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Aterros na região de Trás-os-Montes e Alto Douro

Capítulo 4 – Aproveitamento energético na região de Trás-os-Montes e Alto Douro

4.1. Energia proveniente dos Resíduos

4.1.1. Aterros na região de Trás-os-Montes e Alto Douro

Aterro Sanitário é, por definição, uma instalação preparada para a deposição de

resíduos sólidos urbanos, baseado em critérios de engenharia e normas operacionais específicas, que permite um confinamento seguro em termos de controlo de poluição ambiental e protecção da saúde pública. Estas instalações, quando preparadas, permitem a recolha de biogás e o seu aproveitamento para a produção de energia. (Resíduos do Nordeste, 2013)

No que diz respeito ao aproveitamento de energia dos aterros sanitários em

Portugal, com a aprovação do Plano Estratégico Sectorial de Gestão dos Resíduos

Sólidos Urbanos (PERSU) em Novembro de 1997, foi pela primeira vez estabelecido no nosso país, um conjunto de instrumentos que permitiram implementar uma política de gestão específica para os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU).

Uma das primeiras medidas consistiu no encerramento, nos finais dos anos noventa, de todos os locais de deposição ilegal de resíduos, vulgo lixeiras, de modo a evitar que os resíduos fossem deixados ao abandono, despejados ou eliminados sem qualquer tipo de controlo. Em substituição foram construídos aterros sanitários, os quais na grande maioria foram concebidos à luz da Directiva 1999/31/CE do Conselho, de 26 de Abril de 1999, relativa à deposição de resíduos em aterro, cuja transposição para o ordenamento jurídico interno ocorreu em 23 de Maio de 2002, com a publicação do Decreto-Lei n.º 152/2002. Para o efeito foram criados os designados Sistemas Multimunicipais e Intermunicipais que passaram a ser responsáveis pela recolha, valorização e tratamento de RSU, assegurando assim mais eficazmente a protecção do ambiente e da saúde humana, em consonância com os princípios gerais de gestão de resíduos. (Simplício, Bruno, 2008)

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Em 2011, existiam em Portugal Continental 23 sistemas de gestão de RU, 12 multimunicipais e 11 intermunicipais distribuídos no País conforme se demonstra na Figura 18. Assim, verifica-se uma acentuada discrepância entre os diversos sistemas, no que respeita ao número de municípios que integra, área e população abrangida e também nas condições socioeconómicas, o que se reflecte em muitos casos nas opções adoptadas em termos de recolha e tratamento dos seus RU e também a rede de equipamentos e infra-estruturas de gestão de resíduos e fluxos de resíduos. Da análise da Figura 18 é de salientar a concentração de infra-estruturas no litoral, preferencialmente Norte, situação que reflecte a baixa densidade populacional da restante área do País, e as grandes distâncias percorridas nestes concelhos. (Agência Portuguesa do Ambiente, 2013)

Figura 18 – Sistemas de Gestão de RU em Portugal Continental. (Fonte: Agência Portuguesa do Ambiente, 2013)

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Por outro lado, e segundo a Direcção Geral de Geologia e Energia, a potência

total instalada em resíduos sólidos urbanos em Portugal, entre os anos de 2005 e

2013, manteve-se constante, situando-se nos 88 MW. Esta situação deve-se ao facto de não se ter registado a instalação de novas centrais de aproveitamento energético dos resíduos existentes nos aterros sanitários, apesar do potencial existente. (DGEG, 2013)

No que diz respeito a metas para o futuro no campo dos resíduos sólidos

urbanos, e segundo a Resolução do Conselho de Ministros n.º 20/2013, não estão

claramente definidos valores previstos para a potência instalada em Portugal entre 2014 e 2020 em resíduos sólidos urbanos, contudo devido ao potencial existente e por explorar, é expectável que a potência instalada terá tendência para aumentar.

Por outro lado, quanto ao aproveito dos resíduos sólidos urbanos na região de

Trás‐os‐Montes e Alto Douro para a produção de energia, começamos por analisar o

único aterro sanitário da região no qual existe aproveitamento dos resíduos depositados para a produção de energia, Aterro Sanitário de Urjais, sendo que esta infra-estrutura está destinada à deposição de resíduos não perigosos, entrou em funcionamento em 27 de Setembro de 1997 e a sua vida útil está estimada até 2017, sendo visível na Figura 19.

Figura 19 – Aterro sanitário de Urjais. (Fonte: Resíduos do Nordeste, 2013,

http://www.residuosdonordeste.pt/aterroSanitario/, Consultado em 2013-10-02;)

Inicialmente previsto para receber os resíduos sólidos urbanos dos concelhos que integram a Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana (que inclui os municípios Alfândega da Fé, Carrazeda de Ansiães, Mirandela, Vila Flor e Macedo de Cavaleiros), foi alargado aos Municípios do Douro Superior (que inclui os municípios Freixo de Espada à Cinta, Mogadouro, Torre de Moncorvo e Vila Nova de Foz Côa) em

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Outubro de 1998, e da Terra Fria do Nordeste Transmontano (que inclui os municípios Bragança, Miranda do Douro, Vimioso e Vinhais) em Dezembro do mesmo ano.

