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A cadeia da produção tritícola nacional está interligada desde o momento da compra dos fertilizantes, tratores, sementes e corretivos para o plantio. Passando

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Estimativa de Consumo e

Importação de trigo no Brasil

Consumo (t) Importação (t)

pela produção rural e indo até o momento da industrialização e venda do derivado do trigo. São englobadas ainda nesta cadeia as ramificações que dizem respeito às políticas voltadas para o setor, abrangendo diversas variáveis, conforme coloca Zylberstajn (2000 apud NEVES;ROSSI, 2004, p.48):

Um sistema de commodities agrícolas engloba todos os atores envolvidos com a produção, processamento e distribuição de um produto. Tal sistema inclui o mercado de insumos agrícolas, a produção agrícola operações de estocagem, processamento, atacado e varejo, demarcando um fluxo que vai dos insumos até o consumidor final. O conceito engloba todas as instituições que afetam a coordenação dos estágios sucessivos do fluxo de produtos, tais como as instituições governamentais, mercados futuros e associações de comércio.

Somam-se ainda outras variáveis que sistemicamente fazem parte do processo do cultivo de um grão, como os valores de juros para créditos bancários, compras e arrendamentos de terras, local e clima da região de plantio da cultura.

E, devido a esta cultura apresentar condições climáticas desfavoráveis para o cultivo, acaba por receber um reforço nas políticas implantadas pelos órgãos do governo.

Um dos benefícios promovidos pelo governo, é a garantia de Preço Mínimo20 de venda para o produtor e cooperativas quando o mercado está praticando preços abaixo destes. Outro meio usado é a promoção de leilões de trigo do Prêmio de Escoamento de Produto (PEP)21, ambos promovidos pela CONAB.

Além destes, os seguintes incentivos fiscais para a produção nacional foram citados pelo produtor do Rio Grande do Sul: políticas de fornecimento de crédito rural, financiamentos, Aquisição do Governo Federal (AGF) e Empréstimo do Governo Federal (EGF).

Muitos agricultores brasileiros acabam por optar também pelo cultivo de outras culturas ao invés do trigo, como milho e soja, devido a sua cotação no mercado internacional. Os dados do Centro de Estudos Avançados em Economia ______________

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O Governo Federal, através da Lei no 11.775 de 2008, permitiu a modalidade de subvenção direta que prevê ao produtor e/ou cooperativa que permite ao extrativista o recebimento de um bônus caso efetue a venda de seu produto a um preço inferior ao preço mínimo. Este preço é operacionalizado ela CONAB. (CONAB, 2011).

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O PEP é uma subvenção econômica promovida pela CONAB, concedido aos que se dispõem a adquirir em um leilão promovido pelo Governo Federal, o produto, indicado pelo mesmo, diretamente do produtor rural ou de uma cooperativa por um valor de referência fixado, o preço mínimo. O escoamento deste é estipulado, conforme condições do leilão, para uma região previamente

estabelecida. Os leilões de PEP ocorrem quando os preços praticados no mercado estiverem abaixo do Preço Mínimo. (CONAB, 2011).

Aplicada, por exemplo, relatam que as últimas quatro safras comercializadas no Paraná apresentaram difícil liquidez no mercado nacional no período de janeiro a abril aproximadamente, havendo inclusive exportação deste trigo. Ao mesmo tempo, foi observado uma alta de 14,6% no preço do trigo entre o preço apresentado em março 2010 e 2011, enquanto o milho apresentou uma valoração de 68% no mesmo período, favorecendo quem havia optado por plantar a segunda cultura.

Segundo Batalha et. al. (2009, p. 243) a quantidade de produtores interessados em plantar o trigo pode variar de uma safra para a outra devido à precificação do grão. “Tal fenômeno pode ser explicado pelo aumento do preço internacional do trigo, que permite uma melhor remuneração do produtor. Boa parte das oscilações na produção de trigo brasileira é explicada por este fator”.

No Rio Grande do Sul por sua vez, a canola tem mostrado perspectivas mais rentáveis para o produtor rural, sendo que alguns optaram por esta cultura ao invés do trigo nesta safra.

Outra consequência direta que tem se observado decorrente da alta dos preços das commodities, tanto do trigo, como também da soja e etanol, é o aumento do preço da terra agrícola no Brasil. Segundo o Ministro da Agricultura, Wagner Rossi (apud Valorização das commodities..., 2011) a alta do valor da terra vem sendo “gradativa e permanente”. Já são inclusive observados interesses de estrangeiros na aquisição de terras agriculturáveis no Brasil, questão que está sendo observada pelo Congresso, que visa criar uma Comissão para aprovar negócios envolvendo áreas entre 5 a 500 mil hectares.

