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REVISÃO DA LITERATURA

II. FATORES PREDISPONENTES À OCORRÊNCIA DE OBESIDADE PEDIÁTRICA

1. FATORES INDIVIDUAIS

1.2. ATIVIDADE FÍSICA VS SEDENTARISMO

Define-se por atividade Física (AF) toda a actividade, voluntária ou não, produzida pelos músculos esqueléticos, que resulta num aumento substancial do metabolismo, para além da taxa metabólica em repouso (Tudor-Locke C, 2004; Teixeira PJ, 2006).

Apesar de não ser consensual a sua divisão, considera-se AF voluntária a AF estruturada, planeada, relativamente bem limitada no tempo e executada com um objetivo intencional e específico, a que vulgarmente se chama exercício físico. O exercício físico é tipicamente realizado nos tempos de lazer e, frequentemente, é adotado em intensidade moderada (Teixeira JP, 2006). Por outro lado, a AF do estilo de vida – Lifestyle Physical Activity - inclui a marcha diária e todos os movimentos de deslocações realizadas no seio das atividades quotidianas, sejam domesticas (p.ex limpezas ou jardinagem), ocupacionais (no trabalho), ou como forma de transporte, sendo estas actividades de intensidade ligeira ou moderada baixa, menos estruturadas e menos previsíveis (Tudor-Locke C, 2004; Teixeira JP, 2006). Enquanto que o primeiro pode ser avaliado por métodos objetivos (p.ex acelerometria, monitorização de frequência cardíaca) ou subjetivos (p. ex., auto-relato por questionário ou entrevista), relativamente à AF do estilo de vida, esta é difícil de avaliar (Levine JÁ, 2006). Contudo, atendendo que a marcha tem uma certa preponderância na componente da AF total, esta avaliação pode ser feita através da contagem dos passos diários utilizando um pedómetro, considerado um método bastante aceitável e prático (Tudor-Locke C, 2004).

Para além destas formas de AF voluntária, existe, ainda, a AF espontânea, que é tipicamente involuntária, constituída pelos pequenos movimentos de corpo (fidgeting), tais como abanar uma perna quando se está sentado ou contracções musculares associadas às diferentes posturas (Teixeira JP, 2006).

Estudos descritivos ou observacionais verificam que a prática de AF regular parece resultar num fator protetor contra a obesidade, ou, quando a doença instalada, implementam

o sucesso de intervenção (Kayman S, 1990; Wing RR, 2001; Williams PT, 2004; Teixeira PJ, 2006). O exercício físico adicionado às alterações alimentares, parece não aumentar substancialmente a perda de peso a curto prazo. Quando se pretende o controlo de peso, verificam-se, no entanto, benefícios a longo prazo com elevados e continuados níveis de AF (Kayman S, 1990; Wing RR, 2001; Ebbling CB, 2002).

Um dos fatores ambientais, que apresenta uma enorme influencia sobre a obesidade, é a falta de atividade física, observando-se, nos últimos 20 anos, uma redução do gasto energético em diferentes atividades diárias, como o opurtunamente referido, acompanhado de um aumento das atividades sedentárias de lazer, nomeadamente televisão e jogos de computador/consola (Saelens BE, 2002; Edwards B, 2005; Anderson PM, 2006). Na realidade, e como parte integrante destes fatores ambientais, a crescente inatividade física, observada na sociedade moderna, é notória em todos os grupos etários e, muito em particular, na criança e no adolescente (Wal JSV, 2000; Styne DM, 2005). O efeito causado pelas inúmeras horas dispendidas a ver televisão é de particular interesse no risco de obesidade, pois a visualização da televisão promove o ganho de peso, conduzindo, consequentemente, à reduzida prática de atividade física, mas, também, na dependência de um aumento da ingestão de alimentos nutricionalmente desequilibrados (Robinson TN, 1998; Epstein LH, 2002; Dennison BA, 2008; Moya M, 2008; Lambiase M, 2009).

Existem fortes evidências que uma atividade física vigorosa, ou moderada, ajuda a reduzir a obesidade e o excesso de peso em jovens obesos (Matthew M, 2007). Andar a pé, ou de bicicleta, pode ser considerado um método integrado de transporte ativo na prática diária de AF. Contudo, este tem vindo a diminuir à escala mundial, e, muito especialmente, nos países desenvolvidos, onde os meios de locomoção ativa diminuíram de 50% em 1969 para 15% em 2003 na população americana. Semelhante decréscimo tem sido reportado no Reino Unido (Tudor-Locke C, 2001).

Simultâneamente aos estilos de vida sedentários, parece existir uma enorme falta de apoio familiar, que desencoraja os jovens à prática regular de actividade física. Esta situação está ainda mais agravada nas crianças/adolescentes com excesso de peso/obesidade, onde, muitas das vezes, os comentários e críticas depreciativas influenciam adversamente qualquer tipo de AF (Wal JSV, 2000, Edmunds L, 2006). Alguns estudos Americanos puderam constatar

que grande parte das crianças adere a atividades sedentárias, aumentando cerca de 75% do tempo em que estão acordadas (Strauss RS, 2001).

Para além do gasto energético, e seu efeito na perda de peso, também têm sido altamente referenciados os efeitos psicológicos do exercício (Baker CW, 2000; Palmeira AL, 2006). Alguns trabalhos têm demonstrado que a prática regular de actividade física durante a fase da adolescência tem um efeito positivo na perceção da imagem corporal e da auto- estima, diminuindo a incidência de fatores depressivos (Wadden TA, 2002; Moreno LA, 2000). Provavelmente uma das razões que explica este fenómeno relaciona-se com a perda de peso sentida pelos jovens, e, consequentemente, perceção de um aspeto físico mais atractivo, melhor aceitação por parte do grupo social, e, em particular, dos pares (Kircaldy BD, 2002). De uma forma inversa, a insatisfação com a imagem corporal pode ser considerada motivo suficiente para a prática de exercício físico, como ponto estratégico na obtenção de uma imagem ideal, principalmente nas adolescentes do sexo feminino (Smith BL, 1998; McCabe MP, 2004).

Os estudos de revisão observam níveis claramente aumentados de auto-estima, humor e qualidade de vida (Silva CF, 1991; Berger BG, 2001; Biddle SJ, 2001) nos indivíduos que praticam regularmente AF e, consequentemente, uma diminuição dos estados de depressão (Dunn AL, 2005) e da insatisfação da imagem corporal (Schwartz MB, 2004). Ao longo do programa de intervenção, todas as mudanças podem ser consideradas imprescindíveis, pelo papel mediador que exercem, interagindo na maneira como o indivíduo adere às tarefas propostas (Baranowski T, 2003) Assim sendo, as variáveis, anteriormente referidas, devem ser objecto de avaliação e de uma análise cuidada e continuada durante a abordagem e tratamento do excesso de peso e obesidade.