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3 METODOLOGIA

3.3 A COMUNIDADE INVESTIGADA

A unidade escolar selecionada para o recolhimento dos dados foi a escola estadual de ensino fundamental Maria Hyluisa Pinto Ferreira, situada no município de Curuçá. A escola apresenta alunos proveniente de diversas partes da cidade – zona urbana, zona rural, bairros periféricos e outros próximos do centro. Nota-se, dessa forma, que a unidade escolar constitui importante pluralidade sociocultural, a qual é indispensável para a consolidação dos materiais extraídos durante as ações do trabalho.

A citada unidade educacional foi fundada no dia 29 de junho de 1954, possuindo 63 anos de existência. Primeiramente recebeu o nome de Escolinha da Marambaia, devido ao fato de estar localizada nas proximidades do bairro de mesmo nome e de onde vinha a maior parte do alunado atendido pela unidade de ensino.

Posteriormente, a escola foi ampliada e passou a receber um público mais diversificado. Nesse momento, surgiu a ideia de alterar o nome da escola para homenagear uma antiga moradora da cidade, bastante influente pelos serviços sociais e voluntários prestados na época, dentre eles o de parteira, enfermeira e professora da unidade escolar, ajudando, inclusive, na reestruturação e ampliação do antigo prédio.

No decorrer de todos esses anos, a escola passou por algumas reformas estruturais – sendo a última em 2014. Esses reparos melhoraram alguns espaços físicos da unidade escolar. Contudo, a maior mudança ocorreu no âmbito curricular, no ano de 2006, pois a unidade

educacional deixou de atender alunos do ensino médio para concentrar suas ações pedagógicas com alunos do ensino fundamental. Atualmente ela possui, aproximadamente, mil alunos, do 3º ao 9º ano e praticamente metade dos discentes são oriundos da zona rural.

No que se refere às modalidades, a escola dispõe de 22 turmas de ensino regular e 05 da modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos), todavia esta última só tem disponibilidade no período noturno e contempla, em sua grande maioria, pais e responsáveis dos alunos que estudam durante o dia, já que muitos deles – dos pais – tiveram poucas oportunidades de estudo na época da infância e adolescência.

Além das onze salas de aula, cumpre destacar que a escola possui um amplo laboratório de informática com acesso à internet, assim como detém uma sala de leitura com vários títulos relacionados à literatura infanto-juvenil. Ademais, todos os alunos possuem livro didático das disciplinas que constam no currículo escolar. No decorrer do ano letivo, também são realizados alguns projetos voltados para datas comemorativas - como o Dia da Consciência Negra - e algumas vezes são efetivadas feiras culturais com temáticas diversificadas.

Na unidade escolar adotada para a realização da pesquisa, há muitos alunos que constantemente perdem o interesse pela escola e cada vez mais realizam o ato de ler e escrever apenas como um processo formal de avaliação, sem relacionar estas práticas às situações decorrentes das relações sociais. Portanto, pouco questionam, refutam, argumentam, ou ressignificam o que leem e escrevem.

O trabalho pretende contribuir justamente para a aproximação entre os aprendizados escolares e as vivências sociais dos educandos, propondo formas de trabalho mais dinâmicas, capazes de inserir o aluno no processo de produção de conceitos e de (re)organização das ideias a partir da troca de experiências com outros indivíduos.

Em relação à escola pesquisada, é pertinente essa busca pela proximidade entre teoria e prática, pois é inegável que as ações ainda necessitam de bases mais sólidas para que os docentes, principalmente aqueles que trabalham com as linguagens, atuem como facilitadores do processo pedagógico, tornando-o mais estimulante e favorecendo o interesse do aluno pelas múltiplas manifestações da língua.

