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A dependência brasileira na importação de trigo entre 1990 e 2010

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA BÁRBARA BUZZI DA SILVEIRA

A DEPENDÊNCIA BRASILEIRA NA IMPORTAÇÃO DE TRIGO ENTRE 1990 E 2010

Florianópolis 2011

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BÁRBARA BUZZI DA SILVEIRA

A DEPENDÊNCIA BRASILEIRA NA IMPORTAÇÃO DE TRIGO ENTRE 1990 E 2010

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao curso de graduação em Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Kátia Regina Macedo, Msc.

Florianópolis 2011

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BÁRBARA BUZZI DA SILVEIRA

A DEPENDÊNCIA BRASILEIRA NA IMPORTAÇÃO DE TRIGO ENTRE 1990 E 2010

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais e aprovado em sua forma final pelo Curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Florianópolis, 21 de novembro de 2011.

________________________________________ Profa. e Orientadora Kátia Regina Macedo, Msc.

Universidade do Sul de Santa Catarina

_______________________________________ Prof. João Batista da Silva

Universidade do Sul de Santa Catarina

_______________________________________ Prof. José Baltazar de Andrade Guerra Universidade do Sul de Santa Catarina

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço à minha família pelo apoio incondicional e motivação para começar e concluir esta jornada, também pela presença e força ao longo dela.

Aos amigos, pelos momentos proporcionados, risos e convívio que fizeram desta uma etapa de diversão, ao invés de um fardo.

À minha orientadora, Professora Kátia, pela disponibilidade, pelas críticas e discussões proporcionadas fazendo com que a conclusão do trabalho se desse da maneira mais positiva possível.

À coordenadora e professores do curso de Relações Internacionais, pelo aprendizado, incentivo e confiança ao longo do curso.

Aos colegas da empresa Braincorp Representação Comercial, que, ao longo dos anos proporcionaram conhecimento e desafios que culminaram na realização do projeto, bem como pela compreensão durante a realização do trabalho e suporte.

Por fim, agradeço a todos que de qualquer forma ajudaram na construção deste trabalho.

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“Your work is going to fill a large part of your life, and the only way to be truly satisfied is to do what you believe is great work. And the only way to do great work is to love what you do.” (Steve Jobs)

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo identificar os principais motivos pelos quais o Brasil não é autossuficiente na produção de trigo, tendo como ponto inicial de análise o mercado a partir da década de noventa. A metodologia utilizada foi a de pesquisa descritiva e exploratória, a fim de descrever as características deste fenômeno específico e, através da familiaridade com o tema, constituir hipóteses para explicá-lo. Para alcançar estes objetivos o método estrutural de pesquisa utilizado foi a pesquisa bibliográfica através de livros, periódicos, revistas e internet, sendo utilizada também a pesquisa documental através das informações fornecidas pelos órgãos do governo e instituições que cuidam da área específica da agricultura e comércio de trigo. Outro meio utilizado de cunho qualitativo foi a entrevista, realizada com um produtor do Rio Grande do Sul e outra entrevista realizada com uma empresa Argentina. Na revisão bibliográfica foram explorados tópicos como globalização dos fatores de produção, Brasil e o comércio exterior e também o mercado do trigo, que auxiliaram na contextualizaram do tema e sua importância. O estudo do tema mostrou a importância do trigo na alimentação do ser humano e, o impacto que o trigo traz para a inflação, por ser a principal matéria-prima de produtos que compõem a cesta básica. A análise da cadeia nacional e das importações destacou que após a desregulamentação do setor e criação do MERCOSUL, no começo de 1990, o Brasil passou a importar ao invés de produzir. Uma pequena alteração no cenário iniciou-se no ano 2000. Conforme dados analisados foi observado que no Brasil há uma grande variação de produção entre as safras, pois os agricultores alternam culturas facilmente, e, a qualidade dos cultivares produzidos nem sempre gera uma colheita boa, uma vez que o clima não é favorável para este cultivo no Brasil. Foi destacado também que o Brasil não tem capacidade de atingir autossuficiência nos próximos 10 a 20 anos, se as condições proporcionadas ao plantio do grão continuarem como estão, devendo manter sua classificação de importador a longo prazo e sujeitando-se às alterações de preços e disponibilidade do grão no mercado internacional.

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ABSTRACT

The following report has as its aim the identification of the reasons that leaded Brazil to became a country that is not independent when it comes to wheat production. The analysis over the market will be done starting on the nineties. The methodology used was the descriptive and exploratory research in order to describe the charactecteristics of this specific phenomenom, and through that building up hypothesis to explain it. To achieve these goals the bibliographic research was done through books, internet, magazines and newspapers, the documental research was also applied using the information obtained through public and private institutions in the areas of agriculture and wheat market. An interview was also applied, which could be called a qualitative research. The interview was done with a wheat farmer and also with a company in Argentina that works with grain analysis. In the bibliogaphic revision topics like globalization of producing factors, Brazil and foreign trade ans also the wheat market were explored and investigated, these items helped to put into context the theme and its importance. The study showed the importance of the wheat to human alimentation and nutrition and showed also the impact that wheat can bring into inflation, since it is the main raw material for big part of the products that are in human’s basic food. The analysis of the national chain and the importation emphasized that after the desregulamentation of the sector and the creation of MERCOSUR, in the beginning of 1990, Brazil started to import instead of growing wheat. As per data analysed, a small change in the scenary had started oround the year 2000. It could be noticed too that there is a large variability in crops over the years, since farmers change easily what they grow and also, the variety of seeds doesn’t always grow as expected, since the climate in Brazil isn’t appropriate for this crop. At last, it was also highlighted that Brazil cannot became independent in wheat production for its own use in the next 10 nor 20 years, if conditions to the plantation remain as they are nowadays. Therefore Brazil tends to keeo its status as importer of wheat in the long therm submiting the mills to the alterations of price and grain availability in the international market.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1 - Produção da Argentina - 1990/01 a 2010/11 ... 42

Gráfico 2 - Exportações argentinas em TM – 1990/01 a 2009/10 ... 42

Gráfico 3 - Volume exportado pela Argentina para o Brasil – 1993 - 2010 ... 43

Gráfico 4 - Histórico de Produção Trigo Região Sul ... 46

Gráfico 5 - Projeção de Produção de Trigo - RS e PR ... 46

Gráfico 6 - Aspectos gerais do Trigo no Brasil – 1987 a 2011 ... 47

Gráfico 7 - Produção nacional – 1986/87 a 2010/11 ... 49

Gráfico 8 - Produtividade Mercosul (TM/ha) – 1994/95 a 2005/06 ... 50

Gráfico 9 – Estimativa de Consumo e Importação de trigo no Brasil - 2010 - 2030 . 56 Figura 1 - Mapa de Abrangência da ALL ... 61

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Padrão da Argentina para o trigo ... 41

Tabela 2 - Média de produção por região nos últimos 10 anos ... 45

Tabela 3 - Brasil: Produção, consumo e comércio internacional de produtos selecionados. 2010-2030 ... 50

Tabela 4 – Qualidade do trigo: IN no 07 de 21/08/2001 do MAPA ... 53

Tabela 5 – Qualidade do trigo: IN no 38 de 30/09/2010 do MAPA ... 54

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LISTA DE ABREVIAÇÕES

ha – hectare

tm – tonelada métrica ton - tonelada

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LISTA DE SIGLAS

ABITRIGO – Associação Brasileira da Indústria do Trigo

AFRMM – Adicional ao Frete para renovação da Marinha Mercante AGF – Aquisição do Governo Federal

ANTAQ – Agência Nacional de Transportes Aquaviários ALL – América Latina Logística

BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento CAMEX – Câmara de Comércio Exterior

