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A atividade física proporciona um amplo leque de benefícios para a saúde, incluindo redução no risco para doenças e melhora na capacidade funcional. As doenças cardíacas coronárias foram as primeiras condições estudadas em relação à redução de incidência com a prática de atividades físicas (Morris, 1953; Fox e Skinner 1964; Paffenbarger et. al., 1978; Leon et al., 1987).

Os benefícios biológicos decorrentes da prática de atividade física apresentam um efeito dose-resposta, ou seja, a sobrecarga imposta ao organismo com a atividade física provoca adaptações de órgãos e sistemas de diferentes modos dependendo da intensidade, frequência e duração do estímulo (Powell et. al. 2010).

A literatura sustenta a hipótese de que a manutenção de uma prática regular de atividade física, desde a infância, e que continua na fase adulta, permitirá que as pessoas mantenham um perfil propício a menores taxas de morbidade e mortalidade mais tarde na vida (Janssen, 2007; Phys. Act. Guidel. Advis. Comm. 2008; Janssen, 2009).

O estudo de Tavares et. al. (2013), realizado com pessoas com doença cardíaca durante três meses, os dividiu em dois grupos, o primeiro grupo foi submetido ao tratamento convencional e recebeu indicação para praticar atividade física. O segundo grupo foi submetido a um programa de exercícios supervisionados durante esse período. Os resultados mostraram que o grupo que realizou atividades físicas supervisionadas, obteve resultados estatisticamente significativos mostrando que a atividade física pelo menos moderada, melhora a qualidade de vida em doentes cardíacos.

Estudo transversal realizado na Bahia com 522 pessoas de idade igual ou maior do que 18 anos, objetivou analisar o padrão de atividade física nos domínios de deslocamento, ocupacional, doméstico e de lazer e comparar coma ausência de diabetes. De acordo com os resultados da pesquisa, a caminhada não foi considerada eficiente para a ausência de diabetes, por outro lado, o acúmulo de 185 minutos semanais de atividade física moderada no domínio de lazer e também acumulados nos diferentes domínios apresentaram boa possibilidade para a ausência do diabetes (Pitanga et. al. 2010).

Estudo meta-analítico, com o objetivo de quantificar os resultados dos efeitos da atividade física na depressão e ansiedade, depois de analisados 92 estudos sobre os efeitos da atividade física na depressão e 306 estudos para os efeitos da atividade física na ansiedade, concluiu que os resultados são suficientes para comprovar os efeitos benéficos da atividade física tanto na depressão quanto na ansiedade (Rebar et al 2015).

A inatividade física tem sido reconhecida cada vez mais por ampliar o risco de mortalidade (WHO, 2004; BRASIL, 2014). Muitos estudos têm mostrado que a

atividade física está relacionada com maiores taxas de sobrevida, mas a maioria dos estudos trata da atividade física no tempo livre (Chen et. al. 2012; Gómez et al 2014).

Um dos primeiros estudos de coorte a ser desenvolvido relacionando atividade física e doença arterial coronariana, foi realizado em Londres, quando foram comparados carteiros e trabalhadores de escritório do serviço postal, bem como motoristas e cobradores nos ônibus de dois andares em Londres. Os investigadores observaram que atividades no domínio ocupacional com maior gasto energético, estavam associadas com menores taxas de morte por doenças cardíacas coronarianas (Morris, 1953).

Outra pesquisa também em Londres examinou todas as causas de mortalidade em 3.591 homens, executivos civis, que foram classificados em participantes e não participantes em atividades físicas vigorosas. Eles foram acompanhados de 1968 até 1977. 77% dos homens que reportaram não praticar exercícios vigorosos apresentaram taxa de mortalidade de 8,4 por 100, enquanto os 22% que reportaram praticar exercícios vigorosos, apresentaram taxa de mortalidade de 4,2 por 100 (Chaves et. al. 1978).

Pesquisadores realizaram um estudo de coorte retrospectivo e prospectivo, acompanhando 10.269 homens de 1977 até 1985. Estes homens tinham respondido ao questionário sobre participação em atividades físicas em 1966 e 1977. As taxas de mortalidade foram 74,0 por 10.000 homens-ano, nos que ficaram classificados como índice de atividade física menor que 500 kcal/semana, contra 38,6 por 10.000 homens-ano, risco relativo de 0,52, naqueles que apresentaram índice de atividade física maior que 3.500 kcal/semana. Esses mesmos pesquisadores observaram que homens ao mudarem o comportamento, de estilo de vida sedentário para participação em atividades esportivas de intensidade moderada para forte, apresentam risco relativo de morte reduzido em 42% (Paffenbarger, 1993).

Gómez et. al. (2014) em estudo transversal revelaram que em mulheres, a relação dose-resposta entre tempo gasto com atividades físicas domésticas e mortalidade, após análise feita por regressão linear, com o objetivo de analisar a associação do nível de atividade física em diferentes domínios com a saúde mental, a relação foi inversa, ou seja, mulheres que dedicam de 2 a 4 horas diárias com atividades domésticas têm o risco de mortalidade em 0,52. Isto comparando com as

que realizam menos de 2 horas diárias de atividade física doméstica, cujo risco sobe para 0,72.

