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2 TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO BRASIL: POLÍTICAS DE INCLUSÃO E DUALISMOS

2.2 Assistência Estudantil e Educação Profissional no IFBA

Um dos principais espaços para garantia da permanência dos estudantes nos IFEs é a Assistência Estudantil. Dentro do processo de mudanças ocorridas nos últimos anos este setor vem sendo permanentemente discutido com foco em uma ampliação da sua atuação dentro da escola.

Embora no quadro geral da educação a representatividade das escolas federais seja relativamente pequena, ela implica em mudança social para uma parcela dos estudantes nas regiões onde se localizam, tendo em vista como já afirmado antes, a expectativa de um ensino de qualidade. Em que pese a importância dessa expansão pelo interior do país, muitos problemas têm ocorrido no que tange à ausência de uma infraestrutura adequada nos novos

campi, a demora na contratação de professores e técnicos (assistente social, pedagogo,

nutricionista, psicólogo, bibliotecário etc.) em tempo hábil para implantação dos cursos e a falta de cumprimento dos acordos firmados com alguns gestores municipais.

Esses problemas têm sido relatados nas redes sociais, blogs e jornais locais, pelos estudantes que se organizam a fim de reivindicar direitos e condições de estudo e pelos professores e técnicos, através dos sindicatos. Paralelo às lutas tradicionais do Movimento Estudantil se acrescem novas pautas e bandeiras que incluem desde melhoria das condições de acesso às escolas (pavimentação de estradas, iluminação urbana e ônibus escolar), segurança,

até a contratação de professores e funcionários, residência estudantil entre outras questões apresentadas pelos estudantes do interior do estado da Bahia (SILVA; FERREIRA, 2015).

A produção identificada através do Banco de Teses e Dissertações da CAPES acerca do processo de inclusão que vem ocorrendo nos Institutos Federais em todo o Brasil nos oferece uma dimensão da importância de tal processo, ao tempo em que apresenta os limites enfrentados pela rede de educação profissional federal e da busca de formação por parte de professores e funcionários das variadas áreas técnicas.

Sobre a assistência estudantil, identificamos a dissertação de Damasceno (2013), que trata do exercício do Assistente Social dentro do IFBA e Pereira (2012) com o objetivo de examinar a implantação do PNAES no IFSULDEMINAS, concluindo que o ineditismo do programa caminha lado a lado com necessidade de aprimorá-lo. Martendal (2012) teve como “foco a análise do Programa de Atendimento aos Estudantes em Situação de Vulnerabilidade Social (PAEVS), um dos programas que compõe a Política de Assistência Estudantil do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, tendo sido a prioridade da Instituição nos dois últimos anos”. Sobre assistência estudantil há ainda os trabalhos de Abreu (2012) e Parente (2013).

Sobre a inclusão de portadores de necessidades especiais nos institutos foi encontrado o maior número de estudos, os quais tratam ou da inclusão geral ou de algum tipo de deficiência em especial, como dos alunos surdos ou cegos. Neste item encontramos Bez (2011), Rech (2012), Margon (2012), Bortoline (2012), Pimenta (2012), Waldemar (2012), Abreu (2012), Leitzke (2012), Hahn (2012) e Marques (2014).

Sobre inclusão social: Nobrega (2011) e Martendal (2012).

Sobre cotas para negros: Ávila (2012), Bevilacqua (2012), Novaes (2011) e Ferraz (2015).

Sobre monitoria, Moraes (2011). Sobre homofobia, Araújo (2012).

Sobre interiorização e expansão dos Institutos, Costa (2011). Sobre evasão e repetência, Alves, A. (2011), Moreira (2012).

Os estudos identificados não esgotam a produção acadêmica que tem sido realizada com pesquisas dentro dos Institutos Federais, eles demonstram que os problemas decorrentes da expansão e da adaptação a uma série de dispositivos legais tais como a Lei de Cotas, a inclusão dos portadores de necessidades educativas especiais e a Lei nº 10.639/2003 têm obrigado os profissionais que lidam cotidianamente com a educação nessas escolas a buscar

compreender os processos vividos, bem como a qualificar-se a fim de atender as novas demandas.

O IFBA está inserido neste contexto e tem buscado a qualificação e a adequação do seu quadro de funcionários e estrutura física à nova realidade. Entretanto, assim como nos estudos observados, aqui na Bahia também se vive o aprendizado da inclusão educacional e muitas questões ainda estão por resolver. Neste aspecto, voltando ao foco deste trabalho que é a observação dos estudantes, podemos afirmar que a luta destes se amplia na medida em que um número maior de alunos ingressa nos institutos mediante a política de cotas, caracterizando-se por uma condição socioeconômica desvantajosa e, portanto, demandando uma melhor estruturação das políticas de assistência.

Mudanças têm sido observadas na estrutura organizacional da instituição, seja do ponto de vista da estrutura pedagógica com a ampliação do número de servidores voltados a um melhor acompanhamento dos discentes, seja na forma de ingresso dos estudantes na instituição. Porém, o número de servidores e a diversidade destes variam de uma escola para outra, de modo que os problemas enfrentados em cada campus do Instituto também são variáveis.

Os números da Assistência Estudantil nos anos de 2010 a 2014 dão uma dimensão da demanda existente no IFBA Salvador:

Tabela 3 - Alunos atendidos pela Política de Assistência Estudantil no IFBA, campus Salvador 2010- 2014

Ano Nº de estudantes atendidos:

2010 206

2011 467

2012 798

2013 1.052

2014 1.536

Fonte: Damasceno, H. Mesa de Assistência Estudantil, atividade de greve, junho/201532.

Como podemos observar, a demanda tem sido crescente por parte dos alunos no sentido de serem atendidos pela Política de Assistência Estudantil, mas os recursos previstos

32 Apresentação em Power Point durante a greve docente em junho de 2015 em mesa aberta à comunidade com presença de técnicos, professores e estudantes.

para 2015 são inferiores aos de 2014. O orçamento para 2014 foi de R$ 4.220.393,00 e para 2015 foi de R$ 3.935.048,47. Deste modo, mesmo reconhecendo que não há apenas um problema social na garantia da permanência dos estudantes, a redução do orçamento 2015 interfere diretamente sobre a assistência estudantil, uma vez que os diversos programas que vinham sendo implementados deverão ser reavaliados e alguns reduzidos ou extintos.

O setor pedagógico possui psicólogos, pedagogos e assistentes sociais a fim de promover um melhor acompanhamento do processo educativo intraescolar. Isto não significa perfeição ou atendimento a todas as demandas, mas indica uma mudança numérica que deve refletir em melhoria da qualidade do atendimento, desde que acompanhe a expansão do número de alunos verificada acima. Para ter uma ideia da ampliação do IFBA, podemos observar as matrículas realizadas entre os anos de 2009 e 2012 no Ensino Médio Integrado em Salvador.

No caso da matrícula geral do Instituto o relatório indica um crescimento de 63% no número total entre os anos de 2009 e 2012. Este aumento considerável das matrículas em apenas 04 (quatro) anos ocorreu em decorrência da abertura de institutos no interior do estado como parte de um projeto de expansão da rede federal de educação profissional e também da introdução do PRONATEC33, uma formação profissional rápida e que ainda demanda análises

mais aprofundadas.

Tabela 4 - Tabela 4 - Evolução das matrículas no IFBA 2009-2012

2009 2010 2011 2012 Salvador 4051 4.896 5747 6.545 IFBA (interior e capital) 16.820 22.915 23.450

Fonte: Relatório de Gestão IFBA, 2012, p. 39.