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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA DIAGNOSE

4.1 ATIVIDADE ORAL BASEADA EM UM VÍDEO PUBLICITÁRIO

Neste primeiro momento das atividades de diagnose, deu-se preferência à exposição de uma campanha publicitária elaborada a partir de um vídeo (com duração de 30 segundos), produzido pela “Rede Globo” e pela “ONU Mulheres”, disponível no endereço eletrônico: <https://www.youtube.com/watch?v=vFxLgVGpFRs>. Nesse material são mostradas cenas que se assemelham àquelas encontradas em muitos lares, tais como: ponta da escada, banheiro com a porta parcialmente aberta e a borda de um tapete no chão. Juntamente com essas imagens metonímicas, insere-se uma fala com as seguintes informações: “A cada 15 segundos

uma mulher cai da escada, escorrega no banheiro ou tropeça no tapete”. Em seguida, o cenário

que se apresenta remete à ideia de um hospital, também fazendo uso da metonímia, uma vez que mostra um soro hospitalar e a mão de uma mulher que estaria deitada em uma cama no hospital.

Concomitantemente à aparição dos elementos anteriores, dá-se continuidade ao enunciado com a seguinte mensagem: “E a cada uma hora e meia uma mulher não sobrevive para contar a

próxima desculpa”. Ao final, as imagens são retiradas, sendo substituídas por um fundo preto para

destacar as afirmações; retoma-se o percurso metonímico (a figura da mulher representando toda a sociedade) e são inseridos verbos no imperativo (omitir, denunciar, ligar) para expor as últimas sentenças quem compõem o texto: “Toda vez que uma mulher é agredida, a sociedade inteira é

agredida também. Não se omita. Denuncie. Ligue 180 antes que seja tarde.”.

4.1.1 Discussão introdutória acerca da temática abordada

Após a exibição do vídeo, foi solicitado aos alunos que se manifestassem acerca das impressões extraídas do material exposto. Dentre as colocações feitas pelos discentes, foi dito que se tratava apenas de uma mulher que havia caído da escada, outros alunos disseram que a mulher teria escorregado no banheiro ou tropeçado no tapete. Logo após, uma aluna respondeu que se tratava de violência doméstica e que as falas estavam se referindo a desculpas. Alguns também fizeram referência à mão descrita anteriormente, já que – segundo eles – simbolizaria uma mulher caída e provavelmente morta. Vários deles se sentiram motivados a expor seus posicionamentos neste primeiro momento de socialização.

Em seguida, dividiu-se a turma em grupos entre quatro a seis alunos e foi pedido a eles que iniciassem uma breve discussão a respeito do que as equipes perceberam sobre o anúncio.

Depois disso, foi solicitado que os alunos principiassem a exposição das ideias discutidas por cada grupo.

Iniciaram-se, assim, as exposições. A aluna A socializou a opinião do grupo I, falando que a violência física foi o tema que gerou maior debate entre os estudantes daquela equipe, pois é algo muito presente nos jornais e na própria comunidade deles. O discente B (grupo II) citou a agressão verbal, assim como fez alusão ao assédio moral e a falta de respeito dos homens em relação às mulheres, já que – segundo ele – muitas delas são ofendidas por seus parceiros, tanto em casa quanto em ambientes públicos, enquanto outras são assediadas sexualmente por causa das roupas que vestem ou por andarem desacompanhadas, por isso são tratadas como um objeto de desejo.

Após os comentários anteriores, a aluna C (grupo III) reforçou a questão da violência doméstica destacada no vídeo. O educando B retomou a fala para relacionar esta situação a uma tentativa de imposição do machismo, já que este pensamento advém de um processo histórico; ambos concordaram que esse tipo de atitude é constante na sociedade e que não está presente apenas nas grandes cidades, visto que muitos já se deparam com casos ocorridos na vizinhança ou no próprio convívio familiar.

