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O presente estudo detectou que os homens foram mais ativos do que as mulheres no domínio ocupacional, enquanto as mulheres foram mais ativas no domínio doméstico. As pessoas mais jovens tendem a ser mais ativas no domínio de lazer e menos no doméstico. Por outro lado, pessoas que se referem de cor preta e parda, que vieram de outros estados e tem maior número de filhos tendem a ser mais ativas no domínio doméstico.

Considerando o nível socioeconômico, a atividade física no lazer faz parte da vida de um grupo de maior nível socioeconômico e pelo contrário, os outros domínios encontram-se mais prevalentes nos estratos de menor nível social, corroborando com outros estudos (Oliveira, 2009; Miranda 2011).

Em relação à atividade física e sexo, Nunes et. al. (2015), analisando a prevalência de atividades físicas em diferentes domínios e sua relação com a escolaridade verificou que os homens apresentaram maiores níveis de atividade física no deslocamento e no lazer, enquanto, assim como no presente estudo, as mulheres foram mais ativas no domínio doméstico. Utilizando dados sobre a prática de atividade física no VIGITEL, Florindo et. al. (2006) observaram que as mulheres foram mais ativas na limpeza pesada em casa. Estudo realizado em Campinas por Souza et. al. (2014), analisando separadamente cada domínio de atividade física encontrou resultados semelhantes ao presente estudo, como as mulheres que foram menos ativas fisicamente no domínio ocupacional. Já em relação ao domínio de atividade física doméstica, também como no presente estudo, os homens foram menos ativos. As mulheres apresentam maiores níveis de atividades físicas domésticas comparadas aos homens, muito provavelmente pelo fato de se dedicarem mais aos cuidados com a casa e com os filhos (Pinho e Araújo, 2012).

O presente estudo também constatou diferenças no nível de atividade física nas divisões de faixa etária adotadas. Zanchetta et. al. (2010), analisando os fatores associados à inatividade física em adultos, mostrou que como no presente estudo, as pessoas de 50 a 59 anos foram significativamente menos ativas em relação aos mais jovens no domínio de lazer. Este estudo mostrou que as pessoas com idade entre 50 e 59 anos foram mais ativas no domínio doméstico e Gómez et. al. (2016) verificaram também que as pessoas que praticavam mais de duas horas de atividade doméstica por dia foram os adultos mais velhos. Essa diferença de

atividade física no lar pode ser explicada pelo fato de os adultos mais velhos já estarem aposentados, se dedicando mais ao cuidado da casa.

Também foram observadas associações entre a situação conjugal e atividade física, onde as pessoas solteiras foram menos ativas no doméstico e mais ativas no lazer. Florindo et. al. (2009) mostraram que as pessoas separadas e viúvas tiveram níveis maiores de atividade física no domínio doméstico em comparação com as pessoas solteiras. Essa diferença pode ser explicada pela maior obrigação com os cuidados domésticos que as pessoas assumem quando passam a viver com um (a) companheiro (a), assim como no caso das pessoas separadas e viúvas, que tudo indica que seguem se dedicando ao cuidado da casa e tenham um pouco menos de tempo de atividade de lazer comparando com indivíduos solteiros.

A escolaridade apresentou associação em todos os domínios no presente estudo, sendo que no domínio de lazer, a maior prevalência esteve no maior nível de escolaridade, e os outros domínios estiveram presentes nos menores níveis. No estudo de Florindo et. al. (2006) após análise dos dados de prática de atividade física do VIGITEL, mostraram que as pessoas com 12 anos ou mais de escolaridade foram mais ativas no lazer e menos ativas no trabalho, deslocamento e limpeza pesada de casa, dado semelhante ao do presente estudo. Zanchetta et. al. (2009) verificaram que quanto maior a escolaridade, mais ativas são essas pessoas no lazer. Como no presente estudo, Florindo et al. (2006) verificaram que as pessoas com menor escolaridade eram mais ativas no domínio ocupacional e menos ativas no domínio de lazer. O fato de as pessoas com maior escolaridade praticarem menos atividade física laboral, pode ser uma questão de que por meio do maior grau de escolaridade, o indivíduo tenha um emprego que demande maior atividade intelectual.

De acordo com o presente estudo, os indivíduos com renda per capita igual ou menor que dois salários mínimos, são mais ativos no trabalho e em casa, e menos ativos no lazer. As pessoas que vivem com 6 ou mais pessoas no mesmo domicílio foram mais ativas no domínio ocupacional e menos ativas no lazer. E as pessoas que tem quatro filhos ou mais foram mais ativas em casa e menos ativas no lazer. Estudo de Lopes et. al. (2010) no sul do Brasil com o objetivo de analisar os fatores associados à inatividade física traz achado similar: de acordo com os resultados, os indivíduos com renda per capita menor que dois salários mínimos foram significativamente mais inativos no lazer em comparação com as pessoas de

maior renda. Aquelas pessoas que vivem com maior quantidade de pessoas no domicílio e que tem maior número de filhos, possivelmente pela grande quantidade de pessoas vivendo no mesmo domicílio, as atividades domésticas são mais pesadas.