CEPEA - Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada CNPT – Centro Nacional de Pesquisa de Trigo

COFINS – Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento

DIEESE – Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos DTRIG – Departamento do Trigo

EBN – Empresas Brasileiras de Navegação EGF – Empréstimo do Governo Federal

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EUA – Estados Unidos da América

FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação FECOTRIGO - Cooperativas de Trigo e Soja do Rio Grande do Sul Ltda. FOB – Free on Board

FMI – Fundo Monetário Internacional

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços DTRIG – Departamento de Trigo

IN – Instrução Normativa

MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio MERCOSUL – Mercado Comum do Sul

NCM – Nomenclatura Comum do Mercosul

OCEPAR - Organização das Cooperativas do Estado do Paraná OMC – Organização Mundial do Comércio

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PEP – Programa de Escoamento da Produção PIS – Programa de Integração Social

PR – Paraná

RS – Rio Grande do Sul

SENASA – Servicio Nacional de Sanidad y Calidad Agroalimentaria SET – Serviço de Expansão do Trigo

SUNAB – Superintendência Nacional de Abastecimento TEC – Tarifa Externa Comum

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 14

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA ... 14

1.2 OBJETIVOS ... 16 1.2.1 Objetivo geral ... 16 1.2.2 Objetivos específicos ... 17 1.3 JUSTIFICATIVA ... 17 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 19 1.4.1 Caracterização da pesquisa ... 19

1.4.2 Técnicas para coleta e análise de dados ... 20

1.5 ESTRUTURA DA PESQUISA ... 21

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ... 23

2.1 GLOBALIZAÇÃO DOS FATORES DE PRODUÇÃO ... 23

2.2 O BRASIL E O COMÉRCIO EXTERIOR ... 27

2.3 MERCADO DE TRIGO ... 31

3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS ... 37

3.1 MERCADO DE TRIGO NO BRASIL ATÉ A DÉCADA DE 90 ... 37

3.2 MERCADO DE TRIGO NA ARGENTINA ... 40

3.3 A PRODUÇÃO NACIONAL E O HISTÓRICO DE IMPORTAÇÃO ... 45

3.3.1 Aspectos técnicos do trigo brasileiro ... 51

3.3.2 O consumo interno no Brasil ... 55

3.4 COMPETITIVIDADE NACIONAL ... 56

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 66

REFERÊNCIAS ... 69

APÊNDICE A – Questionário ao Produtor do Rio Grande do Sul ... 75

(14)

1 INTRODUÇÃO

Para facilitar o entendimento do leitor, este projeto apresentará quatro etapas. Na primeira etapa será apresentada a exposição do tema e do problema de pesquisa, na segunda etapa serão expostos os objetivos tanto gerais como específicos. Na terceira etapa será exposta a justificativa da autora para a escolha do tema do projeto, logo após, na quarta etapa serão elencados os aspectos metodológicos que auxiliarão na elaboração do projeto, a fim de torná-lo mais claro para o leitor.

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA

A globalização reduziu as barreiras geográficas entre os mercados, contribuiu para o avanço tecnológico, facilitou a comunicação e desencadeou novas estratégias empresariais. Para Sader (2005, p. 19) “essas transformações globais têm abrangido as esferas econômica, política, jurídica, institucional, social, cultural, ambiental, geográfica, demográfica, militar e geopolítica.”

Hobsbawn (1994 apud SADER, 2005, p.19) afirma ao se referir à globalização, que tal processo “é uma divisão mundial cada vez mais elaborada e complexa de trabalho; uma rede cada vez maior de fluxos e intercâmbios que ligam todas as partes da economia mundial ao sistema global.”

Em meio a isso, destaca-se a oportunidade proporcionada pelo comércio exterior, que promove o intercâmbio comercial entre países. Segundo Sader (2005) houve um acirramento da concorrência internacional de bens, serviços e capital no período analisado entre 1982-2000, no qual foi observado um aumento da renda mundial (6,3%), dos bens e serviços (6,8%) e do investimento externo direto (12,8%).

Esse amplo fluxo, por consequente, influenciou no abastecimento de mercadorias no âmbito global, proporcionando a melhoria da competitividade. Por exemplo, é possível destacar que nem todo país é capaz de produzir o que sua

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população necessita, ou o que é produzido no país X é de boa qualidade e melhor custo que no país Y.

A este respeito, a OMC (OMC apud SADER, 2005, p. 30):

A globalização econômica permite que os países desenvolvidos resolvam o problema sistêmico de insuficiência de demanda interna através da exportação de bens, serviços e capital. A liberalização significa menores restrições de acesso ao mercado internacional e, portanto, maior possibilidade de exportação.

Uma das questões intrínsecas em relação à sobrevivência do homem é o abastecimento alimentar que preza pela produção das commodities1 agrícolas.

A globalização tem um efeito pró-competitivo: o acirramento da concorrência internacional. Isso tende a provocar pressões sobre os preços das matérias-primas, produtos agrícolas e produtos intermediários. Por exemplo, o preço médio das commodities (excluindo petróleo) caiu 51% entre 1980 e 2000. (SADER, 2005, p.32).

Esta queda provém justamente da competição entre os países que possuem a capacidade de produção. Uma vez que, não é toda nação que tem espaço, tecnologia ou clima adaptável para uma determinada cultura. Por estas razões, às vezes torna-se necessário e mais vantajoso importar, acirrando a competitividade entre os países produtores e diminuindo os custos para os importadores.

Um exemplo é o caso do trigo, um dos principais insumos alimentares e de maior valor nutricional, que apresenta uma produção insuficiente no Brasil. Ainda que há algumas décadas o Brasil fosse capaz de produzir todo o trigo que era necessário para a população, isso não significa que havia competitividade neste setor.

[...] chegou a suprir 93% da demanda brasileira em 1987. Tal índice nunca foi obtido novamente. Essa política era extremamente custosa e passou a ser reduzida [...] O fim dessa política, no Brasil, foi marcado por um caloroso debate acerca dos custos e benefícios de se produzir trigo localmente, frente à opção da importação dos grãos. (BATALHA et al., 2009, p. 231).

______________

1

Commodity é o singular de commodities, que é um termo de origem inglesa que significa

mercadoria. Usado como referência aos produtos de base em estado bruto (matérias-primas) ou com pequeno grau de industrialização. (FURTADO, 2007).

(16)

Salientamos que desde 1990 a produção nacional não tem mais suprido a demanda total por trigo, sendo obrigado a importar o grão de países com produção excedente.

Ainda assim, o mercado de trigo mundial é amplo, e há fontes de abastecimento para o mercado nacional, uma vez que houve especialização na produção do grão em países como Argentina, Uruguai, Estados Unidos e Canadá. Para Batalha e outros (2009, p.245) “o Brasil demonstra grande dependência do mercado internacional, sendo a Argentina a principal fornecedora.”

Tal especialização proporciona um controle maior sobre os preços e sobre o mercado mundial, ocasionando uma dependência direta do Brasil a estes fornecedores. Para Sader (2005, p. 34) “a vulnerabilidade externa é tanto maior quanto menores forem as opções de política de ajustes e quanto maiores forem os custos do processo de ajuste.”

Deste modo, o presente projeto apresentará um histórico da produção da de trigo no Brasil, elencando as principais causas que levaram a uma diminuição da produção interna, tornando-se em determinado momento o maior importador do grão da América do Sul. (Batalha et al., 2009, p.240).

O tema de pesquisa, conforme citado, será o trigo, abrangendo aspectos como produção, economia e importação. O estudo possui como problema de pesquisa o seguinte questionamento: Quais são os principais motivos pelos quais o Brasil não atinge a autossuficiência na produção de trigo desde a década de 1990?

