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Estes conceitos não estão fora de nosso mundo. O universo, repetimo-lo, é feito de esquemas de um único tipo, e, por isso, encontramos a cada momento e em todo ponto o esquema maior no menor, embora adaptado aos casos parti- culares. Tudo ecoa e se repete no universo. O eco desse primeiro ato do ser não se extinguiu. Ele revive nas formas da vida, que continua a se desenvolver pela via então iniciada e traçada. O denominado pecado original, a ingestão do fruto proibido da árvore do bem e do mal, não simboliza o ato sexual, necessá- rio à vida, mas a degradação do amor espiritual em amor carnal, do qual deriva apenas uma gênese falsa, destinada a acabar na morte. Esse pecado encobre um fato muito mais central e mais grave – a revolta contra Deus. Ele foi efeti- vamente instigado por Satanás, o anjo decaído4 que pretendeu fortalecer-se com a conquista de novos prosélitos, ligando-os ao seu sistema de rebeldia. Assim, o pecado de Adão não constitui mais do que uma reprodução especial do processo de degradação já iniciado, uma consequente queda do homem, arrastado por Satanás na queda dos anjos, uma imitação que prolonga o fenô- meno à guisa de desintegração atômica em cadeia.

Os motivos da grande queda sobrevivem a todo momento na Terra. Eles se inseriram na natureza do ser, que assim tornou-se corrompida e falaz. A gêne- se do mal e de nossas dores deve ser encontrada no desmoronamento tremendo que se seguiu à revolta, derrocada da qual agora devemos sair, tudo reconstru- indo em nós e em nosso derredor, com as nossas mãos, empenhados no grande trabalho que se chama evolução. Assim, pois, o fenômeno da queda dos anjos não é estranho à nossa vida, nem está distante dela, mas é atual. O fundamen- tal motivo psicológico de desordem continua vivo em nossa forma mental. Todos compreendemos o que representa a Lei e que seria lógico, justo e útil segui-la, quer no interesse coletivo, quer no individual. Apesar disso, sentimos a tentação de rebelar-nos, de ludibriá-la, procurando atalhos que, por via mais breve, nos conduzam aonde desejamos chegar. Mas ainda aqui, sem dúvida, obedecemos a uma lei da vida, a lei do mínimo esforço, que deve ser seguida com inteligência, levando em linha de conta a estrutura do Sistema, em que todo “eu sou” só se valoriza em função do “Eu sou” centro – Deus. E, assim como o primeiro anjo rebelde, o homem hodierno, centralizador egoísta de todo o seu “eu”, preocupado somente com o triunfo próprio, separadamente

realiza o mesmo processo de reviravolta do sistema, com a consequente inver- são de si mesmo, terminando nas mortes das guerras, na destruição e na dor.

Somos assim levados a nos valorizar como “eus” independentes, e não como “eus” em função orgânica do Todo. É a exata repetição da primeira revolta.

A conduta dos eleitos é justamente a oposta, de completa adesão à vontade de Deus. Sua primeira característica é a obediência à ordem. Este terrível ins- tinto do “eu”, que se deveria controlar pela obediência à lei de Deus, mas que, ao contrário, se deixa livremente explodir em revolta, não é também para o homem a causa principal de tantos males? E, assim como nas mãos dos pri- meiros rebeldes se desmoronou a ordem no caos, nas mãos do homem tudo continua a fragmentar-se, repetindo-se no tempo o mesmo processo originário, com o mesmo resultado de destruição. Por isso, caso se pretenda novamente a elevação à ordem, reconstruindo-se na unidade do Sistema, é imprescindível saber dominar este “eu” egoísta e prepotente, enquadrá-lo na ordem, coorde- nando-lhe as funções no Todo; é necessário retificar o seu inicial estado de revolta, mantendo-o na obediência ao plano de Deus, porque só assim, em obediência à Sua ordem, laboriosamente, é possível unir de novo, uma a uma, as partes do edifício desmoronado, reconstruindo-o na sua grandeza.

