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CAPÍTULO 4. QUALIDADE DAS PREVISÕES: COMISSÃO EUROPEIA VERSUS OCDE E FMI

4.2. ASPETOS METODOLÓGICOS

A CE, a OCDE e o FMI publicam previsões bi-anuais para um grande conjunto de variáveis macroeconómicas. As previsões da CE são divulgadas na European Economic Forecast e designadas como previsões da primavera e do outono, sendo publicadas em março ou abril e em outubro ou novembro de cada ano, respetivamente. O Economic Outlook da OCDE inclui as previsões desta instituição e é publicado em junho e dezembro. Por último, as previsões do FMI são publicadas em abril ou maio e em setembro ou outubro no World Economic Outlook. Embora as datas de publicação das previsões das três instituições não coincidam exatamente no tempo, neste estudo considera-se, genericamente, que são publicadas no primeiro e no segundo semestre de cada ano.

As previsões daquelas três instituições são elaboradas sob a hipótese de não alteração das políticas. Esta hipótese significa que apenas as intenções de política conhecidas com suficiente detalhe são tidas em consideração nas previsões, enquanto o mero anúncio de objetivos ambiciosos é considerado como wishful thinking.91

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Artis e Marcellino (1999) salientam que esta distinção entre intenções de política e anúncio de objetivos pode ser controversa.

A literatura empírica que trata da qualidade das previsões macroeconómicas é muito diversa. A maioria dos estudos analisa a qualidade das previsões relativas ao crescimento do PIB (e.g. Koutsogeorgopulon, 2000;Melander et al., 2007; Vogel, 2007). As previsões da CE, OCDE e FMI para o saldo orçamental são analisadas por Artis e Marcellino (1999) enquanto Melander et al. (2007) avaliam a qualidade das previsões da CE para o saldo orçamental. Por último, as previsões de dívida pública não são elaboradas pelo FMI e, tanto quanto se sabe, as previsões de dívida pública da CE e da OCDE não foram analisadas em nenhum dos estudos publicados. A comparação da qualidade das previsões de dívida pública divulgadas por estas duas instituições é relevante, porque os PECEs incluem previsões relativas a esta variável e porque a atual crise da dívida soberana aumentou as preocupações com os rácios de dívida pública e a sua sustentabilidade.

Relativamente aos horizontes de previsão, as três instituições publicam previsões no segundo semestre para o ano seguinte (t+1) e no primeiro semestre para o ano corrente (t) e para o ano seguinte (t+1). No segundo semestre, a CE e a OCDE publicam também previsões para t+2.

Quanto aos horizontes temporais, as previsões da CE publicadas no segundo semestre apenas cobrem os dois anos seguintes, enquanto as atualizações dos PECEs incluem previsões macroeconómicas para, pelo menos, os três anos seguintes. Este facto terá dificultado a avaliação por parte da CE, e do público em geral, do grau de realismo das previsões para o ano t+3 apresentadas nos PECEs entre 1998/99 e 2009/10. Com a implementação do Semestre Europeu, a capacidade da CE avaliar as previsões macroeconómicas incluídas nos PECEs é ainda mais deficiente, porque são usadas como referência as previsões publicadas no primeiro semestre que apenas dizem respeito ao ano corrente e ao ano seguinte.

Em todo o caso, a utilidade das previsões para horizontes mais alargados é, pelo menos, duvidosa. Vuchelen e Gutierrez (2005a) analisam a qualidade das previsões relativas aos países do G7 e divulgadas pela OCDE para o PIB para t+2. Como as economias estão sujeitas a choques, à medida que aumenta o horizonte de previsão, a degradação da respetiva qualidade acontece tão rapidamente que as previsões para t+2 não têm valor. Mas, sendo assim, é estranho que os governos sejam solicitados a apresentar nos seus programas previsões para os três anos seguintes.

No presente estudo optou-se por analisar dois tipos de previsões: as previsões publicadas no primeiro semestre do ano t relativas ao ano t e as previsões publicadas no segundo semestre do ano t-1 relativas ao ano t.92

92 Vuchelen e Gutierrez (2005b) sublinham que as previsões publicadas no primeiro semestre para o ano corrente não

são previsões ex-ante, porque o conjunto de informação à data da realização das previsões inclui informação parcial sobre o estado da economia no ano corrente.

A análise da qualidade das previsões pressupõe a sua comparação com os valores observados. A este respeito são assumidas diferentes hipóteses na literatura quanto à data da publicação e quanto à fonte da informação estatística. Relativamente à data de publicação, em alguns estudos (Timmermann, 2006; Melander et al., 2007), as previsões publicadas no primeiro semestre do ano t relativas ao ano t são comparadas com as estimativas publicadas no primeiro semestre do ano t+1, enquanto as previsões publicadas no segundo semestre do ano t-1 relativas ao ano t são confrontadas com as estimativas publicadas no segundo semestre do ano t+1.93 Outros estudos (Artis e Marcellino, 1999; Vogel, 2007) consideram as estimativas publicadas no primeiro semestre do ano t+1, independentemente da data de publicação das previsões relativas ao ano t. No que respeita à fonte de informação estatística, podem ser utilizadas as estimativas de uma instituição para analisar a qualidade de todas as previsões ou usadas as estimativas publicadas pela respetiva instituição. Neste estudo, os valores observados correspondem às estimativas publicadas no primeiro semestre do ano seguinte àquele a que dizem respeito as previsões, sendo efetuadas pela instituição de previsão em causa.Prática semelhante foi adotada por Artis e Marcellino (1999).

No capítulo anterior, referiu-se que a literatura sobre determinantes dos desvios orçamentais considera dois tipos de erros, os erros de previsão e os erros de execução, sendo que os primeiros são usualmente definidos em níveis e os segundos em primeiras diferenças. Na literatura empírica sobre qualidade das previsões, tem sido prática considerar-se apenas os erros de previsão.Assim, e também porque nas avaliações dos PECEs a CE confronta os valores previstos pelos governos e pela CE e não as variações previstas, considerou-se mais adequado utilizar os erros de previsão definidos em níveis. A qualidade das previsões de uma instituição pode ser analisada de forma individual para cada um dos países ou de forma agregada para um conjunto de países ou regiões (e.g. UE, G7, países industrializados). De acordo com os estudos existentes, concluiu-se a partir das análises individuais que nenhuma instituição de previsão é a melhor para todos os países. Ainda que, de acordo com Artis e Marcellino (1999), pareça existir alguma especialização. Por exemplo, as previsões da CE para o saldo orçamental da Itália têm um desempenho superior às correspondentes previsões da OCDE e do FMI. Também de acordo com Stekler (2007), não existe uma metodologia ou instituição de previsão que supere todas as restantes na previsão de todas as variáveis ou de uma variável em todos os períodos.

Tendo em consideração que o objetivo do presente estudo é proceder a uma avaliação global das previsões da CE, de modo a concluir se deverão ou não ser o guião no exercício de programação

93 Esta prática é justificada sob o argumento de que uma confirmação rápida das previsões é mais importante no caso

das previsões para o ano corrente e que uma medida mais precisa é mais adequada no caso das previsões para o ano seguinte (Melander et al., 2007).

orçamental para as previsões dos governos europeus, bem como proceder à sua comparação com as previsões da OCDE e do FMI, a análise aqui efetuada para cada variável e para cada tipo de previsão é uma análise em painel para o conjunto de 15 países da UE, no período de 1999 a 2009. A análise em painel tem a vantagem de aumentar o poder dos testes estatísticos, o que constitui um aspeto relevante dado que o período temporal objeto de estudo corresponde aos primeiros onze anos de UEM.