1.2 OBJETIVOS

A seguir, serão delineados o objetivo geral e os objetivos específicos, com o intuito de determinar as competências e finalidades do trabalho.

(17)

Identificar os principais motivos pelos quais o Brasil não é autossufieciente na produção de trigo desde a década de noventa.

1.2.2 Objetivos específicos

Os objetivos específicos deste trabalho são:

a) Apresentar o mercado de trigo no Brasil e na Argentina.

b) Descrever o histórico de importação de trigo para o Brasil a partir da década de 1990.

c) Detectar os principais aspectos que levam o Brasil a importar o trigo.

1.3 JUSTIFICATIVA

O comércio internacional tem por finalidade gerar a troca de produtos além das fronteiras de um Estado. Isso por sua vez, se relaciona diretamente com o fato de muitos recursos naturais estarem irregularmente distribuídos, seja por motivos climáticos, geológicos e, até mesmo, tecnológicos. Por consequente, uma das “necessidades primárias2” do ser humano, que é a alimentação, está também

sujeita a essas variáveis. Diante disto, muitos países disponibilizam no comércio global o seu excedente e, outros tantos, compram o que lhes falta.

Em relação a isto, Bernardes (2008, p.18) cita:

A incapacidade para resolver o problema da escassez pode ser atribuída aos mais variados fatores. Aos naturais, por exemplo, pois você sabe que países apresentam diferenças de solo, clima e estrutura geológica, que os leva a produzir dentro dessas características. Ou a fatores ligados aos aspectos tecnológicos, pois você também sabe que alguns países são mais desenvolvidos do que outros. Os mais desenvolvidos têm um nível de conhecimento técnico e cientifico maior, e consequentemente conseguem desenvolver tecnologias mais modernas.

______________

2

Necessidades primárias são aquelas que buscam satisfazer algumas necessidades básicas do ser humano, são elas: alimentação, vestuário e habitação. Enquanto as necessidades progressivas são, por exemplo, educação, lazer e conforto. (MAIA, 2010, p. 10).

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Cada nação, independente do motivo, acaba por especializar-se na produção de um ou mais tipos de produtos. Devido a isso, hoje para um país se desenvolver sem manter relações comerciais com os demais se torna impossível, uma vez que nenhum país é eficiente na produção e atuação em todas as áreas, tendo que importar o que lhe é deficitário e exportar quando há abundância ou oportunidade.

Num sistema comercial perfeitamente livre, cada país naturalmente dedica seu capital e seu trabalho à atividade que lhe seja mais benéfica. Essa busca de vantagem individual está admiravelmente associada ao bem universal do conjunto dos países. (RICARDO, 1996, p. 172).

Apesar da grande importância dada às exportações, a importação de bens é fundamental para a saúde econômica de um país, ela estimula a economia interna, promove competitividade e fornece produtos que às vezes um país não tem condições de produzir.

O crescimento da importação faz com que haja uma expansão no mercado interno, fazendo com que ocorra um aumento significante na oferta de emprego e na renda da população, mobilizando recursos financeiros, dando possibilidades para as empresas crescerem em seus negócios e, como consequência disso, um maior desenvolvimento da nação. (VIEIRA, 2006).

Por meio deste projeto, buscar-se-á apresentar ao leitor uma visão sobre o abastecimento interno de trigo no Brasil, uma vez que o trigo é fonte para produção de diversos produtos que compõem a alimentação básica do ser humano. Segundo Batalha et al. (2009, p. 231) o trigo “apresenta grande capacidade nutricional, sendo por isso alvo de políticas de segurança alimentar por diversos governos.”

É importante também expor ao leitor e à sociedade como a dependência da importação de trigo pode afetar o mercado interno. Em função disso, ocorrem também, constantes flutuações de preço, uma vez que o cenário está diretamente ligado ao mercado de câmbio3 e oscilações no cenário internacional como, por exemplo, do petróleo, impactando, por fim, os preços dos alimentos básicos e na inflação brasileira.

______________

3

Mercado de câmbio é o mercado em que se estabelecem os valores entre as moedas de diferentes países pela taxa de câmbio. (VIEIRA, 2009).

(19)

O presente trabalho também pretende apresentar o histórico da produção brasileira e mundial, destacando os fatores conjunturais que em um primeiro momento levaram o país a tornar-se importador de trigo na década de 90, expondo em especial a desregulamentação brasileira. Citar-se-ão também os aspectos estruturais, que por sua vez, mantiveram o Brasil como importador ao longo dos anos seguintes até os dias atuais.

Para os bacharéis em Relações Internacionais e para a academia será oferecida uma contextualização do tema sob a ótica dos conhecimentos obtidos ao longo do curso, podendo servir também como referência e fonte de pesquisa na temática estudada.

Em relação à escolha do tema, ela se deu pela importância intrínseca que o trigo tem no aspecto alimentar e, consequentemente, social e econômico brasileiro. Agrega-se a isso também, o fato de o trigo ser um dos poucos agrícolas que o Brasil não tem produção suficiente para o consumo interno, algo peculiar para a pauta de exportação do país, tornando-o um diferencial para o estudo.

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os itens a seguir pretendem esclarecer o leitor sobre quais serão os tipos de pesquisas e como eles serão utilizados.

1.4.1 Caracterização da pesquisa

Tendo em vista a aplicabilidade da pesquisa, que visa a geração de conhecimentos sem necessariamente uma aplicação imediata, ela pode ser denominada como básica.

Com base nos critérios gerais apontados no trabalho, é possível classificar a pesquisa como sendo descritiva e exploratória.

Sobre a pesquisa descritiva, segundo Gil (2008, p. 42) “As pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das características de

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determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis”.

Em respeito da pesquisa exploratória, Gil (2008, p. 41):

Essas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou constituir hipóteses. Pode-se dizer que esta pesquisa tem como objetivo principal o aprimoramento de idéia ou a descoberta de instituições.

Sendo assim, com base nas fontes de pesquisa que serão utilizadas, o objetivo do trabalho será identificar um cenário, apontando como este foi criado e seus agravantes.

1.4.2 Técnicas para coleta e análise de dados

O presente estudo possui como método estrutural os tipos de pesquisa bibliográfica e documental, estes por sua vez, compreendem a análise e coleta de dados do referente trabalho.

Para Gil (2008, p. 45), a diferença entre esses dois procedimentos anteriormente citados está na natureza das fontes. “A pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto”. Para tal, serão utilizados livros, revistas e outros materiais já publicados pela mídia.

Gil (2008, p. 45), ainda evoca que uma “pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa”.

A respeito do material a ser utilizado para a pesquisa documental, serão documentos provenientes de órgãos de classe e também de órgãos públicos, tais como Ministério da Fazenda, Ministério da Agricultura e Ministério do Desenvolvimento.

“Enquanto na pesquisa bibliográfica as fontes são constituídas, sobretudo, por material impresso localizado nas bibliotecas, na pesquisa documental, as fontes são muito mais diversificadas e dispersas”. (GIL, 2008, p.46).

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Sendo assim é possível ver que, apesar de ambos os tipos de pesquisa serem similares e seguirem os mesmo passos, as fontes de onde cada material extraído é distinta, podendo levar sua interpretação a ser subjetiva ou objetiva.

Para a coleta de dados utilizou-se ainda da entrevista, que é se engloba entre um tipo de pesquisa qualitativa. Dentro dos instrumentos de coletas de dados, a pesquisa qualitativa é uma metodologia importante da pesquisa exploratória. (MALHOTRA, 2004).

Quanto à este tipo de pesquisa, Richardson (1990 apud Lakatos e Marconi, 2008) diz que ela “pode ser caracterizada como a tentativa de uma compreensão detalhada dos significados e características situacionais apresentadas pelos entrevistados, em lugar da produção de medidas quantitativas de características de comportamentos”.

