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Associação de Agricultores e Agricultoras Agroecológicos Oeste Verde

4. METODOLOGIAS DE SERVIÇOS PÚBLICOS DE ATER GRANDE DO

4.2 Experiências fomentadas pelas instituições de ATER pública

4.2.2 Associação de Agricultores e Agricultoras Agroecológicos Oeste Verde

(...) tem muita gente que, às vezes, acha que agroecologia tem que ser um negocio bem... colocou ali e já tem que ter o produto em poucos dias... E não é. Agroecologia de uma forma que faça pelo meio ambiente... que faça o meio ambiente manter sempre em condições boas e ter um produto de qualidade. (Depoimento do entrevistado DI2)

A Associação de Agricultores e Agricultoras Agroecológicos Oeste Verde (AAOEV) surgiu no estado do Pernambuco, onde membros da atual diretoria da associação fizeram três intercâmbios, em 1999, com organizações que trabalhavam com práticas agroecológicas. As

experiências observadas foram julgadas passíveis de aplicação no Oeste do estado do Rio Grande do Norte. Três anos depois, em 2002, foi fundada a AAOEV.

Na fundação, existiam nove agricultores associados. Posteriormente, ficaram apenas cinco agricultores associados. Porém, com a contribuição da Diaconia, articulando grupos, e dos reflexos das práticas agroecológicas nas propriedades dos associados, outros agricultores foram percebendo que as técnicas e tecnologias adotadas poderiam lhes ser benéficas e rentáveis. Foi então, neste momento, que o número de associados aumentou, segundo DI2. Em outubro de 2010, a Associação possuía trinta e cinco associados de três municípios: Umarizal, Lucrécia e Caraúbas.

Para tornar-se associado não é exigido termo de adesão, ou qualquer outro documento, sendo necessário, apenas, o agricultor mostrar-se aberto às práticas agroecológicas, permitindo uma visita à sua área e participar de três reuniões consecutivas, nas quais é capacitado e, a partir daí, passar a aplicar a proposta. Para permanecer, além de investimentos financeiros para adesão e contribuição mensal, o associado deve se fazer presente às reuniões do grupo e seguir aplicando as técnicas agroecológicas, caso contrário, é excluído.

Quando questionados a respeito da influência de outras organizações no processo de construção e formalização da Associação, DI2 informou que a animação e o apoio foram realizados por via exclusiva da Diaconia, tendo buscado apoio somente, depois, da EMATER para inserção dos agricultores no PRONAF.

Dentre as metodologias de ATER empregadas, a Diaconia promove intercâmbios a outras experiências agroecológicas, dias de campo, capacitações, reuniões mensais e assessora os associados em mecanismos de acesso a políticas públicas de financiamento e crédito como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e acompanhamento de produção para promover sua filosofia, que se paute no respeito ao meio ambiente.

Quando questionado acerca do acompanhamento, DI2 afirma que a Diaconia faz acompanhamento intensivo no início da assistência no tocante a aspectos técnicos e de viabilidade da produção agroecológica e prestam assessoria, também, de acordo com a demanda, conforme DI2.

Acompanha. Principalmente no começo…, eles avaliam a terra, a capacidade da terra, o potencial... a questão de água... se o potencial de água é bom. Se a água tem qualidade também. Tudo isso aí o técnico avalia. (...) Na hora que a gente tem algo que a gente não tamos realmente sabendo como saber, a gente ligamos, os técnicos vão lá e daí explica da forma como tem que fazer...

A Diaconia promove constante capacitação com os agricultores participantes da agroecologia, com uso de metodologia convencional de formações, como, por exemplo, o uso

de apostilas e vídeo, e se pautam ainda na pedagogia da alternância (GIMONET, 1999), com a experimentação de técnicas:

Porque o conhecimento que a gente adquire é o dia-a-dia... a gente nunca sabe tudo, né? Todo o dia a gente tá aprendendo... então eu acho que esse conhecimento é contínuo. E a gente tamo aprendendo e tenta melhorar. (DI2)

A valorização do saber local e do saber do agricultor (GLIESSMAN, 2000) também são valorizados no processo de assessoria da instituição. Corroborando com o discurso do entrevistado DI1, DI2 cita a formação de multiplicadores da metodologia de repasse da agroecologia.

Dai eles [Diaconia] chama a gente somos multiplicadores. O que a gente sabe a gente já passa pro próximo. Então a gente somos multiplicadores. Já multiplica questão de você passar... pros associados e também pra comunidade que você mora. (DI2)

Além do estímulo à agroecologia, a AAOEV trabalha com seus associados a importância de inserir a família na produção agrícola, evitando, assim, que seja contratada mão-de-obra, valorizando o caráter participativo, conforme defende Guzmán (1997).

Quando questionado acerca da produção agroecológica, o entrevistado cita a importância da produção sustentável, referenciando técnicas de manejo que levam em consideração a conservação do meio ambiente, com utilização de princípios ecológicos no desenho e manejo de agroecossistemas sustentáveis e a segurança alimentar, de acordo com o que defendem Gliessman (2000) e Theodoro et al, (2009), respectivamente.

A gente trabalha agroecológico e realmente é mais demorado um pouco mas em termos de a gente ver o produto ser trabalho da maneira que vai ser sustentável, sustentável sua saúde, realmente... em fazer com que o outro também veja que aquele processo que a gente tamo desenvolvendo agroecológico.... (DI2)

Demora mais um pouco a questão de você trabalhar com esterco, você desenvolve o esterco... você tem que passar o que... 15 dias colocando água, deixando ele tirar aquela quentura dele, pra quando você botar a planta não prejudicar a planta. Quer dizer o seguinte: aquele meio que ele passa pra gente é demorado, mas não é coisa difícil. (DI2)

(...) botar mais ainda na cabeça das pessoas que o produto agroecológico ele é um produto que realmente ele vem para melhorar a vida da pessoa, certo? É o que a gente quer: que as pessoas entre em si e veja que o trabalho agroecológico é um trabalho tão importante tão bom, que melhora geral, certo? tanto a terra, quanto a saúde também. (DI2)

DI2 destaca, segurança alimentar (THEODORO; DUARTE; ROCHA, 2009), como benefício alcançado pelos agroecologistas, além do ganho financeiro:

Isso aí traz a fonte de renda também, a agroecologia. Além de trazer o seu consumo também traz recursos pra você... (...) Porque na agroecologia, com você trabalhando

nela, você tem como comprar um eletrodoméstico. Então ela traz outros recursos, além de alimentação ela traz outros recursos.

A AAOEV orienta os agricultores na capacidade de produzir para comercialização através de feiras convencionais, que ocorrem semanalmente no município de Umarizal, na própria Unidade de Produção, por meio de compra direta ou, ainda, mediante encomendas diretas dos consumidores.