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CAPÍTULO II  Os professores e a integração das TIC

2.4.  Atitude face às TIC 

Ao nível dos obstáculos materiais de integração das TIC e da formação dos professores na  área,  como  referido  têm  sido  desenvolvidas  medidas  para  as  reduzir  e,  futuramente,  algumas  dessas barreiras poderão vir ser ultrapassadas. Contudo, como vimos no ponto 2.1, a integração  eficaz  passa  pela  utilização  continuada  em  contexto  de  sala  de  aula,  com  adopção  de  metodologias centradas no aluno e na aprendizagem, remetendo‐nos para a atitude do professor  perante as dificuldades ou facilidades que a integração da tecnologia acarreta.  

Quando os docentes têm vontade de aprender a utilizar e explorar os meios tecnológicos  ao  serviço  das  suas  práticas  pedagógicas,  a  primeira  atitude  importante  face  às  TIC  que  destacamos  é  a  consciência  da  pluralidade  de  competências  necessárias  para  o  seu  uso  com  alunos,  sejam  elas  técnicas  ou  didácticas  (Peralta  e  Costa,  2007).  De  facto,  como  vimos  anteriormente no Quadro 1, a tecnologia é apenas uma ferramenta, um meio para atingir um fim.  A  esta  tomada  de  consciência  juntar‐se‐á  a  confiança  de  cada  profissional,  que  pode  ser  ganha  lentamente, trabalhando e praticando com o computador e usufruindo do apoio de colegas mais  experientes  e  de  treino  (idem).  Assim,  os  professores  que  mais  confiança  têm  na  utilização  dos  computadores  deverão  ser  os  mais  eficazes  nessa  mesma  utilização  (idem),  e  aqueles  que  mais  facilmente se predispõem a aprender, serão os que mais arriscam no uso das tecnologias (Bigatel,  2004). Este efeito “bola de neve” pode conduzir a uma utilização maior e cada vez melhor, numa  progressão ascendente.  

Para ilustrar este tipo de progressão, Raby (2004), a partir da análise exaustiva a escalas  de  integração  das  TIC  definidas  por  vários  autores,  construiu  um  modelo  síntese  (figura  5)  para  ilustrar as diferentes etapas de integração das TIC onde os professores se poderão situar. Não o  iremos  descrever  em  pormenor,  mas  destacaremos  o  que  nos  parece  fundamental  para  o  seu  entendimento.  

Podemos  ver  que  o  modelo  mostra  um  processo  com  algumas  características  ascendentes,  da  não  utilização  até  à  utilização  exemplar  das  TIC,  dividindo‐se  em  quatro  fases:  sensibilização,  utilização  pessoal,  utilização  profissional  e  utilização  pedagógica.  Inicialmente,  o  professor  está  em  contacto  indirecto  com  as  TIC  devido  ao  ambiente  pessoal  ou  profissional,  numa fase de sensibilização. Porque as fases seguintes poderão sobrepor‐se e permutar entre si,  o esquema prevê essa ligação e o professor pode situar‐se em  qualquer delas de acordo com a  sua  motivação/obrigação.  Por  exemplo,  se  for  impelido/obrigado  a  utilizar  as  TIC  no  ambiente  profissional, só depois irá situar‐se na utilização pessoal e/ou utilização pedagógica. 

 

Figura 5 – “Modelo síntese do processo de integração das TIC” (Raby, 2004, tradução livre, p. 36)  .  

Em  todas  as  fases  podemos  identificar  a  etapa  da  familiarização,  correspondendo  a  um  primeiro momento da entrada na fase respectiva, que tanto pode ser motivada por curiosidade,  necessidade  ou  obrigação.  Contudo,  o  picotado  do  esquema  assinala  o  facto  de  esta  familiarização  com  a  utilização  das  TIC  poder  ou  não  acontecer  naquele  momento,  sobretudo 

quando  falamos  da  entrada  directa  para  a  fase  de  utilização  pedagógica.  Nesta  situação  as  interrogações do professor poderão ser grandes, visto não ter experienciado as etapas relativas às  fases  anteriores.  Questionar‐se‐á,  por  exemplo,  sobre  a  utilização  das  TIC  naquele  momento,  tendo  necessidade  de  conjugar  diversas  variantes,  como  o  tempo,  a  aprendizagem  e  a  insegurança.  