Este esforço exigido para a reconquista do paraíso perdido é justamente a condenação da nossa humanidade. Justa condenação, mas também salutar re- médio, pois é a via de salvação para a criatura, a quem o amor de Deus, apesar da ingratidão dela, oferece a possibilidade de redenção.

No fundo da natureza humana está a tragédia da queda, em razão da qual a alma, centelha divina, desceu para a ilusão da matéria e dos sentidos, num am- biente ingrato, onde a conquista do progresso lhe custa esforço permanente; num corpo vulnerável a tudo e com mente acanhada, com o que, aos poucos, terá de buscar o conhecimento que antes possuía do pensamento de Deus. Daí o tormento da insaciabilidade, que revela no instinto humano o anseio pelo grande bem perdido; daí o afã pela maceração evolutiva sob o contínuo marte- lar da dor, a ânsia de criar sobre as areias movediças de um mundo em que tudo caduca. Eis a razão de ser da ignorância a vencer com o esforço do pen- samento, com as descobertas científicas, com o sacrifício dos mártires e com o amor de Deus, que, manifestando-se pela revelação, vem ao nosso encontro inspirativamente, permitindo que levantemos os véus do mistério. Eis Cristo, o mais perfeito filho de Deus, fazendo-se homem em nossa dor para nos ensinar a via da redenção.

Assim tudo se explica: a luta pela seleção, as guerras, as enfermidades, as desgraças, o ódio, a mentira, todas as traições de que se entretece a vida. O nosso mundo assumiu o aspecto que revela a estrutura do sistema desmorona- do. Cada individualização reproduz a originária inversão, pela qual todo “eu sou” está inquinado do princípio oposto, negativo, destruidor do “eu não sou”, que tudo corrompe. Com ele, o incorruptível fragmentou-se no corruptível. O princípio originário permanece, mas falseado, porque não mais oferece corres- pondência com os antigos valores. Foi a revolta originária que semeou no ser esse germe maléfico que continua a viver da sua vida. E assim, em nosso mundo, a negação está infiltrada em toda afirmação, a vida se casou com a morte, a enfermidade aninha-se em todos os corpos sãos, a destruição é o guia de toda construção, o mal ofende o bem e Satanás se introduz por toda a parte, procurando trair Deus. O motivo da queda dos anjos e do pecado original repe- te-se a todo instante entre nós, em nossa vida cotidiana. Não se trata, portanto, aqui de elucubrações filosóficas relativas a fatos distantes, que não nos dizem respeito. Só a evolução, a ascensão da matéria ao espírito, pode cicatrizar a grande ferida, desembaraçar o ser do cerco maléfico que desejou. Mas isso só se completará após um caminho longo e doloroso. Só desta maneira se explica o motivo de nossas posições atuais, de que só podemos evadir-nos subindo, embora sofrendo. Eis as origens da dor e do mal. O semblante da criatura traz o estigma funesto. Ela continua a sangrar da primeira colisão com as colunas do Sistema. O ser decaiu, mas as colunas da Lei não se abalaram. Permaneceu intacta, e a dor tornou-se o sinal da alma rebelde, continuando a recordar-lhe a grande tragédia, que desejaria esquecer, abandonando-se ao originário instinto de felicidade, ainda vivo. Mas, entre a felicidade e ele, jaz uma nuvem que só poderá dissipar-se através de uma longa luta de reintegração.

Desejaria repousar, mas a dor o aguilhoa e o chama à dura realidade, e en- tão, só então, ele desperta e indaga – por quê? Por que nascer, existir, sofrer? Quem goza está bem, nada pergunta, continuando adormecido na inconsciên- cia. Assim, pois, após a sua gênese, a dor desempenha a função de instrumento de evolução. A própria culpa gerou o remédio; a enfermidade deu nascimento à sua medicina. A dor, oriunda da revolta, esmaga e humilha, induzindo à obe- diência à Lei e, assim, curando o ser. Dor implacável, mas salutar, que os in- voluídos amaldiçoam, porque não lhe compreendem a função criadora, e que os santos abraçam, não por insano masoquismo, mas porque sabem que ela significa a escada pela qual se sobe. É salutar o imperativo que impele ao tra-

