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4 JUVENTUDE: UMA CONSTRUÇÃO SOCIAL

5 RECORTE METODOLÓGICO OU O CAMPO EDUCACIONAL COMO ESPAÇO DE PESQUISA E OS JOVENS COMO SUJEITOS DISCURSIVOS

5.1 O uso do questionário

Em decorrência do fato de que muitas pessoas podem não desejar descrever abertamente sobre sentimentos, crenças e motivações, ou sentirem-se capazes de fazê-lo de forma pública (SELLTIZ, 1987), a decisão pelo questionário derivou da possibilidade de provocar o sujeito a refletir sobre questões que dizem respeito à sua experiência como estudante do IFBA a partir de suas percepções e dos conceitos que elabora sobre diversidade e preconceito, participação política e ações afirmativas.

Para os psicanalistas não estamos sempre conscientes de muitas de nossas crenças e motivações e algumas questões exigem um autodiagnóstico, ou seja, exigem que o indivíduo faça julgamentos a respeito de si mesmo. De algum modo esta pesquisa provoca os sujeitos pesquisados a produzir uma oportunidade de observar a si mesmo e ao espaço onde está inserido.

Ao considerar as diferenças entre entrevistas e questionários a escolha do questionário se deve à possibilidade de aplicar a um número maior de pessoas em menor tempo e custo. Ele também assegura certa uniformidade da situação mensurada, embora do ponto de vista da Psicologia esta uniformidade seja mais aparente que real, pois uma pergunta pode ter diferentes sentidos, sendo compreensível para uns e não para outros (SELLTIZ, 1987). Além disso o anonimato56 permite maior liberdade de expressão no caso de exprimir opiniões que temem desaprovadas ou que poderiam colocá-lo em dificuldade.

A aplicação do questionário foi acompanhada pela pesquisadora, com tempo de duração de uma hora aula para responder e liberdade para não o fazer caso desejasse. Foi lido por eles, pois a compreensão dos mesmos é importante para a AD. O questionário de pesquisa, composto de 27 questões divididas em objetivas ou fechadas (1-09) e subjetivas ou abertas (10-27), o qual foi distribuído em sala de aula para quatro turmas de Ensino Médio, uma de cada série. O questionário apresentou uma série ordenada de perguntas que deveriam ser respondidas por escrito pelo informante, acompanhado de instruções que esclareceram sobre o propósito da pesquisa, ressaltando a importância da colaboração do informante57 (SILVA, E., 2005).

Laville e Dione (1999) indicam que o uso do questionário possibilita conhecer a opinião de uma determinada população acerca de um tema, uma política ou programa social.

56 O anonimato aqui ocorre no sentido de que cada aluno pode se posicionar sem interferência de outros colegas, embora em alguns casos se observasse a troca de ideias entre os mesmos.

57 Disponível em: <https://projetos.inf.ufsc.br/arquivos/Metodologia_de_pesquisa_e_elaboracao_de_teses_e_ dissertacoes_4ed.pdf>. Acesso em: 30 dez. 2015.

Deste modo, é interessante uma amostra suficientemente grande para assegurar a representatividade do grupo e a elaboração de perguntas sobre o tema visado. O questionário definido para esta pesquisa foi composto de duas partes: a primeira que visou a uma breve caracterização socioeconômica do grupo e a segunda, com questões abertas voltadas a buscar a opinião dos estudantes acerca de temas relativos aos objetivos da pesquisa.

Assim como os interrogados colocam a si mesmos as perguntas, deve-se presumir que eles compreendem seu sentido, que eles as interpretam como o pesquisador. É claro que as escolhas de respostas ajudam a esclarecer esse sentido, mas não asseguram invariavelmente a uniformidade das interpretações, e o pesquisador não pode sempre julgar facilmente ou levar em consideração a presença possível de interpretações diferentes. De fato, nem sempre é possível que esse pesquisador julgue conhecimentos do interrogado e o valor das respostas fornecidas: um interrogado pode escolher uma resposta sem realmente ter opinião, simplesmente porque ele sente-se compelido a fazê-lo ou não quer confessar sua ignorância. Ou então, tendo uma consciência limitada de seus valores e preconceitos, fornecerá respostas bastante afastadas da realidade. (LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 185).

As perguntas abertas permitem conhecer dimensões significativas do problema em sua complexidade, explorando múltiplas possibilidades de interpretação pelos sujeitos da pesquisa. Elas permitem que o problema seja formulado pela pessoa que responde, de modo a compreender em seu quadro de referências, motivações e fatores subjacentes às suas opiniões. As respostas objetivas contribuíram para a caracterização das turmas e as abertas constituem o

corpus, analisadas de acordo com a Análise de Discurso (AD) de origem francesa.

Para a elaboração dos questionários seguiu-se a recomendação de Silva, E. (2005) optando pela construção em blocos temáticos, obedecendo a uma ordem lógica de perguntas, em que se buscou uma linguagem compreensível para os estudantes do Ensino Médio, pois sua interpretação é um elemento fundamental da análise que busca captar o sentido das formações discursivas dos sujeitos da pesquisa.

Os questionários de cada turma foram numerados e as respostas transcritas agrupadas de modo que a pesquisadora pode identificar e estabelecer relações entre as respostas e seus sujeitos. A título de exemplo, demonstramos a seguir como foram organizadas as respostas sobre a primeira questão aberta da turma de 4º ano.

Sobre o respeito as diferenças dentro do IFBA:

 O IFBA é bem diversificado  Normal.

 É uma instituição multicultural onde as diferenças convivem harmonicamente.  Acho que há muito respeito às diferenças.

 Não percebo.  Não percebo.

 Principalmente com presença de pessoas com deficiência.

 No meu ciclo de amizades no IFBA e pelo que eu observo, existe muito respeito entre

todas as diferenças das pessoas.

 Regular.

 Avançou com o passar dos tempos com melhorias.

 Apesar de ainda existirem pessoas que não se relacionam com outras por questões

étnicas-culturais, a maioria é amiga da maioria do campus.

 O IFBA se mostra uma instituição com preocupação para com a inclusão social e o

respeito às diferenças.

 Com a sexta-feira cultural e grupos de determinados movimentos.

 O IFBA, assim como o resto do Brasil, possui uma pluralidade fenomenal, e todos, ao

meu ver, são respeitados.

 Os alunos em sua maioria se mostram bem respeitosos.

 A maioria dos alunos respeitam as diferenças, mas há alguns que não estão

acostumados com a pluralidade de diferenças que tem aqui.

 Depende da boa vontade de cada um.  Em branco.

 O IFBA é formado por pessoas diferentes e eles têm uma boa aceitação entre si. Esta organização possibilitou que se selecionasse entre as sequências discursivas transformadas em textos e apropriadas e identificadas pela analista as formações discursivas presentes nos enunciados. Cada formação discursiva foi assim selecionada e passou-se da superfície linguística para o objeto discursivo e na terceira etapa para o processo discursivo. Conforme Orlandi (2003), a primeira etapa diz respeito à busca pela discursividade no texto, em uma análise de natureza linguístico-enunciativa. Na segunda etapa, incide-se uma análise que visa relacionar formações discursivas distintas: ou seja, que formações ideológicas, que efeitos de sentido são produzidos nesse material simbólico e os deslizes pelo efeito metafórico do lugar da interpretação e da historicidade (ORLANDI, 2003).