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Orientemo-nos, antes de passar adiante. Iniciamos o estudo do conceito central do esquema do ser – o “eu sou”. Isto nos conduziu a observar o fenô- meno do egocentrismo, cuja significação quisemos esclarecer. Por esta via, chegamos às portas do grande drama da queda dos anjos, devida justamente à rebeldia do “eu”, por excessivo egocentrismo desvirtuado. Detivemo-nos, en- tão, a contemplar as suas consequências, estudando as origens do mal e da dor. Mas isto nos colocou defronte ao problema inverso, de seu término. Entramos, assim, na visão do grande ciclo constituído pelo desmoronamento e reconstru- ção do universo, ciclo que se reconstrói em unidade pela junção das suas duas fases inversas e complementares: involução e evolução. Adentramos, desta forma, a visão da estrutura do Sistema e dos processos íntimos de seu trans- formismo, admirando-lhe a perfeição. Pudemos seguir esse transformismo universal até às suas últimas conclusões, que sintetizamos em duas expressões limites, uma das quais resolutivas do sistema positivo, e a outra resolutiva do sistema negativo, com o triunfo final do bem sobre o mal e a reconstituição do sistema desmoronado. Pudemos, desta maneira, encontrar a solução final do problema do ser. Descemos depois ao nosso mundo, para nele encontrar con- firmações e demonstrações e, afinal, aplicações na sublimação. Com esta, co- mo conclusão moral das visões precedentes, é apontada ao ser humano a via das ascensões espirituais, da reconstrução do universo desmoronado, a única que o pode guiar na reconquista da felicidade perdida.

Este foi o caminho que percorremos até aqui.

Havendo chegado a esta altura e completado a precedente ordem de visões e de conceitos, vemos desenrolar-se diante de nós uma perspectiva diversa dos mesmos fenômenos, pela qual observaremos o Todo já não mais em relação à sorte da criação e das criaturas, mas em relação a Deus e à Sua obra. Sinteti- zamos atrás a última conclusão da precedente ordem de conceitos, em duas expressões resolutivas do transformismo universal. Uma significando a des- truição do ser, 0=0, o inferno eterno; a pena máxima para quem assim a quis, renegando a existência; destruição do “eu” como individualização espiritual; morte da alma, que, negando Deus, nega a si própria até anular-se. A outra, no polo oposto, significando a plenitude do ser, =, a felicidade eterna, a ale- gria máxima, o triunfo da vida, a afirmação do “eu” em Deus. Iluminados por estas precedentes visões, busquemos agora penetrar ainda mais no íntimo do

fenômeno universo, contemplando-o, mais do que em seu transformismo, na sua real essência, na sua mais profunda substância.

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São João iniciou o seu Evangelho com palavras estranhas, refertas de pro- funda significação e geralmente incompreendidas. Ciência e filosofia, não conseguindo alcançá-las, negligenciam-nas e as resolvem ignorando-lhes a existência. Entretanto elas contêm a chave do universo. João, ao certo, ilumi- nado por Cristo, as havia compreendido. Procuremos compreendê-las nós também.

Que significa Verbo? Encontramo-nos em alturas vertiginosas. Tentaremos uma resposta no próximo capítulo. Para alcançá-la, necessitamos passar antes por alguns degraus. Partiremos, pois, de nosso concebível, com respeito a nós mesmos.

Pelo princípio da unidade do Todo e dos esquemas de tipo único, segundo os quais o universo é construído, principio já alhures esclarecido, não é absur- do ver, também em nosso minúsculo contingente, os grandes esquemas do ser refletidos escalonadamente, até ao máximo de Deus. Observemos então o ho- mem, feito à imagem e semelhança de Deus, e, de como ele age, poderemos formar uma ideia aproximada de como também Deus deve agir. Tudo isto nos é repetido pela inscrição encontrada no frontispício do templo de Delfos: “Co- nhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo”. Afinal, a correspondência entre microcosmo e macrocosmo é conceito que vigora desde a mais remota Anti- guidade.