A diferença de renda, assim como a escolaridade, são indícios de que uma atividade laboral melhor remunerada pode ser menos exigente em termos físicos, e que os indivíduos de baixa renda parecem ter menos tempo e condição financeira para dedicar à atividade física de lazer, o que também pode ser devido ao fato de não existirem praças esportivas e parques perto do local onde vivem (Bendimo- Rung, 2005).

A posse de plano de saúde é também um indicador de nível socioeconômico e também esteve associado de maneira significativa com atividade física, nesta pesquisa, onde as pessoas que não possuem plano privado de saúde foram mais ativas no trabalho, em casa e no deslocamento e menos ativas no lazer. De acordo com o VIGITEL de 2014, em Florianópolis a prevalência de atividades físicas no lazer em indivíduos que possuem plano privado de saúde foi de 48,3% e no deslocamento a pesquisa mostra prevalência de 10,3% de pessoas que possuem planos de saúde, no conjunto das capitais brasileiras.

Foi observada associação independente entre as pessoas que relataram possuir cinco ou mais doenças crônicas com a atividade física ocupacional, onde essas pessoas foram menos ativas. Também houve associação do número de problemas de saúde referido pelos participantes com os quatro domínios de atividade física, e as pessoas que relataram ter cinco ou mais problemas de saúde foram menos ativas em todos os quatro domínios. A literatura mostra que uma prática regular de atividades físicas iniciada na infância e mantidas até a fase adulta contribui significativamente para menores taxas de doenças crônicas e problemas de saúde (Janssen, 2007; Phys. Act. Guidel. Advis. Comm., 2008; Janssen, 2009). Vários estudos também mostram os benefícios da prática de atividade física para controle da hipertensão arterial, do diabetes, doenças cardíacas (Lopes et. al. 2014; Tavares et. al. 2013; Pitanga et. al. 2010). No presente estudo, as pessoas que relataram ter até quatro doenças crônicas e/ou problemas de saúde foram mais ativas em comparação com aquelas com cinco ou mais. Embora, nos últimos anos, a prática de atividades físicas tenha se tornado uma importante aliada no tratamento e prevenção de doenças e agravos à saúde, sendo cada vez mais difundida pelos

profissionais da saúde, é preciso considerar uma causalidade reversa, em que as limitações causadas pelas doenças impedem a prática de atividade física.

O estudo também analisou a prática de atividade física com o Transtorno Mental Comum (TMC) e com o bem-estar subjetivo (satisfação com a vida, sentimento de felicidade e sentimento de solidão). Observou-se que os indivíduos mais ativos no domínio ocupacional e de lazer estiveram associados à ausência do TMC apenas na análise bruta. A maior prevalência de atividade física de lazer se associou à maior satisfação com a vida, também na análise bruta.

Entende-se que não seja muito fácil encontrar estas associações após os ajustes, pois a relação da prática de atividade física com saúde emocional e bem- estar pode ser entendida sob algumas direções: primeiro que os indivíduos ativos podem apresentar melhor saúde mental e emocional, decorrente desta prática; segundo que os indivíduos em melhores condições de saúde mental seriam mais propensos ao engajamento à prática de atividades físicas. E ainda por outro lado, a atividade física poderia colaborar no controle de problemas de saúde mental e emocional (Lima et al., 2012; Strohle, 2009; Siqueira et. al., 2016). Neste sentido, é possível que pessoas com problemas de saúde mental estejam praticando atividade física por indicação médica ou de outro profissional de saúde.

Um importante achado deste estudo foi que o maior nível de atividade física doméstica e de deslocamento esteve associado ao menor sentimento de solidão, apontando a importância destes tipos de atividade física, neste sentido. Autores evidenciam que o sentimento de solidão tem importante relação com a saúde, em considerando os comportamentos de saúde, em que as pessoas que se sentem sozinhas tendem a se engajar em piores comportamentos (Dyal e Valente, 2016). A solidão também se associa com a presença de doenças (Hawkley e Cacioppo, 2003). Essa relação do menor sentimento de solidão com a atividade física doméstica pode ser explicada pelo fato de que as pessoas que realizam mais atividades domésticas, e geralmente são as mulheres, dentro dessas atividades pode estar o cuidado com os filhos, o que diminuiria o sentimento de solidão, embora com ajustes para número de filhos e número de moradores no domicílio, a associação tenha persistido.

