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O DEBATE EM TORNO DAS DEFINIÇÕES (CAMPO/ÁREA) O X CBAS Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, ocorrido

4 A PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NO CAMPO JURÍDICO: DEBATES PRELIMINARES

4.3 O DEBATE EM TORNO DAS DEFINIÇÕES (CAMPO/ÁREA) O X CBAS Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, ocorrido

em 2001, na cidade do Rio de Janeiro, deu voz ao movimento que emergiu no âmbito da profissão querendo discutir a respeito da prática profissional que se delineava nas instituições socialmente reconhecidas como aparatos do Estado no exercício da Justiça. Neste evento, um eixo temático específico foi criado para abarcar essas discussões, trata-se do eixo:

Serviço Social e o Sistema Sociojurídico19. Uma agenda de compromissos

também foi elaborada pelos profissionais presentes no evento, prevendo ações relacionadas à questão. De acordo com Borgianni (2013), a partir de 2002, os Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS) do Brasil passaram a implementar comissões que seriam denominadas "Sociojurídicas", compostas por membros de direção e assistentes sociais

19 Neste evento foi lançada a Revista Serviço Social & Sociedade Nº 67 pela

Editora Cortez. O Número 67 inaugura, segundo o editorial da mesma, uma série de números especiais, com temas específicos que a Editora passaria a publicar a partir daquele momento. A Revista apresenta temas relacionados às áreas judiciária, penitenciária e da segurança pública, consolidando-se como a pioneira na compilação desses temas que foram denominados como: "Temas Sócio- Jurídicos". O número composto por onze artigos traz sete relacionados ao sistema prisional e, com isso, resgata uma dívida de pelo menos dez anos, sem publicar um único artigo sequer sobre esse tema, conformeLewgoy e Wolff (1991 apud GUINDANI, 2001). Ainda, de acordo com levantamento realizado por Rodrigues (2011), na Revista Serviço Social & Sociedade, apenas três artigos que versavam sobre temas relacionados ao sociojurídico foram publicados antes do Nº 67.

de instituições como o Tribunal de Justiça, o Ministério Público, instituições de cumprimento de medidas socioeducativas e sistema prisional, por exemplo.

O ponto de partida do debate residia na interface dos termos “sócio” e “jurídico”, compondo o termo "sociojurídico", porém a partir daí começaram a se constituir definições a respeito dessas instituições que levaram a seguinte questão: constituiriam essas instituições um sistema ou um espaço, área ou campo “sociojurídico”? A primeira tentativa de definição a respeito de quais instituições poderiam ser consideradas "sociojurídicas" foi feita por Fávero no ano de 2003, para esta autora

[...] o campo (ou sistema) sócio-jurídico diz respeito ao conjunto em que a ação do Serviço Social articula-se a ações de natureza jurídica, como o sistema judiciário, o sistema penitenciário, o sistema de segurança, os sistemas de proteção e acolhimento como abrigos, conselhos de direito e outros (FÁVERO, 2003, p. 10).

A definição de Fávero (2003) acalorou e alimentou20 o debate que prosseguiu em outros eventos nacionais que também deram voz às mesmas questões, o principal deles ocorrido no ano de 2004, em Curitiba, denominado como "I Seminário Nacional do Serviço Social no Campo Sociojurídico". De acordo com Fávero (2012), neste Seminário foi deliberado que o conjunto CFESS/CRESS incorporasse a denominação “campo das práticas jurídicas” e fomentasse a articulação de comissões do “campo sociojurídico” em todas as regiões, buscando produzir discussões e sistematizações a respeito de questões como atribuições, competências e aspectos éticos. Em 2009, na cidade de Cuiabá, o mesmo evento voltaria a acontecer, desta vez com o título "O Serviço Social no Campo Sociojurídico, na perspectiva da concretização de direitos". Em meio a esse movimento, o CFESS realizava em todo o país o primeiro mapeamento a respeito da inserção do Serviço Social nas instituições sociojurídicas, elaborando um instrumento de coleta de dados abrangente, onde procurou identificar as condições de trabalho e exercício

20 Xavier (2013) e Rodrigues (2014), analisando os textos produzidos no âmbito

do Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS) e Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social (ENPESS), produzidos no período de 2001 a 2010, reconhecem a definição mais utilizada por toda a categoria profissional quando se propõe a abordar aspectos da prática profissional no âmbito das instituições de justiça.

profissional, analisando nas instituições as seguintes características: espaços sócio-ocupacionais, número de profissionais, vínculo trabalhista, nomenclatura do cargo, carga horária, salário, gratificações, chefias, trabalho interdisciplinar, articulação intracategoria, condições do campo referentes à resolução CFESS Nº 493/2006 e atribuições.