Como age o homem, através de que processo, quando, à imagem e seme- lhança de Deus, constrói alguma coisa? Qualquer realização humana é retirada do íntimo de quem deseja criá-la. Ele a tira de si, do pensamento, da sua alma. Cada qual pode observar em si próprio o fenômeno. Há sempre uma primeira fase no processo criador – mesmo nas mais ínfimas realizações humanas – que consiste na formulação mental da ideia abstrata, que depois encontrará a sua concretização na forma. Todos nós sabemos que nada se cria e nada se destrói, mas isto apenas no que se refere à substância eterna, e não quanto à forma em que a ideia abstrata venha a se manifestar. Quando a eterna e indestrutível substância é plasmada pelo pensamento de um “eu sou” em uma dada forma, então temos uma criação que, no sentido relativo, como tudo o é neste mundo, é criação do nada. Isto em relação ao seu estado anterior, de não existência

nessa dada forma, que ainda não nascera como tal. Neste sentido, o nosso uni- verso foi criado do nada, como anunciou a revelação.

Faz-se aqui necessária uma observação para prevenir dúvidas que podem surgir do confronto entre o que acabamos de expor e o que se encontra no Ca- pítulo XI, “A caminho da sublimação”. Ali se esclareceu o valor, sempre com respeito a nós, que pode ter o conceito de criação do nada, qual foi a verdadei- ra criação, de como ocorreu o seu ulterior desmoronamento, que passamos a chamar criação, e de como a verdadeira reconstrução é representada pela atual fase evolutiva. Isto foi dito para que se pudesse compreender como realmente se passaram as coisas. Mas aqui, neste capítulo, voltamos a nos colocar sob o normal ponto de vista humano, o bíblico, do nosso relativo, apenas com o in- tuito de facilitar a compreensão. Chamamos de criação, no sentido corrente, o que, ao contrário, foi um desmoronamento, denominando-se manifestação o que, inversamente, foi uma ocultação. O leitor está apto agora a compreender o verdadeiro significado dessas expressões de uso comum. Podemos, portanto, retornar à psicologia normal, como esta se expressa na concepção bíblica. A presença de Deus criador nesta criação dada pelo desmoronamento explica-se em virtude de Ele ter-se mantido sempre como senhor do Sistema, de não tê-lo abandonado na queda e de ter continuado a regê-lo e guiá-lo através de Sua imanência nele. Ainda que o seja como espíritos decaídos, a assim chamada criação está sujeita a Deus, que nela está presente em toda parte, como seu criador. Ocupando-nos aqui de enfocar principalmente o processo criador, passando por alto sobre a rebelião e a queda, após haver explicado alhures a gênese do mal e da dor, observamos agora o processo diretamente em relação àquela que permanece como a sua primeira fonte: Deus.

Procuremos agora avizinhar-nos da compreensão da natureza íntima do chamado processo criador, até ao seu caso máximo em Deus, cuja ação, embo- ra a incomensurável distância, o homem busca imitar no seio do mesmo Sis- tema, seguindo o mesmo esquema. A matéria prima da criação, como já expli- camos em outra parte e esclarecemos nas páginas seguintes, é uma eterna e indestrutível substância de natureza pensante, isto é, que possui como atributos fundamentais a inteligência e o conhecimento. Este é o estado originário de que derivou o universo: a mente de Deus, como qualquer obra humana deriva da mente do homem.

Qual é o estado do Todo antes da criação? Por Todo devemos entender Deus, porque nada pode existir além Dele. Talvez fosse melhor criar uma ou-

tra palavra, de um significado mais preciso, e não como essa – Deus – ligada a significados tradicionais. Mas, com isto, correríamos o risco de nos tornarmos ainda menos compreensíveis. O Todo estava, pois, num estado de quietude, o estado em que o homem se encontra antes de empreender qualquer realização. Este é o estado contemplativo, da concepção, sem forma ou expressão ainda; um estado abstrato, feito de puro pensamento. Nele, apenas se desenha a ideia-mãe, o esquema ou modelo da forma, no qual esta poderá depois configurar-se, refle- tindo-se, a partir do primeiro impulso conceptual, em uma infinidade de exem- plares. Esta é a primeira fase da gênese, a conceptual, que se denomina de con- cepção. Nesta fase, a criação ainda não nasceu; está somente concebida.

