• Nenhum resultado encontrado

O autor Lomba discorre sobre o assédio no serviço público:

No serviço público, este fenômeno ganha mais forçae espaço. Paradoxalmente, são nos cargos intermediários de chefia, ocupados por funcionários de carreira, que se proliferam, com maior incidência os tiranos, que não podendo demitir à toa, passam a perseguir e humilhar. Soma-se a isto, desvalorização social, baixos salários, exclusão das decisões institucionais, sendo o trabalhador concebido como mero executor de propostas e ideias elaboradas por outros, falta de investimentos e sucateamento das condições de trabalho. (LOMBA, 2008 p.3)

Freitas (2001, p.10) comenta que “nas universidades e nas instituições públicas em geral, as práticas de assédio são muito mais estereotipadas que na esfera privada e são também onde elas têm sido mais denunciadas por suas vítimas”.

O ex-servidor federal e advogado Vacchiano (2007, p.8) afirma que “a humilhação repetitiva e prolongada tornou-se prática quase que considerada natural no interior das repartições públicas, onde predomina o menosprezo e indiferença pelo sofrimento dos servidores.” E ainda continua:

Apesar de o setor público transmitir a impressão que tudo é muito bom e maravilhoso “interno corporis” predominam práticas abomináveis de assédio moral e de desvalorização do servidor que muitas vezes sequer é visto como ser humano, mas uma coisa em razão de pessoas que ocupam cargos elevados terem perdido a noção do que é ser gente i.e., embora vivam no meio de seres humanos, sua psique encontra-se posicionada no reino vegetale animal – possuem um corpo e um cérebro, mas ainda não atingiram o estado humano (VACCHIANO, 2007, p.9).

Na reportagem “Assédio moral – A sombra que ronda o serviço público” a jornalista Ayub diz que “O setor público é um dos ambientes de trabalho onde o problema se apresenta de forma mais marcante, em razão da garantia da estabilidade no vínculo funcional e às mudanças de governo.” Em entrevistaao escritório paulista Wagner Advogados Associados o escritório explica que umas das causas é“Como o chefe não dispõe sobre o vínculo funcional do servidor, não podendo demiti-lo, passa a humilhá-lo e sobrecarregá-lo com tarefas inócuas”. Outra causa é que a maioria das vezes os chefes são nomeados devido aos seus laços de amizade ou de relações políticas, e não por sua qualificação para o desempenho da função, destaca o Escritório Wagner Advogados Associados. (AYUB, 2013).

Na mesma reportagem a presidente do Sindicato dos Servidores da Justiça de 1ª Instância de Minas Gerais, Sandra Silvestrini avaliou a institucionalização do assédio moral. Umas das formas utilizadas pelos assediadores estão à avaliação de desempenho e o processo administrativo, que deveriam servir unicamente ao interesse público e ao bom funcionamento do órgão, mas Silvestrini explica que “A carreira do servidor depende da avaliação de seu superior hierárquico, mas se for um assediador, ele utiliza o instrumento para prejudicá-lo. Uma avaliação insuficiente (menos de 70% dos pontos distribuídos) retira do servidor o direito a progressões e promoções”. (AYUB, 2013).

Já o processo administrativo, Silvestrini explica que ele pode ser utilizado com fim diverso daquele ao qual se destina. “Ele deveria servir para apurar uma eventual falta funcional que, caso ficasse comprovada após processo legal e ampla defesa, aí sim, ensejaria a punição do servidor faltoso. Mas há inúmeros casos em que os servidores sofrem processos administrativos por mera perseguição, sendo considerados culpados antes mesmo da fase comprobatória, com o fim específico de punir, e não de apurar”. (AYUB, 2013).

O autor Vacchiano afirma que o assédio moral tende a ser mais frequentena esfera pública em razão de algumas peculiaridades:

Quadro 1 -Razões do assédio moral

Chefias por indicação e falta de preparo dos mesmos

Os chefes são indicados em decorrência de seus laços de amizade, nepotismo ou de suas relações políticas. Geralmente despreparado para o exercício do cargo ou função confiado, e muitas vezes sem o conhecimento mínimo necessário para tanto, mas escorado nos relacionamentos que garantiram a sua indicação, o chefe pode se tornar extremamente arbitrário, a fim de compensar suas evidentes limitações, mas resguardado por uma considerável intocabilidade. Este despreparo é bastante caracterizado por certas atitudes e posturas que são um verdadeiro desastre. Como não dispõe de um vínculo funcional do servidor, não podendo demiti-lo, passa a humilhá-lo e sobrecarregá-lo de tarefas inócuas.

Origem financeira – cobiça

Em muitos casos a origem da situação está no dinheiro; promoções, gratificações, viagens, vantagens, representações, ajudas de custo, locomoção.

Preconceitos enraizados

Pode ainda originar-se em algum preconceito enraizado, como preconceito contra racial, física ou em razão da orientação sexual.

Anonimato em virtude do excesso de contingente

Uns dos maiores motivos que originam o grande número dos que sofrem por assédio moral na Administração Pública é o exacerbado número de pessoas que compõe o quadro da administração

pública, o que torna o anonimato uma constante.

Julgamento das ações

No serviço publico quem julga as ações relativas aos servidores é alguém pago pelo próprio estado, alguém que tem o dever de defender os interesses do ente estatal muito embora este dever não possa se sobrepor a própria justiça, aquela que o cidadão elegeu de fato para ser defendido, ou seja, a preservação da dignidade da pessoa humana.

Prejuízos no serviço público

O serviço público tem uma particularidade que faz com que o assédio seja visto de forma mais grave. Basta lembrar que os serviços tidos como atividade fim são todas de acesso vias concurso públicas. Logo mesmo que haja recursos (o que é muito raro), em caso de afastamento do servidor em razão de doença causada por assédio moral, não há como haver uma contratação imediata, pois deve haver vacância para tanto, que se da pela aposentadoria ou pela exoneração. Neste caso o serviço público acaba por estar prejudicado, não atende como deveria os beneficiários dos seus serviços.

2.10 Assédio moral no ensino

Considerando que as Instituições de Educação Superior (IES), enquanto ambientes de trabalho, não estão imunes às situações de violência, que podem conduzir ao assédio moral, torna-se necessário estabelecer uma relação entre o assédio moral no trabalho e o assédio moral no ambiente escolar das Instituições de Educação Superior. A autora Hirigoyen (2002, p.42) relata que "O meio educativo é um dos mais afetados pelas práticas de assédio moral.” A mesma autora continua afirmando que as universidades não estão imunes ao assédio moral:

"Podemos encontrá-los (os processos perversos de assédiomoral) em todos os grupos em que indivíduos podem entrar em rivalidade, particularmente nas escolas e universidades. A imaginação humana é ilimitada quando se trata de matar no outro a boa imagem que tem de si mesmo; mascaram-se, assim, as próprias fraquezas e pode-se assumir uma posição de superioridade." (HIRIGOYEN, 2002a, p.17).

Em um artigo publicado na internet por Áurea Guimarães (1996) “Escola: espaço de violência e indisciplina” diz que é importante argumentar que as instituições de ensino produzem sua própria violência e sua própria indisciplina e que, para compreender esta situação, é necessário aceitar a escolacomo um lugar em que se expressa uma extrema tensão entre forças opostas:

Documentos relacionados