Tempo após o estímulo (milissegundos)
0 10 700 00
Homens alcoolistas Homens não alcoolistas
10 0 20 30
Média das respostas
Amplitude (microvolts) Filhos de homens alcoolistas Filhos de homens não alcoolistas 0 300 500 700 reading-ikkanda; par a “event -rela ted potentials in coa ’s”, por bernice porjesz e henr i begleiter, em alcohol heal th & research world , vol. 21 ,n o 3 , 1997 (gr áfico no al to à direit a) ; retir ado de “the utility of
s in the study of alcoholism”, por bernice porjesz e outros,
em clinical neurophysiology , vol. 116 , n o 5 , maio de 2005
; utilizado com permissão da elsevier
(gr áficos à esquerda) Amplitude (microvolts) Tempo (milissegundos) Frequência (hertz) Homens alcoolistas 10 5 0
Homens não alcoolistas Média das respostas
Gene CHRM2 Análise de ligação genética
Cromossomo 7 4 3 1 2 0 Alfa Teta Delta 300 500 700 100 0 10 5 0
Determinados padrões de atividade elétrica cerebral conhecidos como endofenótipos podem ser mensurados. Eles revelam características fisiológicas distintas em dependentes de álcool e outras pessoas com alto risco de desenvolver o transtorno. Pesquisadores têm usado essas diferentes
assinaturas da função cerebral para descobrir os genes ligados ao alcoolismo e problemas relacionados.
A resposta P300
Quando se monitora a atividade cerebral por meio de eletroencefalografia, vê-se um pico na força do sinal entre 300 e 500 milissegundos após um estímulo, tal como um flash de luz. Conhecida como P300, essa resposta é significativamente mais fraca nos dependentes de álcool, mesmo quando abstinentes, do que em não dependentes. O mesmo endofenótipo é encontrado nos filhos de pais alcoólicos, indicando que essa diferença funcional no cérebro precede o início da ingestão alcoólica compulsiva e é, em si, um fator de risco.
Dissecando a resposta
A P300 consiste em sinais elétricos nas faixas de baixa frequência delta e teta, associadas com consciência e tomada de decisão. Leituras de EEG de não alcoolistas e alcoolistas (veja abaixo) revelam um sinal mais fraco nos dependentes após 300 ms. Esse traço foi associado, em estudos com famílias, tanto ao alcoolismo como à depressão.
77 agosto2017• mentecérebro das variantes de risco do CHRM2 estão mais
propensos a sintomas precoces de depres- são, e não a distúrbios com álcool. Jovens com a variante de risco do GABRA2 mais fre- quentemente apresentam problemas de con- duta, tais como complicações com a polícia, envolvimento em brigas e expulsão da escola, em vez de início precoce de ingestão alcoóli- ca. Em adultos jovens, as variantes de risco do gene do receptor GABA estão associadas à dependência de álcool.
Esses achados reforçam a ideia de que há vários caminhos para o alcoolismo e diferen- tes vias psicológicas que levam a ele. Talvez as variantes de risco do ADH contribuam para o desenvolvimento do alcoolismo por meio da promoção direta de ingestão alcoóli- ca pesada, enquanto as variantes do gene do receptor GABRA2 predispõem as pessoas a problemas de conduta, que são, por si sós, um fator de risco para o alcoolismo. Por sua vez, o CHRM2 pode agir por meio da depres- são e outros sintomas internalizantes para estimular o uso da bebida.
POSSIBILIDADES DE ESCOLHA
A identificação de um maior número de ge- nes envolvidos com a dependência de álcool possibilitará uma avaliação mais precisa do risco para alcoolismo e a prescrição de tra- tamentos mais específicos a indivíduos com transtornos relacionados ao consumo de ál- cool. Em geral, os médicos analisam o perfil genético de uma pessoa e outros fatores de risco familiares e ambientais quando fazem prescrições medicamentosas e comporta- mentais para doenças como hipertensão, câncer e transtorno afetivo bipolar. A identi- ficação de variantes genéticas nos pacientes para adequar decisões de tratamento ainda está no estágio inicial. Esperamos ter no futu- ro diretrizes para ajudar no desenvolvimento de tais estratégias individualizadas.
Os recentes achados genéticos relaciona- dos ao alcoolismo podem sugerir também meios para melhorar a prevenção e o trata- mento do tabagismo e de outras formas de dependência de substâncias. Os transtor- nos de humor e ansiedade entram nessa categoria. E a associação entre variações do CHRM2, alcoolismo e depressão ilustra
como esses distúrbios podem vir, em parte, de uma fonte comum.
Entretanto, genética não é destino – que fique bem claro. Os genes podem interagir com situações específicas, como abuso de substâncias, e causar distúrbios em alguns portadores, mas não em outros. Se metade do risco de alcoolismo é herdada, a outra metade deve se originar em outras fontes. Ninguém se torna dependente de álcool sem fazer más es- colhas, mas é claro que algumas pessoas são mais sensíveis à bebida que outras expostas ao mesmo conjunto de circunstâncias.
Críticos argumentam que a pesquisa ge- nética sobre a dependência de álcool e outros problemas, como o tabagismo, não oferece uma boa relação custo-benefício do ponto de vista da saúde pública. Alguns dizem, por exemplo, que seria melhor direcionar recur- sos para reduzir o consumo de substâncias com potencial de abuso do que identificar – e estigmatizar – os indivíduos com maior pro- pensão a ser afetados por elas. Sem dúvida, essa abordagem é válida. Mas é essencial também oferecer meios de as pessoas co- nhecerem melhor seus riscos para que, bem informadas, possam fazer escolhas.
Testes genéticos já oferecem oportunida- des de autoavaliação impossíveis no passa- do, e a demanda para a realização de perfis genéticos crescerá nos próximos anos. Os chamados chips de DNA poderiam ser utili- zados para detectar as variantes gênicas de uma pessoa bem como variações na ativida- de gênica, e para produzir uma série de re- comendações médicas, psiquiátricas e com- portamentais que o indivíduo, segundo sua vontade, pode ou não seguir.
PARA SABER MAIS
Álcool e drogas na adolescência - um guia para pais e professores. Ilana Pinsky, Cesar Pazinatto. Editora Contexto , 2014. Endophenotypes successfully lead to gene identification: results from the collaborative study on the genetics of alcoholism. Danielle M. Dick e colegas, em Behavior
Genetics, vol. 36, no1,
págs. 112-126, 2006. Evidence of common and specific genetic effects: association of the muscarinic acetylcholine receptor m2 (CHRM2) gene with alcohol dependence and major depressive syndrome. Jen C. Wang e outros, em Human Molecular Genetics, vol. 13, no17, págs. 1903-1911, 2004. Disponível no site www. niaaa.nih.gov/Publica- tions/Alcoholresearch