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Ao longo dos últimos anos, a prática regular de atividade física tem sido reconhecida como uma alternativa não medicamentosa ao tratamento e à prevenção de doenças crônico-degenerativas, promovendo a saúde e a sensação de bem-estar com benefícios evidentes tanto no aspecto físico quanto psicológico (Miranda et. al. 2011).

Evidências científicas indicam que a atividade física reduz o risco de morte prematura, doença cardíaca coronária, acidente vascular cerebral, hipertensão arterial, diabetes tipo 2, ganho de peso excessivo, depressão e perda de função cognitiva, aumenta a capacidade funcional em adultos e idosos, melhora a qualidade do sono e reduz o risco de fratura no quadril e osteoporose (Phys. Act. Guidel. Advis. Comm. 2008; WHO 2010; BRASIL 2011).

Os estudos sobre a associação da saúde emocional com a atividade física são mais conhecidos em relação à atividade física de lazer, e escassos para os

outros domínios. Pouco se conhece sobre benefícios e possíveis impactos prejudiciais na saúde em indivíduos ativos nestes outros domínios. É possível que as atividades moderadas e vigorosas no trabalho e no lar sejam benéficas no sentido de gasto calórico e proteção para o sistema cardiorrespiratório, contribuindo assim para diminuição do risco da mortalidade precoce, como apontam os estudos clássicos (Morris, 1953; Paffenbarger, 1993).

No entanto estas atividades podem ser prejudiciais considerando os sistemas ósseo e muscular e como consequência, sobrecarregando a saúde emocional, e também independente desta sobrecarga, estarem relacionadas à pior saúde emocional e ao bem-estar, considerando os achados dos estudos de Pinho e Araújo (2012) e Senicato et. al. (2016), em que as atividades domésticas se associam à pior saúde mental.

A inatividade física tem sido reconhecida cada vez mais por ampliar o risco de mortalidade (WHO, 2004; BRASIL, 2014). Muitos estudos têm mostrado que a atividade física está relacionada com maiores taxas de sobrevida, mas a maioria dos estudos trata da atividade física no tempo livre (Chen et. al. 2012; Gómez et al 2014).

Um dos primeiros estudos de coorte a ser desenvolvido relacionando atividade física e doença arterial coronariana, foi realizado em Londres, quando foram comparados carteiros e trabalhadores de escritório do serviço postal, bem como motoristas e cobradores nos ônibus de dois andares em Londres. Os investigadores observaram que atividades no domínio ocupacional com maior gasto energético, estavam associadas com menores taxas de morte por doenças cardíacas coronarianas (Morris, 1953).

3. OBJETIVOS 3.1. Geral

Analisar fatores associados à atividade física nos domínios de trabalho, deslocamento, doméstico e lazer na população adulta de Campinas.

3.2. Específicos

- Estimar a associação de atividade física no trabalho, deslocamento, doméstica e no lazer segundo variáveis demográficas e socioeconômicas;

- Estimar a associação de atividade física no trabalho, deslocamento, doméstica e no lazer segundo satisfação com a vida, sentimento de felicidade e solidão.

- Estimar a associação de atividade física no trabalho, deslocamento, doméstica e de lazer segundo a presença de TMC.

4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1. Local do estudo

O presente estudo utiliza os dados produzidos no “Inquérito de Saúde do Município de Campinas, ISACAMP 2015”, conduzido entre 2014 e 2015. Campinas é um grande município do estado de São Paulo situado a 100 km da capital, com área de 794,46 km², e conta com mais de um milhão de habitantes (1.08.113 em 2010, estimando 1.173.370 em 2016), com índice de desenvolvimento humano de 0,805 em 2010 (IBGE). A cidade é composta por cinco distritos de saúde (norte, sul, leste, sudoeste e noroeste) (SMS Campinas).

4.2. Tipo do estudo

Trata-se de estudo transversal, de base populacional com dados do “Inquérito de Saúde de Campinas” (ISACamp 2014/2015), realizado pelo Centro Colaborador em Análise de Situação de Saúde (CCAS) do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). São dados de indivíduos com idade igual ou superior a 10 anos, não institucionalizados, residentes na área urbana no município de Campinas no período de 2014/2015. Esse inquérito possui abrangência temática ampla e com dados sobre as condições de vida e saúde da população foi financiado pela FAPESP (Processo FAPESP 2012/23324-3) e pela SMS de Campinas e SVS/MS (Contrato no. 02 P-28749/2013; FUNCAMP no. 4903).