balho benéfico pela reconquista do paraíso perdido. Falamos também da dor de todo universo, e não apenas da Terra; da dor cósmica, de que a humana dor terrena não passa de um átomo em um átimo; daquela dor de que o próprio Deus quis participar, integrando-se por amor às próprias criaturas. Foi assim que o Pai enviou Cristo à Terra, para que, com o seu sacrifício, desse à huma- nidade o maior impulso à redenção. Primeiro, a revolta, origem do mal. De- pois, a dor do mundo, seu meio de recuperação; o auxílio do Alto neste árduo caminho; a redenção obtida pelo sacrifício, que Cristo nos ensinou. Estes con- ceitos, unidos em cadeia, confirmam estas teorias.

A humanidade percorre atualmente o caminho de retorno. Só assim se pode compreender o conceito de redenção e o significado da vinda e do sacrifício de Cristo na Terra, motivos tão centrais na história da humanidade. Só assim se pode compreender como a dor salva e o sacrifício redime e por que era neces- sário que Cristo sofresse. O Seu exemplo nos indica, à evidência, que a via de retorno não se pode percorrer senão dessa forma. Com a sua paixão, Cristo quis, diante do Pai, tomar sobre os ombros o peso da correção do primeiro erro, a revolta. Por aqui vê-se quanto Deus continua a mostrar-se ativo e pre- sente na história do mundo.

A psicologia que enxerga, não raro, no mal e na dor, indícios de um sistema falido, um erro de que pode ser acusado o Criador, como único responsável, nasce justamente do ponto de vista representado pelo “eu sou”, que, colocado em posição reversa, só desta forma pode ver as coisas. É psicologia corrente, dominante na vida comum, mercê da qual cada um procura atirar a culpa, a causa de qualquer mal, nos outros, mas jamais em si mesmo. O homem con- serva o seu originário instinto irrefreável para a alegria, mas o faz em um sis- tema invertido, que, assim, só lhe pode oferecer a dor. Não compreende o por- quê, mas sente o tormento desta negação. Desmembrado da causa remota, irri- ta-se inutilmente contra as causas próximas, incapaz de enxergar mais longe. Compreende apenas que a dor fere, e agita-se confusamente nas trevas em que caiu. Procura e não encontra, ignorando completamente que a salvação está na ascensão. É constrangido a evoluir, tangido pelo destino em passagens obriga- tórias, preso à dura experimentação da vida, cheia de alegrias, a fim de atraí-lo para o Alto, e carregada de dores, a fim de afugentá-lo das regiões inferiores. Ele desejaria adaptar-se a este inferno para repousar, mas não lhe concedem tréguas, de um lado, o desejo insaciável de alegria e, de outro, os incessantes golpes de dor. É imperioso evolver.

A sensação de falência do Sistema é dada não somente pela visão às aves- sas, seguida de uma posição invertida, mas também pela real imersão em um mundo invertido, satânico, sensivelmente mais próximo deste mundo material do que do outro, real, divino. Os esforços para subir, muito comumente, termi- nam no retrocesso de alguns passos, em virtude do terreno informe, movediço, no qual o pé não encontra apoio e a vontade se despedaça. É o esquema da primeira queda que retorna em cada decaída subsequente, tendendo a repetir- se ao infinito. E então se exclama: “A redenção do mal é utopia, a dor é inútil, jamais galgaremos o monte da perfeição”. E se conclui: “É inútil tentar. O Sistema faliu definitivamente. A obra de Deus é mal feita, porque continha um insanável erro de construção!”.

Mas, se o homem soubesse ouvir a voz de Deus, teria a resposta: “Sim, criatura, podes pecar e negar à vontade, pois que és livre. De qualquer forma, entretanto, alcançarás o triunfo do bem e do meu amor, isto é, a realização do meu plano. Poderias ter preferido, como o fizeram tantos espíritos, a via curta da livre aceitação, encontrando-te agora na minha alegria. Preferiste o caminho mais longo. Não importa. Desejaste, assim, a gênese do mal e da dor, fazendo delas a tua triste herança. Mas a mim chegarás da mesma forma. O resultado final não se altera por isso. Continuo o centro do Todo, e tu não te evadiste do Sistema, porque nenhuma evasão é possível. Tu te inverteste, e não o Sistema. Todavia permaneces meu filho e endireitar-te é o que procuro, estimulando a livre criatura com o uso de dois meios: a dor e o amor.

