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2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

2.5 SEMIÓTICA E PERSUASÃO

Conforme destacado na introdução deste trabalho, a sociedade tem se tornado cada vez mais dinâmica, logo exige leitores que estejam capacitados para esse processo. Nessa perspectiva, as informações contidas na comunicação tem se apropriado, cada vez mais, de recursos imagéticos que se agregam aos enunciados para constituir os textos.

Alguns gêneros são bastante marcados por esse tipo de linguagem não verbal, como é o caso do anúncio publicitário; contudo, mesmo aqueles que se caracterizam por serem opinativos ou informativos, também fazem uso da referida linguagem, uma vez que estes últimos são veiculados em suportes que potencializam esse tipo de linguagem, tanto na mídia impressa quanto digital.

Entende-se, portanto, que é importante abordar alguns aspectos sobre o caráter semiótico das construções textuais, haja vista que, por muito tempo, os elementos não verbais foram pouco enfatizados no trabalho com os textos, porém essa prática não está

completamente descartada, dificultando a eficácia do trabalho dentro e fora de sala de aula, no que diz respeito à linguagem como prática reflexiva.

Levando em conta esses recursos semióticos contribuem consideravelmente para a formulação e direcionamento dos sentidos do discurso – torna-se pertinente destacar a definição de Barros (2013: 07) quando assegura que “a semiótica tem por objetivo o texto, procura descrever e explicar o que o texto diz e o que ele faz para dizer o que diz”. Nesse sentido, constata-se que os elementos semióticos auxiliam na construção dos significados possíveis do texto. A referida escritora ainda acrescenta que:

A primeira concepção de texto, entendido como objeto de significação faz com que seu estudo se confunda com o exame dos procedimentos e mecanismos que o estruturam, que o tecem como um todo de sentido [...] [e] a segunda caracterização de texto não mais o toma como objeto de significação, mas como objeto de comunicação entre dois sujeitos. (BARROS, 2003, p. 07).

Observa-se, portanto, que a autora considera que há, na constituição do texto, uma indissociável relação de complementaridade entre o objeto de significação e de comunicação, juntamente com todos os elementos estruturais que neles possam estar contidos para atingir os propósitos comunicativos envolvidos na enunciação.

Esses fatores que compõem a linguagem global do texto, indubitavelmente contribuem para instigar a tomada de decisão do interlocutor nas mais diversas situações de comunicação - seja em um anúncio publicitário ou, até mesmo, naquelas construções textuais que carregam uma essência informativa.

Ratifica-se, então, que a semiótica também colabora para os processos de persuasão - com a adoção, por exemplo, de grande variedade de cores e formas, as quais se agregam aos os constituintes verbais das mensagens. Isso serve para tentar “modelar” os pensamentos e atitudes daqueles para quem o texto se destina, pr2omovendo relações entre enunciador e enunciatário que são capazes de interferir na forma de inserção das ideologias de um sobre o outro (no entanto isso será objeto de discussão em momento posterior).

Cumpre destacar, entretanto, que neste tópico não será feita uma descrição pormenorizada sobre os estudos semióticos, já que a finalidade não é discorrer de maneira extensa sobre concepções teóricas acerca da semiótica, mas sim esclarecer a importância que ela detém para consolidar a persuasão nos textos.

Feita essa ressalva, torna-se propositivo expor que, segundo o norte-americano Charles Sanders Pierce, as aplicações semióticas devem estar embasadas nas noções acerca dos signos (na forma como eles podem se manifestar perante os indivíduos e, particularmente neste estudo, de que maneira eles podem estar presentes nos diversos processos de persuasão que integram os textos argumentativos). Segundo esse autor, o aludido signo não se trata de algo

concreto e acabado, pois é modelado de forma progressiva, em decorrência das necessidades e/ou preferências empregadas na comunicação, demandas essas que estão relacionadas aos interesses do enunciatário; reforçando-se, com isso, a noção de que nenhum discurso é imparcial.