Em relação ao preço do trigo no mercado interno, recentemente, em maio, Lawrence Pih (apud Alta do trigo pressiona..., 2011) proprietário e presidente do maior moinho de trigo da América Latina, o Pacífico, expõem sua experiência em relação ao derivado primário do trigo: “A farinha argentina entra no país entre R$45 e R$48 por saca de 50 quilos. O custo da farinha brasileira está acima de R$53”.

Segundo Batalha et. al. (2009) os custos observados no Brasil, se comparados com os custos de produção da Argentina, são extremamente altos, uma vez que em 2004 no Paraná, por exemplo, os custos de produção giravam em torno de US$ 324,00/ha.

Para o trigo plantado em 2011 no Rio Grande do Sul, o preço da produção por hectare teve um custo de até US$ 544,1522 em áreas de alta tecnologia. Historicamente, o preço por tonelada métrica do trigo importado é inferior ao do trigo nacional.

Tabela 6 - Evolução anual de preços de trigo - 2005-2010

2005 2006 2007 2008 2009 2010

R$/t US$/t R$/t US$/t R$/t US$/t R$/t R$/t US$/t R$/t R$/t US$/t

AR 331,0 136,0 357,0 164,0 467,0 244,0 569,0 325,0 476,0 233,0 451,0 256,0

BR 378,0 148,0 410,0 181,0 538,0 266,0 593,0 325,0 476,0 234,0 433,0 246,0

Fonte: ABITRIGO. Disponível em: <http://www.abitrigo.com.br/pdf/PRE%C3%87OS_TRIGO- ANUAL.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2011.

Parte deste valor é formada por fertilizantes e defensivos, pois o solo e clima brasileiros não são favoráveis para a cultura do trigo. Somam-se a estes os tributos brasileiros, em torno de 25% do valor FOB, que incidem em forma de cascata, cobrados sobre insumos e produtos finais. Os impostos que incidem sobre o trigo são: PIS, COFINS e ICMS. Estes impostos incidem unicamente sobre a produção nacional, estando as importações isentas dos mesmos. (BATALHA et. al., 2011).

O impacto da carga tributária, que inclui o ICMS, PIS, COFINS, INSS, imposto de renda e contribuição social, todos repassados ao consumidor, aumenta em drasticamente o preço do trigo, conforme o produtor do RS explica:

A carga tributaria faz triplicar o valor do trigo. O caminho percorrido pelo trigo até a mesa do brasileiro é longo e cheio de tributos. Em primeira escala, na cooperativa, onde 60 kg de trigo chegam a R$28,00. Esse trigo sai da cooperativa e chega no moinho a R$ 30,00. Lá o trigo vai virar farinha, um processo que encarece o produto. E a farinha chega às padarias a R$ 84,00, o triplo de quando saiu da fazenda.

Conforme dados da ABITRIGO, expostos na Tabela 6, nos últimos anos os preços do trigo brasileiro foi superior ao preço do trigo da Argentina. Dados de 2005 apontam o preço do trigo argentino, já nacionalizado e por tonelada métrica, como sendo US$ 136,00 enquanto o brasileiro estava em US$ 148,00. Nos anos seguintes esta comparação estava conforme segue US$ 164,00 a US$ 181,00 ______________

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(2006), US$ 244,00 a US$ 266,00 (2007). Em 2008 e 2009, os preços se igualaram, conforme se pode observar na Tabela 6.

Todavia, em 2010, houve um aumento no custo de aquisição do trigo. Conforme coloca Lawrence Pih (apud Alta do trigo pressiona..., 2011) sobre a cotação em maior de 2011, “O custo das aquisições da matéria-prima dos moinhos subiu de US$ 220,00 por tonelada em junho de 2010, para US$ 360 por tonelada agora, uma valorização de quase 64%.”

Ainda, no ano de 2010, ao observar o preço do mercado nacional e compará-lo ao mercado internacional foi possível observar que, o nacional estava em 2010 cotado a US$ 246,00 enquanto o argentino subiu, passando a US$ 256,00. (ABITRIGO, 2011).

Os preços acima citados são isentos do valor cobrado pelo trânsito desde a origem até o destino para moagem. O trigo nacional que é vendido e moído no sul do país ainda sofre o ágio do transporte feito em caminhões, com o agravante do mau estado de conservação das estradas e alto preço de frete referente principalmente as condições de combustível e manutenção dos caminhões. (BATALHA et. al., 2009).

