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3. Propostas para superar uma avaliação classificatória, seletiva e excludente·

4.3. Procedimentos de análise

4.3.2. Associações livres EVOC

Essa fase se destina à análise das associações livres, realizadas pelos 178 alunos, com a palavra PORTFOLIO. Esse procedimento é entendido como uma técnica para identificar, por meio da freqüência da ordem das palavras evocadas, aquelas que são centrais e periféricas.

Para tal, buscamos respaldo em teóricos que desenvolvem estudos sobre a dimensão cognitiva e estrutural das representações e o seu funcionamento. Destaca-se dentre eles, o Grupo Midi (Abric, Flament, Rouquette, Vergés, Moliner, Guimelli). Segundo Marcondes (2004, p. 117), a abordagem estrutural com utilização de metodologia experimental tem como principal representante o pesquisador Abric, J. C, criador da Teoria do Núcleo Central. Essa autora, nas palavras de Marcondes: “explica a importância de se estudar o conteúdo das representações associado à organização desses conteúdos, que supõe uma hierarquia dos elementos determinada pelo que chama de núcleo central”.

Segundo Abric (2000, p. 32) as representações sociais são orientadas por um duplo sistema, que, em linhas gerais, pode ser sintetizado em sistema central e sistema periférico.

a) O sistema central desempenha um papel mais estável e duradouro nas representações sociais, cuja determinação está ligada às condições históricas, sociológicas e ideológicas.

b) O sistema periférico por ser flexível, possui a propriedade de modificar-se mais facilmente do que o núcleo central. Assim, praticamente assume a função de proteção desse núcleo, na medida em que permite a adaptação a uma dada situação, sem que isso implique a modificação do núcleo central. Desse modo, sua determinação está mais ligada ao contexto imediato e às características individuais.

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conjunto de informações, de crenças, de opiniões e de atitudes a propósito de um dado objeto social”. Esse conjunto de elementos, ao ser organizado, estrutura-se e se constitui num sistema sociocognitivo de tipo específico. Para Abric, toda representação é organizada em torno de um núcleo central, constituindo-se de elementos que ocupam uma posição de destaque nessa estrutura, sendo que a alteração de alguns dos seus elementos acarreta modificações na representação.

Assim, “o núcleo central é determinado, de um lado, pela natureza do objeto representado, de outro, pelo tipo de relações que o grupo mantém com esse objeto e, enfim, pelo sistema de valores e normas sociais que constituem o meio ambiente ideológico do momento do grupo”. (ABRIC, 2000, p. 31).

O núcleo central ou núcleo estruturante de uma representação, segundo Abric (2000, p. 31), assume duas funções fundamentais:

1. Uma função generadora: necessária para que os elementos adquiram um sentido na representação;

2. uma função organizadora: o núcleo é o elemento unificador e estabilizador da representação.

O núcleo central é, nessa perspectiva, o elemento regulador e estabilizador da representação. Sua ausência conduz a uma desorganização e dissolução da representação. Nesse sentido, o núcleo central é definido como todo elemento que desempenha um papel privilegiado na representação, pois os outros elementos dependem dele diretamente para que sejam definidos, para o sujeito, seu peso e seu valor.

Villas Boas L.( 2003, p. 66) sobre o núcleo central, acresce que esse núcleo é:

(...) uma espécie de componente mais permanente das representações sociais, sendo utilizado pelos indivíduos como referencia para orientar suas apreensões e percepções sobre a realidade em que vivem. Assim, para por termo a uma determinada representação social, faz-se necessário promover uma ação direta em seu núcleo, uma vez que ele corresponde à parte mais estável que não se modifica mesmo que a informação recebida o contradiga, já que esta termina por ser interpretada de acordo com o núcleo central.

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desse grupo se organizam em torno do núcleo central e constitui o essencial do conteúdo da representação: seus componentes mais acessíveis e mais concretos. Assim, sustenta que as representações não se manifestam do mesmo modo. Na realidade, os elementos periféricos são esquemas organizados pelo núcleo central.

Abric (2000, p. 320) argumenta que os elementos periféricos possuem três funções básicas. São elas:

1. Função de concretização: permite a formulação da representação em termos concretos e compreensíveis. Funcionam como mediadores entre o núcleo central e a situação concreta.