Como nascerá ela? Passamos agora para a segunda fase, para o segundo momento do processo criador. Até este ponto, a eterna substância pensante do Todo permanece ainda no estado de quietude, imóvel, sem nada ter retirado de si, isto é, sem haver manifestado as suas possibilidades cinéticas, nela jacentes em estado de latência. Entre as qualidades fundamentais inerentes à natureza da eterna substância pensante que constitui o Todo, está a capacidade de trans- formar, passando com isto ao estado atual, as qualidades antes adormentadas, latentes no estado de quietude. Este puro pensamento, não existente no mo- mento do princípio, mas sim antes dele, representava o caso máximo do prin- cípio da semente ou germe, esquema segundo o qual continuou, continua e continuará a gerar-se o universo após a primeira gênese criadora. Sabemos que este é um sistema ecoante, com repetições de ações e de esquemas. Neste esta- do de pensamento puro existia, pois, em germe, a possibilidade latente de to- dos os futuros desenvolvimentos, quais existiram, existem e existirão.

Inicia-se, então, a segunda fase do processo criador. A substância pensante do Todo desenvolve no íntimo as suas qualidades cinéticas, retirando-as do estado latente para o atual. Em outros termos, após a fase de concepção abstra- ta, de formulação espiritual dos esquemas que deverão depois guiar a ação, esta se inicia. Com isto, a ideia, a princípio apenas abstrata, começa a realizar- se, configurando-se na forma, que é filha do movimento. Neste ponto, poder- se-á melhor compreender a significação de tantas referências que fizemos nos precedentes volumes ao estado cinético do Todo. Que outra coisa exprime o verbo em nossa psicologia corrente, senão uma ideia abstrata que se põe em movimento, rumo à sua atuação? Quando dizemos verbo, falamos de agir, que é a segunda fase, de ação, que presume a primeira, de idealização. Quando falamos: “eu olho, eu falo, eu vou, eu trabalho”, executamos a transformação

que vai da primeira à segunda fase, passando do estado imóvel da concepção ao cinético da ação. Este último está ligado ao primeiro como uma sua conse- quência. Ele é o mesmo ato em um segundo aspecto. Representa um segundo modo de ser, uma transformação em que desenvolve aquilo que antes estava latente, em quietação, pondo-se em movimento. A substância pensante do To- do continha já em si estes impulsos, que, uma vez lançados pelo primeiro mo- tor, vemos transmitir-se em nosso mundo, com dinamismo segundo os princí- pios. Ajudar-nos-á a compreender o grande fenômeno da criação observar o que se passa em nossa mente, quando ela desenvolve impulsos semelhantes na sua manifestação, imprimindo-os no mundo exterior, pois que ela, da substân- cia pensante do Todo, não é mais do que um momento que se isolou em um sistema menor, em um “eu sou” subordinado ao máximo “eu sou”: Deus. An- tes de agir, todos pensam na ação a executar, e este é o primeiro momento, a fase da construção do esquema diretor, com que se imprimem às formas novos estados cinéticos.

Cada forma do ser se reduz a um estado cinético diferente. Deus criou, pois, pela transformação da substância prima pensante, o espírito (), em energia (), que representa a fase cinética da ação e é expressa por nós com os verbos, fase de querer e pôr-se em movimento, para depois chegar enfim à terceira fase do processo, a matéria (), a forma, a criação, a obra completada. Neste sentido, podemos dizer que o criado contém e exprime o pensamento de Deus, como podemos dizer que toda obra humana contém e exprime o pensamento do homem que a realizou.