No entanto, durante a referida socialização, uma opinião destoou das manifestações, já que a aluna C fez a ressalva de que, às vezes, a mulher dá motivos para que esse tipo de violência se estabeleça – amparando seu ponto de vista na postura e nas vestimentas inadequadas, segundo ela; algo que foi prontamente rebatido pelo discente B, quando ele fez alusão ao estupro coletivo ocorrido na cidade do Rio de Janeiro e pontuou que a forma de se vestir, por exemplo, não é motivo para que ocorra a violência. Ele ainda se manifestou sobre a importância de o homem dividir tarefas e responsabilidades com a mulher [houve aplausos]; além disso, alertou para a necessidade de punições mais rigorosas para combater estas práticas de violência.

Na continuação das discussões, a aluna D (grupo IV) preferiu relatar a falta de atitude da mulher, pois muitos casos não são denunciados por elas; ponto este reforçado pela aluna E (grupo II). Já a discente F (grupo V) atestou que as desculpas inventadas pelas vítimas seriam uma forma de camuflar a realidade [ela chora após a colocação]; na sequência expõe que, quando a mulher passa por uma situação de violência, toda a família sofre, todos ficam expostos perante a sociedade e reafirma, de maneira enfática, que é necessário denunciar [fez-se um grande silêncio na sala].

Na sequência, o aluno B se posicionou apresentando dados estatísticos. Segundo ele, a cada onze minutos uma mulher é vítima de estupro, ainda acrescentou que - para haver uma atenção maior da população - foi preciso que um caso ainda mais grave chegasse à mídia. A aluna

D posicionou-se dizendo que muitas mulheres evitam as denúncias por causa do receio de que seus parceiros não sejam punidos e retornem para agredi-las, acrescentando que isso pode estar próximo da realidade de cada um. Desta feita, a discente D informou que recentemente sua vizinha tinha sido vítima de um caso de abuso e o aluno B ponderou que várias denúncias deixam de ser feitas porque a mulher se preocupa com o pensamento da sociedade, inclusive coma manutenção de sua imagem no ramo profissional.

Todas as manifestações aqui citadas, assim como as demais, ocorreram de forma espontânea na sala de aula. Apesar de algumas colocações demonstrarem influências do senso comum e também interferência da própria mídia; houve consideráveis aprofundamentos nas discussões introdutórias que deram destaque à oralidade, já que muitas manifestações atestaram discursos que extrapolaram as informações ofertadas de maneira prévia no decorrer do vídeo, muitos alunos até estabeleceram relação do material com a realidade vivenciada por eles.

Após as intervenções, tornou-se pertinente questionar os alunos sobre quais os elementos visuais que mais chamaram a atenção no decorrer das cenas; pode-se indagar também se os discentes conseguiram captar as mensagens verbais durante a exibição do anúncio. Posteriormente, inquiriu-se sobre outras questões inerentes ao tema abordado, visando perceber até que ponto houve adequada relação entre os diversos elementos que compõem a mensagem na busca pela formulação de sentidos.

Coube ainda perguntar aos alunos se o assunto apresentado faz parte da realidade deles, se já presenciaram esse tipo de situação, se conhecem a Lei Maria da Penha e qual a opinião que eles possuem acerca da temática tratada, inclusive levando-os a se posicionar sobre as formas de punição para quem comete esses atos.

Cumpre ressaltar que – apesar de se considerar um momento importante do trabalho - o foco principal não estava centrado na aludida peça, todavia o material acima descrito foi exposto com o propósito de chamar a atenção para o fato do anúncio ser um gênero que se insere em diversos meios e sofre adequações de acordo com o local de veiculação. Além do mais, teve como objetivo analisar se a alteração do suporte ocasionaria diferenças acentuadas na compreensão dos alunos em relação a esse tipo de gênero, assim como objetivou preparar os estudantes para os demais textos que seriam lidos por eles posteriormente, de acordo a etapa relatada a seguir.

É fato que o movimento inicial a partir da oralidade contribuiu para a compreensão do gênero propaganda, mas também ficou nítido que há diferenças relevantes entre percepção das mensagens contidas no vídeo em relação àquelas contidas nos textos impressos, uma vez que estes apresentaram uma compreensão menor quando comparadas àquele. Também é notório que a manifestação por meio da oralidade foi maior e mais ampla do que no momento da escrita.