Constituintes verbais: aspectos sintáticos e semânticos

Sobre as sentenças verbais encontradas nos textos, cumpre destacar que elas, associadas às imagens, também carregam em si muito mais do que a informação explícita, já que elas potencializam o discurso e favorecem a construção de sentidos, além de contribuir com os aspectos persuasivos que são inerentes aos textos publicitários. Tal posicionamento pode ser ratificado por meio da seguinte afirmação:

O texto escrito possui, mesmo quando o denega, o tom que dá autoridade ao que é dito. Esse tom permite ao leitor construir uma representação do corpo do enunciador (e não, evidentemente, do corpo do autor efetivo). A leitura faz, então emergir uma instância subjetiva que desempenha o papel de fiador do que é dito (MAINGUENEAU, 2008, p. 98)

Considerando-se essas questões, torna-se significativo trabalhar com o aluno as formas de alinhamento dos aspectos linguísticos, semióticos e ideológicos presentes na formulação de sentidos do texto (inclusive do gênero publicitário), não apenas como forma de entender os contextos e mensagens existentes, mas também na intenção de promover o diálogo com os enunciados - ora para negociar sentidos com eles, ora para refutá-los; ou seja, é preciso instituir-se o posicionamento crítico - enfatizado no início deste trabalho – para que não se configure aceitação imediata do texto.

a) Amostragem dos anúncios institucionais

Quando questionados sobre a relação que haveria entre os constituintes verbais e os elementos visuais (pergunta 07), pretendia-se que os alunos utilizassem o enunciado “Está em

nossas mãos plantar esta ideia” para relacioná-los, respectivamente a noção de que as mãos que sustentam a árvore representariam o próprio ser humano como o responsável por constituir a base de sustentação do meio ambiente, através da propagação do conceito de preservação.

Na segunda sentença, “Dengue: apenas você pode virar este jogo”, almejava-se que o educando fizesse uso, principalmente, da palavra “virar” para instituir o valor semântico de modificar a realidade, agindo de maneira responsável: evitando que os recipientes ficassem expostos com água parada, para que não houvesse a proliferação do mosquito causador da doença. Na sequência, estão transcritas duas respostas que mais se aproximam destas compreensões e outra que contrasta com esses propósitos.

Resposta I

Combinam sim porque se percebe Que o tronco da arvore e uma mão. E ta tudo de cabeça para baixo

Ele quer dizer Que podem vira uma tampa ou uma tigela.

(A. A. F. P.)

Resposta II

Sim. Porque as mensagens verbais fazem todo o sentido com os anúncios

(J. B. C.)

Resposta III

Plantar e cuidar combinou com a arvore saudável e as garafas, peneus e lixeiras bem limpas sem folco para o mosquito.

(S. C. M. C.)

b) Amostragem dos anúncios comerciais

Acerca deste segundo grupo de anúncios, almeja-se que os estudantes percebessem como os componentes verbais criaram o suporte para a formulação dos sentidos apresentados nos arranjos dos anúncios, os quais – neste segundo momento, pretendiam induzir o potencial consumidor a assumir as ideias que lhes foram ofertadas para que eles se sentissem instigados a adquirir determinado produto.

Na primeira peça publicitária, o anúncio relega a informação a um plano inferior para investir, quase que exclusivamente, no ethos. A sentença inicial produzida pelo anunciante – “Ainda não decidiu o que dar de presente neste dia dos namorados?” visa à aproximação com o público na tentativa de constituir uma espécie de diálogo informal, confirmado quando o

próprio anunciador se prontifica para ajudar e usa a expressão “Uma dica...”. Após a pausa no enunciado, o produtor do texto tenta convencer de que a bebida por ele vendida seria uma boa forma de expressar a paixão pelo ser amado e, buscando consolidar adesão a esse pensamento, usa metonimicamente o verbo “abrir” no imperativo para elaborar a seguinte frase: “Abra uma Coca-Cola com quem você ama.”, sempre associando a constituintes semióticos relacionados à cor vermelha e corações que parecem sair da garrafa no momento em que ela é aberta.

Acerca das expressões contidas no segundo anúncio, a empresa utiliza-se de uma frase aparentemente simples – “Por mais laços de carinho” – para promover a ambiguidade na constituição de sentidos presentes no vocábulo “laço”, o qual poderia simbolizar o estreitamento de relações afetivas que se configurariam a partir de produtos ofertados como presentes, instituído de forma abstrata por meio da ideia de que o laço corresponderia ao enfeite (detalhe) que compõe a embalagem deste tipo de produto quando o mesmo é dedicado a alguém.

Em seguida, a empresa adota uma informação complementar: “Um simples gesto de carinho pode mudar a vida de uma pessoa. Agora imagine isso multiplicado por todo mundo que você conhece”. Desta forma, o anunciante tenta atrelar a noção de que presentear as pessoas com os produtos divulgados pela marca do anúncio seria uma maneira de expor os sentimentos por pessoas consideradas especiais e isso tornaria melhor os indivíduos.

A maioria das respostas desse segmento foi superficial e novamente não evidencia nenhuma manifestação de distanciamento do aluno em relação ao anunciante, - como, por exemplo: “a marca quer que a gente associe o perfume dela com amizade”. Com isso, acabam aceitando prontamente as informações que o anunciante estabelece e tomam para si os conteúdos das mensagens. Contudo as respostas não deixam de ser pertinentes, se for levado em consideração apenas o que é solicitado pela questão:

Resposta I

Sim porque um fala sobre o afeto que uma pesso a tem umas para outra

(A. A. F. P.)

Resposta II

Sim as mensagens e de carinho, com a pessoa que você gosta, amigos e familiares

(J. B. C.)

Resposta III

Sim, são imagens que representam sua marca