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Aspectos técnicos do trigo brasileiro

3.3 A PRODUÇÃO NACIONAL E O HISTÓRICO DE IMPORTAÇÃO

3.3.1 Aspectos técnicos do trigo brasileiro

Quanto à qualidade do trigo brasileiro, verifica-se a existência de três principais tipos de trigo plantados no país, que são o trigo Brando, que serve principalmente para a produção de bolachas, bolos, produtos de confeitarias, pizzas e massas. Na classe de trigo Pão estão os grãos com aptidão para produzir o pão francês e massas folheadas, enquanto a classe de trigo Melhorador envolve grãos aptos para mesclas com o trigo Brando, para fins de panificação, produção de massas alimentícias, biscoitos tipo crackers, pães industriais. (NEVES; ROSSI, 2004, p. 109).

É importante destacar que a indústria nacional tem preferência pelo trigo para panificação, fazendo com que haja em certos momentos falta de demanda interna para o trigo Brando, indicado para a fabricação de biscoito.

Situações como esta acabam por fazer com que o país, que é um tradicional importador do grão, exporte o excedente deste trigo que não é apreciado para fabricação de farinha para panificação, uma vez que este é o setor que mais responde pela demanda nacional. A demanda por este trigo é geralmente encontrada no norte da África e do Oriente Médio19.

“Além da divisão em classes, o trigo também é separado por tipos (1,2,3), de acordo com as condições físicas do produto entregue pelo produtor”. (NEVES; ROSSI, 2004, p. 110).

Tais aspectos podem ser observados na Tabela 4, de acordo com a Instrução Normativa no 07 de 21/08/2001 do MAPA.

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Países para onde o Brasil exportou no período 2007-2011: Argélia, China, Congo, Tunísia, líbia, Moçambique, Quênia, Siri Lanka, Arábia Saudita, Sudão, Tunísia, Oma, Turquia, Bangladesh, Egito, Emirados Árabes, Iêmen, Nigéria, Indonésia, Israel, Africa do Sul, Marrocos. (ABITRIGO, 2011).

A melhor tipificação está no trigo tipo 1 de cada classe. Os itens considerados na avaliação do tipo de grão são:

a) Peso Hectolitrico: “É a massa de 100 litros de trigo, expressa em quilogramas.” (NEVES; ROSSI, 2004, p. 111). Conforme Cartilha do Triticultor da Abitrigo (2011, p. 19) todos os fatores adversos à lavoura, excesso ou falta de adubo, doenças, pragas, granizo, geada, causam impacto no PH de um lote de trigo. Um PH mais alto quer dizer reflete um grão mais valorizado, informando que o plantio do grão teve uma evolução boa, gerando maior rendimento na farinha no momento da moagem.

b) Umidade: “É o percentual de água encontrado na amostra.” (NEVES; ROSSI, 2004, p. 111).

c) Matérias estranhas e impurezas: As matérias estranhas são as impurezas gerais não oriundas da planta de trigo, tais como fragmentos vegetais, sementes, pedra, terra, areia, palha, entre outros, enquanto as impurezas são oriundas da planta de trigo, sendo elas: casca, fragmentos do colmo e folhas. (NEVES; ROSSI, 2004).

d) Grãos danificados por insetos: “São os grãos ou pedaços que apresentam danos no germe ou endosperma, resultantes da ação de insetos e/ou outras pragas.” (NEVES; ROSSI, 2004, p. 111).

e) Grãos danificados pelo calor, mofados e ardidos: Grãos queimados apresentam a coloração distinta da original em parte ou sem seu todo devido a ação de temperaturas, enquanto os grãos ardidos apresentam a coloração diferente da original devido a ação de processos fermentativos. Os grãos mofados apresentam bolor visível a olho nu. (NEVES; ROSSI, 2004).

f) Grãos chocos, triguilhos e quebrados: Grãos chocos são desprovidos do desenvolvimento total ou parcial do endosperma. Tanto os grãos chocos como o triguilho e os grãos quebrados/fragmentados vazam através da chapa de 0,72 mm que indica o tamanha normal que um grão de trigo deve atingir. (NEVES; ROSSI, 2004).

Outros aspectos analisados para verificar a qualidade dos grãos são:

a) Número de queda: número da atividade enzimática do grão, caso ela esteja muito alta, indica que o trigo está germinado, podendo resultar um produto final de qualidade inferior.

b) Dureza: há trigos duros e moles, os moles servem para a fabricação de biscoitos enquanto os duros para as massas, por exemplo.

c) Cor: na farinha de trigo observam-se colorações como cinza, amarelo e branca. Quanto mais branca a farinha, melhor para a produção do pão francês, o amarelo melhora a aparência das massas. (ABITRIGO, 2011).