Assim, Deus, através do dinamismo , por Ele mesmo desenvolvido, pôde retirar da fase conceito (), a terceira fase conclusiva do processo, a forma na matéria (). Nesta, o livre estado cinético da fase energia concentrou-se nas trajetórias fechadas dos seus átomos constitutivos, e o primeiro pensamento pôde assim encontrar a sua expressão. Semelhantemente age o homem quando, por uma ação menos interior, mais superficial e secundária, modela as coisas apenas na sua estrutura exterior, e não na sua íntima substância constitutiva. Medeia naturalmente imensa distância, mas o tipo do esquema criador é o mesmo. Para operar de qualquer maneira, o homem, uma vez concebido o pla- no, põe-se em condições de executá-lo, dinamiza-o na ação, passando assim de , o estado espiritual da concepção, para , o estado cinético criador. Deste deriva, finalmente, a última fase do processo, o ato completo, resultante dos

dois primeiros momentos, a obra concreta, que, na forma, exprime a ideia ori- ginária. O nosso universo, a criação, representa esta terceira fase. De tudo isto ele conserva traços, sendo guiado pelo pensamento, movido pela energia, constituído pela matéria. Assim também se dá com o nosso próprio organismo, feito de espírito (funções diretivas), depois de um metabolismo e movimento (dinamismo da vida) e, finalmente, de um organismo físico (baseado na maté- ria)8. E assim como o universo se desenvolveu da sua causa primeira: Deus, também o feto, o corpo e todo o homem desenvolveram-se da causa primeira, motor primeiro de tudo: o espírito.

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Esta concepção da estrutura do Todo e do processo criador encontra con- firmação não só na constituição de nosso universo, na natureza do homem e dos seus processos criadores, mas também em algumas das mais recentes teo- rias científicas, como a do espaço-dinâmico, em que se concebe o espaço não como uma extensão geométrica, mas substanciado de uma densidade própria e dotado de uma mobilidade, como um fluido. O homem atribuiu ao espaço, de forma inteiramente arbitrária, os atributos de vacuidade e imobilidade, sem saber se eles efetivamente correspondem à realidade física. Há, entretanto, uma única realidade constitutiva do universo físico: o espaço fluido e móvel e o seu movimento. Os movimentos circulares desta substância conformam os sistemas atômicos e astronômicos, de que resulta a matéria. Os seus movimen- tos ondulatórios constituem a energia. Assim todos os fenômenos se reduzem a uma mecânica universal, dada pelo movimento do espaço, derivando deste fenômeno fundamental único e básico de que tudo emana no universo: o esta- do cinético do ser, em que vimos sempre a gênese de todas as coisas.

Eis, pois, um espaço-substância que não é vazio nem inerte, mas é, por sua natureza, genético da matéria, isto é, possui as qualidades aptas à formação, no seu seio, das condensações ou concentrações de substância que se denominam matéria. Ora, uma das conclusões a que chegamos no fim do volume Proble- mas do Futuro, é que a própria ciência, penetrando nos mais íntimos recessos da matéria, verificou que ela se dissolve em energia, perdendo-se, por fim, no campo abstrato do pensamento puro. Efetivamente, o elétron, último elemento a que se chegou até hoje na decomposição da matéria, segundo as mais recen- tes indagações físico-matemáticas, não possui mais nenhum conteúdo físico,

representando apenas um feixe de ondas. O último termo da realidade não pas- sa, pois, de uma concentração de energia ondulatória, tanto mais fácil e exata- mente localizável quanto mais diferem entre si as frequências componentes do diminuto feixe de ondas. Eis, pois, que o extremo corpuscular da matéria, o elétron, se desfaz em ondas. A substância fundamental, material de construção do edifício das coisas, é um puro campo eletromagnético, desaparecendo toda ideia de substrato material. Cai, assim, qualquer significado físico real, restan- do apenas o recurso lógico de representar a probabilidade matemática de que o elétron se encontre, em dado instante, em um determinado ponto do espaço. E, se o próprio elétron é hoje concebido como uma concentração de energia, no que então se torna a matéria que dele resulta, se a própria energia se concebe atualmente como uma abstração matemática: “a constante de integração de uma equação diferencial”?

