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1.7 O povo

1.7.2 Aspectos socioculturais

1.7.2 Aspectos socioculturais

A organização social e cultura

problemas ou dificuldades para preservar sua autonomia social no a sociedade envolvente.

Considerando que a organização social é mais uma fu uma estrutura em si, não podemos isolar a dimensão

dimensões da vida humana. Siqueira (2007, p. 28) af

os aspectos político, econômico, religioso e cultural dos Kaiowá não índios, pois tudo está interconectado entre si”

Mapa 4. Reserva Indígena Francisco Horta Barbosa

Fonte: Maria de Lourdes Belti de Alcântara, 2007

1.7.2 Aspectos socioculturais

A organização social e cultural dos indígenas guaranis sofre

dificuldades para preservar sua autonomia social no contexto das relações com

Considerando que a organização social é mais uma função da sociedade, que uma estrutura em si, não podemos isolar a dimensão propriamente econômica das demais dimensões da vida humana. Siqueira (2007, p. 28) afirma que “a organização social abrange

econômico, religioso e cultural dos Kaiowá [sic] e g

não índios, pois tudo está interconectado entre si”. Segundo a autora, há diferença no processo ndígena Francisco Horta Barbosa

Alcântara, 2007

sofre historicamente sérios contexto das relações com

Considerando que a organização social é mais uma função da sociedade, que é propriamente econômica das demais irma que “a organização social abrange e guarani e diverge dos . Segundo a autora, há diferença no processo

de organização social do indivíduo em harmonia com sua cultura, e essas diferenças situam-se na sua estrutura.

Brand (2008), por exemplo, chama a atenção para a situação dos kaiwás e dos guaranis de Mato Grosso do Sul, cujas terras estão localizadas praticamente dentro do perímetro urbano. Ele afirma que essa proximidade vem com a intenção de facilitar a integração e pondera que, embora tenha sido estabelecida uma proximidade com o não índio, os kaiwás vêm crescentemente afirmando sua identidade.

Já Souza (2004, p. 14) define o que entende por “culturalmente transformados”: as transformações vivenciadas pelos povos indígenas no Brasil não devem ser encaradas como um fato negativo, pois toda sociedade carrega, em suas práticas, “sementes da transformação”. Ainda de acordo com o autor, a “transformação do modo de ser guarani evidencia o caráter ativo do indígena frente ao avanço colonial luso e espanhol e também é resultado de uma luta contra as representações impostas pelos jesuítas”.

Percebe-se, pois, que, apesar das transformações, esses povos possuem grande organização social e cultural, pois sua identidade étnica permanece, seus costumes e cultura são preservados e sua língua é conservada. Apesar da ação transformadora da sociedade majoritária, sua cultura é soberana, explicitada por meio das peculiaridades da sua etnia, o que lhes permite viver em culturas diferentes, com mundos próprios, embora geograficamente próximos.

1.7.2.1 Usos e costumes

A agricultura de subsistência é um processo fundamental para muitas famílias da etnia kaiwá e, mesmo com dificuldades, assume grande destaque na reserva. Nas aldeias, cultivam-se, na maioria das vezes, milho, batata-doce, feijão, banana, cana-de-açúcar, hortaliças e mandioca, sendo este o principal produto cultivado pelo povo kaiwá. Também fazem pequenas criações de galinhas, patos, porcos; quanto ao gado bovino, este é restrito a bem poucas famílias. Desses produtos cultivados, uma porção é destinada ao comércio fora das aldeias, pois é uma das formas de garantir uma parte da renda da família; o restante é para o próprio consumo.

As produções artísticas constituem um suporte da memória que contribui para a identificação de mudanças culturais. O artesanato, característico da cultura kaiwá, é hoje uma alternativa de comércio para poucas famílias, o que demonstra a perda dessa atividade

tradicional. Observamos algumas transformações ocorridas na arte indígena guarani e kaiwá, levando em consideração seus aspectos históricos e culturais, depois do confinamento em reservas. Atualmente, ainda podemos encontrar alguns artefatos (a seguir listados e descritos), produzidos tanto para uso próprio quanto para serem comercializados, conforme expõe Paschoalick (2008).

1) Armas: as que mais se destacam são as de ataque, utilizadas para a guerra, caça e pesca. A confecção de arcos, flechas, lanças e outros objetos empregados como armas de ataque, tem objetivo comercial. Esses são os objetos mais confeccionados pelas famílias na reserva Indígena de Dourados. O machado, o facão e o punhal também são fabricados para a venda, assim como o escudo (arma de defesa), porém são produzidos em menor quantidade. Nota-se que apenas as pessoas envolvidas no processo de venda produzem tais artefatos.