As informações do inquérito foram obtidas por meio de questionário estruturado, com 12 blocos temáticos e a maioria das questões fechadas e pré- codificadas. As entrevistas domiciliares foram realizadas por entrevistadores treinados e supervisionados. Os treinamentos foram feitos em relação ao agendamento e abordagem dos indivíduos e à aplicação das questões. As respostas foram digitadas em tablete e transportadas para planilha de Excel. Foram feitas

análises de consistência do banco de dados. Outro inquérito, com a mesma amostra do ISACamp, foi levado a campo para coletar informações sobre nutrição, funcionando como retestagem para as respostas do ISACamp.

4.3. Processo amostral

A amostra do ISACamp 2014/15 foi obtida por meio de amostragem probabilística, estratificada, por conglomerados e em dois estágios: setor censitário e domicílio. No primeiro estágio, 70 setores censitários foram sorteados com probabilidade proporcional ao tamanho (número de domicílios). Foram sorteados 14 setores censitários de cada um dos cinco Distritos de Saúde existentes no município. No segundo estágio, foram selecionados os domicílios por meio de sorteio sistemático aplicado às relações de domicílios existentes em cada um dos setores sorteados.

O número de pessoas para compor a amostra foi obtido considerando-se a situação correspondente à máxima variabilidade para a frequência dos eventos estudados (p = 0,50), coeficiente de confiança de 95% na determinação dos intervalos de confiança (z = 1,96), erro de amostragem entre quatro e cinco pontos percentuais e efeito de delineamento igual a dois. Definiu-se assim um tamanho mínimo de amostra de 1.000 indivíduos para os domínios de idade de adolescentes (10 a 19 anos) e idosos (60 anos e mais) e de 1400 para adultos (20 a 59 anos). Esperando-se uma taxa de 80% de resposta, os tamanhos das amostras foram corrigidos. Para alcançar esse tamanho de amostra em cada domínio, após atualização em campo da listagem de endereços dos setores sorteados, foram selecionados de forma independente números de domicílios para cada domínio de idade que fossem suficientes para obter o tamanho mínimo definido. Para a definição do número de domicílios que deveriam ser sorteados para cada domínio, foram inicialmente calculadas, a partir dos dados do Censo de 2010, as médias esperadas de pessoas por domicílio (razão pessoas/domicílios) de cada domínio de idade e para cada distrito. Para o cálculo do número necessário de domicílios a serem sorteados para cada domínio de idade, dividiu-se o tamanho desejado da amostra (1.000 ou 1400 pessoas) pela razão pessoas/domicílios correspondente. No entanto, para que esses tamanhos fossem alcançados na presença de não resposta, foram sorteados números maiores de domicílios. As taxas de não resposta previstas

foram: 27% para adolescentes, 22% para adultos e 20% para idosos, baseado nos resultados obtidos no inquérito anterior realizado em Campinas.

Em cada domicílio, foram entrevistados todos os moradores da faixa etária selecionada para aquele domicílio.

4.4. Variáveis da pesquisa

4.4.1. Variáveis Dependentes

Atividade física

Neste estudo, as variáveis dependentes foram as de atividade física nos quatro domínios:

- Ocupacional - Doméstico - Deslocamento - Lazer

As informações sobre a prática de atividade física (ANEXO I) em seus domínios foram obtidas mediante aplicação do International Physical Activity Questionnaire (IPAQ, versão longa), criado em 1997 pela World Health Organization (WHO). A finalidade do IPAQ original foi estimar o nível de prática habitual de atividade física de populações de diferentes países. Com o uso deste instrumento então, poderia ser possível padronizar a forma de mensurar a atividade física. Diversos estudos internacionais e no Brasil comprovaram a validade do IPAQ e sua importância para estimativas e comparações (Matsudoet. al., 2001a; Hallal et. al., 2010; Dumith, 2009).

O IPAQ é composto de 27 questões sobre a frequência, duração e intensidade de todos os quatro tipos de atividade física, além de considerar também o tempo gasto sentado, levando em consideração o período de uma semana. Baseado nas informações, um escore de atividades físicas foi criado para cada domínio (ocupacional, doméstico, de deslocamento e lazer) e tipo de atividade física (caminhada, atividade física moderada e vigorosa), a partir da multiplicação da frequência semanal (dias por semana) pelo tempo médio da atividade (minutos por dia). Em cada domínio de atividade física estudado os indivíduos foram classificados como “inativos” – quando não referiram realizar qualquer atividade física na semana

– “insuficientemente ativos” – quando referiram entre 10 e 149 minutos consecutivos de atividade física por semana ou “ativos” – quando realizam 150 minutos de atividade física moderada por semana ou 75 minutos de atividade física vigorosa por semana, conforme recomendação da OMS (WHO, 2010). O presente estudo classificou os indivíduos de duas maneiras: Insuficientemente ativos + ativos e inativos.