Artigo de revisão de Dryal e Valente (2015), sobre a relação da solidão com o hábito de fumar e após analisados 25 estudos sobre o tema, verificou que 52% associavam a solidão com o hábito de fumar. Em estudo meta-analítico sobre a

relação do baixo apoio social para o desenvolvimento de doença coronariana (Barth et. al., 2010), os resultados mostraram uma tendência à doença coronariana naquelas pessoas com baixo apoio social. O estudo encontrou também evidências de que o baixo apoio social, que contribui bastante para que as pessoas se sintam sozinhas, também pode afetar negativamente as lesões cardíacas e a mortalidade por todas as causas.

Em relação à atividade física de deslocamento, cujas associações também foram detectadas, neste estudo, com o sentimento de solidão, é necessário maior incentivo para que estas atividades se tornem mais prevalente na população. De acordo com Garcia et. al. (2013), a bicicleta é reconhecida como o meio de transporte individual mais utilizado no Brasil e divide, com a caminhada, a maioria dos deslocamentos normais nos municípios brasileiros. Vale destacar que a grande maioria das cidades brasileiras não possui infraestrutura adequada para o uso do deslocamento ativo em bicicleta. Também se alerta que no Brasil cada vez mais cresce o número de acidentes envolvendo ciclistas: no período de 2000-2010 foram registrados 34.422 óbitos de ciclistas envolvidos em acidentes de trânsito, equivalente a 8,3% dos acidentes terrestres no Brasil (Garcia et. al., 2013).

De acordo com os resultados do estudo, o fator socioeconômico está relacionado com o nível de atividade física no deslocamento, onde as pessoas de menor nível socioeconômico são mais ativas nesse domínio, o que pode acarretar em uma desilgualdade benéfica para a saúde daqueles mais pobres, já que o nível de atividade física no deslocamento é maior. O estudo de Sá et. al. (2016), analisando as diferenças socioeconômicas na prática do deslocamento ativo sugere que a restrição orçamentária das famílias mais pobres, aliada à precariedade do transporte público leva essas pessoas a realizarem mais o deslocamento ativo e não a consciência dos benefícios obtidos através da atividade física para à sua saúde.

Tanto o Plano de Ações Estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) quanto a Política Nacional de Promoção à Saúde (PNPS) trazem destacadas em suas diretrizes, a prática de atividade física como fator preponderante para a promoção e manutenção da saúde e prevenção de doenças e agravos. (BRASIL, 2011; BRASIL, 2015). Essas políticas também trazem em seu escopo a preocupação de construir e melhorar os espaços para que as pessoas pratiquem atividades físicas, desse modo os entes governamentais devem se empenhar mais na questão da mobilidade urbana, para fornecer às pessoas

segurança para que realizem esse deslocamento para o trabalho e escola sem correr riscos no percurso.

Considerando o fator de proteção da atividade física doméstica e no deslocamento para o sentimento de solidão, torna-se importante pensar sobre estes aspectos para a saúde, principalmente da população feminina. E como os estudos sobre atividade física doméstica e no deslocamento, em relação à solidão são escassos, mais pesquisas sobre o tema são necessárias e relevantes.

Em relação à felicidade, a maior atividade física no deslocamento se associou ao menor tempo de felicidade. Estes resultados podem estar confundidos com outros fatores, como aspirações pessoais, pois é possível que os indivíduos que são ativos no transporte não possuem veículos de deslocamento. As atividades domésticas também estiveram associadas ao sentimento de felicidade, nas análises ajustadas. Mas diferentemente do domínio de deslocamento, as associações revelaram maior sentimento de felicidade nos ativos nestes domínios.

Embora os estudos sobre o tema sejam escassos para comparação, as pesquisas têm encontrado pior saúde mental em donas de casa em relação às mulheres que trabalham fora (Pinho e Araújo 2012; Senicato et. al. 2016). No entanto o sentimento de felicidade é um indicador de bem-estar subjetivo, com particularidades, que se relaciona com as emoções positivas e com a personalidade (Luiz Vianna, 2005). E é preciso considerar que os estudos transversais não apontam causa, apenas associações. Neste sentido, é possível que as donas de casa que são mais ativas são aquelas com personalidades mais positivas em relação às inativas. Mas, por outro lado, e de melhor entendimento, é que os afazeres domésticos contribuam para um maior sentimento de felicidade.

No entanto é preciso cautela ao estimular as atividades físicas domésticas, considerando possíveis prejuízos, comprometendo a saúde postural e ósteo- articular.

O estudo tem limitações: para as questões de bem-estar foram utilizadas perguntas únicas. Escalas com questões múltiplas podem ser mais eficientes para estas medidas (Kubzansky et. al., 2015), no entanto é um estudo realizado em larga escala, o que dificulta a utilização de instrumentos longos para todas as questões. Segundo Diener (1984), a pergunta única sobre felicidade é válida para pesquisas populacionais. Também, ao considerar os resultados do estudo para estratégicas

clínicas e políticas, é preciso atenção para o caráter transversal da pesquisa, que não aponta causa apenas associações.

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