Os métodos e técnicas para aplicar a pesquisa qualitativa dependem por sua vez do tipo de investigação, podendo esta ser realizada através de uma entrevista. Em relação às entrevistas Lakatos e Marconi (2008, p. 216) ainda inferem: “As entrevistas qualitativas são muito pouco estruturadas. O principal interesse do pesquisador é conhecer o significado que o entrevistado dá aos fenômenos e eventos de sua vida cotidiana, utilizando seus próprios termos.”

Para responder às perguntas mais particulares foi realizada uma pesquisa com um produtor de trigo do Rio Grande do Sul no mês de setembro de 2011, cujas perguntas, todas abertas, podem ser observadas no Apêndice A.

No mesmo período foi realizada uma entrevista com a empresa Cotecna Inspection Argentina S.A., que existe na Argentina desde 2003. Tal companhia é responsável pela inspeção de mercadorias, especializada nas seguintes áreas: bens de consumo, produtos químicos e petrolíferos, metais, minerais, e também mercadorias agrícolas, sendo o trigo uma delas. As perguntas realizadas se encontram no Apêndice B.

Tanto as pesquisas documentais, bibliográficas e entrevistas foram utilizadas para melhor explicar a temática abrangendo algumas das variáveis que poderiam influenciar as considerações finais do projeto.

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O trabalho estrutura-se em quatro capítulos para auxiliar a compreensão da situação do Brasil diante da produção de trigo após a década de 90, buscando englobar a maioria dos aspectos que influenciaram este a formação deste cenário até os dias de hoje.

O primeiro capítulo apresentará, dentro da introdução, o tema e o problema de pesquisa, os objetivos, geral e específicos, justificativa e procedimentos metodológicos que serão utilizados para captação de informações para o trabalho.

A apresentação da revisão bibliográfica, expondo conceitos de globalização, comércio exterior e também do mercado de trigo seguirá no segundo capítulo.

Em seguida virá o desenvolvimento, no qual será introduzida a história do mercado de trigo no Brasil e como aconteceu a desregulamentação do mesmo. Apresentar-se-á em sequencia o trigo na Argentina e seus principais aspectos, desde a qualidade até dados de produção e exportação para o Brasil nos últimos anos e, apontando ainda, os entraves que surgiram após a reestruturação do mercado vizinho, dificultando as exportações.

Ainda, neste terceiro capítulo, será realizada uma exposição dos aspectos contemporâneos do trigo nacional, abrangendo produção desde a década de 90, aspectos técnicos de qualidade do trigo brasileiro e o consumo nacional. Serão destacadas também as importações de trigo realizadas desde a desregulamentação até os dias atuais.

Na sequência, serão apresentados aspectos e entraves que afetam a competitividade da produção de trigo nacional, apontando os impostos que incorrem sobre os mesmos e comparando-o com o preço do trigo importado. Além disso, serão citadas brevemente as crises na cadeia de abastecimento tritícola no MERCOSUL nos últimos anos e o reflexo nas políticas brasileiras para manter o mercado interno abastecido.

No quarto e último capítulo serão colocadas as considerações finais em relação ao conteúdo apresentado e exposto um panorama no qual verifica-se a impossibilidade de o Brasil tornar-se autossuficiente na próxima década, caso o cenário global continue como está nos dias de hoje.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Para contextualização do tema, serão abordados os seguintes tópicos: globalização, a relação do Brasil com o comércio exterior; por fim é apresentado o mercado do trigo, com todos os seus aspectos gerais, desde a produção local até o mercado internacional para então serem averiguadas as variáveis que fazem com que o Brasil não seja autossuficiente na produção para atingir a demanda interna.

2.1 GLOBALIZAÇÃO DOS FATORES DE PRODUÇÃO

Existem diversos conceitos para se abordar o tema da globalização na atualidade. Entre os mais usados, há o entendimento de que este processo iniciou-se no tempo das Grandes Navegações, quando foram descobertas a África, Ásia e Américas. Há ainda, a idéia que a globalização mundial intensificou-se no século XX atingindo seu ápice na década de 1990. Por último, existe uma visão que se destaca por mostrar a aplicabilidade da globalização, apontando as consequências e benefícios que este processo teve nos países de modo geral. Esta subseção tem o objetivo de descrever a possível cronologia da globalização, apresentando seu impacto no mundo atual.

Para Oliveira (2005), a globalização foi um processo longo, que teve seu período inicial nas Idades Antiga e Medieval até princípios do século XV. A partir daí a busca por novas terras e rotas de comércio, somadas à difusão da religião católica, deram mais um passo rumo à globalização, fazendo deste o período intermediário, que iniciou em meados do século XV estendendo-se até a Segunda Guerra Mundial. Nesta etapa, foram colonizados países e apresentados densos fluxos de comércio colonial, gradativamente aconteceu também a industrialização e capitalização do mundo. Foi somente após a Segunda Guerra Mundial e a superação de suas consequências, que o mundo ingressou no momento histórico da consolidação do fenômeno da globalização, momento em que o termo passou a ser então utilizado.

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Segundo Sader (2005), nos últimos vinte ou trinta anos houve importantes transformações em escala mundial, determinadas pela onda de liberalização e desregulamentação. Essas transformações globais têm abrangido as esferas econômica, política, jurídica, institucional, social, cultural, ambiental, geográfica, demográfica, militar e geopolítica.

Por um lado, desde a década de 1960, o avanço acelerado da globalização – ou seja, o mundo visto como um conjunto único de atividades interconectadas que não são estorvadas pelas fronteiras locais – provocou um profundo impacto político e cultura, sobretudo na sua forma atualmente dominante de um mercado global livre e sem controles. (HOBSBAWN, 2007, p. 10).

Com uma maior integração entre os países, o processo de globalização promoveu uma influência cada vez maior nas esferas que são tradicionalmente de domínio de um Estado, como controle jurídico, político e militar. Estes setores passaram então a sofrer influência de outros países sobre como reger suas dinâmicas. Observa-se também que as pessoas passaram a migrar de seu país de origem para outros Estados, derrubando barreiras territoriais, buscando oportunidades de empregos. A ligação mundial através da mídia em geral (internet, televisão, cinema, jornais, revistas) também foi responsável pela difusão dos aspectos sociais e culturais. Comportamentos que antes eram característicos de um determinado país passaram a ser observados no mundo inteiro e copiados.

Em relação à globalização, Hobsbawn (1994 apud SADER, 2005, p.19) infere ainda que tal processo “é uma divisão mundial cada vez mais elaborada e complexa de trabalho; uma rede cada vez maior de fluxos e intercâmbios que ligam todas as partes da economia mundial ao sistema global.”

A globalização econômica é ocorrência simultânea de três processos: o primeiro é o aumento do fluxo internacional de bens, serviços e capital. O segundo é o acirramento da concorrência internacional. O terceiro é a relação entre agentes e sistemas econômicos nacionais, isto é interdependência entre empresas e economias nacionais, pois quando as exportações e importações elevam-se, estando maiores que a elevação da renda nacional, é possível notar o grau de abertura externa de uma economia nacional. (SADER, 2005, p. 21).

Quanto às consequências deste processo, Hobsbawn (2007) também faz três colocações, primeiro ele observa que a globalização trouxe consigo uma

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desigualdade acompanhando a liberdade de mercado. No segundo ponto, ele coloca que esta globalização será mais sensível para quem menos se beneficia dela, se referindo à competição mundial por mão-de-obra barata, pois homens e mulheres passam a competir por seus empregos com outros países, gerando uma instabilidade política e social. Em terceiro, infere que a escala de globalização é modesta, mas seu impacto político e cultural é grande, referindo-se em especial ao seres humanos que vivem, ainda que temporariamente, em países que não o de seu nascimento.