Em 2013 este mapeamento foi concluído e publicado sob a seguinte denominação: “Subsídios para a atuação de assistentes sociais no sociojurídico” (CFESS, 2013). Neste documento foram reconhecidas como instituições "sociojurídicas": Poder Judiciário; Ministério Público; Defensoria Pública; Execução Penal e Sistema Prisional; Execução de Medidas Socioeducativas; Forças Armadas e Corporações Militares; Segurança Pública - Instituições Policiais; Programas na Área de Políticas Públicas de Segurança; e Serviço de Acolhimento Institucional/Familiar. O mesmo documento, porém, não firma nenhum posicionamento em relação à terminologia mais adequada no que se refere a campo, área ou sistema para referir-se a estas instituições, reconhecendo ser essa definição inerente ao debate teórico e acadêmico. De fato, a academia abraçou esse papel e importantes autores vêm debatendo sobre as implicações teórico-práticas e ético-políticas de cada terminologia mencionada para denominar o que seria então o "sociojurídico", se é um campo, uma área, uma esfera ou um sistema21.

A palavra “sistema” tem origem grega, seu significado deriva de "synistanai", esta, por sua vez, é composta por duas palavras: "syn" que significa “junto” e "histanai" que significa “fazer ficar em pé”, porém pode ser interpretado como “fazer funcionar", ou seja, synistanai tem o significado de “fazer funcionar junto”. A partir desta palavra grega surgiu "systema", que em linhas gerais significa “reunião de várias partes diferentes”. A palavra sistema é utilizada por inúmeras áreas do conhecimento das quais se pode destacar a medicina (sistema nervoso, sistema linfático, sistema respiratório, por exemplo). Na Psicologia a palavra sistema encontrou também ampla aplicação, dando corpo a chamada "abordagem sistêmica", que também influenciou o Serviço Social. De acordo com Ribeiro e Cosac (2007, p. 225)

Os estudos realizados pelo biólogo alemão Ludwig Von Bertalanffy, sistematizou e proporcionou uma teoria interdisciplinar também conhecida por Teoria Geral dos Sistemas (TGS), o que

21 Não se constitui como objetivo desta tese debruçar-se sobre todas as

implicações teóricas presentes nessas definições optou-se aqui apenas por indicar a existência dessa discussão.

possibilitou a eliminação das fronteiras e o preenchimento dos espaços vazios nas ciências, mostrando a dependência recíproca e a necessidade de integração entre elas. A partir daí, inclusive a administração, todas as ciências passaram a tratar os seus objetos de estudo como sistemas.

Nas ciências sociais seu emprego é dado como conjunto ou combinação de coisas, ou partes, de modo a formarem um todo complexo, se refere a qualquer totalidade ou todo organizado; mais especificamente quando se refere às instituições, indica que estas funcionam de maneira ajustada e interdependente. A abordagem sistêmica parte do pressuposto de que apesar de sermos partes, estamos inseridos no todo. O raciocínio sistêmico entende que um sistema é formado por elementos, relações, objetivos que são conectados e interconectados. A transposição do conceito de "sistema" para o pensamento que busca desvendar as contradições e particularidades de uma prática profissional que se dá no âmbito do conjunto de instituições chamadas "sociojurídicas" pode portanto estar calcada na Teoria Geral dos Sistemas. Cabe destacar que essa Teoria continua a influenciar o Serviço Social.