Tabela 4 – Qualidade do trigo: IN no 07 de 21/08/2001 do MAPA

Tipo Peso do hectolitro (kg/hL) (% mín.) Umidade (% máx.) Matérias estranhas e impurezas (% máx.) Grãos avariados Grãos danificados por insetos (% máx.) Pelo calor, mofados e ardidos Chochos, triguilhos e quebrados (% máx.) (% max.) 1 78 13 1 0,5 0,5 1,5 2 75 13 1,5 1 1 2,5 3 70 13 2 1,5 2 5

Fonte: MAPA. Sistema de Consulta à Legislação. Disponível em:

<http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis/action/detalhaAto.do?method=abreLegislacaoFederal&chav e=50674&tipoLegis=A>. Acesso em: 10 set. 2011.

Neves e Rossi (2004, p. 112) ressaltam ainda que conforme comentários de executivos de empresas de moagem, o atual sistema proposto por essa instrução normativa não agrada totalmente o setor.

Segundo Reino Pécala Era, assessor técnico da ABITRIGO (2011), “O trigo nacional apresenta certas impurezas, como restos de palha, areia e outros grãos, que dificultam a negociação com o produtor.”

Outro fator destacado pela Abitrigo (2011) é a falta de segregação dos tipos e qualidades de trigos, pois não há como separá-los por silos ou armazéns distintos. Deste modo, alguns produtores podem perder dinheiro por não haver segregação e outros ganhar: se o número de queda de um lote está baixo, por exemplo, ao misturá-lo com um lote bom, todo o trigo será impactado.

“Simplificadamente, a segregação consiste no estabelecimento de conjuntos de variedades de mesma classe, com vistas a determinado uso de farinha.” (ABITRIGO, 2011).

Em agosto de 2011, a IN no 07, de 21/08/2001, deveria ter sido substituída pela IN no 38, de 30/11/2010, também do MAPA. Porém, os produtores conseguiram adiar este início para 1º de julho de 2012 (através da IN no 16 de 07/04/2011). A nova norma desclassificaria para comercialização o trigo que não esteja de acordo com o novo padrão. Conforme Tabelas 4 e 5 podem ser observados que os índices de qualidade seriam melhores para o consumidor de acordo com a nova IN (38).

Tabela 5 – Qualidade do trigo: IN no 38 de 30/09/2010 do MAPA

Tipos Peso do Hectolitro (Valor mínimo) Matérias Estranhas e Impurezas (%máximo) Defeitos(% máximo) Total de Defeitos (% máximo) Danificados por Insetos Danificados pelo Calor, Mofados e Ardidos Chochos, Triguilhos e Quebrados 1 2 3 Fora de Tipo 78 75 72 Menor que 72 1,00 1,50 2,00 Maior que 2,00 0,50 1,00 2,00 Maior que 2,00 0,50 1,00 2,00 10,00 1,50 2,50 5,00 Maior que 5,00 2,00 3,50 7,00 Maior que 7,00 Fonte: MAPA. Sistema de Consulta à Legislação. Disponível em:

<http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis/action/detalhaAto.do?method=abreLegislacaoFederal&chav e=50674&tipoLegis=A>. Acesso em: 10 set. 2011.

No caso da qualidade do trigo não atingir a qualidade exigida para consumo humano, o destino do grão passa a ser ração animal. (EMBRAPA, 2011).

O peso hectolítrico do trigo que é destinado para ração é menor que o mínimo exigido na classificação do trigo para moagem, tornando-se um produto que não será de modo algum utilizado pela indústria moageira.

Quanto ao trigo para a ração animal, em 2002, a participação do farelo de trigo e do triguilho na formulação de rações animais representou quantitativamente 23% dos ingredientes utilizados nas rações de bovinos de corte e leite, 10% nas rações para suinocultura, 8% para avicultura de postura e 2% para avicultura de corte. (NEVES; ROSSI, 2004, p. 159).

No RS a qualidade do trigo nacional vem sendo assistida desde 1967 pela Federação das Cooperativas de Trigo e Soja do Rio Grande do Sul Ltda.

(FECOTRIGO), no Paraná em 1974 as cooperativas do Paraná iniciaram também pesquisas com trigo por meio do Departamento de Pesquisa dentro da estrutura da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (OCEPAR).

Outro grande contribuinte para iniciar as atividades com o melhoramento do trigo surge em 1975, o Centro Nacional de Pesquisa de Trigo (CNPT), hoje conhecido como EMBRAPA Trigo, buscando o melhoramento do grão. (NEVES; ROSSI, 2004, p. 70).

Ainda, em relação aos cultivares disponibilizados atualmente para os agricultores, é importante destacar que, na opinião de um produtor do RS, embora a pesquisa tenha contribuído significativamente para a qualidade do trigo brasileiro, muitos desafios precisam ser superados, especialmente no que diz respeito a previsibilidade da qualidade do cereal, o que passa, necessariamente, pela obtenção de cultivares mais estáveis as condições climáticas, principalmente no RS.

Tal crítica acontece, pois, a primavera no RS é um período de elevada umidade e coincide com o período crítico para a cultura, pois a mesma se encontra em fase de maturação. Podendo, por exemplo, resultar em grãos germinados, que não podem ser usados na moagem.

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