Em respeito ao segundo ponto, a OMC (2002 apud SADER, 2005, p. 30) ainda cita que “a globalização da economia permite que os países desenvolvidos resolvam o problema sistêmico insuficiência da demanda interna através da exportação de bens, serviços e capital.”

Mediante estes entendimentos, Hobsbawn (2010) mostra o os dois lados da moeda, destaca-se em primeiro lugar o aspecto positivo, pois, ao mesmo tempo em que os países desenvolvidos podem suprir sua falta de demanda, eles complementam, por consequente, as necessidades de países que apresentam falta de oferta.

Quanto ao aspecto negativo, ainda conforme Hobsbawn (2010), o mundo se transformou em uma indústria sem limites territoriais, e a oferta por emprego é pequena, especialmente nos países menos desenvolvidos e mais populosos, o respeito a um teto mínimo salarial é reduzido. Aplica-se então a lei da oferta e da demanda para os empregos em escala mundial, tornando, em alguns casos, certos países em meros mercados de mão-de-obra barata.

Oliveira (2005, p. 165) cita que “as relações de comércio global predominam entre países desenvolvidos. Salientando-se os seguintes índices: 64% das exportações em 1950; 75% das exportações em 1970 e 70% em 1996”. Isso nos mostra que as exportações de países desenvolvidos a partir de 1950 só fez aumentar para a década de 1970, com um incremento de 11% em duas décadas. Nesse período, grande parte dos países desenvolvidos era detentora de melhores tecnologias e conhecimentos. Comparando com dados de 1996, houve desta vez um decréscimo de 5%, subentende-se que houve uma participação maior dos países não-desenvolvidos, que a partir da década de 1990, passaram a deter novas tecnologias e ingressar na exportação aos poucos.

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Todavia, Sader (2005) destaca que, apesar de haver sempre uma vantagem para os grupos sociais de renda mais alta, há uma redução das barreiras comerciais que o conjunto da sociedade se beneficia, por exemplo, a importação de bens mais baratos provenientes do exterior, inclusive itens componentes da cesta básica.

A globalização tem um efeito pró-competitivo: o acirramento da concorrência internacional. Isso tende a provocar pressões sobre os preços das matérias-primas, produtos agrícolas e produtos intermediários. Por exemplo, o preço médio das commodities (excluindo petróleo) caiu 51% entre 1980 e 2000. (BANCO MUNDIAL, 2001 apud SADER, 2005).

Tendo em vista a constante busca por melhores preços para o benefício da indústria da nacional, foi possível observar então que houve inicialmente, uma redução dos preços de determinados produtos, alavancada pela desregulamentação de mercados e favorecida pela concorrência internacional.

A globalização ao exigir maior abertura da economia dos países acaba por provocar a vulnerabilidade externa, isto é, reduz a capacidade dos países de implementar estratégias e políticas nacionais de desenvolvimento. De acordo com Sader (2005, p. 33) “as políticas ortodoxas (de forte cunho liberal) provocam sérios problemas econômicos (recessão, desemprego etc.) e tem graves consequências sociais”.

A partir destas informações, fica possível observar que, um país, pode vir a sofrer abalos proporcionais ao tamanho que sua abertura econômica, pois a economia do país pode ser facilmente desestabilizada pela influência da conjuntura internacional.

Isto é, um país que tem vulnerabilidade unilateral é muito sensível a acontecimentos externos e sofre de forma significativa as consequências das mudanças no cenário internacional, enquanto os acontecimentos domésticos tem impacto nulo, ou quase nulo sobre o sistema econômico mundial. Este é o caso, por exemplo, do Brasil, que corresponde por menos de 1% do comércio mundial e cerca de 2% do investimento e da renda no sistema econômico internacional. De modo geral, os países em desenvolvimento têm como atributo a vulnerabilidade externa, que de fato tem sido parte do processo histórico desses países; inclusive aqueles que se livraram há mais de um século, dos laços coloniais. (SADER, 2005, p. 35).

Isto é, a questão da vulnerabilidade externa de um país tende agravar-se conforme for seu grau de desenvolvimento, uma vez quanto menos desenvolvido for

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um país, maior é sua instabilidade. Caso o país seja dependente de poucos fornecedores para suprir sua demanda, sua subordinação a estes será ainda mais significativa, podendo causar maiores movimentos negativos em sua conjuntura interna, sendo mais facilmente influenciado pelos status de seus fornecedores.

Com estas opiniões, temos uma breve síntese do conceito da globalização, que é utilizado para melhor explicar os fluxos mundiais de informação, bens, serviços e pessoas. Na próxima seção será apresentada uma introdução sobre o comércio exterior, que em grande parte compartilha algumas das idéias citadas acima.

2.2 O BRASIL E O COMÉRCIO EXTERIOR

Existe uma vasta literatura abordando temas de comércio exterior, como decorrência, principalmente, do fato de que ele atinge praticamente todos os países. Desde séculos atrás, muitos países, especialmente do Primeiro Mundo, já estavam inseridos no comércio internacional. No Brasil, entretanto, uma inserção mais competitiva no cenário global se intensificou após a abertura comercial, em 1990. Mesmo assim, a participação brasileira equivale a pouco mais de 1% do comércio global. Este assunto, como observaremos, está conectado diretamente com a economia. É através da economia de um país que são avaliadas as necessidades e conveniências de se fazer parte de um comércio global. Para facilitar a compreensão será oferecida uma idéia principal do comércio exterior, posteriormente serão apontados os conceitos econômicos que são a favor de um mercado mundial integrado.

O comércio internacional pode ser definido com uma via de duas mãos, isto porque as vendas são representadas pelas exportações e as compras pelas importações. Os fatores que tornaram o comércio internacional uma necessidade são: distribuição desigual de jazidas no planeta, diferença de solos e climas, diferentes estágios de desenvolvimento econômico entre os países. (MAGNOLI; SERAPIÃO JR., 2006, p. 15).

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Os países comerciam entre si por duas razões básicas. Primeiro, porque são diferentes uns dos outros, assim chegam a um entendimento pelo qual cada um exerce as atividades que tem condições de fazer melhor. Segundo, os países comerciam para alcançar economias de escala em suas respectivas produções. Em outras palavras, cada país, ao invés de tentar fazer de tudo em pequena escala, especializa-se em poucas coisas e as produz, com mais eficiência, em grande escala. (MAGNOLI; SERAPIÃO JR., 2006, p. 113)

Bernardes (2008) destaca que não são todos os países que possuem capacidade de suprir suas necessidades por alimentos (matérias-primas) e que a incapacidade para resolver o problema da escassez pode ser atribuída aos mais variados fatores. Aos naturais, por exemplo, pois os países apresentam diferenças de solo, clima e estrutura geológica, que os leva a produzir dentro dessas caracte-rísticas. Ou a fatores ligados aos aspectos tecnológicos, há alguns países que são mais desenvolvidos do que outros em determinadas áreas. Os mais desenvolvidos têm um nível de conhecimento técnico e científico maior e, consequentemente, conseguem desenvolver tecnologias mais modernas e garantir uma melhor produção nos setores que não apresentam, por exemplo, uma vantagem competitiva natural.

Num sistema comercial perfeitamente livre, cada país naturalmente dedica seu capital e seu trabalho à atividade que lhe seja mais benéfica. Essa busca de vantagem individual está admiravelmente associada ao bem universal do conjunto dos países. (RICARDO, 1996, p. 172).

Esta acaba por ser a razão da integração multilateral 4 de países, a busca pelo abastecimento e para saciar a demanda se completam. Em acréscimo, está a vantagem de que muitas vezes o valor final de um produto no país vizinho é menor, ainda que haja custos de importação. A indústria local pode apresentar tamanha inaptidão para produção que, conforme Maia (2010, p. 10) cita “muitas vezes é mais barato comprar do que produzir”.

