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B – ESTUDO LONGITUDINAL

B.2 – ESTUDO COMPARATIVO E DE INTER-RELAÇÃO DE VARIÁVEIS

3. CARACTERIZAÇÃO NUTRICIONAL E DA COMPOSIÇÃO CORPORAL

Diferentes marcadores antropométricos podem ser utilizados para avaliar a composição corporal (Minghelli B, 2010). Contudo, para o rastreio do sobrepeso/obesidade neste grupo etário, a OMS recomenda a utilização do cálculo do IMC de Quetelet

[IMC=peso(kg)/altura 2(m2)] por esta apresentar uma forte correlação com a percentagem de

gordura corporal (Kimm SY, 2002; Anderson PM, 2006; Moayeri H, 2006) e ser o método internacionalmente aceite para definir o excesso de peso/obesidade em idade pediátrica (Prentice AM, 2001; Lobstein T, 2004; Padez C, 2004; Andersen LF, 2005).

A identificação do sobrepeso/obesidade em crianças e adolescentes, através de estudos transversais, tornou-se uma prática comum para a determinação da sua prevalência (Neutzling MB, 2000; Kalies H, 2002; Amaral O, 2005; Assis M, 2005; Apfelbacher C, 2008). Segundo alguns autores, a magnitude da obesidade tem um papel determinante no

prognóstico e resolução da doença, tornando-a, por vezes, difícil e complicada (Nuutinen O, 1992; Assis M, 2005; Apfelbacher C, 2008; Onis M, 2011).

A avaliação antropométrica das crianças/adolescentes estudadas em função do grupo etário, revela valores médios significativos, mais elevados para o peso (z-score= 4,0±1,7; p<0,001) e o IMC (z-score= 4,3±2,1; p<0,001) no grupo mais jovem (≥ 6 <9 anos) (Tabela 8). Quando analisamos estes mesmos parâmetros, em função do sexo, apenas a estatura apresentou diferenças, estatisticamente significativas, para o sexo (p=0,028) (Tabela 7). Observa-se, independentemente do sexo, uma elevada prevalência de obesidade em função do percentil de IMC (Tabela 9) e a caracterização do estado nutricional pelo z-score de IMC, de acordo com os critérios do CDC (CDC, 2000), verifica tratar-se de uma população com elevada magnitude de obesidade (Z-score de IMC> 2,3) em ambos os grupos e nos dois sexos (masculino=81,3%; feminino=69,3%) (Tabela10). A inexistência de diferenças, entre os sexos, relativamente ao sobrepeso/obesidade, tem sido, também, observada em vários estudos transversais, de crianças/adolescentes do continente europeu (Livingstone B, 2000; Lobstein T, 2003).

A determinação da gordura corporal total (% MG para o peso corporal), revela valores elevados em ambos os grupos avaliados (Tabela 11) e não foram encontradas diferenças, estatisticamente significativas, entre os sexos, em cada grupo [≥ 6 <10 (p=0,737); ≥ 10 (p=0,195)]. Estes resultados são concordantes com trabalhos realizados em diferentes regiões do nosso pais (Rego C, 2004; Carmo I, 2006; Carmo I, 2007; Amaral O, 2007; Ferreira RJ, 2008; Pedrosa C, 2009).

Como foi referido anteriormente, observou-se, também, na população estudada, uma elevada percentagem de obesidade parental (Tabela 37), com valores mais elevados nas mães dos dois grupos de estudo (≥ 6 <10 e ≥10) (Tabela 38). Será bom lembrar que valores de IMC mais elevados foram também observados no grupo das crianças mais jovens (Tabela 8), o que leva à implementação de uma consciencialização global da doença e maior sensibilização e motivação para a necessidade urgente de tratamento familiar. O valor do IMC apresenta uma forte relação com a diminuição da qualidade e da expetativa de vida (Franks P, 2010) e, aparentemente, valores elevados de IMC, desde idades precoces, são responsáveis pelo comprometimento da saúde, no futuro, mesmo que se verifique uma redução da adiposidade (Peralta LS, 2010).

O objetivo do tratamento individual da criança/adolescente, pretende a manutenção, ou perda, de peso corporal, de forma que o IMC diminua à medida que a criança/adolescente aumenta a sua estatura (Rego C, 2007). Quando se procedeu à análise da variação do estado nutricional, entre os dois momentos de avaliação, verificou-se uma diminuição dos valores médios de z-score do peso, IMC e percentagem de massa gorda (%MG) (Tabela 92), com diferenças estatisticamente significativas entre a 1ª e 2ª avaliação para todos os parâmetros estudados. A melhoria do estado nutricional, deste grupo, de intervenção longitudinal, é reforçada pela constatação da diminuição de indivíduos com IMC ≥Pc95, nos dois grupos etários, entre as duas avaliações (Tabela 93).