Estudo prospectivo de base populacional realizado por Chen et. al. (2012) em Taiwan, analisando a prática de atividade física nos domínios de lazer, ocupacional e doméstica e mortalidade, encontrou aumento na mortalidade por todas as causas para o grupo com baixo nível de atividade doméstica, assim como um aumento na mortalidade por todas as causas no grupo que apresentou menor atividade física laboral em ambos os sexos. O grupo que apresentou baixa atividade no lazer mostrou também maiores taxas de mortalidade.

Os transtornos mentais atingem cerca de 450 milhões de pessoas ao redor do mundo, associados aos fatores genéticos e fatores comportamentais (Rodrigues- Neto et. al., 2008)

Os transtornos mentais comuns (TMC) constituem sintomas de depressão, ansiedade, queixas de irritabilidade, cansaço, esquecimento, falta de concentração, sono ruim, dores de cabeça e outros que sobrecarregam de forma importante a saúde física, emocional e mental das pessoas. Os TMC englobam não só os transtornos depressivos ansiosos, como também o sofrimento emocional sem causa específica. Esses sofrimentos emocionais podem estar relacionados a eventos de vida produtores de estresse e são mais frequentes nas mulheres, nos mais velhos, nos negros e nos separados e viúvos (Lopes et. al. 2003; Costa e Laudemir, 2005; Pinho e Araújo, 2012).

Há no Brasil uma diversidade de fatores contribuindo para que se elevem os eventos de vida estressantes e de transtornos mentais na população, como a falta de moradia adequada, má distribuição de renda, desemprego a altas taxas de criminalidade (Costa et. al., 2002). Os TMC também trazem algumas consequências, como a incapacitação, absenteísmo, queda de produtividade e aumenta de procura por serviços de saúde. No âmbito da atenção básica, os TMC atingem prevalência de 40% da população atendida (Lopes et. al., 2003).

Estudo de Costa e Laudemir (2005), analisando a associação entre transtorno mental comum e apoio social na zona da mata pernambucana verificou que os TMC possui prevalência próxima à encontrada na zona urbana de Olinda, encontrada em estudo de Laudemir e Melo-filho (2002), e isso leva a uma reflexão de que a vida na zona rural não é tão saudável quando estão presentes fatores como pobreza, falta de trabalho, baixa escolaridade entre outros.

A depressão pode ser definida como um transtorno de humor grave, com prejuízos à função mental e também distorção de como o indivíduo vivencia e entende a realidade (Barbosa et. al. 2016). A depressão é diagnosticada com a presença de cinco ou mais sintomas, com frequência diária ou quase todos os dias, entre eles: humor deprimido, ganho ou perda significativo de peso, agitação ou retardo psicomotor, sentimento de inutilidade ou culpa excessiva, capacidade diminuída de concentração, pensamentos recorrentes de morte, entre outros (American Psychiatric Association; 2013).

Alguns estudos apontam que a prática regular de atividade física está associada com melhor saúde mental (Krogh et. al. 2010; Mota et. al. 2011; Josefsson et. al. 2014). Estudo clínico de Siqueira et. al. (2016) realizado para comparar doses de tratamentos antidepressivos convencionais combinados com exercícios aeróbicos constatou que a gravidade da depressão diminuiu bastante nos dois grupos estudados, porém, naquele grupo que realizava as atividades aeróbias, as doses de medicamento passaram a ser menores.

Outro estudo randomizado multicêntrico de Blumenthal et. al. (2012) envolvendo 2322 pacientes tratados por insuficiência cardíaca, os pacientes foram incluídos em um programa de 12 meses de exercício aeróbico supervisionado ou tratamento habitual para depressão (sem o exercício programado). Em comparação com o cuidado usual, o exercício aeróbico resultou em uma modesta, mas estatisticamente significativa redução nos escores médios de depressão.

Em estudo de eficácia, Dunn et. al. (2005) relacionaram dose-resposta em 80 adultos com idades entre 20 e 45 anos com depressão leve a moderada. Os participantes foram distribuídos aleatoriamente para um grupo de tratamento através de atividade física supervisionada com duração de 12 semanas ou em uma condição de controle. Os resultados mostraram que o exercício, por si só, em quantidades de acordo com as recomendações de saúde pública, é eficiente no tratamento da depressão.

Fortes evidências sobre os benefícios da atividade física na depressão parecem vir de ensaios clínicos randomizados. O estudo de Dunn et. al.(2005) evidenciaram mudanças na gravidade da depressão, avaliando antes e depois de uma intervenção com atividade física prescrita. Estudos de meta-análise têm analisado os efeitos antidepressivos da atividade física em adultos saudáveis (Conn, 2010), cronicamente doentes (Herring et. al., 2012), e pacientes com transtornos

depressivos (Cooney et. al., 2013). Esses três recentes estudos concluíram que o exercício é moderadamente mais eficaz do que outras intervenções de controle para reduzir os sintomas de depressão (Cooney et. al., 2013; Rimer et. al. 2012).