A abertura comercial no Brasil, iniciada em 1988, aliada a outros fatores como a adoção de um regime de câmbio fixo5 e implantação de uma nova política de comércio exterior, possibilitou às empresas adquirirem bens de capital, insumos ______________

4 “O crescimento do sistema multilateral de comércio se evidencia pelo número de membros da OMC.

Hoje, cerca de cento e vinte países ou territórios aduaneiros são membros da OMC, e vários outros estão negociando ou pleiteando seu ingresso, entre os quais, países de maior porte, como a China e Rússia.” (Lafer, 1998, p. 48).

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Sistema em que o Banco Central de um país estabelece um câmbio fixo para a paridade da moeda local e do dólar. Isto aconteceu no Brasil desde 1988 até 1999, a cotação era R$ 1,00 = US$ 1,00. (VIEIRA, 2009).

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industriais e matérias-primas agrícolas de alta qualidade, com custos inferiores aos praticados no mercado nacional. O motivo principal era o estímulo à concorrência internacional através da modernização da produção interna. (VIEIRA, 2006, p. 13-15).

Tal abertura possibilitou às empresas uma modernização, impactando diretamente na produção e mercado, e proporcionando assim ao Estado atualizar-se junto ao novo mundo globalizado.

Conforme Batista Jr. (2005) e Vieira (2009), após o lançamento do Plano Real em 1994, a economia brasileira nos anos que seguiram (1995, 1997, 1998, 1999, 2001, 2002) passou por uma sucessão de graves crises cambiais6. As seguintes crises foram provocadas pro problemas no balanço de pagamentos: a crise do México (1995), provocada pela falta de reservas internacionais, a crise do Leste Asiático (1997), em que a Rússia declarou moratória de sua dívida.

Em 1998 o Brasil passou por uma crise na qual as reservas internacionais foram reduzidas em 40% em função da desvalorização do real. Posteriormente, em 1999, o Brasil viveu uma nova crise cambial, sendo implantando assim o câmbio flutuante. O câmbio fixo no Brasil entre os períodos de 1994-1999 causou um enorme déficit comercial. Pouco depois, em 2002, a incerteza relacionada aos temores pelas eleições presidenciais provocou mais uma crise no balanço de pagamentos.

Já em 2001, foi a vez da crise na Argentina, que declarou moratória de sua dívida por problemas no balanço de pagamentos, passando por um período com cinco presidentes em 12 dias e uma grave crise social.

A cada crise vivida, os investimentos estrangeiros eram retirados do país, mostrando a vulnerabilidade externa da economia. Conforme Batista Jr. (2005, p. 56) “de fins de 1998 em diante, o Brasil virou cliente cativo do FMI. Em apenas quatro anos assinou quatro acordos com essa instituição.”

Outro fator econômico decorrente da globalização foi a criação dos blocos econômicos “com o objetivo de fortalecer e facilitar o comércio entre seus participantes, adotando a redução ou isenção de impostos, abandonando de forma ______________

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Situação que incapacita o país a manter os fluxos de pagamentos ao exterior, sejam eles referentes à dívidas contraídas , sejam eles referentes à importações, essenciais ou não. Uma das causas é a defasagem cambial, que indica que, no conceito do mercado, a moeda nacional está sobrevalorizada, o que implica que a qualquer momento pode haver uma sobrevalorização da moeda nacional.

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gradativa as barreiras tarifárias como modo de participarem do fluxo internacional”. (VIEIRA, 2006, p. 31).

Sob este cenário, foi oficialmente instituído, em 1991, o MERCOSUL7, que tem como pilares a democratização política e a liberalização econômico-comercial. No próprio preâmbulo do Tratado de Assunção8 estão destacados os seguintes traços: proporcionar melhores condições para atender os respectivos interesses nacionais de garantia de estabilidade econômica, aumento da competitividade e do poder de negociação no âmbito internacional.

Em respeito ao MERCOSUL, Vieira (2006, p. 33) cita:

A constituição desse acordo teve como base a união aduaneira, fato que marcou mudanças fundamentais para os economistas da região, gerando compromisso muito importante entre os quatro países, o que se reflete em uma tendência de disciplina conjunta das políticas econômicas nacionais, assegurando condutas previsíveis e não prejudiciais aos Países-Membros.

Isto nos leva a observar que a criação do MERCOSUL, a partir do princípio de liberalização econômico-comercial, proporcionou redução/isenção de barreiras tarifárias para importações de determinados bens entre os membros, incentivando ainda mais o comércio entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.

Quanto à convivencia entre Brasil e Argentina, Basso (2007, p. 13) coloca que “desde del origen del proceso de integración, la relación entre la Argentina y el Brasil ha sido un factor central para su vitalidad y credibilidad9.”

Entre os importantes intermediários para a culminação do Tratado de Assunção está a Declaração de Iguaçu, entre Brasil e Argentina, de 1985, a Ata de Integração Argentino-Brasileira de 1986 e, também, o Programa de Integração e Cooperação Econômica (PICE) entre os dois países. A partir destes acordos foi substituída a competição pela cooperação entre os dois países, proporcionando desde então um melhor desempenho regional nos aspectos políticos, econômicos e comerciais.

À luz dessas considerações, observa-se que os dois países podem ser considerados grandes parceiros comerciais no mercado internacional. Seja através da participação de blocos econômicos ou projetando-se bilateralmente, o objetivo de ______________

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Países-Membros: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. (VIEIRA, 2009).

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Tratado de Assunção, assinado em 30 de março de 1991, culminou na criação do MERCOSUL. (BASSO, 2007).

9 Tradução livre da autora: “desde a origem do processo de integração, a relação entre a Argentina e

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cada país é se relacionar com fins de prover a população e a indústria interna de suas necessidades, incentivando a complementaridade entre Brasil e Argentina. Neste aspecto, são destacados os ideais econômicos que inferem que cada país deve buscar tornar-se mais competitivo no que melhor faz, tornando o comércio internacional uma ferramenta útil e favorável para os envolvidos. Ao apresentar a subseção seguinte sobre o mercado de trigo, será possível apontar a relação direta com os assuntos discutidos acima no que diz respeito à especialização de produção e ao comércio mundial.

2.3 MERCADO DE TRIGO

Uma das necessidades primárias do homem é a alimentação. A este respeito, existem diversas discussões em âmbito mundial geradas pela falta de alimentos, pela dificuldade de encontrar condições favoráveis para o cultivo de todas as cadeias alimentares, por questões relacionadas à alta do preço das commodities e pelo excesso de demanda para pouca oferta em nível mundial. Nesta subseção será apontada a importância da agricultura para a sociedade, levando ao estudo do trigo, que é o grão mais importante na alimentação humana, mostrando como está a produção brasileira desta cadeia e também a produção mundial.

O representante da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Hélder Muteia, 2011, apontou a queda no ritmo da produtividade agrícola, o crescimento da demanda mundial por alimentos e a volatilidade dos preços, fatores estes que levam a uma imediata insegurança alimentar, que é combatida pela organização. A FAO apontou também que em 2011 a produção mundial de cereais em geral, caiu 1,1%, enquanto o consumo subiu 1,9% no mundo. Na visão de Bacha (2004) a agricultura tem seis papéis no processo de desenvolvimento econômico, sendo o primeiro o fornecimento de alimentos para a população, em seguida o fornecimento de capital para a expansão do setor não agrícola. Em terceiro, a agropecuária deve fornecer mão-de-obra para o crescimento e diversificação das atividades voltadas para a economia, sendo seguido pelo fornecimento de divisas para compra de insumos e bens de capital para promover o desenvolvimento de atividades econômicas. Em quinto lugar, a agricultura acaba por

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se constituir em um mercado consumidor para os setores não agrícolas. Por fim, o sexto item, está focado no mercado agrícola brasileiro, fornecendo matéria-prima necessária para o desenvolvimento da indústria em geral.