“Nada está perdido. Podes reconquistar a antiga posição. Mas deves sofrer, o que não é apenas justo, mas igualmente benéfico, porque, sofrendo, compre- enderás. A dor te abrirá os olhos, uma longa e dura experimentação te cons- trangerá, através de muitas provas, a te reconstruíres qual eras antes que te demolisses na queda do teu ser. Minha bondade te oferece, na evolução, uma via de redenção do mal desejado e de evasão da dor. Será duro, e não terás outro caminho, se quiseres sair do teu estado. Voltarás a percorrer em ascensão o que percorreste na descida. Bem mereceste, ao te rebelares, este açoite em tuas carnes, e Eu o permito para que o teu espírito ensombrado desperte.

“É para o teu bem, porque te amo e te quero ver feliz amanhã. Primeiro en- tenderás a lição da dor, para poder fugir dela. Quanto mais tardares em com- preendê-la, tanto maior será a sua duração. A tua rebelião à minha ordem au- mentará em proporção à intensidade da pena. Continuas no Sistema, do qual Eu sou o centro e no qual represento a alegria suprema do ser. Na minha or-

dem está implícito que rebelião significa dor, e esta tanto será maior quanto mais de mim te afastares.

“Meu outro meio é o amor. Com ele te atraio sem cessar, incitando-te a re- fazer o caminho para chegares a meus braços, neles repousares e te alegrares. É por esse motivo que te ofereço todos os auxílios possíveis para instruir-te por meio de espíritos superiores, meus operários no Sistema, que, com a pala- vra e o exemplo, te indicam as vias da redenção. Compelido pelo impulso ne- gativo, tangido pela dor e atraído pelo impulso positivo, onde há alegria, não podes resistir à convergência destas duas forças. Como, de outro modo, induzir uma criatura livre, mas cega, a reencontrar o próprio bem?.

“Quis, assim, tornar quase fatal a tua salvação, sem jamais violar a tua li- berdade. Mas, ainda que tu, no caso extremo, quisesse, contra o teu interesse, o absurdo do teu prejuízo; ainda que, com inflexível revolta, quisesses a tua dor eterna; mesmo diante da tamanha loucura de assim desejares para sempre, também neste caso o Sistema perdura intacto e o meu amor triunfa. O edifício erigido pela rebelião contra mim será anulado até o último fragmento. E tu, criatura ingrata, se quiseres persistir absolutamente na negação, caminhando de dor em dor crescente, procederás com as tuas próprias mãos à tua autodes- truição, desaparecendo assim em tua negação final, como quiseste, no “não ser”. Anular-te é o meu último ato de bondade e piedade para contigo, é o que tu chamas a minha vingança com o inferno eterno”.

Assim poderia falar a voz de Deus a quem soubesse ouvi-la, pois, no final dos tempos, tudo se realizará plenamente, como Deus quis. A revolta dos espí- ritos das trevas não terá passado de um episódio impotente a perturbar a inte- gridade do sistema perfeito. E, como Deus o quis no princípio, Ele resplande- cerá no fim, no triunfo do bem. O dualismo bem-mal em que hoje está dividi- do o universo, como desvio transitório, e não como estrutura do Sistema, será no fim reabsorvido no monismo originário, que a cada momento permanece só relativamente despedaçado, e o Uno triunfará. O mal e a dor, filhos da revolta contra Deus, por orgulho, não têm poder para fazer desmoronar o Sistema, mas significam apenas uma doença curável, que o próprio Sistema sabe sanar. Doença somente do aspecto imanente do Uno e que Ele, do seu polo oposto, observa e cura. Tudo permanece absolutamente perfeito, ainda quando não possamos observar senão a imperfeição em que estamos imersos. Permanece perfeito, como o exigem a lógica e a razão.

