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Diferentemente da compreensão que se tem sobre doenças, pouco se sabe sobre quais comportamentos e características são necessárias para adquirir bom nível de saúde e bem-estar. Houve, então, um aumento no interesse dos pesquisadores em aprofundar estudos nessa área para se chegar a uma conclusão do que é o bem-estar. O estudo do bem-estar tem o objetivo de compreender a avaliação que as pessoas fazem de sua própria vida (Kyriacou, 2001. Jhonson et. al., 2005).

No século XX, com a preocupação de uma reforma social em larga escala, aparece o conceito de Bem-Estar (Veenhoven, 1992). Bem-estar pode estar relacionado com diversos fatores, como por exemplo, emoção positiva, satisfação com a vida e felicidade, relações positivas, denominados de bem-estar subjetivo. O nível de bem-estar subjetivo é o resultado do grau de satisfação com a vida relacionada a vários aspectos, como a saúde, o trabalho e a família, em outras palavras, é um conceito que se refere a como as pessoas se sentem e como avaliam sua vida (Lima et. al. 2012; Bogaert et. al. 2014).

O tema bem-estar se tornou algo extremamente importante nos dias atuais e bastante discutido na sociedade, considerando que o ser humano vive em busca da realização de seus desejos pessoais e diferentemente dos outros seres vivos tem a necessidade de se sentir feliz (Silveira et. al. 2015).

A saúde tem relação direta com o bem-estar, já que se a saúde não está boa, consequentemente a avaliação do sujeito em relação ao seu bem-estar estará comprometida (Lima, 2012). Um elevado grau de bem-estar subjetivo geralmente apresenta maiores níveis de afeto positivo e menores níveis de afeto negativo e alta satisfação com a vida (Comin et. al. 2016).

Na literatura, poucos trabalhos tratam dos temas “satisfação com a vida” e “felicidade”, que geralmente são substituídos pelo termo “bem-estar subjetivo”, isso pode ser pela dificuldade em abordar diretamente felicidade e satisfação com a vida, tornando o termo bem-estar subjetivo mais utilizado (Silveira et. al. 2015).

O sentimento de felicidade e a satisfação com a vida são indicadores de bem- estar que vêm sendo investigados, em relação à saúde (Lima et. al., 2012; Mehrdad et. al., 2016; Lins et. al., 2016). Estes indicadores, embora interligados, podem ter conceitos diferentes, como serão abordados a seguir.

1.2.1. Satisfação com a vida

A satisfação com a vida tem suas origens no iluminismo do século XVIII na discussão de que o propósito da vida humana é a própria vida (Veenhover, 1992). É um indicador bastante complexo e de difícil mensuração, por se tratar de um estado subjetivo. A satisfação com a vida aborda o contentamento de maneira geral, pois o grau de satisfação com a vida do indivíduo é decorrente de uma auto avaliação sobre vários quesitos, como condições de moradia, emprego, relações sociais, enfim, uma avaliação geral da própria vida. A satisfação com a vida pode ser um reflexo do bem-estar subjetivo de cada pessoa (Silveira et. al., 2016).

Estudo de Veenhover, (2009) encontrou os maiores índices de satisfação com a vida no México, em Honduras, na Costa Rica e na Venezuela. O autor sugere que a diferença no grau de satisfação com a vida entre os países se deve mais a questões culturais e menos às socioeconômicas.

Estudo transversal de Joia et. al. (2007), objetivando avaliar o grau de satisfação com a vida em idosos verificou que, de maneira geral, os idosos entrevistados estavam satisfeitos com a vida, mas também observou essa satisfação maior também em alguns aspectos específicos como conforto domiciliar, valorização do lazer como qualidade de vida, acordar bem pela manhã, não se sentir sozinho, fazer três ou mais refeições diárias e não possuir Diabetes Mellitus.

Estudo de Oliveira et. al. (2009) avaliando o grau de satisfação com a vida em profissionais da saúde através do instrumento Escala de Satisfação com a vida (ESV) com média de idade dos participantes de 42,8 anos (DP = 11,54) e com maioria de sexo feminino (81%), verificou que a maior média de satisfação com a vida foi dos médicos e está positivamente relacionada à remuneração e o menor grau de satisfação com a vida foi relacionado à vontade de mudar de profissão.

Joia e Ruiz (2013) acreditam que a satisfação com a vida é um processo contínuo, dinâmico e dependente de vários fatores, já que, com o passar dos anos, os acontecimentos na vida das pessoas podem mudar o seu grau de satisfação com

a vida tanto para melhor quanto para pior, e que determinado momento pode mudar essa situação radicalmente.

1.2.2. Sentimento de felicidade

A felicidade pode ser entendida como o grau em que o indivíduo avalia os fatores que compõem a sua vida, de maneira positiva, pode ser entendido também como um sentimento de contentamento, amor, alegria. Esse conceito é subjetivo e individual, já que, igualmente na sensação de bem-estar, não pode ser aplicado para grupos populacionais por ser uma avaliação da própria vida (Veenhoven, 2008; Whiteford, 2013; Rosenbaum, 2014). A avaliação do sentimento de felicidade é mais subjetiva em relação à satisfação com a vida, pois envolve os afetos e sentimentos positivos, e o hedonismo.

