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3.2 Neologia e neologismo

3.2.3 O neologismo dentro do conceito de palavra

A definição mais comum encontrada para “palavra” foi: “pequenas unidades significativas da fala”, no entanto, com base na afirmação de Ullmann (1964, p. 60), “a menor unidade significativa não é a palavra, mas sim o morfema”. Segundo o autor, a tentativa de maior sucesso para definir “palavra” foi a de Leonard Bloomfield, para quem “as palavras são evidentemente formas livres, visto que podem --- em respostas, exclamações, etc. --- existir isoladas e agir ainda assim como elocuções completas”. (ULLMANN, 1964, p. 61).

Bloomfield (1926 apud BASILIO 2009, p. 10) afirma que a palavra “é a forma livre mínima: uma forma que pode ocorrer isoladamente, por si só constituindo um enunciado, e não podendo ser totalmente subdividida em formas livres”. Segundo o autor, essa definição enfoca a palavra como unidade de estrutura do enunciado, ou seja, dado um enunciado, podemos fracioná-lo em palavras por intermédio dessa definição de potencialidades. Assim, podemos afirmar que a palavra é uma unidade linguística básica que pode constituir-se de mais de um elemento e possui uma estrutura articulada no eixo radical/afixos.

De acordo com Borba (1971, p. 109), as palavras são unidades sentidas pelo falante como separadas umas das outras por um determinado tipo de pausa, o que na escrita é representado por um espaço em branco. A essas unidades, a comunidade cultural indo européia atribui uma significação e uma função específicas.

Para Basilio (2009, p. 9), “o conceito de palavra é de grande dificuldade, dadas as múltiplas dimensões em que esta unidade pode ser enfocada, as quais nem sempre coincidem, além de apresentarem diferentes graus de relevância”. As palavras e expressões de uma língua podem ser utilizadas de acordo com o lugar, a cultura e os costumes de cada grupo social, contudo não podem ser observadas levando-se em consideração somente a sua constituição formal, isto é, considerando somente as letras ou os fonemas que as constituem. Para que os estudos morfológicos dos vocábulos sejam feitos sobre uma base rigorosa, é necessário atentarmos para as suas unidades mínimas significativas ou morfemas, ou mesmo para sua constituição fonológica e para aspectos sintáticos e semânticos.

Basilio (2009, p. 10) afirma que, na Gramática Tradicional, “a palavra é a unidade mínima da análise linguística”, mas, no estruturalismo, o foco de descrição passa a ser o morfema, de modo que a palavra deixa de ser a unidade mínima de análise linguística e torna-se uma unidade com menor relevância na estrutura da língua.

A palavra analisa e objetiva o pensamento individual, tendo também um valor coletivo. Podem também ser consideradas emblemas culturais, símbolos com significados sociais, que conservam a experiência da atividade humana, e o estudo de palavras pode ser o fio condutor para o conhecimento de uma comunidade.

No interior do conceito de palavra, o neologismo consiste em um fenômeno linguístico resultante da criação de uma nova palavra, ou da atribuição de um novo sentido a uma palavra já existente, ou ainda da incorporação, no “vocabulário” de uma língua A, de um item lexical de uma língua B. Geralmente, os neologismos são criados a partir de processos

que já existem na língua: justaposição, prefixação, aglutinação, verbalização e sufixação. “Na verdade, não basta que um significante esteja de acordo com o sistema de uma língua para que ele se torne um elemento integrante do léxico desse idioma”, argumenta Alves (1994, p.11). Assim, podemos dizer que neologismo é toda palavra ou expressão que não existia e passou a existir, no inventário da língua, independente do tempo de vida e de como ou de onde surgiu.

Há, no entanto, algumas restrições à incorporação desses itens no léxico da língua. Segundo Alves (1994, p. 11), o próprio mecanismo da comunicação impede a vivacidade da neologia, a fim de garantir a eficácia da mensagem, pois “a unidade léxica tem caráter neológico à medida que é interpretada pelo receptor”. Esses limites decorrem do fato de a língua ser um patrimônio comum a todos os seus falantes, possuir caráter social e desenvolver resistência a todo e qualquer tipo de inovação linguística, embora essa oposição a (novas) criações lexicais não impeça a evolução; apenas impõe regras para que as evoluções procedam por meio de recursos específicos. (ALVES, 1994, p. 12).

Amorim (2002, p. 55-56), para quem o neologismo “é uma invenção humana para concretizar uma necessidade linguística”, considera que:

A capacidade criativa aliada ao poder encerrado pela palavra dentro da existência humana, tornam o emprego do neologismo uma espécie de novo “instrumento mágico”, chave para outras dimensões. A palavra em si contem um encanto e uma força dentro da vida do ser humano que nenhum outro elemento detém: ela parece ser a expressão do próprio pensamento, aliás, a palavra e o pensamento possuem uma relação tão íntima e simbiótica que, muitas vezes, confundem-se, travestem-se um do outro e separá-los constitui tarefa árdua de se empreender.

Dessa forma, o neologismo representa-se como um “expoente da força encerrada nas palavras, como elemento constituinte de uma realidade, reflexo da constante busca por termos novos e inovadores que permitam a tradução das realizações, avanço e evoluções do ser humano”. (AMORIM, 2002, p. 57).

Alves (1994, p. 5), por sua vez, reflete sobre a influência do fator temporal sobre o uso/desuso de formas linguísticas: algumas palavras deixam de ser utilizadas e outras são criadas gradativamente por falantes de uma determinada comunidade linguística. Nesse processo, concorrem mecanismos “nativos”, da própria língua, e itens léxicos derivados de outros sistemas linguísticos.

Mediante o exposto, observamos que as palavras estão em constante processo de evolução, o que torna a língua um fenômeno vivo, que acompanha o ser humano ao longo de sua trajetória. Alguns vocábulos caem em desuso, outros nascem e muitos mudam de

significado com o passar do tempo; eis a dinâmica do neologismo. É por essa razão que Biderman (1978) defende não haver uma única definição de palavra para todas as línguas, pois cada língua traduz a realidade do mundo com modelo próprio, expresso nas suas categorias gramaticais e léxicas.