“Nosso país ocupa a posição número 1 no mundo em pelo menos três produtos: cana-de-açúcar (açúcar e agora, mais recentemente, o álcool), citrus (com ênfase no suco concentrado congelado) e também no café”. (NEVES; ROSSI, 2004, p. 35).

A agricultura e a pecuária do MERCOSUL cresceram significativamente nos últimos anos. A produção de soja no Brasil, Argentina, Uruguai, Bolívia e Paraguai dobrou entre 2000 e 2006. Aumentos significativos também puderam ser observados na produção de milho, arroz, frango e leite. Em grande medida este aumento esteve ligado a uma demanda internacional aquecida dos preços dos commodities no mercado internacional, bem como no aquecimento da demanda doméstica do MERCOSUL. (BATALHA et al, 2009, p. xii)

Ainda, conforme Neves e Rossi (2004, p. 235), “o Brasil caminha também para a liderança mundial nas exportações de carne bovina e de soja, apresentando atualmente o menor custo de produção mundial nestas cadeias.”

Nos últimos anos, foi observado largamente um boom no setor agrícola brasileiro, fortemente impulsionado pela soja, carne bovina, avicultura, suco de laranja, cana-de-açúcar e milho. A soja e o milho são largamente exportadas para a China, país que só tende a crescer no aspecto populacional. A carne bovina é exportada para globalmente, e a produção por hectare no Brasil é a melhor do mundo. A carne de frango e miúdos, produzidos com foco no mercado consumidor, são amplamente exportados para o Oriente Médio. O suco de laranja, por sua vez, tem como um dos principais mercados os Estados Unidos, enquanto que a cana-de-açúcar tem duas utilizações, a produção de cana-de-açúcar, item no qual o Brasil também é forte na exportação, e a produção do etanol, como biocombustível.

Por outro lado, temos também produtos que, por diversos motivos não estão contribuindo para o saldo da balança comercial, produtos dos quais as importações são maiores que as exportações. Entre esses produtos encaixa-se o trigo, fundamental para consumo humano e animal. (NEVES; ROSSI, 2004, p. 36).

“Não foi sempre assim. No final dos anos 80 o Brasil chegou a produzir sete milhões de toneladas de trigo. E, em compensação, nos últimos cinco anos importou, na média, mais do que isso.” (NEVES; ROSSI, 2004, p. 35).

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De acordo com Batalha et. al. (2009), eram oferecidos pelo Estado subsídios10 à produção e garantia de comercialização a preços pré-estabelecidos para esta cadeia. Tal política chegou em 1987 a suprir 93% da demanda brasileira.

Decisões políticas do Governo – como fortalecer o Mercosul – e erros da cadeia produtiva – sempre desarticulada – foram responsáveis por esse desequilíbrio. Falácias – do tipo “o trigo brasileiro é de má qualidade” – também serviram para diminuir a confiança do produtor brasileiro em seu próprio produto. (NEVES; ROSSI, 2004, p. 36).

A este respeito, Neves e Rossi (2004, p.95) acrescentam que “em relação à autossuficiência, no início de 90, o Brasil produzia 40% do volume de trigo consumido no país, sendo que esta porcentagem caiu para 16,5% na safra 1999/2000.”

O consumo de trigo no Brasil vem apresentando taxas de crescimento positivas, passando de 7,43 milhões de toneladas em 1990 para 10,65 milhões de toneladas em 2006. [...] daqui a dez anos, o Brasil deve elevar seu consumo para cerca de 14 milhões de toneladas, devido ao crescimento populacional e ao aumento de consumo per capita. (EMBRAPA, 2008, apud BATALHA et al., 2009, p. 244).

Conforme Batalha e outros (2009, p. 245) “a produção nacional se concentra basicamente nos Estados do Rio Grande do Sul e Paraná, que respondem por cerca de 90% da produção”. Segundo dados da Conab11

(2008), o Paraná por sua vez produz aproximadamente 56% do trigo nacional, e o Rio Grande do Sul cerca de 34%.Há ainda uma pequena produção nos estados de Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. A produção nacional é em sua grande maioria transportada por caminhões, somente uma pequena parte que é escoada do sul (Paraná e Rio Grande do Sul) para os moinhos do nordeste que é carregada em navios graneleiros.

Ainda segundo Batalha et al. (2009), os custos de produção no Brasil são extremamente elevados, a maior parte do valor é formada por fertilizantes e defensivos agrícolas, que precisam ser utilizados devido às condições de clima e ______________

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Ação governamental de fornecer aos produtores um incentivo econômico maior do que aquele originado somente do mercado. No caso do incentivo à produção no Brasil, ele é dado através da redução de preço de determinado insumo ou através de diminuição nas taxas de juros de

financiamentos contraídos pelos agricultores, sendo estas inferiores às praticadas no mercado. (MENDES, 1998).

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Companhia de Abastecimento Nacional, órgão federal que acompanha a trajetória do setor agrícola desde o plantio até a distribuição. Pertence ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. (NEVES; ROSSI, 2004).

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solo brasileiras. Soma-se a isso, o fato que a maior parte do transporte é feita em caminhões, e grande parte das estradas do sul está em mau estado de conservação. Há também estradas em boas condições aonde foram implantados pedágios, elevando o frete, logo é verificável que os gastos com transporte se elevaram bastante. Em relação à armazenagem, há silos suficientes, porém eles não possuem divisões, impedindo separar as classes de trigo.

“O total de impostos que incide sobre o trigo nacional gira em torno de 25% do valor FOB. É interessante frisar que essa taxa é bem superior aos impostos pagos pelo trigo importado que entra no País.” (Batalha et al., 2009, p. 249).

A China é o maior produtor individual de trigo, sendo responsável por 17,52% da produção mundial dos últimos cinco anos, seguida por Índia (12,19%), Estados Unidos (9,97%) e Rússia (6,5%). A União Européia, como bloco, também tem grande participação na produção (17,79% nos últimos cinco anos). (NEVES; ROSSI, 2004, p. 115)

“A importância internacional desse grão é devida à utilização do trigo como a principal fonte energética na alimentação da população de muitos países”. (NEVES; ROSSI, 2005, p. 114). O trigo é matéria-prima para a produção da farinha de trigo, que é principal ingrediente na fabricação de diversos alimentos essenciais e de consumo diário na alimentação do ser humano, como, por exemplo, pães e massas.

O trigo é o grão mais comercializado no mundo representando 35,63% do comércio internacional, seguido pelo milho (24,54%). Apesar de ser o mais comercializado, esse volume corresponde à somente 18,37% do total produzido no mundo. Isso acontece, pois, há um grande consumo interno dentro dos países produtores.

Ainda de acordo com Neves e Rossi (2004), atualmente os Estados Unidos são os maiores exportadores de trigo, cuja participação média nas últimas 5 safras foi de 24,84% no comércio mundial do grão, sendo seguido pelo Canadá (14,31%), Austrália (14,12%) e União Européia (13,81%).

Isso mostra que o trigo que é comercializado no mundo é o excedente dos países produtores, e que os principais países com condições de produzir este excedente, devido à alta produtividade por hectare, estão no norte das Américas (EUA e Canadá).

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“O Mercosul não figura como grande produtor de trigo. A Argentina, maior produtora do bloco, não aparece entre os cinco maiores produtores mundiais, voltando a maior parte de sua produção para exportações regionais.” (BATALHA et al., 2009, p. 241).