Meta-análises tem demonstrado uma associação entre inatividade física e pior saúde mental (Teychenne et. al. 2010, Vallance et. al. 2011). Teychenne et. al. (2010) relataram que um comportamento sedentário foi positivamente associado com início de depressão. Outra pesquisa relatou resultados semelhantes sobre os efeitos do tempo de sedentarismo e atividade física na saúde mental (Zhai et. al. 2015).

Estudos transversais também têm apresentado que a prática de atividades físicas está associada a menor prevalência de quadros de depressão (Strohle, 2009), e as evidências também indicam que a intensidade da atividade pode ser um fator importante na saúde mental, ou seja, atividades de intensidade elevada proporcionam maiores resultados no que diz respeito a uma boa saúde mental (Richards et. al., 2015).

Ao longo dos últimos anos, a prática regular de atividade física tem sido reconhecida como uma alternativa não medicamentosa ao tratamento e à prevenção de doenças crônico-degenerativas, promovendo a saúde e a sensação de bem-estar com benefícios evidentes no aspecto psicológico (Miranda et. al. 2011).

Evidências científicas indicam que a atividade física reduz o risco de morte prematura, doença cardíaca coronária, acidente vascular cerebral, hipertensão arterial, diabetes tipo 2, ganho de peso excessivo, depressão e perda de função cognitiva, aumenta a capacidade funcional em adultos e idosos, melhora a qualidade do sono e reduz o risco de fratura no quadril e osteoporose (Phys. Act. Guidel. Advis. Comm. 2008; WHO 2010; BRASIL 2011).

Os estudos sobre a associação da saúde emocional com a atividade física são mais conhecidos em relação à atividade física de lazer, e escassos para os outros domínios. Pouco se conhece sobre benefícios e possíveis impactos prejudiciais na saúde em indivíduos ativos nestes outros domínios. É possível que as atividades moderadas e vigorosas no trabalho, no lar e no deslocamento sejam benéficas no sentido de gasto calórico e proteção para o sistema cardiorrespiratório, contribuindo assim para diminuição do risco da mortalidade precoce, como apontam os estudos clássicos (Morris, 1953; Paffenbarger, 1993).

No entanto estas atividades podem ser prejudiciais considerando os sistemas ósseo e muscular e como consequência, sobrecarregando a saúde emocional, e também independente desta sobrecarga, estarem relacionadas à pior saúde emocional e ao bem-estar, considerando os achados dos estudos de Pinho e Araújo (2012) e Senicato et. al. (2016), em que as atividades domésticas se associam à pior saúde mental.

Cada vez mais é reconhecida a importância de se avaliar o nível da prática de atividade física em estudos epidemiológicos. No entanto, obter dados precisos sobre o nível de atividade física se mostra um grande desafio em razão da grande complexidade do tema. (Hallal et. al. 2005; Dumith, 2009).

Há um crescente aumento no interesse dos pesquisadores no que diz respeito à prática de atividades físicas, portanto em estudos com o objetivo de estimar a prevalência de atividade física, identificar fatores associados, analisar a sua relação com diferentes desfechos de interesse e avaliar a efetividade de programas de intervenção é essencial dispor de instrumentos de medida da atividade física que apresentem propriedades adequadas (reprodutibilidade e validade) (Hallal et. al. 2010).

Os métodos de mensuração de atividade física basicamente são objetivos e subjetivos. Os métodos objetivos (sensores de movimento, monitores de frequência cardíaca, água duplamente marcada, observação direta de comportamento), embora apresentem níveis considerados satisfatórios de reprodutibilidade e validade, possuem muitas limitações em termos de logística e custo, além de mensurar apenas as atividades físicas “atuais” ou “recentes” (Hallal et. al. 2010).

O International Questionnaire Physical Activity (IPAQ) foi criado em 1998 por um grupo de especialistas, para facilitar o monitoramento do nível de atividade física buscando obter um padrão global (Craig et. al. 2003). A partir disso, o IPAQ se tornou o questionário de maior influência nas pesquisas sobre atividade física. Trata- se de um questionário internacional padronizado que avalia a prática de atividades físicas. As respostas podem ser categorizadas em:

Inativo – Não realiza nenhuma atividade física por pelo menos 10 minutos contínuos durante a semana.

Insuficientemente ativo – São os indivíduos que praticam atividades físicas por mais de 10 minutos contínuos por semana, mas não atingem as recomendações

da OMS (OMS, 2010), que são 150 minutos de atividade física moderada ou 75 minutos de atividade vigorosa, por semana.

Ativo – Pessoas que praticam atividade física atingindo as recomendações.

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