Com o intuito de promover uma breve definição sobre o signo tratado por Pierce, torna-se razoável tomar como base a noção de Santaella (2004, p. 08), já que, para a autora, “o signo é qualquer espécie [...] que representa uma outra coisa chamada de objeto do signo, e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial, efeito este que é chamado de interpretante de signo”.

Essa concepção deixa claro que a formulação dos significados dos textos não estão apenas na realização concreta do signo, porque ele é capaz de se reportar também – de maneira mais abstrata – aos sentimentos e a tudo mais que pode ser produzido pela mente e que é passível de ser exteriorizado pelos interlocutores, considerando os acordos propostos no decorrer das interações.

Outra questão que merece destaque, Segundo Santaella (2004), é que há uma crescente demanda dos signos na sociedade, ocasionada pela expansão de alguns suportes de comunicação - dentre eles estão o rádio e a televisão. Esse processo permite a manifestação de novas formas de conceber as mensagens e trabalhar conteúdos que, em consonância com as sentenças verbais, ampliam e realçam os sentidos produzidos pelas mensagens, conforme os interesses do enunciador. Essa expansão dos signos é exposta pela autora ao informar que:

Os signos estão crescendo no mundo. Basta um retrospecto para nos darmos conta que, desde o advento da fotografia, então no cinema, desde a explosão da imprensa e das imagens, seguida pelo advento da revolução eletrônica que trouxe consigo o rádio e a televisão, então, com todas as formas de gravação sonoras, também com o surgimento da holografia e hoje com a revolução digital que trouxe consigo o hipertexto e a hipermídia, o mundo vem sendo crescentemente povoado de novos signos. (SANTAELLA, 2004, pp. 13-14).

A presença cada vez maior desses processos semióticos na formulação das mensagens obedece aos anseios sociais que, devido à exigência de processos comunicativos mais ágeis e práticos, exige informações que rapidamente podem ser assimiladas pelas pessoas, porém muitas vezes isso pode gerar a aceitação antecipada do discurso do outro, uma vez que essas ideias acabam, em muitas ocasiões, apenas sendo assimiladas sem antes produzir uma reflexão sobre os interesses do enunciador durante o ato comunicativo, tanto nas situações formais quanto as mais típicas do cotidiano.

O destaque a essa situação é dado por Santaella (2004:29) ao corroborar com o pensamento de que “nossas interpretações vêm sempre muito depressa, sem nos dar tempo para simplesmente nos abrirmos com certa singeleza para o que se apresenta”. É notório,

portanto, o aumento das mensagens não verbais, as quais são percebidas constantemente nos diversos suportes e que se harmonizam com o texto verbal para produzir as informações desejadas pelo produtor do discurso.

Portanto o processo de seleção dos itens que compõem as mensagens não se restringe ao conteúdo vocabular, mas também se concretiza na escolha dos elementos semióticos que podem aprimorar a composição do texto e, consequentemente, auxiliar na tentativa de convencimento do enunciatário, para que este adote as informações do enunciador como verdade. Sobre essa relação dos componentes dos textos, Santaella (2004) destaca que:

Nas relações entre imagens e palavras predomina a complementaridade. Quer dizer, as mensagens são organizadas de modo que o visual seja capaz de transmitir tanta informação quanto lhe é possível, cabendo ao verbal confirmar informações que já passaram visualmente e acrescentar informações específicas que o visual não é capaz de transmitir (SANTAELLA, 2004, p. 50)

Convém, então, ampliar as discussões em sala de aula, no que tange aos componentes textuais, considerando que os constituintes imagéticos também são textos e podem funcionar como importante mecanismo de persuasão, uma vez que produzem informações - de maneira criativa, diversa e implícita (relacionadas ao não-dito, por meio de pressupostos) - para o enunciatário, o qual precisa desenvolver competência adequada para compreender e se posicionar diante dos textos não verbais.

Dessa forma, torna-se necessário orientar o aluno sobre as maneiras de interagir com essas mensagens, para que não haja uma aceitação prévia do discurso alheio, isto é, para que o discente possa se posicionar criticamente nas situações de contato com os conteúdos semióticos e refletir sobre as intenções que estes últimos carregam na composição textual.