A caracterização da Argentina como mercado exportador está diretamente associada ao Brasil, pois, desde a desregulamentação do mercado brasileiro e do mercado argentino, passando o primeiro a produzir menos e o último a produzir maiores quantidades, que o Brasil está dependendo do mercado argentino para abastecer o mercado nacional.

“Nos últimos cinco anos, cerca de 70% do trigo consumido no Brasil foi proveniente de outros países, em especial da Argentina”. (NEVES; ROSSI, 2004, p. 119).

Conforme já mencionado, a produção nacional não supre mais que 50% da demanda interna, obrigando o país a optar por mercados secundários para obter o trigo necessário para suprir a demanda. Por esta razão, conforme Batalha et al. (2009), o Brasil desponta como um dos maiores importadores do mundo, tendo no ano de 2005 importado 6,718 milhões de toneladas, totalizando 6,12% das importações mundiais.

Em relação à origem do trigo importado, nota-se a supremacia do produto proveniente da Argentina, principalmente devido ao custo inferior. Até 2001, a Argentina era responsável por cerca de 95% das importações brasileiras de trigo; outros 5% eram originados dos EUA, Paraguai, Canadá e Uruguai. (NEVES; ROSSI, 2004).

A Argentina, historicamente, possui uma produção por hectare maior que a brasileira, comparável, segundo Batalha et al. (2009) a produção Canadense e Australiana, com 2,5 toneladas/hectare, estando somente um pouco abaixo da produtividade observada nos Estados Unidos.

A Argentina apresenta ainda custos de produção reduzidos se comparados aos grandes exportadores mundiais, sendo assim possível manejar as exportações mesmo com o valor de 20% de imposto sobre o trigo a ser exportado, conforme segue “Argentina, com 41 US$/tonelada, e Canadá, com 43 US$. França e EUA apresentam custos bem superiores (68 e 80 US$/tonelada, respectivamente.)” (BATALHA et al., 2009, p. 252).

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Todavia, existe ainda um importante e crítico fator ao citar a Argentina como principal fonte de fornecimento para o Brasil, é que, após a 2006, foi adotada uma política de retenção de trigo para a exportação, fato que se deu após a crise de desabastecimento e alta nos preços internos argentinos por haver exportado demasiada quantidade do grão. Em adição, nos anos seguintes, o país passou por uma grave seca, reduzindo as quantidades finais das safras.

A qualidade do trigo produzido nos EUA e Canadá é diferente da produzida no Brasil e Argentina, sendo que o oriundo do Canadá é preferido por boa parte dos moinhos brasileiros, devido à características específicas e ao maior cuidado na separação e processamento dos grãos. (BATALHA et al., 2009, p. 239).

Este também é um dos motivos para os moinhos brasileiros optarem pela compra não somente da Argentina, mas também do Canadá (com melhores grãos) e dos Estados Unidos. As variações de trigo plantadas nesses países são distintas do que plantam Brasil e Argentina. Logo, é possível observar que a importação de trigo norte americano acontece devido a outro fator relevante: dependendo da finalidade da farinha (pão, massas, biscoitos) é que se escolhe qual tipo de trigo será utilizado ou como a mistura será feita.

Portanto, a redução da produção nacional de trigo, em favor da desregulamentação do setor e focando na importação na década de 1990 transformou o Brasil em um país importador, colocando-o a mercê dos demais produtores mundiais e sua disponibilidade do grão, bem como sua precificação. Este estudo pretende aprofundar como a estrutura das escolhas feitas impactou na produção de trigo brasileira, tornando o Brasil incapaz de suprir sua demanda interna por trigo desde então. Mais uma vez, este trabalho pretende contribuir para a compreensão dos aspectos que levam o Brasil a importar trigo e apontar as consequências desta opção.

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3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

O problema de abastecimento alimentar no mundo é um tema atual que gera muita discussão, em decorrência da limitação de espaços cultiváveis, das instabilidades climáticas, e, principalmente, da quantidade de pessoas no mundo que precisa ser alimentada.

De fato, o trigo é um dos principais alimentos com fontes energéticas capazes de saciar e fornecer nutrientes, sendo largamente utilizado para a confecção de farinha de trigo e seus derivados. Por sua tamanha utilidade, ele está presente no dia-a-dia de grande parte da população.

No entanto, embora estejamos falando de um item essencial na alimentação humana, que é inclusive regulamentador da cesta básica brasileira12, esta é uma cadeia na qual o Brasil não apresenta aptidão suficiente na produção, sendo deficitário a ponto de ter que importá-la de outros países produtores.

Para melhor explicar este tema serão apresentados dados referentes ao mercado de trigo no Brasil e na Argentina, expondo em seguida o histórico do trigo no Brasil e também os entraves que dificultam a produção local.

3.1 MERCADO DE TRIGO NO BRASIL ATÉ A DÉCADA DE 90

“O trigo chegou às terras brasileiras em 1534, trazido por Martim Afonso de Souza, que desembarcou na capitania de São Vicente.” Isto, conforme a ABITRIGO (2011), indica que, desde o começo da colonização no Brasil já existiam lavouras de trigo. Porém, devido ao clima quente houve dificuldade em expandir a cultura.

Os primeiros passos efetivos foram na segunda metade do século XVIII quando surgiram as primeiras plantações no Rio Grande do Sul e o grão começou a

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Os produtos da cesta básica foram definidos em 1938 e continuam em vigor até os dias de hoje. São eles: carne, leite, feijão, arroz, farinha, batata, tomate, pão francês, café em pó, banana, açúcar, óleo, manteiga. (DIEESE, 2009).

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adquirir importância. As plantações, todavia, foram dizimadas na primeira metade do século XIX. (ABITRIGO, 2011).

Conforme Cunha (1999 apud NEVES; ROSSI, 2004, p. 62) ainda há outros fatores que auxiliaram este desaparecimento:

No século XIX, a cultura do trigo praticamente desapareceu do Brasil, devido a fatos como abertura dos portos às nações amigas, entrada de farinha de trigo americana no país, epidemias de ferrugem, intensificação do contrabando na região do Prata, falta de pagamento do trigo destinado às tropas imperiais, falta de mão-de-obra.

A retomada do plantio aconteceu somente na década de 1920, sendo expandido nos estados do Paraná e Rio Grande do Sul ao longo da década de 40. Ainda, conforme a ABITRIGO, em 1944 o Estado criou o Serviço de Expansão do trigo (SET), o qual distribuía cotas de trigo e dispunha sobre a venda de farinha.

De acordo com o BNDES (2003 apud Batalha et. al., 2009) o grande incentivo para a expansão tanto no Rio Grande do Sul, na década de 20, como os incentivos no âmbito federal na década de 30 vieram de Getúlio Vargas13 como governador e presidente, respectivamente, impulsionando a instalação de moinhos nas regiões produtoras.

Após estes incentivos, o Estado promoveu uma ação fiscalizadora no ano de 1949, inibindo a importação de farinhas, e, monopolizando a partir de 1952 a importação de trigo. Gradualmente, o Estado foi ampliando o controle sobre o setor, que encontrava meio de burlar o controle.

Com fins de garantir uma fiscalização efetiva, foi promulgado o Decreto-Lei no 210, de 27 de fevereiro de 1967, cujas disposições impunham que o abastecimento do trigo para moagem no país deveria ser inicialmente provido com trigo produzido internamente. O Estado proporcionava aos agricultores subsídios, garantindo a compra e venda das safras a preço preestabelecido pelo próprio Governo.

Visando alcançar a autossuficiência, a partir da segunda metade da década de 80, o governo brasileiro disponibilizou linhas de crédito subsidiadas para o financiamento da agricultura e também uma política de preços mínimos muito atraente ao produtor, garantindo ainda a compra da produção total. O resultado desses esforços foi a diminuição das importações de trigo, que ______________

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