Desde a sua entrada em funcionamento até Dezembro de 2012 foram depositadas no aterro sanitário mais de 711877 ton de resíduos sólidos urbanos, provenientes das deposições dos Municípios e de particulares.

Para uma análise mais detalhada em relação aos últimos anos, apresenta-se na Figura 20 a quantidade de resíduos depositados, em toneladas, entre os anos de 2008 e 2012.

Figura 20 – Quantidade de resíduos depositados, em toneladas, entre os anos de 2008 e 2012.

(Fonte: Resíduos do Nordeste, 2013,

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No que diz respeito à caracterização dos resíduos sólidos urbanos depositados entre 2008 e 2012, apresenta-se na Figura 21 a distribuição por tipo de resíduos.

Figura 21 – Caracterização dos resíduos sólidos urbanos depositados durante o ano de 2012.

(Fonte: Resíduos do Nordeste, 2013, http://www.residuosdonordeste.pt/aterroSanitario/, Consultado em 2013-10-02;)

Pela análise da Figura 21 podemos constatar que os resíduos sólidos urbanos com maior representatividade são os bio-resíduos, papel/cartão, resíduos finos, plástico e têxteis. Quanto aos resíduos fermentáveis estes apresentam um valor extremamente elevado, cerca de 57 ton, em 2008, sendo nos anos seguintes o seu valor aproximadamente 0 ton. Os resíduos menos representativos e cujo valor ronda as 0 ton, são os resíduos perigosos, resíduos verdes, resíduos volumosos e têxteis sanitários.

Por sua vez, na Figura 22 está presente a quantidade de resíduos depositados por cliente, em toneladas, no ano de 2012.

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Figura 22 – Quantidade de resíduos depositados, por cliente e em toneladas, no ano

de 2012.

(Fonte: Resíduos do Nordeste, 2013,

http://www.residuosdonordeste.pt/aterroSanitario/, Consultado em 2013-10-02;)

Pela análise da Figura 22 podemos constatar que o cliente que depositou mais resíduos foi a AMTFNT (Associação de Municípios da Terra Fria do Nordestre Transmontano) com, aproximadamente, 22000 ton, seguido da AMTQT (Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana) com, aproximadamente, 20000 ton, em terceiro lugar surge a AMDS (Associação de Municípios do Douro Superior) com, aproximadamente, 10000 ton e por último surgem os particulares com um total de, aproximadamente, 1000 ton depositadas que diz respeito a certos particulares que depositaram com meios próprios os seus resíduos no aterro.

Por outro lado, no que diz respeito à monitorização, o aterro sanitário encontra- se sujeito, por imposição da Licença Ambiental n.º66/2008 e do Decreto-Lei nº 183/2009, de 10 de Agosto, relativo à deposição de resíduos em aterro, à implementação de sistemas de monitorização dos vários parâmetros susceptíveis de causar danos no ambiente, nomeadamente nas fases de exploração e pós-encerramento.

Interessa, também, destacar que como resultado do confinamento dos resíduos num aterro sanitário, existe a produção de biogás e de águas lixiviantes.

Começando por analisar as águas lixiviantes, estas são entendidas como um dos problemas dos aterros sanitários pois são águas que circulam entre os resíduos podendo

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contrair uma elevada carga de poluentes, que são perigosos para a saúde pública e para o meio ambiente.

Estas águas são provenientes essencialmente da chuva e são muito contaminadas por vários poluentes orgânicos e não orgânicos, sendo assim muito agressivas para o meio ambiente, especialmente nos primeiros anos de exploração, quando têm maiores concentrações de poluentes. Assim devem ser encarados como um problema ambiental de extrema importância, sendo o seu tratamento necessário.

O local no qual fazem o tratamento destas águas designa-se de Estação de Tratamento de Águas Lixiviantes (ETAL), sendo este o local para onde são conduzidas todas as águas lixiviantes produzidas e onde são tratadas antes de serem descarregadas nos colectores municipais ou em meio hídrico. Assim sendo, na base do aterro é instalada uma rede de drenagem destas águas, de modo a serem conduzidas e tratadas numa ETAL.

O aterro sanitário de Urjais está, também, equipado com uma Estação de Tratamento de Águas Lixiviantes, Figura 23, para o adequado tratamento de lixiviantes.

Figura 23 – Estação de Tratamento de Águas Lixiviantes. (Fonte: Resíduos do Nordeste, 2013,

http://www.residuosdonordeste.pt/aterroSanitario/, Consultado em 2013-10-02;)

Por outro lado, no aterro sanitário de Urjais, existe a produção de Biogás. O Biogás é um gás combustível constituído, em média, por 60% de Metano (CH4) e 40% de dióxido de carbono (CO2), que é obtido pela degradação biológica anaeróbia dos resíduos orgânicos. Para além do metano e do dióxido de carbono nesta mistura gasosa, podem ainda encontrar-se outro tipo de gases como o Oxigénio (O2), Ácido Sulfídrico (H2S), Hidrogénio (H2) entre outros. O metano, sendo mais leve que o ar, tende a escapar-se ascensionalmente por difusão através da massa de resíduos.

