• Nenhum resultado encontrado

Como já anteriormente explanado, a assistência judiciária gratuita corresponde ao patrocínio ou defesa dos interesses do hipossuficiente em juízo, de forma gratuita, por meio do Estado, de entidade paraestatal ou, ainda, por meio do particular, conveniado ou não com o Poder Público.

Como leciona Cândido Rangel Dinamarco,

A assistência judiciária é o instituto destinado a favorecer o ingresso em juízo, sem o qual não é possível o acesso à justiça, a pessoas desprovidas de recursos financeiros suficientes à defesa judicial de direitos e interesses. (DINAMARCO, 2009, p. 695).

No âmbito estatal, são as Defensorias Públicas, da União, Estaduais e do Distrito Federal, que têm a atribuição constitucional da prestação de assistência judiciária aos necessitados, conforme expressa dicção do art. 134 da Constituição da República.

O art. 22, § 1º, da Lei nº 8.906/1994, que dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) estabelece, expressamente que, em caso de impossibilidade da Defensoria Pública, o advogado indicado para patrocinar causa do juridicamente necessitado, tem direito aos honorários fixados pelo juiz, conforme tabela indicada pelo Conselho Seccional da OAB, custeados pelo Estado.

judiciária seja prestada também por entidades privadas, tais como organizações não governamentais (ONGs), centros acadêmicos, faculdades de direito etc., desde que não haja ônus ao necessitado.

Nesse sentido, Mauro Vasni Paroski entende que

a norma constitucional impõe ao poder público a obrigação de criar em todas as unidades da federação (Estados e Territórios), e, ainda, a nível federal (União) esta Instituição essencial à função jurisdicional do Estado, denominada Defensoria Pública, em número suficiente para atender as demandas da população mais carente economicamente, mas, de outro lado, não impede a ação de terceiros na prestação de assistência jurídica integral e gratuita, o que permite que se entenda pela possibilidade de que tal serviço seja concretizado pelas faculdades de Direito, pelos profissionais autônomos (advocacia pro bono) ou por outros organismos privados. (PAROSKI, 2010, p. 58).

No âmbito do processo laboral, compete à Defensoria Pública da União a atuação perante a Justiça do Trabalho, conforme dispõe o art. 14, caput, da Lei Complementar nº 80/1994, devendo, ainda, firmar convênios para atuação das Defensorias Públicas dos Estados e do Distrito Federal ou, na falta destas na unidade federada, com entidade pública que desempenhara essa função, até a criação de órgão próprio, nos termos dos §§ 1º e 2º, do mencionado dispositivo.

Na lição de Manoel Antônio Teixeira Filho,

a assistência judiciária deverá ser prestada, em princípio, pela Defensoria Pública (CF, art. 5º, LXXIV, e 134). Inexistindo esta, a assistência incumbirá ao Ministério Público, desde que se configure o interesse social (CF, art. 127). Inexistindo este, ou não caracterizado o interesse social em causa, caberá ao advogado privado, designado pelo juiz (Lei n. 8.906/94, art. 22, § 1.º). Inexistindo, competirá ao advogado indicado pela própria parte, a ser referendado pelo juiz. (TEIXEIRA FILHO, 2009, p. 635).

Além disso, compete aos sindicatos das categorias profissionais a prestação da assistência judiciária gratuita, independentemente da filiação do trabalhador hipossuficiente, conforme expressa dicção do art. 14, da Lei nº 5.584/1970:

Art 14. Na Justiça do Trabalho, a assistência judiciária a que se refere a Lei nº 1.060, de 5 de fevereiro de 1950, será prestada pelo Sindicato da categoria profissional a que pertencer o trabalhador.

§ 1º A assistência é devida a todo aquêle que perceber salário igual ou inferior ao dôbro do mínimo legal, ficando assegurado igual benefício ao trabalhador de maior salário, uma vez provado que sua situação econômica não lhe permite demandar, sem prejuízo do sustento próprio ou da família. § 2º A situação econômica do trabalhador será comprovada em atestado fornecido pela autoridade local do Ministério do Trabalho e Previdência Social, mediante diligência sumária, que não poderá exceder de 48 (quarenta e oito) horas.

atestado deverá ser expedido pelo Delegado de Polícia da circunscrição onde resida o empregado.

Nesse sentido, leciona Manoel Antonio Teixeira Filho:

Havendo contrato de trabalho, sabemos que a assistência judiciária deve ser ministrada pelo sindicato representativo da correspondente categoria profissional (Lei n. 5.584, de 26 de junho de 1970, art. 14). (TEIXEIRA FILHO, 2009, p. 635).