2. Função de regulação: ao contrário do núcleo central, os elementos periféricos constituem o aspecto móvel e evolutivo da representação. São maleáveis, adaptando a representação às mudanças do contexto. 3. Função de defesa: o núcleo central resiste a mudanças e, para se manter

intacto, o sistema periférico funciona como sistema de defesa da representação. Assim, é, no sistema periférico, que poderão aparecer e ser toleradas contradições.

Esses elementos possuem três características que complementam as funções das representações:

1. Prescritores de comportamentos: primeiramente os esquemas orientam as ações dos sujeitos. Eles indicam o que é normal de se fazer ou de se dizer em uma dada situação, considerando o significado e a finalidade dessa mesma situação.

2. Modulação personalizada: em seguida, elas permitem uma modulação personalizada das representações e das condutas a elas associadas. Mesmo as representações que são organizadas em torno de um núcleo central podem possuir pequenas diferenças, compatíveis com tal núcleo. 3. Proteção: como na função de defesa, acima citada, finalmente os

esquemas periféricos protegem o núcleo central em caso de necessidades. As representações sociais são orientadas por um duplo sistema, o central e o periférico, que permite compreender uma das características básicas das representações, que podem parecer contraditórias, a saber: “simultaneamente, estáveis e móveis, rígidas

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e flexíveis” (ABRIC2000, p. 320)

De acordo com Abric (2000, p. 34), esse duplo sistema, assim pode ser sinteticamente descrito:

a) Sistema central: ligado à memória e à história do grupo; consensual, pois define a homogeneidade do grupo; estável; coerente; rígido; resiste às mudanças; pouco sensível ao contexto imediato; funções - gera o significado da representação e determina sua organização.

b) Sistema periférico: permite a integração de experiências e histórias individuais; tolera a heterogeneidade do grupo; flexível; tolera as contradições; evolutivo; sensível ao contexto imediato; funções – permite a adaptação à realidade concreta e à diferença de conteúdo.

E, assim, recorremos à teoria do núcleo central, como possibilidade de instrumento metodológico para delinear a estrutura das representações sociais dos alunos licenciandos, nesta tese.

Dentre os métodos mais utilizados para o levantamento do conteúdo das representações, apontados por Abric, elegemos a Evocação ou Associação livre.

Sá (2002, p. 115), esclarece que o método de associação ou evocação livre “é uma técnica maior para coletar os elementos constitutivos do conteúdo de uma representação”.

Essa técnica consiste em se pedir aos sujeitos que, a partir de um termo indutor apresentado pelo pesquisador, digam as palavras ou expressões que lhes tenham vindo imediatamente à lembrança.

Para Abric (1994, p. 66), esse método apresenta as seguintes vantagens:

O caráter espontâneo – portanto menos controlado – e a dimensão projetiva dessa produção deveriam, portanto, permitir o acesso, muito mais facilmente e rapidamente do que em uma entrevista, aos elementos que constituem o universo semântico do termo ou do objeto estudado. A associação livre permite a atualização de elementos implícitos ou mascarados nas produções discursivas.

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Dessa forma, imbuídos pelas considerações arroladas, optamos pelo tratamento de dados do programa EVOC – Logiciel EVOC 99, Version 99. – que permite a análise de evocações e é baseado no método Vergés (1992), que combina a freqüência com a ordem de emissão de palavras. Segundo Abric (1994, p. 67) esse programa busca “criar um conjunto de categorias organizadas em torno desses termos, para assim confirmar as indicações sobre seu papel organizador das representações”.

Marcondes (2004, p. 120), a esse respeito, afirma que as idéias centrais que perpassam o método de Vergésé a dos teóricos da abordagem estrutural e como tal:

(...) toda representação está organizada em torno de um núcleo central e também possui um sistema periférico, os quais orientam sua direção e organização e dão sentido aos seus elementos constitutivos. Integram um conjunto organizado com hierarquização e funções específicas. O núcleo central assume um caráter estável e organizador e menos susceptível a mudanças; enquanto o sistema periférico está mais próximo da prática cotidiana, expressa características individuais e permite uma adaptação ao vivido, sendo mais sensível às condições do contexto.