Tudo isto para demonstrar como a própria ciência tende a reconduzir o ma- terial constitutivo do universo físico à sua última realidade, que é a de ser uma substância pensante. O universo, com efeito, não é explicável senão quando reconduzido ao seu termo extremo, termo este entendido como um puro con- ceito, único capaz de nos exprimir a essência das coisas. Assim a indagação científica percorreu o caminho inverso ao que Deus seguiu para, com a cria- ção, chegar à manifestação do Seu pensamento. Desta maneira, a ciência da matéria retornou a Deus e, no fundo desta, encontrou o Seu pensamento ani- mador, isto é, a presença de Deus imanente. Tudo isso corrobora o processo acima exposto da criação e, ademais, nos auxilia a compreender, confirmando- a, a concepção de um espaço-substância, por si mesma geradora da matéria, concepção que assim se enquadra em um sistema cósmico.

Eis, pois, como, pelo físico-dínamo-psiquismo, concepção fundamental de A Grande Síntese, podem ser orientadas, em um plano mais vasto, acessível ape- nas pela intuição, as últimas conclusões parciais da ciência moderna, que da dispersão analítica são reconduzidas à unidade, em estreito monismo. Podemos, assim, logicamente chegar ao conceito de espaço-substância, derivando-o do conceito de energia-substância, e este do pensamento-substância. Temos, pois, uma eterna e indestrutível substância, que pode passar do estado de puro pensa- mento (espírito, ) ao de energia () e deste, finalmente, ao de matéria () invo- lutivamente, e no sentido inverso, evolutivamente, permanecendo ela sempre a substância do Todo, o último irredutível elemento da realidade, que só pode ser Deus, centro do ser, princípio e fim de todas as suas transformações.

Podemos, assim, compreender como a Substância, que agora escrevemos com S maiúsculo, de sua fase ou aspecto de puro pensamento, conceito abstra- to, , pode mudar-se na sua segunda fase ou aspecto de energia, , e como desta transformação resulta o espaço-cinético (a Substância-pensamento que se põe em movimento, encaminhando-se para a ação), de que deriva o espaço- matéria, fase conclusiva do processo criador. Só assim podemos abranger tudo o que existe em um só princípio unitário, máxima aspiração instintiva da alma. Somente assim podemos conjugar em um e único ciclo os dois antagonistas – espírito e matéria – em oposição apenas porque situados nos dois polos do mesmo sistema. A necessidade de contrapô-los com finalidade evolutiva, na luta pela nossa ascensão, não deve violar a concepção unitária do Todo e pre- cipitar-se no dualismo de um universo despedaçado, feito de fragmentos. Isto seria satânico.

Assim, a Substância pensante pode transformar-se em espaço fluidodinâmi- co, quando, para manifestar-se, a ideia entra no estado cinético da ação, invo- luindo da dimensão superconsciência e consciência () na de tempo () e, fi- nalmente, na de espaço (). Este último deriva da Substância pensante, que assumiu a posição cinética, a fim de que depois, no seio do espaço fluidodi- nâmico assim formado, surja a matéria. E não só esta, mas todos os fenômenos que derivam do movimento deste espaço, isto é, deste fundamental estado ci- nético da Substância. Todos eles podem ser, desta maneira, reconduzidos a um fenômeno único, enveredando para o monismo universal de A Grande Síntese, para reencontrar finalmente, não só nas infinitas modalidades do contingente mas também na própria ciência, a fundamental unidade do Todo. Pode-se, pois, coligar em um único princípio tanto os fenômenos físicos como os bioló- gicos e psíquicos, porque tudo nasce desse espaço-cinético, que não é mais do que o estado cinético da originária Substância-pensamento, que, com a cria- ção, foi posta em movimento na incessante marcha universal do transformis- mo, essência de todo o fenômeno e de toda existência.

É possível, deste modo, formar uma representação mental da técnica da cri- ação. Podemos compreender como no espaço-dinâmico, fase em que a Subs- tância se pôs em estado cinético, pode originar-se qualquer fenômeno, seja como energia ou seja como matéria, apenas pela diversa aceleração desse es- paço. É sempre o estado cinético que constitui a gênese de qualquer forma na matéria. Assim, os sistemas galácticos, planetários ou atômicos vêm a ser constituídos por campos de espaço fluidodinâmico, girando em torno de um

centro, isto é, por vórtices de energia cuja rotação é determinada pelo estado