Cabe salientar que o dispositivo transcrito supra estabelece requisito objetivo para a concessão da assistência judiciária gratuita pelo sindicato da categoria profissional, qual seja, a percepção de salário igual ou inferior ao dobro do mínimo legal ou a prova de que a situação econômica do trabalhador não lhe permite demandar sem prejuízo próprio ou de sua subsistência familiar.

É o que assevera Mauro Schiavi:

desde que preenchidos os requisitos do referido dispositivo, quais sejam: declaração de miserabilidade ou percepção de salário não superior a dois mínimos, a assistência judiciária será prestada pelo Sindicato da categoria, sendo o empregado associado ou não. (SCHIAVI, 2019, p. 412).

A exigência de atestado fornecido pelo extinto Ministério do Trabalho, contida no § 2º, do art. 14, da Lei nº 5.584/1970, transcrito acima, foi superada com o advento da Lei nº 7.115/1983, cujo caput do art. 1º estabelece que a declaração de pobreza firmada pelo próprio interessado ou por procurador bastante, sob as penas da lei, presume-se verdadeira.

A Lei nº 10.288/2001, que teve curtíssima vigência no ordenamento jurídico brasileiro, posto que tacitamente revogada pela Lei nº 10.537/2002, alterou os requisitos previstos na legislação anterior para a concessão da assistência judiciária gratuita. Segundo o art. 789, § 10, da CLT, incluído pelo revogado diploma, referida assistência deveria ser prestada ao trabalhador desempregado ou que recebesse salário inferior a cinco salários mínimos ou, ainda, que declarasse, sob pena de responsabilidade, não possuir condições econômicas de prover a demanda. Há que se pontuar, entretanto, se com o alargamento das competências da Justiça do Trabalho, promovido com o advento da Emenda Constitucional nº 45/2004, a assistência judiciária gratuita somente tem aplicação nos litígios decorrentes das relações de emprego (na qual existe um contrato de trabalho) ou se, nas demandas envolvendo relação de trabalho diversa da relação de emprego, esta não seria aplicável.

É válido dizer que, ao contrário do que ocorreu com o instituto da justiça gratuita, a assistência judiciária gratuita não foi alterada pelas disposições da reforma promovida com o advento da Lei nº 13.467/2017, continuando, assim, regulada pela mencionada Lei nº 5.584/1970.

A prestação de assistência judiciária gratuita por instituição privada, entidade pública ou mesmo por advogado privado indicado pelo juiz da causa, deve ensejar o pagamento de honorários, ainda que oriundos dos cofres públicos, na medida em que o trabalho prestado deve ser remunerado. O mesmo também deve ocorrer com a assistência judiciária prestada pelos sindicatos das categorias profissionais.

Até o advento da Lei nº 13.467/2017, como será investigado mais profundamente adiante, não havia, no processo do trabalho, em regra, a figura dos honorários sucumbenciais, tratando-se de litígios decorrentes de relação de emprego.

Entretanto, a jurisprudência laboral admitia o pagamento de honorários assistenciais, ao sindicato da categoria, quando prestada a assistência judiciária nos termos do art. 14 da Lei nº 5.584/1970, conforme entendimento contido na Súmula nº 219, I, do C. TST:

Na Justiça do Trabalho, a condenação ao pagamento de honorários advocatícios não decorre pura e simplesmente da sucumbência, devendo a parte, concomitantemente: a) estar assistida por sindicato da categoria profissional; b) comprovar a percepção de salário inferior ao dobro do salário mínimo ou encontrar-se em situação econômica que não lhe permita demandar sem prejuízo do próprio sustento ou da respectiva família. (art.14,§1º, da Lei nº 5.584/1970).

Esses honorários eram devidos não ao advogado da causa, porém ao sindicato da categoria profissional, que prestasse a assistência, conforme dispunha o art. 16 da Lei nº 5.584/197019. Entretanto, após o advento da reforma trabalhista que, como já dito, inseriu a figura dos honorários sucumbenciais no processo do trabalho, o mencionado dispositivo foi expressamente revogado pela Lei nº 13.725/2018, que também acresceu, à Lei nº 8.906/1994, dispositivos atinentes aos honorários assistenciais fixados nas ações coletivas em substituição processual, não atingindo, portanto, a ação individual proposta diretamente pelo trabalhador, por meio da assistência judiciária prestada pelo sindicato de sua categoria.

Nessa senda, portanto, é forçoso entender-se que, após a revogação do art. 16, da Lei nº 5.584/1970, havendo expressa disposição de aplicação de honorários sucumbenciais no processo do trabalho, conforme art. 791-A, da CLT, tais honorários são devidos ao advogado que patrocina a causa, e não mais revertidos ao sindicato da categoria profissional.