Na fase de utilização pedagógica o professor promove o uso das TIC na sala de aula pelos  alunos,  e  as  etapas  desta  fase  poderão  suceder  em  diferentes  momentos,  consoante  a  necessidade  do  docente.  Mesmo  que  o  professor  já  tenha  alcançado  a  etapa  da  apropriação,  pode usar os fundamentos da etapa da exploração se tal for mais benéfico para a aprendizagem  dos alunos. Por outro lado, um professor que se situe na etapa da infusão, poderá não alcançar a  apropriação  se  não  o  desejar  ou  sentir  necessidade.  Na  etapa  de  familiarização  desta  fase  de  utilização  pedagógica,  os  alunos  são  recompensados  ou  ocupados  com  actividades  lúdicas,  com  pouco  valor  educativo,  podendo  haver  muito  questionamento  do  professor  em  relação  à  tecnologia, conforme vimos anteriormente. Na etapa de exploração, as TIC são potenciadoras da  envolvência dos alunos em actividades que pretendam a aquisição, compreensão e aplicação de  conhecimentos transmitidos pelo professor. De algum modo, esta etapa associa‐se aos métodos  de ensino tradicionais, já que os professores com práticas construtivistas não se instalam nem se  identificam com ela, passando rapidamente à fase da infusão ou apropriação. Nesta nova fase, a  utilização das TIC é cada vez mais frequente, mas ainda com forte orientação do professor.  

Por  último,  a  apropriação  caracteriza‐se  pela  utilização  sistemática,  conjugando  actividades  de  transmissão  e  construção  de  conhecimentos  pelos  alunos.  Deste  modo,  as  competências que aqui se desenvolvem são disciplinares e transversais, ao contrário das etapas  anteriores em que apenas se desenvolviam competências transversais ligadas às TIC.  

Para complementar a esquematização de Raby (2004) associamos o que refere Eng (2005)  sobre as várias etapas de utilização das TIC na escola e o modo como os professores se adaptam a  novas possibilidades de trabalho. Numa fase emergente,  começa a aquisição  de equipamento  e  software,  dando‐se  a  exploração  das  TIC  na  escola  por  parte  de  professores  e  responsáveis  directivos. Na fase seguinte, a da aplicação, as TIC são usadas para substituir tarefas já existentes.  Na  fase  de  infusão,  nas  escolas  com  muito  material  já  adquirido,  os  professores  começam  a  explorar novas formas de utilização das TIC para a sua prática profissional e pessoal. Finalmente, a  última fase é aquela em que as TIC se tornam parte integrante do sistema educativo da escola.  Nesta altura, o impacto das TIC será largamente sentido, já que abrangerá todo o sistema escolar,  alterando  as  metodologias  de  ensino  e  o  processo  de  aprendizagem.  Podemos  verificar  que 

ambos os autores culminam com uma integração das TIC que afecta as metodologias e atitudes  de  alunos  e  professores,  e  estabelecem  uma  progressão  ascendente  visando  uma  utilização  contínua das tecnologias.  

O professor que alcança a fase de integração das TIC, quer de Raby (2004), quer de Eng  (2005), será aquele que estabelece extensos contactos com outros colegas e especialistas na área  das  TIC  para  se  desenvolver  profissionalmente.  Será  também  o  que  experimenta  e  acredita  nas  vantagens  do  uso  das  TIC,  o  que  centra  a  sua  metodologia  no  aluno,  e  aquele  que  demonstra  competências para levar a cabo a sua abordagem pedagógica (Drent & Meelissen, 2008). 

Apesar do destaque dado à atitude do professor, não podemos esquecer que a integração  depende  de  diversos  factores:  contextuais,  institucionais,  sociais,  pedagógicos,  pessoais  (Raby,  2004). Assim, tendencialmente, não acontecerá de forma individual e isolada, e embora dependa  em  grande  medida  da  capacidade  de  cada  docente,  será  o  trabalho  em  colaboração  que  potenciará melhores resultados na integração, conforme iremos ver no ponto seguinte.