É evidente que, em um sistema gerado pelo amor e baseado neste seu prin- cípio central, construído de bem e para a alegria, o mal e a dor não possam ser eternos. Uma sua afirmação definitiva, ainda que em ínfimas proporções, sig- nificaria a falência do sistema de Deus. Mal e dor não constituem senão o seu aspecto patológico, que não se pode tornar eternamente crônico, sem resolver- se ou com a morte do enfermo ou com a sua cura. O que acontece, em escala menor, em nossa saúde física, repete o que nos mostra o esquema universal do fenômeno. A morte se manifestaria pela anulação do indivíduo que quisesse permanecer sempre rebelde, isto é, pela sua expulsão do Sistema, ou seja, para o nada, posto que o Sistema é o todo. A cura é representada pela reentrada do ser no Sistema (conversão ao bem).

Uma das mais fortes razões pelas quais o mal e a dor, por fim, têm de se anular é dada pelo fato de que eles nasceram justamente de uma exagerada superestimativa, por parte dos espíritos rebeldes, do princípio divino do “Eu sou”. Foi exatamente esse exagero que, pela lei de equilíbrio, inerente ao Sis- tema, produziu como reação uma contração desse princípio no oposto do “eu não sou”, isto é, uma limitação na negação, ou inversão do bem em mal, da alegria em dor. Ora, insistir em tal via de ruína significa marchar cada vez mais contra o princípio vital que rege o próprio eu, isto é, caminhar contra si mesmo; significa o suicídio completo do ser. Será possível que ele pretenda avançar sempre em tal caminho de autodestruição, negando a si próprio e a própria vida, que representa o seu interesse máximo? Será possível que um ser, baseado no princípio do “eu sou”, queira retroceder até renegar-se no não-ser? Poderá resistir uma lógica que se anula avançando para o absurdo? A existên- cia é dada pela própria natureza do princípio do “eu sou”, que não pode vir senão do princípio positivo: Deus. Então, chegaríamos à completa inversão também da lógica em extremo absurdo, em que a máxima realização de Sata- nás e, com ele, do mal e da dor, consiste em sua anulação. Uma vez que a vida só existe em Deus, quem é contra Ele, se quiser sobreviver, deve retornar a Ele.

Mal e dor não podem ser eternos por uma outra razão também. Entre as ideias de mal e de eternidade há uma contradição que não lhes permite a coe- xistência. A eternidade é alguma coisa qualitativamente diversa do tempo, situada nos antípodas. Ela não é um prolongamento de um tempo que, embora avançando, sempre está sujeito à duração. É um tempo imóvel, que não anda e jamais passa. É um não tempo. E o que é o tempo, senão um produto do des-

moronamento, um fracionamento do Uno, o imóvel em fuga no transformis- mo? Com a queda, a eternidade, unidade indivisa, se faz tempo e o espaço, fração do infinito. O tempo existe somente como medida do transformismo (involutivo–evolutivo), cessando quando este termina. Então, a fração cindida reconstitui-se em unidade no eterno, o finito no infinito; a eternidade, despe- daçada no tempo, se refaz no Uno, imóvel, integro, indiviso, e nele a corrida do transformismo, lançada em busca da perfeição, se detém diante da perfei- ção atingida. O tempo, assim, volta a ser imóvel, sem mais transformismo, e se faz eternidade. Com a evolução, ao passar da matéria à energia e desta ao espí- rito, vai-se tornando cada vez mais evidente o avizinhamento desta fusão final, paralelamente a uma progressiva libertação do domínio do tempo fracionado até aos fenômenos do pensamento, que são quase independentes dele. Pode-se dizer que ele existe antes e além do tempo, tanto que lhe escapa. E, como o tempo é relativo ao fenômeno particular, quanto mais evoluído é este, tanto mais se liberta dele.

De tudo isto se conclui que o tempo faz parte do sistema desmoronado, do qual também fazem parte o mal e a dor. Devemos, pois, enfileirar de um lado as características do sistema perfeito, como a eternidade, o bem, a alegria; e de