moral das crianças, o pátrio poder pode ser suspenso ou perdido por falta dos pais. […] O Vadio pode ser repreendido ou internado, caso a vadiagem seja habitual. O autor de infração terá prisão especial. O menor de 14 anos não será submetido a processo penal de espécie alguma (o que acaba com a questão do discernimento) e o que tiver idade superior a 14 e inferior a 18 anos terá processo especial, instituindo-se também a liberdade vigiada (FALEIROS, 2011, p. 47).

Sobre a atuação dos assistentes sociais nesse momento, destaca Carvalho e Iamamoto (2011, p. 202):

No Departamento de Serviço Social do Estado de São Paulo, a mais ampla instituição de Serviço Social existente nesse momento, os Assistentes Sociais atuarão como comissários de menores no Serviço Social de menores – menores abandonados, menores delinquentes, menores sob tutela da Vara de Menores, exercendo atividades no Instituto Disciplinar e no Serviço de Abrigo e Triagem; junto à Procuradoria de Serviço Social (do Departamento de Serviço Social) no campo da ‘Assistência Judiciária a fim de reajustar indivíduos ou famílias cuja causa de desadaptação social se prenda a uma questão da vida civil’ e, enquanto pesquisadoras sociais (o maior contingente de Assistentes Sociais) e nos serviços de plantão. Além dos serviços técnicos, de orientação técnica das Obras Sociais, estatística e Fichário Central de Assistidos.

Também no Rio de Janeiro, segundo a autora, no setor público, surgem como primeiras instituições a introduzir Assistentes Sociais o Juízo de Menores e o Serviço de Assistência ao Menor da Prefeitura. Sobre o trabalho desses profissionais em tais instituições, registra a autora, se trata de uma abordagem individual apoiada na linha psicanalítica. Contudo, os primeiros passos para a profissionalização já

haviam sido dados, já que no decorrer da década de 194013 surgem diversas escolas de Serviço Social nas capitais dos estados, sendo que em 1947 é realizado o I Congresso Brasileiro de Serviço Social. Em 27 de agosto de 1957, a Lei Nº 3252, juntamente com o Decreto Nº 994 de 15 de maio de 1962, regulamentou o exercício da profissão, no Brasil.

Com a profissionalização do Serviço Social ocorre também a sua institucionalização. Para Carvalho e Iamamoto (2011), é na década de 1960 que se pode constatar a existência de um meio profissional expandindo-se. É também no decorrer desses anos que a profissão sofrerá o que a autora chama de "modernização", com a introdução do método de Serviço Social de Grupo, levando a uma recaracterização de suas funções.

Também nesse período o Código de Menores, que vigorou por cinquenta e dois anos, foi substituído por um novo Código de Menores em 1979. Assim, tal como afirma Dal Pizzol (2006), como a profissão de assistente social foi criada no Brasil em meados do Século XX, por certo o Primeiro Código de Menores Brasileiro não podia prever a sua participação,

Já no Código de Menores de 1979, a participação do assistente social teve maior destaque. Em seu artigo 4º, inciso III, este Codex previa que, para a aplicação da referida lei, deveria ser levado em conta o estudo de caso, realizado por equipe que participe pessoal técnico, sempre que possível (DAL PIZZOL 2006, p. 40).

13 “A essa altura, a prática do Serviço Social já havia evoluído muito, embora

ainda guardasse uma forte influência de sua origem, como abordagem individual apoiada na linha psicanalítica. Desde 1929, com a crise internacional do comércio e com a queda da bolsa de valores em Nova Iorque, os assistentes sociais americanos haviam desenvolvido um novo método de trabalho com grupos. A década de 40 trouxe, porém, uma nova exigência em termos de ampliação desse método para a comunidade. Após a II Guerra Mundial, tal exigência se transformou num verdadeiro imperativo, pois a voracidade expansionista americana demandava estratégias mais ágeis e capazes de gerar resultados mais rápidos, além de eficazes. Sob a denominação inicial de Organização de Comunidade, esse método foi adotado oficialmente a partir do final da década de 40, como linha operacional política de ação da Organização dos Estados Americanos e como campo de intervenção profissional dos assistentes sociais” (MARTINELLI, 1997, p. 132).

Quando passa a vigorar essa nova Lei, segundo Alapanian (2008), a maior parte dos equipamentos de assistência aos menores, que até então faziam parte do Juizado Menores, já havia sido transferidos para o Poder Executivo, inicialmente para a Secretaria de Promoção Social e em seguida para a Fundação Pró Menor, tornando a estrutura do Juizado de Menores bem mais enxuta. Com isso, as atividades dos assistentes sociais, ainda de acordo com a mesma autora, revestiram-se de nova expressão, ficando voltadas para a ação judicante, levando o Serviço Social a investir em novas modalidades de intervenção.