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Convém destacar que os gases produzidos estão presentes em concentrações variáveis no decurso da vida do aterro e dependentes da idade destes bem como da natureza dos resíduos depositados.

No que diz respeito à drenagem do biogás esta é feita por poços para evacuação, sendo que estes vão sendo construídos à medida que sobem as cotas do aterro e se alarga a área de deposição.

Quanto à monitorização do biogás de um aterro esta passa pelo controlo das concentrações dos gases produzidos, devido à decomposição dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) e ao seu grau de compactação. Assim, são analisadas as percentagens dos parâmetros, dióxido de carbono, metano e oxigénio nas chaminés existentes no aterro.

Assim sendo e neste caso específico, o biogás produzido no aterro é encaminhado para a Central de Valorização Energética de Biogás do Aterro Sanitário de Urjais, visível na Figura 24, que o transforma em energia eléctrica para posterior venda.

Figura 24 – Central de Valorização Energética de Biogás do Aterro Sanitário de Urjais.

(Fonte: Resíduos do Nordeste, 2013,

http://www.residuosdonordeste.pt/aterroSanitario/, Consultado em 2013-10-02;)

A Central de Valorização Energética (CVE) de Biogás tem como objectivo principal a recuperação da energia produzida a partir dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) depositados no Aterro Sanitário de Urjais evitando, ao mesmo tempo, a libertação dos gases para a atmosfera.

Na Figura 25 apresenta-se representado o grupo gerador da central que é responsável pela recuperação energética, sendo composto essencialmente por três elementos: queimador, motor e gerador.

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Figura 25 – Grupo Gerador da Central de Valorização Energética de Biogás do Aterro Sanitário de Urjais. (Fonte: Resíduos do Nordeste, 2012)

Esta central representa um investimento de, aproximadamente, 1150000 €, apresenta uma potência de 716 kW e uma produção média anual de energia de 4500

MWh, que representa energia equivalente ao consumo médio de 1500 habitações por

ano.

Assim, o facto da deposição de resíduos gerar espontaneamente gás com elevado teor de CH4 e de poder calorífico inferior a rondar os 5 kWh/Nm³ permite equacionar soluções de valorização energética para o mesmo, de forma a minimizar custos operacionais e gerar proveitos suplementares através da venda de energia eléctrica à rede pública.

De Maio de 2009 a Dezembro de 2012 a CVE de Urjais produziu um total de 9886295 KWh de energia, o equivalente ao consumo mensal de 1000 habitações, permitindo reduzir em 4244,88 ton nas emissões de dióxido de carbono (CO2), o equivalente a plantar 24577 árvores. (Resíduos do Nordeste, 2013)

Por outro lado, e para lá do Aterro Sanitário de Urjais que é pertencente ao sistema multimunicipal Resíduos do Nordeste, existem outros aterros na região de Trás- os-Montes e Alto Douro que são pertencentes a um sistema multimunicipal de triagem, recolha, valorização e tratamento de resíduos sólidos urbanos do Norte Central denominado de RESINORTE.

Assim sendo, pertencem a este sistema multimunicipal o Aterro Sanitário de Lamego (Bigorne), o Aterro Sanitário de Boticas, Aterro Sanitário de Vila Real e ainda o Aterro Sanitário de Celorico de Bastos, contudo nestes aterros não existe a recolha do

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biogás produzido pelos resíduos, logo não existe a valorização energética dos resíduos neles depositados.

Por outro lado, no que diz respeito ao potencial do aproveito dos resíduos

sólidos urbanos na região de Trás‐os‐Montes e Alto Douro para a produção de energia, sabemos que a potência instalada no Aterro Sanitário de Urjais, único aterro

sanitário com valorização energética dos seus resíduos, é de 0,716 MW, sendo que este aterro sanitário recebe uma média de, aproximadamente, 61000 ton/ano de resíduos, de acordo com o Relatório Anual de Resíduos Urbanos da Agencia Portuguesa do Ambiente de Março de 2013.

Como tal, e de acordo com o mesmo relatório, os aterros sanitários do sistema multimunicipal RESINORTE recebem uma média de, aproximadamente, 366000

ton/ano de resíduos, o que permite estimar que caso seja feito o aproveitamento do

biogás dos resíduos neles depositados, poder-se-á considerar nestes a potência estimada de 4,296 MW.

Assim sendo, poderemos considerar a potência total estimada dos aterros

sanitários da região de Trás‐os‐Montes e Alto Douro como sendo 5,012 MW, o que

representa um valor 7 vezes superior à potência actualmente instalada nos aterros sanitários da região. Por outro lado, o valor estimado do potencial da região corresponde a 5,69 % da potência nacional instalada, sendo assim claramente evidente que existe um alto potencial da região para a exploração deste recurso.