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CAPÍTULO 4 AS OSCS DE BRASIL E ARGENTINA DENTRO DA AÇÃO POLÍTICA

4.1.1 Associações nacionais

As associações nacionais da MESA são compostas de duas ou mais organizações da sociedade civil que atuam com temas afins e estão estabelecidas no mesmo território nacional. Para Miguel Santibáñez (MESA), “o sentido básico de uma associação nacional é representar politicamente, gremialmente, promovendo a aproximação de conhecimentos e uma atuação política de base”, sendo que o vínculo “regional ou global gera um trabalho adicional para as associações nacionais”.

As associações nacionais iniciam os seus trabalhos no nível da comunidade e são vistas frequentemente como muito localizadas para impactar barreiras sistêmicas, como observa Kunreuther (2011). Para o autor, novos formatos de associações que superam os

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limites organizacionais e geográficos podem ser bem-sucedidos em escala mais ampla e nível mais profundo.

A MESA possui 17 associações nacionais em 15 países latino-americanos como demonstra a figura a seguir. Sendo que no Peru e México há mais de uma associação nacional no mesmo território que pertencem à MESA.

Figura 12 – Associações nacionais da MESA na América Latina

Fonte: Elaboração da autora a partir de dados da MESA.

Ana Bourse (CRIES) chama a atenção para o papel das associações nacionais na construção de articulações maiores: “Quem teve muita liderança nos processos da MESA foi a ACCIÓN, a ABONG e a ALOP”. Miguel Santibáñez (MESA) discorre sobre o início da MESA em 2005, onde “duas organizações tiveram um papel de liderança e constituem o primeiro comitê político da MESA, a ALOP e a ABONG, que possuem um papel maior, uma vez que eram as organizações que convocavam as atividades”.

Miguel complementa com um exemplo: “Na Assembleia da ABONG eram convidados os integrantes da MESA. Então, se tinha a possibilidade de participar da Assembleia da ABONG e ter sua própria reunião”. Jorge Durão, ex-diretor da FASE, ex-diretor da ABONG e ex-diretor da ALOP Cone Sul afirma que “na minha gestão na ABONG a gente se

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empenhou bastante na relação com a MESA. É uma iniciativa que a ABONG sempre valorizou”.

Ivo Lesbaupin15 (ABONG) também reforça o papel de associações nacionais do Chile e da Guatemala junto à ABONG no processo de criação da MESA: “A ABONG participa desde o começo da MESA junto com a ACCIÓN do Chile e a ALOP. ACCIÓN do Chile sempre teve um papel muito importante nessa articulação que é a MESA, com o apoio da ALOP muito forte, e da CONGCOOP da Guatemala. A CONGCOOP tem uma presença muito forte em articulações latino-americanas e internacionais”.

De acordo com Lesbaupin, “no Peru, tem 2 ou 3 OSCs mais ativas. Na Argentina, embora falte uma organização mais ampla, eles compensam em articulação e seguem avançando. O caso da Argentina é muito forte nesse sentido”.

Não existe uma associação nacional em sentido formal, e sim uma rede, a Red Encuentro, que faz o papel de associação nacional. Assim, o formato é diferente de outros países que compõem a MESA. Embora não haja uma organização formal e ampla como uma associação nacional, as OSCs que compõem a Red Encuentro seguem se articulando.

Ivo Lesbaupin (ABONG) segue discorrendo sobre o caso argentino: “no período que eu participei da MESA, variou um pouco os representantes da Argentina. E como lá não tinha uma ABONG ou uma ACCIÓN, era sempre uma rede um pouco maior que articulava mais”. Ainda segundo ele, “recentemente, era a Red Encuentro que fazia esse papel e representava a argentina mais na MESA. O Alberto Croce, que está à frente da Red Encuentro, representa a Argentina na LATINDADD e na AOED”.

Adrián Falco16 (Fundación SES) esclarece que “a Fundación SES preside a Red Encuentro. É uma rede muito velha, é do final da década de 1970, que tem muitas organizações. É bastante representativa, mas não está muito ativa”. Adrián também enfatiza: “Existe a presidência, em que se mobilizam temas e agendas, mas custa muito alcançar a participação ativa das OSCs, que é um problema de todas as redes”.

Alberto Croce, diretor da Red Encuentro, discorre sobre o processo de criação da MESA e a participação de OSCs nacionais que compunham a ALOP e também fazem parte da sua organização: “A Red Encuentro está desde o começo na MESA. A base da Red Encuentro são organizações ligadas à ALOP. Em todos os países tinham organizações que faziam parte da ALOP”. Ele complementa:

15 Entrevista concedida em agosto de 2016. 16 Entrevista concedida em junho de 2016.

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E a ALOP em um momento propõe a criação da MESA. Então, a MESA começa a existir ao mesmo tempo que as organizações que faziam parte da ALOP também faziam parte da Red Encuentro. Isso foi no início. A Red Encuentro tinha mais organizações que pertenciam à ALOP. Na atualidade, são três [FUNDAPAZ, INDES e SEHAS] que fazem parte da ALOP. Creio que assim foi a origem, praticamente se iniciou com a participação dessas organizações.

O mesmo aconteceu no caso brasileiro: as OSCs que compõem a ALOP, em sua maioria, também participam da ABONG. Ivo Lesbaupin (ABONG) discorre sobre a diversidade da capacidade organizacional das associações nacionais que compõem a MESA:

As organizações pertencentes da MESA são muito variadas em termos de capacidade organizacional. Tem a ABONG, a ACCIÓN, associações nacionais muito bem articuladas, com uma institucionalidade maior e uma estrutura mais bem definida com recursos.

Lesbaupin ainda complementa sobre o caso argentino: “E tem outros países que tem organizações mais frouxas como a Argentina, mas que mesmo não havendo uma associação nacional, tem um trabalho regulado pelas OSCs”.

Sobre a participação da Red Encuentro, rede que assume papel de associação nacional argentina, Alberto Croce explica: “A Red Encuentro foi uma das fundadoras da MESA e sempre teve uma presença, mas não foi uma das redes mais fortes dentro da MESA. Era apenas uma rede que integrava e aportava dentro do possível, não tem sido uma das que lideraram os processos da MESA”.

Para Ana Bourse, diretora da CRIES, organização argentina que não faz mais parte da MESA completa: “também existem OSCs nacionais que preferem impactar em outros níveis. A globalização permite que micro-organizações de um determinado lugar tenham muito impacto e grandes organizações não tenham nenhum”. A seguir, a figura 13 expressa as palavras mais frequentes nos relatos dos entrevistados ao tratarem das associações nacionais da MESA:

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Figura 13- Mapa de palavras sobre as “associações nacionais”

Fonte: Elaborado pela autora, com o uso de Nvivo 11 Plus.

As palavras mais utilizadas ao discorrerem sobre as associações nacionais delineia o sentido que esse tipo de organização assume no contexto nacional. São “coalizões”, em alguns casos “temáticas” e construídas pelo “consenso”. Nos casos argentino e brasileiro estão em busca de uma “atuação” “internacional” e “regional”.