Um exemplo disso, é a Resolução Nº 113, de 19 de abril de 2006, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA, 2006), que dispõe sobre os parâmetros para a institucionalização e o fortalecimento do Sistema de Garantia da Criança e do Adolescente. O Capítulo IV da referida Resolução trata da defesa dos direitos humanos, nele aparecem aglutinadas “instâncias públicas”, que por meio de mecanismos jurídicos são capazes de assegurar o acesso à Justiça, são elas: varas da infância e da juventude, varas criminais especializadas, os tribunais do júri, as comissões judiciais de adoção, os tribunais de Justiça, as corregedorias gerais de Justiça; Ministério Público, especialmente as promotorias de justiça, os centros de apoio operacional, as procuradorias de justiça, as procuradorias gerais de justiça, as corregedorias gerais do Ministério Público; Defensorias públicas, serviços de assessoramento jurídico e assistência judiciária; Advocacia Geral da União e as procuradorias gerais dos estados; Polícia Civil Judiciária, inclusive a Polícia Técnica; Polícia Militar. Como se pode ver, a maioria das instituições que compõe o sistema de garantia de direitos, são as também denominadas sociojurídicas, há ainda o entendimento de que as instituições de justiça formam por si só igualmente o "sistema de justiça". Entre os autores que se referem às instituições sociojurídicas como “sistema”, está Fávero (2003), que não

faz maiores esclarecimentos sobre a escolha da denominação. Cabe destacar que posteriormente a autora reformulou esta definição acrescentando uma análise sobre o papel social cumprido pelas instituições próprias do "sociojurídico", definindo-as como

[...] organizações que desenvolvem ações, por meio das quais aplicam sobretudo as medidas decorrentes dos aparatos legais, civil e penal, e onde se executam determinações deles derivadas [...] nessas áreas, direta ou indiretamente, trabalhamos com base normativa legal e em suas interpretações pelos operadores jurídicos (FÁVERO, 2012, p. 122-123).

De qualquer forma, o aviltamento da denominação "sistema" pela categoria profissional reside, possivelmente, no fato de ela reportar-se a uma concepção que pode ser tida como estrutural-funcionalista de organização das instituições, onde as mediações e contradições inerentes a elas não estariam reportadas.

Na esteira das discussões que têm defendido as instituições sociojurídicas como composição de uma “área”, pode-se citar o clássico texto de Iamamoto (2010), no posfácio do livro “Política Social, Família e Juventude: uma questão de direitos”, onde a autora escreve:

A referência à área sociojurídica merece considerações. Envolve, mas extrapola, o Poder Judiciário, abrangendo as políticas públicas formuladas e implementadas pelo Poder Executivo no cumprimento das medidas compensatórias e protetoras de caráter socioeducativo e de sanções aplicadas pelo Poder Judiciário àqueles que descumprem as normas e as leis em vigor. Abrange desde questões relativas ao sistema penitenciário e aos direitos humanos, até instituições educacionais e assistenciais do campo da seguridade social envolvidas no atendimento aos direitos consubstanciados em medidas específicas de proteção à infância e juventude (IAMAMOTO, 2010, p. 266-267).

Na seara das autoras que defendem a concepção de área, de maneira mais contundente destaca-se Borgianni (2013). A autora parte do princípio de que se têm registros de “pouquíssimas” tentativas de

definição ou de delimitação do que caracteriza a atuação do assistente social nas instituições que têm interface com o saber jurídico. Ela defende inicialmente que não existe um Serviço Social próprio do sociojurídico ou um “Serviço Social Sociojurídico”, reafirmando que a profissão é uma só, apresentando atuação em diferentes espaços sócio-ocupacionais. Por fim, assim como os autores adeptos à denominação “campo”, Borgiannni (2013) recorre a Pierre Bourdieu22, porém, no caso dela, para defender a ideia de “área”. Para Borgianni (2013, p. 423-424)

[...] não seria “campo”, naquele sentido de Bourdieu, porque não estamos disputando (corporativamente) com magistrados, promotores ou advogados, nesse espaço ou nessa área, o direito de dizer o direito (ainda que seja o direito social). [...] Assim, sociojurídico expressa com mais precisão do que jurídico-social o que o Serviço Social quer nominar como espaço onde se põem demandas que têm uma especificidade histórica em relação a outras áreas. [...]. Por entender o ‘social’ – ou essa partícula sócio – como expressão condensada da questão social, e dela emanarem continuamente as necessidades que ensejarão a intervenção de juristas, especialistas do direito, de agentes políticos e seus partidos etc., assim como, por ser espaço contraditório no qual os assistentes sociais atuam – buscando defender tanto o projeto ético-político da profissão quanto seus direitos como trabalhadores – é que defendo que passemos a utilizar a expressão Serviço Social na área sociojurídica.