2) Tecidos: a arte de tecer alcançou grande relevância entre os índios em todo o Brasil. Conhecedores do algodão e de outras fibras têxteis, eles transformavam essas matérias-primas em fio, o que exigia grande habilidade manual, técnica utilizada normalmente na produção de redes de dormir, faixas, rede de pescar, bolsas, sacos-cargueiros e vestuários. Atualmente, com a falta do algodão, as mulheres abandonaram a prática de fiar, mas continuam tecendo com barbante, lã, fios de tecidos desfiados, estopa, linha, utilizando a mesma técnica de seus antepassados. A tecelagem é praticada predominantemente por mulheres, sendo muito comum encontrar, em cada família kaiwá, uma tecelã.

3) Adornos: incluem-se, aqui, objetos de uso pessoal que ornamentam o corpo, adereços de uso ritual ou cotidiano. São elaborados com materiais de origem vegetal, como: a cabaça, castanhas, bambu, sementes de pau-brasil, olho-de-cabra e outros, sendo estas as mais comuns. Com esses materiais, os indígenas confeccionam vários objetos, tais como: o colar, que é um adorno tradicionalmente feito com sementes, e o cocar, fabricado de várias maneiras e utilizado apenas nos rituais, normalmente feito com plumagem, linhas, trançados e penas tingidas. É importante destacar que os adornos corporais possuem, juntamente com o seu valor estético-decorativo, propriedades mágico-religiosas e são feitos com matérias-primas da flora, da fauna, de minerais e até mesmo de alguns produtos industriais.

4) Instrumentos musicais: os instrumentos e a música estão relacionados aos aspectos da cosmologia e da organização social guarani e kaiwá. São utilizados geralmente instrumentos de sopro, como as flautas; raramente vemos o uso de instrumentos de corda. Outro aspecto a ser observado é que a voz, apesar de não ser um instrumento, é a “produção” mais comum de música entre estes povos. Os instrumentos musicais, assim como os objetos utilizados nos rituais, ficam guardados dentro da casa de reza. Tanto o canto quanto a dança são apresentados como constituintes da cultura; a dança é também uma forte característica dos kaiwás, podendo-se dizer que é o “cartão de visitas” desse grupo.

5) Cerâmica: a confecção da cerâmica guarani geralmente cabia à mulher. Entende-se necessária a inclusão da produção de cerâmica na cultura guarani dada a importância que assume como forma de identificação étnica. A matéria-prima para a confecção de cerâmica é a argila, e os padrões decorativos são os mesmos aplicados na pintura corporal, cestaria e tecelagem. Atualmente, a cerâmica não é muito desenvolvida e, na reserva de Dourados, não se confeccionam mais tais objetos, mas a técnica tradicional de confecção é conhecida por muitos.

A confecção desses artefatos foi, durante muito tempo, praticada somente para atender às necessidades individuais ou do grupo, em rituais. Seus aspectos formais possuem uma representação simbólica e características próprias do povo a que pertencem. Hoje, a maioria desses trabalhos é feita com objetivo comercial, com valores estéticos e decorativos. Paschoalick (2008, p. 100) afirma que, apesar das transformações ocorridas na arte kaiwá, “o novo modo de ser reflete as respostas que estes indígenas encontraram para se adaptarem às novas situações com que se deparam”.

No que diz respeito às festas11, são realizadas com o intuito de descontrair e unir os moradores das aldeias Jaguapiru e Bororó, mas os mais velhos sempre fazem questão de lembrar que já houve momentos em que tais comemorações foram utilizadas nos ritos. Segundo Espíndola (2002), hoje as festas são utilizadas para comemorar um aniversário, festa da terra ou mesmo uma reunião familiar, caracterizando, assim, uma perda cultural.

Com relação às inovações provindas do contato, alguns anciãos das aldeias afirmam que nem tudo direcionado ao contato é negativo. A vestimenta e a alimentação existentes nas aldeias hoje, provindas do não índio, foram consideradas como algo favorável à

 

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comunidade guarani e kaiwá. A vestimenta foi considerada como um dos principais pontos positivos da modernização das aldeias. Segundo os indígenas, houve melhoria nesses produtos em virtude da qualidade dos materiais utilizados para a confecção, que hoje apresentam maior elasticidade, conforto, além de modelos diferenciados. A matéria-prima utilizada anteriormente, composta por palhas de coqueiro e couro de animal, não favorecia a mobilidade, o conforto e o aquecimento nos dias frios. Já em relação à alimentação, o alimento consumido atualmente é considerado eficiente pela maioria, sobretudo pela facilidade no preparo e pela variedade de sabores.

Enfim, apesar das transformações sofridas em seus usos e costumes, o novo modo de ser reflete as respostas que esses indígenas encontraram para se adaptar às novas situações apresentadas a cada dia.