4.4.2. Variáveis independentes

Bem-estar

Satisfação com a vida

O presente estudo avaliou o grau de satisfação com a vida dos entrevistados de acordo com a avaliação da pessoa sobre a própria vida, com a seguinte pergunta: “De um modo geral, o quanto o (a) Sr. (a) está satisfeito com a sua vida?” Os entrevistados tiveram a opção de responder entre : “Nada satisfeito”; “mais ou menos satisfeito” e “muito satisfeito”, e a análise foi ajustada para duas categorias: Muito satisfeito e mais ou menos ou nada satisfeito (ANEXO III).

Sentimento de solidão

O sentimento de solidão (ANEXO III) na entrevista foi questionado da seguinte maneira: “Com que frequência acontece de sentir-se isolado ou sozinho?” E foram quatro opções de resposta: “nunca” “poucas vezes” “muitas vezes” e “sempre”. A análise foi feita unificando as respostas em duas categorias: nunca ou poucas vezes e muitas vezes ou sempre.

Sentimento de felicidade

Em relação ao sentimento de felicidade (ANEXO III), os participantes foram orientados a responderem de acordo com o que ocorreu durante as últimas quatro semanas, com a seguinte pergunta: “Durante quanto tempo o Sr.(a) se sentiu feliz?” e foram cinco as opções de resposta: “sempre” “a maior parte do tempo” “alguma parte do tempo” “uma pequena parte do tempo “nunca”. Para a análise as respostas

foram categorizadas como: sempre ou a maior parte do tempo, alguma parte do tempo e pequena parte do tempo ou nunca.

Transtorno mental comum

A presença de TMC foi avaliada utilizando-se o instrumento Self Reporting Questionnaire 20 (SRQ-20) desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde para o rastreamento dos casos suspeitos de TMC em países de baixa e média renda. O instrumento foi desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde para detecção de transtornos mentais comuns na população. O instrumento foi validado no Brasil por Mari & Williams (1986). Esse questionário tem sido utilizado em inquéritos de saúde de base populacional pelo fácil uso e custo reduzido. As questões (ANEXO II) são referentes aos últimos trinta dias. O instrumento fez parte do questionário ISACamp e foi aplicado por entrevistadores treinados. O instrumento SRQ-20 é composto por 20 questões. As respostas são dicotômicas e para cada resposta afirmativa é atribuído um ponto, totalizando-se 20 pontos no caso de todas as respostas serem positivas. A categorização foi feita da seguinte forma: 8 pontos ou mais TMC presente. Menos de 8 pontos TMC ausente.

Características demográficas

Sexo; idade subdividida em 4 categorias de faixa etária com intervalo de 10 anos idade (20 a 29; 30 a 39; 40 a 49 e 50 a 59 anos); Situação conjugal (Casado / Vive junto; Desquitado; Viúvo e nunca se casou) e naturalidade (Campinas; Outro município de SP e outro estado) (ANEXO IV)

Características socioeconômicas:

Escolaridade em anos de estudo subdividida em 3 categorias: (0 a 8; 9 a 11; e 12 ou mais anos de estudo); Número de moradores no domicílio(1 a 2; 3 e 4 a 5); Número de filhos (0 ou 1; 2 ou 3 e 4 ou mais) e se possui plano de saúde( sim e não) (ANEXO V)

Estado de saúde

Doenças crônicas: a soma do número de doenças, que foi dividida em 4 categorias (0 "nenhuma" 1 "1 a 2 doenças" 2 "3 a 4 doenças" 3 "5 ou mais doenças")

e a soma de problemas de saúde que são queixas e sintomas não diagnosticados (Nenhum ou um; Dois a quatro e cinco ou mais) (ANEXO VI)

4.5. Análise de dados

Foram estimadas as prevalências das variáveis dependentes do estudo segundo variáveis de condições demográficas, socioeconômicas e de número de doenças crônicas; e testadas às diferenças por meio do teste qui-quadrado.

Também foram estimadas as razões de prevalências brutas e ajustadas, e intervalos de confiança de 95% por meio de regressão de Poisson. Foram realizados ajustes pelas variáveis: sexo, idade, escolaridade, número de doenças crônicas e problemas de saúde. As análises foram realizadas utilizando o programa STATA (versão 14).

4.6. Procedimentos éticos

O projeto de pesquisa do ISACamp 2014/15 foi aprovado pela Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Parecer no. 409.714 de 30/09/2013; CAAE no. 20547513.2.0000.5404) e o presente projeto também foi aprovado pelo CEP (Parecer no.1.780.378) (ANEXO VII)

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