Para a autora, a existência da lide e de um processo judicial é o demarcador, quase que obrigatório, para que se defina quem está ou não envolvido na "área sociojurídica". Para ela:

Em termos sintéticos e simples, pode-se dizer que o trabalho do assistente social na área sociojurídica é aquele que se desenvolve não só no interior das instituições estatais que formam o sistema de justiça (Tribunais de Justiça, Ministério Público e

22 O recurso a Bourdieu deve-se ao fato de que o conceito de “campo jurídico” é

Defensorias), o aparato estatal militar e de segurança pública, bem como o Ministério de Justiça e as Secretarias de Justiça dos estados, mas também aquele que se desenvolve nas interfaces com os entes que formam o Sistema de Garantias de Direito (cf. Conanda 2006) que, por força das demandas às quais têm que dar respostas, confrontam-se em algum momento de suas ações com a necessidade de resolver um conflito de interesses (individuais ou coletivos) lançando mão da impossibilidade do Estado, ou seja, recorrendo ao universo jurídico (BORGIANNI, 2013, p. 424). Borgianni (2013) afirma, então, que a “esfera” do “jurídico” antes de configurar-se como um campo específico, configura-se como uma área de atuação e produção do conhecimento para os assistentes sociais. A autora não procura, porém, defender qual conceituação está utilizando para a palavra "área", o que permite que se faça apenas algumas reflexões em torno disso. A palavra "área" é encontrada nos dicionários como sinônimo de campo ou domínio em que uma determinada atividade é exercida. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) faz uma divisão formal e objetiva do conhecimento em áreas23, onde agrupa conhecimentos de acordo com a afinidade e natureza de seus objetos, métodos cognitivos e recursos instrumentais que refletem contextos sociopolíticos específicos e inter-relacionados. Nesta classificação, Serviço Social e Direito aparecem como áreas distintas no contexto de uma "grande área" denominada como "ciências sociais aplicadas". Nessa mesma classificação admitem-se duas "subáreas" para o Serviço Social, a saber: Serviço Social Aplicado e Fundamentos do Serviço Social. Destas subáreas emergem as "especialidades", contexto onde estão subscritas: Especialidade Serviço Social do Trabalho; Especialidade Serviço Social da Educação; Especialidade Serviço Social do Menor; Especialidade Serviço Social da Saúde; e Especialidade Serviço Social da Habitação. Não há uma área, subárea ou mesmo especialidade "Serviço Social Sociojurídico" reconhecida formalmente.

23 A Tabela das Áreas do Conhecimento adotada por órgãos atuantes em ciência,

tecnologia, cultura, arte e inovação é um instrumento para organizar informações visando implementar, administrar e avaliar seus programas e atividades. A Tabela orienta os usuários dessas agências a situarem suas atividades no quadro geral da produção e aplicação do conhecimento (CNPQ, 2016).

Chega-se a concepção de campo, denominação que, embora tenha um uso recorrente na literatura profissional, não tem sua conceituação tão bem adensada nesse mesmo espaço. Rodrigues (2014, p. 38), por ocasião de realização de seu mestrado, faz uma ampla análise sobre "Serviço Social e Campo Jurídico", para ele "[...] o conceito de campo não é uma chave analítica utilizada e, portanto, não há a sua problematização no escopo do Serviço Social". O autor vai recorrer então à teoria de Pierre Bourdieu para recuperar seus conceitos chaves e afirmar que o Serviço Social não se constitui enquanto “campo sociojurídico” e nem mesmo cria um campo próprio, mas constitui-se no interior do campo jurídico, por meio das narrativas dos assistentes sociais. Esta também é a formulação defendida por Aguinsky (2003).

Esta autora faz uma análise bastante profunda, por ocasião da realização de seu doutorado, sobre "Eticidades Discursivas do Serviço Social no Campo Jurídico". Seu texto "O lugar das possibilidades do projeto ético-político do Serviço Social no Campo Jurídico", publicado em 2002, é o primeiro texto que se tem notícias a realizar uma aproximação com o termo "campo jurídico", desde que as discussões sobre o tema são inauguradas em 2001. A autora remete, então, a um reconhecimento do campo jurídico como um espaço de intensas relações conflituosas expressas através de um debate, regulado juridicamente (possui regras formais e informais), que se estabelece entre os profissionais que nele atuam. Estes são os chamados operadores do Direito que, pactuados entre si, "jogam um jogo" onde a resolução dos conflitos deve se dar a partir das regras e convenções desse campo.