Existe ainda a possibilidade de transporte dentre os estados do sul através do modal ferroviário, que pertence à empresa ALL, America Latina Logística, porém a malha ferroviária não abrange todas as cidades produtoras de trigo, podendo ainda haver a necessidade de fazer transbordo entre modais diferentes (ferroviário e rodoviário) aumentando o custo do transporte. (ALL, 2011).

O mesmo se aplica para o transporte do trigo brasileiro produzido nos estados do sul e sudeste, que serão posteriormente moídos no nordeste ou centro- sul. Estes têm que ser transportados através de vagões (ferroviário) ou caminhões (rodoviário), ou ambos, para poder chegar até os devidos portos de carregamento, a partir do qual serão enviados para o Centro-Sul e Nordeste. Conforme se observa no mapa da ALL, as linhas ferroviárias se estendem até São Paulo somente.

Figura 1 - Mapa de Abrangência da ALL

Fonte: ALL. Mapa de Abrangência. Disponível em: <http://www.all-logistica.com/port/index.htm>. Acesso em: 03 out. 2011.

Para o transporte de cabotagem, há preferência pelo navio de bandeira nacional, registrado no Brasil, ainda que seja um navio de bandeira estrangeira ele deve ter uma autorização especial das Empresas Brasileiras de Navegação (EBN), fornecida pela Agência Nacional e Transportes Aquaviários (ANTAQ). (NÓBREGA, 2008).

A presença das embarcações estrangeiras na cabotagem é regulamentada desde 1997 pela Lei 9.432 de 08/01/1997, sendo importante destacar o seguinte artigo:

Art. 9º O afretamento de embarcação estrangeira por viagem ou por tempo, para operar na navegação interior de percurso nacional ou no transporte de mercadorias na navegação de cabotagem ou nas navegações de apoio portuário e marítimo, bem como a casco nu na navegação de apoio portuário, depende de autorização do órgão competente e só poderá ocorrer nos seguintes casos:

I - quando verificada inexistência ou indisponibilidade de embarcação de bandeira brasileira do tipo e porte adequados para o transporte ou apoio pretendido [...]

Quanto ao tempo de trânsito, um navio demora cerca de dois dias a mais se vindo da Argentina para algum porto brasileiro do que se sair, por exemplo, de Rio Grande - RS. Não obstante, um agravante no caso dos navios que fazem cabotagem no Brasil é que estes pagam os impostos brasileiros, os mesmos já citados para a produção do trigo, ICMS, PIS e COFINS acrescendo estes valores no frete e tornando-os mais caros.

Outro fator relevante é o acréscimo de ICMS que um navio de bandeira sobre o combustível ao realizar o abastecimento na costa brasileira, imposto que não é cobrado para um navio de bandeira estrangeira. (NÓBREGA, 2008).

Conforme informação da Fertimport (2002) o navio que trafega entre portos brasileiros paga ainda um acréscimo de 10% sobre o valor final do frete em uma taxa de AFRMM23. O frete internacional, por sua vez, paga unicamente a taxa de AFRMM que é mais elevada, custando 25% do valor total do frete.

Existe, contudo, a isenção do AFRMM que será aplicada para a cabotagem quando o destino final da mercadoria for o Norte e Nordeste, visando estimular o desenvolvimento da região. A lei 9.432/97, foi implementada inicialmente em 1997, e sua aplicabilidade duraria 10 anos. Entretanto, a mesma foi prorrogada até 2012, ganhando um projeto de lei, aprovado pela Comissão de Viação e Transportes em 8 de setembro, 2011, fazendo-a valer até 2022. A isenção da AFRMM para estas regiões serve para reduzir as desigualdades sociais existentes entre as regiões brasileiras.

É importante destacar que, para importação do trigo, quando proveniente de países do MERCOSUL, há isenção total da Tarifa Externa Comum (TEC). Por outro lado, o trigo importado de outros países sofre um ágio devido ao imposto de importação de 10% sobre do valor aduaneiro24.

A aplicação da TEC é um equilibrador utilizado pelo governo para manter o mercado interno abastecido. Em uma situação normal, o Brasil não conseguiria abastecer sozinho seu mercado interno, importando, em primeira instância, da Argentina, principal fornecedor desde a década de 90, sem nenhum acréscimo de ______________

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Esta cobrança teve sua origem com a Taxa de Renovação da Marinha Mercante (TRMM) através do Decreto Lei 491/1969, sendo instituído no Decreto Lei 1.142/1970 o Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante. (JUSBRASIL, 2011).

