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ASPECTO OBSERVADO OC %

16) Um aluno escreve uma sentença contendo um erro gramatical: Igor don't like

5.2.4 Atividade 4: What time is it? (ANEXO D)

Janaina e Maria trazem uma atividade na qual constam as figuras de 16 relógios. A partir destes, as professoras ensinam os alunos como dizer as horas em inglês. Uma série de exercícios de compreensão se sucede à explicação.

A atividade ilustra mais um exemplo da indissociabilidade entre língua e cultura (BRANDÃO, 2002; BROWN, 2000, 2001; KRAMSCH, 1998; KEESING, 1974). Apesar de favorecer o trabalho centrado nos aspectos visíveis da cultura – as formas de se expressar as horas e os contextos em que uma maneira ou outra são utilizados – uma abordagem com foco na cultura subjetiva também é possível, mediante a discussão, por exemplo, da relação que as pessoas estabelecem com as horas. Como as culturas – tanto de origem quanto a alvo – se relacionam com o atraso? Qual o limite tolerável em um encontro pessoal? E em um encontro de negócios? Essas são apenas algumas das questões que podem ser trazidas à discussão, afinal, como nos ensina Kramsch (1993), apenas quando a cultura é tratada com fatos e sentidos, é possível compreendê-la de forma mais completa.

19) O 12º relógio indica 5:25. Maria apresenta as duas formas possíveis de se dizer em inglês: five twenty-five ou twenty-five past/after five. Ela pergunta aos alunos se é comum utilizar vinte e cinco depois das cinco no Brasil. Os alunos dizem que não. Maria então conclui que, assim como é mais comum dizer cinco e vinte e cinco em português, também o é em inglês, embora ressalte que ambas as possibilidades estão corretas;

20) Ao final da atividade, Janaina explica que, em situações corriqueiras, não se utiliza o formato de 24h e sim o de 12h, para se expressar as horas. Dessa maneira, ela exemplifica que 5:00 P.M é mais comum do que 17:00. Todavia, Janaina ressalva que o formato de 24h – seventeen hundred hours, no exemplo dado – é utilizado quando se quer expressar as horas com precisão, sem que haja espaço para dúvidas. Ela cita dois exemplos: o primeiro vem das sitcoms estadunidenses, quando os personagens querem marcar encontros e desejam deixar claro a que horas devem se encontrar. O segundo vem da utilização das horas por controladores de tráfego aéreo, que precisam expressá-las com a máxima precisão;

21) O 11º relógio indica 5:20. Janaina escreve no quadro as duas formas possíveis de se expressar essa hora: five-twenty ou twenty after/past five. Um aluno pergunta qual seria a pronúncia correta de twenty: /'twenti/, com o morfema t pronunciado, ou

/'tweni/, com ele mudo. Janaina afirma não haver problema com a escolha de uma possibilidade ou da outra: "No problem. /'tweni/, /'twenti/; /pəˈteɪtəʊ/, /pəˈtɑːtəʊ/"; No excerto 19, Maria traça um paralelo entre as formas de se expressar as horas no Brasil e nos países de língua inglesa. A comparação entre culturas, como já vimos no decorrer dessa escrita, é mais que bem vinda (BENNETT, 1998, KRAMSCH, 1993, 2001, TRIFONOVITCH, 1980). Neste caso, facilita o aprendizado, pois trata-se de um aspecto cultural associado ao sistema linguístico do inglês, o qual possui semelhanças com o sistema linguístico do Português. Porém, ao deduzir que, assim como uma forma específica de expressar as horas é mais comum na cultura de origem, também o é na cultura alvo, Maria parece simplificar as relações entre as culturas. Por um lado, é correto afirmar que a forma vinte e cinco depois das cinco é incomum no brasil. Todavia, na minha experiência, ambas as formas são largamente utilizadas na cultura alvo, tanto nos materiais didáticos com os quais já trabalhei quanto nas oportunidades de interação que tive com falantes de inglês, nativos ou não, quer seja aqui no Brasil ou no exterior.

No excerto 20, Janaina acerta quando contextualiza o emprego das horas em situações distintas e com diferentes níveis de formalidade. Ao fazê-lo, auxilia o aluno a compreender melhor o cenário em que cada forma se insere nos diversos tipos de interação. Em seu livro

Context and Culture in Language Teaching, Kramsch (1993) nos fala da importância de

compreendermos o contexto social em que uma situação está inserida como forma de lidar com sua ambiguidade, com vistas a prevenir ou recompor possíveis falhas de comunicação. Não obstante, a situação teria sido ainda melhor aproveitada caso Janaina tivesse estabelecido comparações com a cultura de origem, discutindo, por exemplo, em que situações nós utilizamos uma ou outra forma de expressar as horas.

No excerto 21, Janaina utiliza uma expressão idiomática bastante comum da cultura alvo:

potato, potato – com o morfema "a" sendo pronunciado como o ditongo "ei" em beijo, no

primeiro exemplo, e como normalmente se pronuncia em português, no segundo exemplo – para indicar que ambas as possibilidades questionadas pelo aluno estão corretas. A expressão vem de uma canção dos irmãos Gershwin – Let's Call the Whole Thing Off – composta para o filme estrelado por Fred Astaire e Ginger Rogers, “Vamos Dançar?”, de 1937. No filme, a diferença na pronuncia das palavras – além da palavra potato, são utilizadas cinco outras palavras – são um indicativo do distanciamento social entre os personagens. Com o passar do

tempo, passou a ser amplamente utilizada para indicar que duas coisas são iguais, apesar de pequenas diferenças.

Como foi dita em resposta a uma indagação de um aluno, portanto em uma situação não planejada pela professora, a expressão foi utilizada sem ser contextualizada ou mesmo explicada, apenas como um exemplo de heterofonia entre palavras, sem prejuízo de significado, utilizado pala ilustrar uma resposta dada, quando há, na verdade, muito mais por trás da expressão, como visto. É preciso ressaltar que essa reflexão foi feita na condição de pesquisador, após rever as aulas observadas e refletir sobre elas. É compreensível que a professora, entre tantas coisas a serem observadas e pensadas durante as aulas, não tenha tido a chance de refletir acerca desse aspecto.