Alia-se a isso, a forma de operar da lógica do

campo jurídico. Em se constituindo através da

afirmação do método dedutivo – na explicação dos casos particulares à base de uma regra geral –, pressupõe a aceitação apriorística de pressupostos que nada dizem da vida cotidiana, antes independem da experiência da vida. Nesta esfera pode-se melhor apreender a violência simbólica levada a efeito pela ótica do Direito, não raro valendo-se de regras projetadas em situações diversas e anteriores, reeditando-as para situações novas, sem mediações (AGUINSKY, 2003, p. 81). No entanto, para a autora, há uma correlação de forças constitutiva do campo jurídico, e nas tensões se produzem novos discursos, que podem ser construídos em seu interior. Assim, no campo jurídico localiza-

se tanto a força abstraidora e moralizante do discurso dominante, tipicamente reproduzido nas práticas judiciais institucionalizadas no Poder Judiciário, quanto a possibilidade de construção de novas maneiras de dizer o direito. Aguinsky (2003) afirma que com suas práticas, exercidas no campo jurídico, os assistentes sociais interferem na aplicação do direito, nas formas de dizer o direito, concorrem para a viabilização de direitos, sobretudo, através dos subsídios levados aos procedimentos e decisões jurídicas.

Assim, o poder do profissional resulta da elaboração de sua competência nas respostas profissionais daquilo que produz no campo jurídico: seus pareceres, seus laudos sociais, os procedimentos de estudo social e acompanhamento de situações, entre outros. O que Bruno (1997) localiza na capacidade do Assistente Social em fundamentar e articular um saber teórico, ao qual se acrescenta a competência de um saber empírico, diz do poder profissional em constituir argumentos (os tais subsídios) com consistência tal que sejam irrecusáveis à consideração. Ao assessorar procedimentos e decisões jurídicas através da competência profissional, o assistente social viabiliza que sejam levados em conta aspectos do real, de outra forma imponderáveis pela usual lógica jurídica (AGUINSKY, 2003, p. 92). A autora localiza, na construção das competências profissionais, a possibilidade ética de contribuição do trabalho do assistente social neste campo. É no campo das competências que se exprime a capacidade do profissional não apenas de apreensão, mas também de articulação e resposta a subordinação da questão social. Pela lógica institucional, de onde esta é abstraída, simplificada, descontextualizada e até naturalizada pelos processos institucionais de reprodução da moralidade liberal. É na capacidade do profissional que a autora localiza as possibilidades de enfrentamento da questão social em uma perspectiva totalizante e não fragmentada, individualizada, como implica a lógica institucional. É assim que o assistente social vai

[...] forçando à consideração e substanciando as perspectivas de um Direito efetivamente inclusivo, que pense e atente ao habitualmente intangível e também impensável – o que dá a revelar a

possibilidade ética de contribuição de seu trabalho neste complexo campo de intervenção profissional (AGUINSKY, 2003, p. 90).

O Serviço Social configura-se historicamente como uma área de trabalho e de conhecimento especializado, formalmente reconhecido dessa forma. Sua atuação, analisada no contexto sociohistórico, está diretamente relacionada às manifestações da questão social, em suas diferentes expressões, inclusive em sua interseção com o Direito e a Justiça. Portanto, o Serviço Social possui uma interface histórica com o Direito na medida em que tem como foco do seu trabalho a cidadania, a defesa, preservação e conquista de direitos, princípios estes presentes em qualquer espaço de atuação.

Nesse sentido, a complexidade da realidade social, bem como o incremento dos conflitos de interesses pessoais e coletivos, exige que se olhe com cuidado para as instituições aglutinadas, seja sobre a noção de área, campo ou sistema. Tais instituições, embora possuam interfaces que mereçam ser pensadas, apresentam diferentes objetivos, finalidades, dinâmicas, demandas, enfim, características distintas entre si que somente são passíveis de compreensão por meio de mediações incessantes, na perspectiva da totalidade. Dito isto, o conceito de campo é aquele que parece oferecer o maior número de mediações possíveis com os aspectos