Uma delas foi a construção da ideia de que o assistente social era ‘perito do social’, feita por José Pinheiro Cortez a partir da demanda pela atuação de assistentes sociais nas Varas de Família. [...]. Embora em número pequeno, em situações extraordinárias ou mesmo eventuais, desde a entrada do Serviço Social no Judiciário, em 1949, assistentes sociais eram requisitados por alguns juízes de Varas da Família para elaborar estudos sociais de casos, principalmente em situações que envolviam crianças, como no caso de separação de corpos, guarda de filhos, regulamentação de visitas, etc. Mas foi somente por volta de 1978, 1979 que se constitui a formalização e ampliação desse trabalho (ALAPANIAN, 2008, p. 151-152). Com a ideia de que o assistente social era um perito, segundo a autora, ele deixou de ficar restrito ao Juizado de Menores e passou a ser introduzido nas Varas da Família e Sucessões. O trabalho do assistente social nas Varas de Família, por sua vez, possibilitou que a ação profissional assumisse um novo patamar. A ampliação dos tipos de processos em que o assistente social estava atuando, afirma Dal Pizzol (2006), trouxe o entendimento de que o seu trabalho tinha relevância, podendo contribuir para a produção de provas, sendo levado em conta na formulação da decisão judicial, isto é, já não se tratava mais de uma atuação expressa nos estudos sociais para os antigos procedimentos de Verificação de Situação de Risco ou de Apuração de Ato Infracional.

O momento em que a prática profissional do assistente social se redireciona no âmbito do Poder Judiciário, guarda plena sintonia com um redirecionamento mais amplo que envolve toda a categoria de profissionais e não apenas aqueles que atuavam neste espaço especificamente. A partir da década de 1960, o Serviço Social passa a ter

uma participação no desenvolvimento nacional, conforme Iamamoto (1997, p. 31),

Em suma, o Serviço Social deixa de ser um instrumento de distribuição da caridade privada das classes dominantes, para se transformar, prioritariamente, em uma das engrenagens de execução da política social do Estado e dos setores empresariais.

Durante a década de 1960, o Brasil alcançou expressivos patamares de desenvolvimento econômico que se contrastavam com os problemas sociais. Este desenvolvimentismo atingia apenas algumas parcelas da população, continuava a produzir concentração de riquezas. Passado o arroubo do breve governo de Jânio Quadros (1961), o populismo teve sua última representação no governo de João Goulart que, através de projetos sociais e reformas de base, acabou por ganhar o apoio de líderes sindicais e partidos políticos de esquerda e a antipatia completa dos militares, que em 31 de março de 1964 o derrubaram do poder e mantiveram-se nele até 1985.

A partir de 1974 alguma abertura política rumo à redemocratização já se fazia ecoar, a mobilização social era grande em vários segmentos sociais que expunham de maneira evidente os problemas sociais e seu descontentamento diante deles. A contestação diante do que estava instituído ganha espaço, inclusive, no âmbito da categoria profissional, a qual passa a se aproximar cada vez mais das classes economicamente mais vulneráveis e refletir sobre a realidade, buscando superar, tal como afirma Martinelli (1997), a representação imediata às quais se detinham as primeiras assistentes sociais em suas práticas.

Tornando-se críticos de sua prática e da identidade à qual estava referenciada, adquiriam condições de refletir, procurando desvendar as tramas do real, para poder compreendê-lo, conhecendo a sua estrutura, captando a sua essência. Nesse movimento de busca, que exige oposição, negação, contradição, a identidade atribuída ao Serviço Social era questionada, revisitada pelos ‘agentes críticos’, revelando suas inconsistências, fragilidades e submissões à lógica instituída pela sociedade de classe (MARTINELLI, 1997, p. 139- 140).

A questão da ruptura com a herança conservadora no âmbito da profissão ficou conhecida como Movimento de Reconceituação, consolidando-se, sobretudo, com a redemocratização do país ocorrida na década de 1980. Esta década será marcada, entre outras coisas, pela insatisfação democrática que tomou as ruas, principalmente a partir de 1984, quando as multidões organizaram históricos comícios em prol da eleição direta para Presidente da República e pela estruturação de uma nova ordem constitucional que refizesse o pacto político-social. Assim, em 1982 se dá a abertura de uma Assembleia Constituinte e, em 1988, a promulgação de uma nova Carta Constitucional.