24 “Na maioria das vezes, o valor aduaneiro da mercadoria é encontrado a partir do seu valor FOB

(Free on Board), acrescido dos valores do frete e seguro internacionais, convertendo-se esses valores para Reais, por meio da taxa de câmbio do dia do registro da importação. O Imposto de Importação é calculado pela aplicação das alíquotas fixadas na Tarifa Externa Comum do Mercosul (TEC) sobre o valor aduaneiro.” (RECEITA FEDERAL, 2011).

valor em território brasileiro sobre a importação. Entretanto, recentemente em crise registrada na Argentina, as exportações não puderam ser garantidas:

Um relatório distribuído pela Bolsa de Cereais da Argentina dá por encerrada a colheita de trigo da safra 2008/2009. O volume alcançou 8,3 milhões de toneladas, 49,1% menos que o total colhido no ciclo anterior (safra 2007/2008), cuja produção atingiu 16,3 milhões de toneladas. Esse é o pior resultado em 20 anos. (Argentina exportará..., 2009).

Conforme se pode observar no Gráfico 1 a produção da Argentina sempre apresentou bons resultados, ao redor dos 15 milhões de toneladas ao ano, podendo fornecer ao Brasil seu excedente, que seria recebido internamente sem nenhuma tarifa de importação (Gráfico 3).

Ainda, de acordo com a reportagem, as razões para tal desabastecimento não foram decorrentes somente da seca que se alastrou na Argentina no respectivo ano. O principal motivo apontado foi a rígida política agrícola do governo sobre os preços internos e restrições às exportações. Segundo estimativa desta mesma data, da Secretária da Agricultura da Argentina, as exportações viriam a cair naquela safra de 10,5 milhões para dois milhões de toneladas. Uma redução de 80,9% que poderia prejudicar diretamente o abastecimento brasileiro.

Retoma-se, a partir deste alerta para uma crise de abastecimento, dado em 2009, o tema da TEC. Como a principal característica do país é ser importador deste grão, o governo deve criar meios para facilitar a importação. Diante da ausência da Argentina, em junho do referido ano, a ABITRIGO solicitou para a Câmara de Comércio Exterior que o a alíquota fosse reduzida a 0% para trigo importado dos EUA e Canadá (cujo II equivale a 10%).

O conselheiro da ABITRIGO, Antenor Barros Leal (2009 apud Taxa de Importação..., 2009) inferiu na data “Se o governo quer importar com TEC e não tiver problemas com a alta do pãozinho, não tem problema nenhum”, referindo-se ao impacto que a alta do trigo pode causar na inflação.

Para tomar tal decisão, o Ministério da Agricultura, que estava monitorando os estoques de produção nacional, informou em adicional que entre o momento desta solicitação, feita em junho até a data prevista para a colheita brasileira, geralmente feita em agosto e setembro, haveria trigo suficiente para abastecer o mercado, sem necessidade de baixar a TEC. (apud Taxa de Importação..., 2009).

Para o governo, uma situação como está garante o escoamento da produção nacional, e com a baixa da TEC o reflexo seria de imediata queda nos preços do trigo vendido internamente, afetando a renda do produtor nacional.

No mesmo ano, em época de colheita, a tarifa sofreu inclusive ameaças de aumento por parte do governo brasileiro, uma vez que os Estados Unidos, em 2009, estava subsidiando exportações, justamente no período em que a safra brasileira estava sendo colhida. (Camex resiste aos moinhos..., 2006).

É possível inclusive observar que, ao longo da última década, e especialmente após 2006, a importação de trigo argentino caiu, com maior destaque para os anos 2008, 2009 e 2010. As dificuldades da Argentina em garantir o fornecimento obrigaram os moinhos a trocarem os fornecedores, compensando a quantidade antes importada da Argentina para o Paraguai e Uruguai.

Gráfico 10 - Trigo Importado do MERCOSUL (mil ton) 1997 - 2010

Fonte: MDIC. ALICE Web. Disponível em: <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/. Acesso em: 30 set. 2011.

A variação de fornecedor dentro do Mercado Comum garantiu o abastecimento, evitando um aumento ainda maior do preço do trigo importado de outros países, que sofreriam um acréscimo de 10% de Imposto de Importação e estaria também sujeito a um valor de frete mais elevado, devido à distância, evitando com que o Governo reduzisse a TEC para os EUA e Canadá.

