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4. METODOLOGIAS DE SERVIÇOS PÚBLICOS DE ATER GRANDE DO

4.2 Experiências fomentadas pelas instituições de ATER pública

4.2.3 Associação do Paraíso

(...) quando chegou a agroecologia, que a gente passou a conhecer, a gente valorizou porque a gente sabe que a nossa qualidade de vida mudou. A partir do momento que a gente come produtos agroecológicos, sem nenhum tipo de veneno, a gente sabe, né, que os benefícios só aumentam. (AA3)

A Associação do Paraíso, localizada na área rural de São Miguel do Gostoso, existe há aproximadamente 15 anos. Nasceu da necessidade de auto-organização do Assentamento Paraíso e da necessidade de desenvolver atividades produtivas na comunidade. Antes da formação do Assentamento, a comunidade morava no município de Pureza, produzindo mandioca, batata e macaxeira, principalmente.

Com o Assentamento, a comunidade passou a receber apoio e assessoria da AACC e da EMATER, que trouxeram projetos de trabalho com outras culturas e também inseriu a temática da agroecologia na comunidade, que até então não era conhecida. A EMATER, inicialmente, prestou ATER no plantio de outras culturas. Em seguida, a AACC, através do Fórum de Participação Popular nas Políticas Publicas (FOPP) convidou a comunidade a participar dos projetos que estavam surgindo.

O projeto que os membros da Associação participaram envolvendo ATER agroecológica durou três anos. O projeto visou ao incentivo à produção, ao fornecimento de ferramentas agrícolas e sementes e a capacitações e intercâmbios. A AACC, atualmente, presta ATER de forma esporádica à comunidade, em virtude de alguns projetos já estarem encerrados e outros parados.

No momento a gente não tá tendo, né? Porque, assim: os projetos estão... alguns já terminaram, né, e outros tão meio que parado. E aí a gente não tá tendo assessoria permanente, né? Mas sempre que a gente necessita de um apoio técnico, a gente solicita lá na AACC e sempre a gente conta com a boa colaboração de alguém que vem nos auxiliar. (AA3)

Dentre os recursos pedagógicos utilizados pela AACC nas formações de agroecologia, foram utilizados recursos pedagógicos convencionais, como seminários e apostilas, e outros recursos, como intercâmbios e encontros. A AACC promoveu alguns intercâmbios com o Assentamento Queimadas em Apodi, onde puderam vivenciar um sistema de produção agroecológico. Foi evidenciada por AA3, a troca de conhecimentos entre os produtores, como recurso metodológico:

Há sim uma grande troca dentro da própria comunidade existe, né? Assim... quando as meninas começaram o trabalho lá no grupo, várias outras mulheres começaram à trabalhar em seus quintais... e aí elas não conheciam a prática agroecológica. E elas iam buscar a experiência lá, né? Conversar com as mulheres... “Omi, lá em casa eu tô plantando isso mas não tá dando certo. Porque que em vocês dá certo? Vocês tão usando o que?” (AA3)

A entrevistada AA3 relata dificuldades de projetos de agroecologia com os membros da Associação que ela integra:

(...) por exemplo, não vai ter respaldo daquela produção de imediato, né? Você não vai usar nenhum tipo de veneno então ela vai demorar mais um pouco, né? Já na agricultura convencional, né? que você usa veneno, algum tipo de inseticida, as coisas... as pessoas, a gente já tem um respaldo bem mas rápido, né? Mas na agroecologia mesmo... aí teve um tempo de um pouco de resistência por esse motivo , né?

Quanto aos métodos de produção, AA3 cita técnicas de produção alternativas e que visam à sustentabilidade local conforme expõe Costa Neto (1999) “(...) pra combater as pragas a gente usa a calda de plantas, a gente usa outros métodos que não tenha veneno... e aí a produção demora, mas, a gente sabe que é de qualidade, né?” (AA3) .

Quanto indagada sobre o uso de produtos químicos, como fertilizantes, a entrevistada AA3 afirmou que o fomento a agroecologia acarretou mudanças, na produção agrícola, com a eliminação de venenos.

É identificado a segurança alimentar quando citado o consumo variado de alimentos de boa qualidade na mesa dos produtores:

Ah, essa é melhor parte porque, por exemplo, tinham muitas hortaliças que eu, particularmente, não conhecia. Eu não conhecia, por exemplo, a beterraba, a rúcula, espinafre, salsinha, o couve e até mesmo o alface, que é mais comum, a gente não tinha o habito de comer, né, essas hortaliças. Até mesmo porque a gente comprava no mercado e no mercado é um custo muito alto. E a gente não ia se incomodar de comprar essas coisas... a gente comprava mais o básico, né? Comida grosseirona mesmo, que a gente fala. E aí a gente não ligava não pra comprar essas coisas. E hoje a gente não precisa nem comprar, a gente tem. E todos os dias a gente tem ali bem fresquinho. A gente vai de manhã na horta aí colhe. A gente sabe que é saudável. E assim... mudou completamente o hábito alimentar da gente. (AA3)

AA3 registra a dificuldade que o grupo tem de comercializar a produção decorrente da restrita consciência da população em torno da importância da produção agroecológica, devido a concorrência com os produtos convencionais e também por serem comercializados no mesmo espaço das feiras convencionais.

(...) os produtos que a gente tem lá que são agroecológicos também tem na feira convencional. E ai, se a gente vende 3 molhos de coentro por 1 real. Lá na feira convencional eles vendem 4 ou 5... E aí eles vendem bem mais que a gente. E assim, ainda tem uma resistência muito grande, né? Do que é a agroecologia, das pessoas aceitarem e conhecer... E aí eu acho que o fato da gente ainda ter problemas na comercialização, né? É devido o não conhecimento das pessoas. (AA3)

Em relação à comercialização, a AACC intermediou o fornecimento a programas do Governo Federal, como o Compra Direta, e inseriu o grupo na Rede de Comercialização Solidária Xique-Xique que é uma rede de articulação voltada para a comercialização solidária. A partir da aproximação com a Rede, foi elaborado um projeto de apoio à participação do grupo em feiras. O projeto contemplou a aquisição de dez barracas, transporte, balanças e caixas plásticas para transporte da produção. A Associação recebeu, para tanto, orientações básicas no quesito comercialização como, por exemplo, padronização de preços. Hoje, comercializa a produção em feira regular e convencional, em espaço paralelo, específico.