Os debates em torno dos problemas que permeavam a realidade sobre as desigualdades, a luta por direitos protagonizada por diferentes movimentos sociais, levou ao reconhecimento das contradições sociais que se fazem presentes na sociedade e também na prática profissional. Assim, ao final da década de 1970 e início dos anos 1980, os assistentes sociais redimensionaram sua prática, reconhecendo sua dimensão política e seu envolvimento no projeto de construção de uma sociedade democrática, construindo sua aliança com as classes trabalhadoras. Emerge, então, uma vertente crítica sobre o significado da profissão nos marcos do capitalismo. Além disso, na década de 1980 a maioria dos programas de pós-graduação em Serviço Social foram implantados no Brasil14, permitindo a ampliação e aprofundamento do conhecimento crítico sobre a profissão em todos os seus aspectos. Segundo Sposati (2007, p. 17)

Por certo, ocorreu grande esforço nas décadas de 80 e 90 em fortalecer a base científico-profissional difundida, principalmente, através do processo de desconstrução e reconstrução crítica da profissão e de seu exercício, fundando-se no aporte sócio histórico da análise do real, que foi disseminado pelo então ‘novo’ currículo de formação da década de 80. Esse processo permeou a categoria pela academia, centros de formação, coletivos profissionais, encontros, debates, publicações, congressos. Foi efetivamente a construção da nova cultura crítica, no âmbito da profissão e da

14 O primeiro curso de Pós-Graduação em Serviço Social foi criado ainda na

década de 1970, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP, mas é sobretudo na década seguinte que muitos outros irão iniciar suas atividades.

formação profissional, que tem o mérito desse fortalecimento da pesquisa para os assistentes sociais.

O Código de Ética Profissional de 198615 sintetizou e consolidou os avanços promovidos nas décadas anteriores, comportando em si as marcas da ruptura com o conservadorismo, e firmando a aliança dos Assistentes Sociais com as classes trabalhadoras.

O objetivo da prática social transportava-se, assim, para uma outra dimensão onde a busca fundamental passava a ser a produção de novas relações sociais, a superação da sociedade capitalista. Sua legitimidade decorria de seu caráter mediador no processo de transformação da realidade, de busca de novas totalizações sociais. Uma nova dinâmica se colocava para o exercício profissional, baseando-se no movimento e não na estagnação, na ação coletiva e não na particular, na produção do novo e não na sacralização do instituído. [...] na verdade, ao assumir como seu fim último a superação da sociedade capitalista, a profissão está assumindo sua própria superação em termos da condicionalidade material que hoje peculiariza sua prática (MARTINELLI, 1997, p. 151).

A Constituição Federal de 1988 reconheceu o Estado brasileiro como um Estado Democrático de Direito, cujos fundamentos são: a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. O Estado

15 "As pequenas diferenças entre os três Códigos anteriores a 1986 decorrem de

mudanças realizadas na trajetória da profissão. O primeiro Código (1947) - expressando a estreita vinculação do Serviço Social com a doutrina social da Igreja Católica - era extremamente doutrinário e subordinado aos dogmas religiosos. O segundo (1965) - revelando traços da renovação profissional no contexto da modernização conservadora posta pela autocracia burguesa (NETTO, 1991) - introduziu alguns valores liberais, sem romper com a base filosófica neotomista e funcionalista. O terceiro (1975) suprimiu as referências democrático-liberais do Código anterior, configurando-se como uma das expressões de reatualização do conservadorismo profissional (NETTO, 1991) no contexto de oposição e luta entre projetos profissionais que antecederam o III CBAS de 1979" (BARROCO; TERRA, 2012, p. 45).

Democrático de Direito traz em si as possibilidades de realização social através da consolidação dos direitos sociais previstos em lei e pelos instrumentos que fornece para a concretização da Justiça social, pautada na dignidade da pessoa humana. Para Iamamoto (2010, p. 262-263),

A renovação crítica do Serviço Social brasileiro, incorporando os influxos do movimento de reconceituação latino-americano, aprofundou-se nas esteiras das lutas democráticas que impulsionaram a crise da ditadura militar e a abertura política. Esta se consolidou no novo ordenamento sócio jurídico, expresso na Constituição Cidadã de 1988 e regulamentações respectivas. As conquistas legais se refletiram no espaço ocupacional do assistente social, em especial na esfera pública, permitindo inscrever o conteúdo e direcionamento do trabalho profissional