- 2.000,00 4.000,00 6.000,00 8.000,00 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 A n o

Trigo Importado do MERCOSUL (mil ton) 1997 - 2010

Paraguai Argentina Uruguai

Assim, podemos perceber que diversos entraves tornam o trigo nacional menos competitivo perante o trigo fornecido no MERCOSUL, levando os moinhos nacionais a buscar alternativas aquém das oferecidas no território nacional, para prover o mercado interno.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a análise dos diversos aspectos relativos ao cenário do mercado do trigo no Brasil, concluiu-se que o país atualmente não apresenta índices que indiquem uma produção crescente do grão, com rumo à autossuficiência. Além de possuir fornecedores para atender a demanda brasileira através da importação, o país possui um cenário agrícola instável para o cultivo do trigo. Todos os fatores históricos para o cultivo no Brasil também apontam negatividade em relação ao setor.

Foi observado que, historicamente, o Brasil não possui aptidão no cultivo do trigo, devido às temperaturas elevadas que são registradas no país e às chuvas que ocorrem durante o estágio de maturação do grão, de setembro a outubro, o que retira as fontes principais de proteína e outras características que garantem o bom estado do grão para a utilização da indústria moageira.

Para que o grão tenha uma melhor rentabilidade, desde o momento do plantio e que a colheita tenha os resultados esperados, sem resultar em perdas de safra, os cultivares teriam que sofrer melhorias genéticas e adaptações para o clima, exigiriam inclusive maior uso da tecnologia por parte dos agricultores, e com a soma destes fatores a produtividade local iria aumentar e trazer melhores resultados em cada colheita.

Entretanto, estes investimentos resultam em um preço mais alto para o trigo nacional, ao qual são inclusos impostos, em cascata, pois incidem em todas as etapas desde a compra de grãos e maquinário até o transporte e processamento para transformação em farinha.

Esses custos encarecem o trigo brasileiro, que sempre mostrou uma cotação mais alta do que o trigo comprado na Argentina. Ambos apresentam os mesmos aspectos técnicos e são trigo tipo Pão, e o trigo mais utilizado pela indústria moageira brasileira.

Um ponto positivo em favor do trigo da Argentina é a atuação do órgão fiscalizador na Argentina, o SENASA, ao atestar a qualidade do grão para ser exportado. A função desta fiscalização é, acima de tudo, aplicar o imposto de exportação vigente na Argentina para o trigo em boas condições. Caso esteja fora

do padrão, o trigo é utilizado para ração, pois perde as propriedades de utilização para o consumo humano, incorrendo outros valores de impostos, mais baixos.

No Brasil, por sua vez, a fiscalização da qualidade do trigo não se mostra tão rigorosa como na Argentina. O trigo de dois produtores distintos pode ser armazenado em um mesmo silo, ou em um armazém em que haja soja, ou outro grão, podendo afetar a qualidade do grão de trigo ou ainda misturá-los com outros grãos, adicionando, por exemplo, matérias estranhas e outras impurezas no trigo nacional.

Historicamente a Argentina apresenta maior aptidão para cultivo do grão, tornando-se um exportador que sustenta o Brasil, graças ao MERCOSUL e isenção de impostos de importação, garantindo abastecimento a um preço competitivo desde 1990.

Contudo, é importante destacar que nos últimos 10 anos o governo brasileiro se viu obrigado a incentivar a produção nacional, uma vez que em 1999 o câmbio passou a ser flutuante, afetando o preço das importações.

Ressalta-se aqui que o trigo no Brasil tem dois fatores importantes que justificam a interferência governamental. O primeiro fator é a garantia da segurança alimentar para a população, pois é um grão farto em nutrientes, que é matéria-prima de itens que compõem da cesta básica brasileira e do pão francês, levando diretamente ao segundo fator: regulação da economia e inflação.

Os efeitos das políticas rumo à reestruturação da produção tritícola nacional puderam ser observados em 2003, com o aumento da safra, elevando a produção brasileira que hoje é capaz de suprir metade da demanda do país. É importante mencionar que existe instabilidade entre as safras, a produtividade poderia ser melhor e há perdas de quantidade e qualidade que não podem ser previstas, conforme já mencionado.

O incentivo dado para os agricultores, através de crédito e garantia de preços mínimos coincidiu com a alta internacional do mercado de trigo, valorizando esta commodity, atraindo os produtores. Porém, devido à dificuldade natural

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