A PNPS (BRASIL, 2015) trata a felicidade como um dos valores fundamentais para o seu processo de efetivação:

A felicidade, enquanto auto percepção de satisfação, construída nas relações entre sujeitos e coletivos, que contribui na capacidade de decidir como aproveitar a vida e como se tornar ator partícipe na construção de projetos e intervenções comuns para superar dificuldades individuais e coletivas a partir do reconhecimento de potencialidades.

Alguns fatores também podem interferir no sentimento de felicidade. Esses fatores podem ser internos como as aspirações pessoais, a personalidade ou externos como as relações sociais e o trabalho (Luiz Vianna, 2005).

A literatura sobre o sentimento de felicidade em relação à saúde tem sido ampliada e os autores têm encontrado associações da felicidade e dos sentimentos positivos com o menor risco mortalidade (Giltay et. al., 2004) e com a menor presença de morbidades (Kubzansk, 2014).

Estudo realizado no Brasil com 467 adultos mostrou alguns fatores com influência negativa na felicidade como auto avaliação de saúde desfavorável, viuvez e divórcio e não encontrou associação significativa da felicidade com educação, sexo e etnia (Rodrigues e Silva, 2010). O estudo de Lima et al. (2012), com resultados de estudo transversal apontam a maior prevalência do sentimento de felicidade nos indivíduos fisicamente ativos no lazer em relação aos não ativos.

1.2.3. Sentimento de solidão

Definir solidão é uma tarefa um tanto quanto difícil, por se tratar de mais um indicador subjetivo. No entanto Neto (2001) afirma que sentir-se só não é sinônimo de estar só, mas a solidão pode ser consequência de um isolamento diferente, inespecífico. A solidão é uma experiência bastante desagradável para quem a sente, podendo chegar a uma exclusão social. De maneira geral, as pessoas necessitam de um apoio social, e esse tema vem sendo discutido há bastante tempo, para Cobb (1976), o apoio social faz as pessoas se sentirem mais amadas, estimadas e encorajadas. Esse apoio se dá de diferentes maneiras, como apoio nas tarefas diárias, aconselhamento, apoio financeiro, estrutural, entre outros.

O sentimento de solidão tem sido investigado na área da saúde, e segundo vários estudos, se associa com a presença de doenças (Barth et. al., 2010) e principalmente com os comportamentos de saúde (Dryal e Valente, 2015; Cacioppo et. al., 2002). Barth et. al. (2010) tratam o isolamento social como potencial fator de risco para doenças coronarianas tanto em pessoas ainda sem esse tipo de enfermidade como uma das causas em pessoas com o diagnóstico já estabelecido.

O sentimento de solidão pode ser progredir juntamente com a idade, ou seja, aumentar nas pessoas mais velhas, isso porque o declínio da capacidade física, a diminuição da resiliência e um possível isolamento social, faz com que essas pessoas apresentem mais relatos de solidão (Hawkley et. al., 2002).

Dessa maneira, o isolamento social aliado à falta de apoio social pode interferir na saúde das pessoas elevando o risco para doenças coronárias, já que aquelas pessoas que se sentem isoladas e sem apoio tendem a não adotarem hábitos saudáveis, como pratica de atividade física, boa alimentação, tempo de lazer, são mais propensos a serem fumantes e tem mais dificuldades em aderir a tratamentos médicos (Barth et. al., 2010).

1.2.4. Transtorno mental comum (TMC).

Os transtornos mentais atingem cerca de 450 milhões de pessoas ao redor do mundo, associados tanto com fatores genéticos, quanto com fatores comportamentais (Rodrigues-Neto et. al., 2008)

Os transtornos mentais comuns (TMC) constituem sintomas de depressão, ansiedade, queixas de irritabilidade, cansaço, esquecimento, falta de concentração, sono ruim, dores de cabeça e outros que sobrecarregam de forma importante a

saúde física, emocional e mental das pessoas. Os TMC englobam não só os transtornos depressivos ansiosos, como também o sofrimento emocional sem causa específica. Esses sofrimentos emocionais podem estar relacionados a eventos de vida produtores de estresse e são mais frequentes nas mulheres, nos mais velhos, nos negros e nos separados e viúvos (Lopes et. al. 2003; Costa e Laudemir, 2005; Pinho e Araújo, 2012).

Há, no Brasil, uma diversidade de fatores contribuindo para que se elevem os eventos de vida estressantes e de transtornos mentais na população, como a falta de moradia adequada, má distribuição de renda, desemprego a altas taxas de criminalidade (Costa et. al., 2002). Os TMC também trazem algumas consequências, como a incapacitação, absenteísmo, queda de produtividade e aumenta de procura por serviços de saúde. No âmbito da atenção básica, os TMC atingem prevalência de 40% da população atendida (Lopes et. al., 2003).

Estudo de Costa e Laudemir (2005), analisando a associação entre transtorno mental comum e apoio social na zona da mata pernambucana verificou que os TMC possui prevalência próxima à encontrada na zona urbana de Olinda, encontrada em estudo de Laudemir e Melo-filho (2002), e isso leva a uma reflexão de que a vida na zona rural não é tão saudável quando estão presentes fatores como pobreza, falta de trabalho, baixa escolaridade entre outros.

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