Quanto à análise dos resultados, do IMC, expresso em valor de Z-score, considerando os dois grupos e por sexos, a redução foi mais acentuada no sexo feminino do grupo mais jovem (≥6 <10) (Tabela 94). Esta tendência de melhoria do estado nutricional não foi, no entanto, observada no grupo respeitante aos progenitores. Efetivamente, não se registam qualquer alteração no estado nutricional das mães, registando-se uma discreta melhoria apenas para os pais (Tabela 112).

Tem vindo a observar-se um valor preditivo da mudança de peso dos pais, na mudança de peso dos filhos, em programas de intervenção com a família (Wrotniak BH, 2004). Mais, o controlo parental demonstrou ser uma variável preditiva, independente do valor de sobrepeso/obesidade, durante a infância e a adolescência (Danielzik S, 2002; Heinberg LJ, 2010).

Sabendo que a persistência de obesidade na idade adulta e as comorbilidades, a ela associadas, são tanto mais graves, quanto maior for a sua severidade, na idade pediátrica, a magnitude do IMC da globalidade da amostra, sustenta a hipótese de, à partida, se tratar de um grupo de elevado risco e de mau prognóstico. Tem vindo a verificar-se que a obesidade, depois dos 3 anos de idade, se associa a maior risco de obesidade, na idade adulta, bem como a maior morbilidade cardiometabólica e mortalidade (Braet C, 2004; Padez C, 2005). Refira-se, ainda, que o risco de persistência, desta patologia, na idade adulta, parece, também, estar associada com a idade de início da obesidade (Rego C, 2002). Há quem advogue que, por questões preventivas, durante a idade pediátrica deverá preconizar-se, pelo menos anualmente, uma avaliação antropométrica e caracterização do estado nutricional (Fernandez JR, 2004; Barlow SE, 2007).

4.MUDANÇASCOMPORTAMENTAIS/ESTILOSDEVIDASAUDÁVEIS

4.1. ACTIVIDADEFÍSICAESEDENTARISMO:INFLUÊNCIANOESTADODENUTRIÇÃOE

COMPOSIÇÃOCORPORAL

Embora subsistam algumas dúvidas sobre o papel da atividade física, na etiologia da obesidade, durante a infância e a adolescência, parece ser evidente que níveis baixos de exercício físico podem predispor para o aparecimento do sobrepeso/obesidade, em qualquer grupo etário (Livingstone B, 2000; Gouveia E, 2009). Simultaneamente, tem vindo a verificar- se um decréscimo da prática regular de atividade física diária, ao longo das últimas décadas, principalmente no período da adolescência e, mais marcadamente no sexo feminino (Strauss RS, 2001; Anderson PM, 2006; Hassing SG, 2008; Antunes A, 2011).

No presente estudo, observam-se índices de atividade física muito baixos, em ambos os sexos, nos dois grupos de crianças e adolescentes (Tabela 12). Comparativamente com o sexo masculino, as raparigas são mais sedentárias (feminino=70% vs masculino=56%), embora sem diferenças estatisticamente significativas entre os grupos etários [feminino (p=0,220); masculino (p=0,882)]. Este resultado vai de encontro a outras investigações, em que o sexo masculino apresenta um valor de atividade física médio/superior às raparigas (Mota J, 2002; Huang JS, 2007).

A grande disponibilidade de alimentos, densamente energéticos, os hábitos de vida, cada vez mais sedentários, aliados ao elevado número de horas de televisão e de jogos/computador, são comuns na sociedade atual, e, em especial, nas populações urbanas (Burrows AR, 2001). A forte associação entre estas duas entidades (sedentarismo e obesidade) tem sido sistematicamente, observada nas camadas mais jovens (Committe on Nutrition, 2003; Mendes P, 2003; Halford JCG, 2004; Neville L, 2005), onde crianças/adolescentes que despendem duas, ou mais, horas por dia, em atividades sedentárias, apresentam um risco 2 vezes mais elevado de se tornarem obesas (Kaur H, 2001).

Na população estudada, observou-se um elevado número de horas semanais dispendido a ver TV/computador/jogos electrónicos (Tabela 13) e não se observam