Os dados estatísticos da própria escola4 servem para evidenciar as lacunas existentes no processo de ensino-aprendizagem, já que no ano de 2016, apesar do baixo número de evasão (11,4%), houve uma quantidade considerável de alunos reprovados e retidos nas ____________________________

4 Levantamento extraído das informações apresentadas pela escola Maria Hyluisa Pinto Ferreira após o término do ano letivo de 2016.

turmas de 9º ano (26,4%), enquanto que a média de alunos aprovados se manteve razoável (60%). É o que se pode observar na tabela abaixo:

Tabela 1 - Dados estatísticos das turmas do 9º ano / referência 2016. TURMA

SITUAÇÃO F9M901 F9M902 F9T901 TOTAL PERCENTUAL

Matriculados 47 47 46 140 100% Transferidos 01 00 02 03 2,2% Desistentes 05 08 03 16 11,4% Aprovados 24 26 34 84 60% Reprovados 05 04 04 13 9,3% Retidos 12 09 03 24 17,1% Promovidos 00 00 00 00 0%

Esse índice, quando comparado à taxa de reprovação dos demais anos finais do ensino fundamental, torna-se ainda mais preocupante, já que as turmas de 9º ano detêm o maior percentual de reprovação e o segundo menor de aprovação (praticamente empatado com o 8º ano, o qual possui 59,7% de alunos aprovados no decorrer do ano letivo de 2016, conforme observação contida no gráfico abaixo:

Gráfico 2 - Índices de aprovação e reprovação dos anos finais do fundamental

0 10 20 30 40 50 60 70

6º ano 7º ano 8º ano 9º ano

Aprovação Reprovação

Os dados do IDEB5 também colaboram para a compreensão das dificuldades que os alunos encontram no decorrer dos estudos. Apropriando-se dos dois últimos levantamentos desse Índice de Desenvolvimento da Educação Básica em relação aos alunos do último ciclo ____________________________

5IDEB é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, criado em 2007, pelo Instituto Nacional de Estudos

e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), formulado para medir a qualidade do aprendizado nacional e estabelecer metas para a melhoria do ensino. (Fonte: Ministério da Educação)

(8º e 9º ano), compreende-se que a Escola Maria Hyluisa ainda está longe de alcançar as metas previstas, uma vez que o IDEB observado nos anos de 2013 e 2015 foram, respectivamente, de 2,6 e 2,8; enquanto que a projeção para esses dois anos era de 3,8 e 4,2; tornando-se mais distante ainda em relação a 2017, cuja previsão é de 4,5. É o que se percebe no gráfico abaixo:

Gráfico 3 - Desempenho dos alunos no IDEB (anos finais do ensino fundamental)

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5

Escola Maria Hyluisa Curuçá Pará Brasil

2015 2013

O gráfico 3 mostra que o desempenho da unidade escolar pesquisada (no que diz respeito aos anos finais do ensino fundamental) fica abaixo do resultado de todas as esferas comparadas, levando em consideração as escolas pertencentes à rede estadual. Quando se relacionam essas informações às metas da escola na última década, percebe-se que a unidade de ensino não atinge sequer a projeção para o ano de 2007 que, naquele período, era de 3,0.

Nesse sentido, cabe a investigação com o propósito de reelaborar estratégias e reformular as metodologias de ensino, buscando aumentar o interesse do aluno em relação à linguagem, bem como possibilitar a formação de discentes mais críticos e autônomos, no que diz respeito às informações que os rodeiam.

Levando em consideração o panorama acima descrito, foram selecionadas duas turmas de 9º ano (uma do período matutino e outra do turno vespertino). Cabe destacar que a seleção dos participantes buscou contemplar estudantes oriundos da zona urbana e rural, com a finalidade de verificar se os espaços geográficos também interferem nos resultados das atividades.

A maioria dos alunos envolvidos na pesquisa já estão matriculados na escola Maria Hyluisa desde as séries iniciais do ensino fundamental. Essa permanência dos discentes na escola é ainda mais nítida quando considerados os dados do 6º ao 9º ano. Acrescente-se a isso o fato de que a evasão escolar durante o período diurno é baixíssima, contrapondo-se ao que ocorre com o público atendido à noite.

Com o intuito de encontrar resultados mais consistentes, foram selecionados, inicialmente, vinte sujeitos para a análise e descrição das informações recolhidas. A divisão

ocorreu de forma igualitária entre as turmas, ou seja, dez alunos de cada, sendo cinco meninos e cinco meninas.

Por inúmeras razões citadas nas respostas dadas ao questionário, muitos desses discentes demonstram ter pouco interesse pelo ensino de língua e é notória a dificuldade que eles possuem em relação à extrapolação dos conteúdos explícitos do texto, pois muitos estão habituados a decodificações e leituras superficiais desde o início de seus estudos. Vários deles têm a concepção de que a disciplina de língua portuguesa é apenas mais uma das quais eles precisam para somente alcançar as notas necessárias para passar de ano.