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Atividades/ações para os diversos públicos (homens e mulheres) assistidos pelo CAPS

CAPÍTULO 4: O CONTEXTO DE TRABALHO, SIGNIFICADO, POSSIBILIDADES

4.2 A construção das relações sociais e dinâmica do cotidiano de trabalho no CAPS

4.2.12 Atividades/ações para os diversos públicos (homens e mulheres) assistidos pelo CAPS

Por haver um número pequeno de mulheres, não existem atividades específicas dirigidas a esse público no CAPS AD Primavera; isso aparece como um fato que pode provocar a falta de regularidade das mulheres nas atividades ofertadas, e também um fator que gera a desistência do tratamento.

Porém, foi relatado por uma das entrevistadas que houve um momento que o CAPS ofertou atividades distintas, e a possibilidade de retorno desse grupo já está sendo discutida entre a equipe, justamente no sentido de incentivar a adesão feminina. De acordo com os depoentes:

Já houve grupos específicos voltados para mulheres feito pela psicóloga e a assistente social, mas deixou de existir em 2013. Já houveram também oficinas pontuais, escuta psicológica feito por 2 profissionais, mas foi descontinuada pela saída dos mesmos; houveram também as oficinas manuais voltadas para o público feminino voltada para geração de renda (MARGARET, 2016).

Tem oficinas que a gente pode enquadrar mulheres, mas tem oficinas que são dedicadas mais para o público masculino [...], porque a demanda do público feminino é menor e não teria uma quantidade suficiente para ofertar (BOBBY, 2016).

Aqui vale destacar que não se tratar de enquadrar a mulher aquilo que está proposto entre as atividades para o atendimento de ambos os públicos, mas de estudar, analisar e compreender quais as demandas objetivas e subjetivas que envolvem as relações sociais dos (as) usuários (as) que integram o serviço ali ofertado. Entende-se que o trabalho de adesão feminina e até mesmo masculina nesses serviços perpassam a constituição de processos que englobem a sua realidade cotidiana, seus projetos de vida e as suas trajetórias sócio-históricas que o trouxeram até ali.

O depoimento a seguir já demonstra a preocupação em lidar com uma dessas dimensões ao assinalar a proposta de uma oficina sobre violência, porém, é preciso trabalhar aspectos que tornem essas mulheres autônomas e conscientes dos mecanismos de defesa de direitos e da rede disponível para atendê-las, além disso, é relevante destacar que o (a) protagonista da violência também seja trabalhado (a) e responsabilizado.

Até então não, inclusive está pensando em fazer uma oficina de sexualidade, justamente é o maior risco da mulher que no aspecto da sexualidade, da violência, a violência sexual ainda é maior na mulher, a violência intradomiciliar é sempre maior do homem para com a mulher [...]. A oficina da sexualidade é uma proposta [que] tem focado principalmente tentar dar uma atenção diferenciada ao gênero feminino, mas até então não é tudo igual (PENÉLOPE, 2016).

Tudo depende do PTS (Projeto Terapêutico Singular) e das Assembleias dos usuários; na Assembleia sinalizam o que eles querem, inclusive as mulheres, só que a gente sente que a minoria das mulheres acabam se colocando nesse espaço; e também tem um PTS, que é sentar junto com o seu usuário. Qual o seu projeto terapêutico [sic] vai que você busca para sua vida? E nesse caminho, independente do gênero, é claro que gênero é uma variável que vai interferir em algumas situações, mas ele traz consigo um projeto de vida enquanto ser humano [...], às vezes observa que muitas mulheres que estão aqui no CAPS e elas acabam assumindo um comportamento sem perceber, não sei, um comportamento mais masculino para se firmar aqui nesse espaço; [...] se você observar as mulheres, algumas mulheres, elas constroem uma armadura para se proteger, não sei se a vivência de rua em que e elas acabam sendo mais endurecidas para poder suportar [...] (CAILLOU, 2016).

Neste caso, percebe-se também a relevância de se atentar para as particularidades trazidas pelas mulheres, que muitas vezes passam despercebidas pelo número inferior de

usuárias que frequentam os serviços. Ou seja, a disparidade numérica entre os dois públicos ocasiona, mesmo que de forma não intencional, a desatenção às especificidades trazidas por mulheres, que muitas vezes ultrapassam a proposta do CAPS AD. “[...] acreditamos que esse pode ser um dos motivos de impedimento à vinda das mulheres ao serviço, [...] muitas delas possuem conflitos com os parceiros, inclusive com história de violência doméstica e, nesse caso, a predominância de homens pode inibi-las [...]” (SILVA, 2013, p. 35-36).

Esses elementos também foram apontados como uns dos fatores que podem cercear a participação mais ativa do público feminino no CAPS AD Primavera, pois observa-se que este espaço recebe de forma mais ativa homens, o que torna o ambiente um pouco masculinizado, e consequentemente as demandas masculinas acabam sendo mais visíveis e atendidas. Por outro lado o depoimento a seguir analisa que no tocante ao reconhecimento de direitos a mulher se comporta de forma mais empoderada, ao mesmo tempo em que dentro desses serviços elas se retraem em decorrência do número elevado do público masculino.

[...] acho elas muito mais em empoderadas do que os homens[...]. Claro que se você for analisar a dinâmica de grupo, [...] é possível que as mulheres se sintam um pouco mais retraídas, por questões muito íntimas delas, por ser mulher no universo masculino; mas em contrapartida, a maioria quase que absoluta dos cuidadores são mulheres, e aí essa relação da mulher cuidando acaba abrindo, desconstruindo muitos processos, assim, de machismo. As profissionais aqui acabam pautando a importância dessa horizontalidade, de se respeitar uma mulher. Eu não acho que isso venha causar intimidação não nas mulheres; assim, eu tenho muito medo dessas políticas setoriais. [...] os CAPS devem construir estratégias em ofertas para contemplar a diversidade das pessoas, [...] que contemplem toda diversidade da demanda (CAILLOU, 2016).

Os elementos apresentados nos ajudam a compreender melhor a questão da importância da transversalidade de gênero nas políticas públicas, revelam, sobretudo, a urgência de abordagens que foquem e trabalhem as especificidades que englobam o público de álcool e drogas, no sentido de viabilizar, fortalecer e favorecer a maior adesão ao serviço de saúde.

Dentro do roteiro delimitado, sentiu-se a necessidade de saber se a questão do número de usuários que utiliza esse serviço é menor porque mulheres usam menos drogas ou porque elas não se sentem à vontade no CAPS. O que mostrou-se contraditório, pois se sabe por meio de outras pesquisas que as mulheres buscam precocemente os serviços de atenção primária à saúde, e essas têm um maior cuidado e realizam as ações preventivas, ao contrário dos homens, como descrito pelo profissional “Caillou, 2016”, que destacou a criação da Política Nacional de Saúde do Homem, justamente para tentar reverter o quadro de “negligência” à saúde culturalmente praticada por eles. “[...] e aí, contraditoriamente, no AD

existem poucas mulheres... E isso me faz crer que existem menos mulheres fazendo uso de drogas, porque se existissem mais elas estão buscando cuidado [...]” (CAILLOU, 2016).

Porém, conforme já citado em outro momento, quando se trata do serviço especializado em álcool e outras drogas a demanda feminina decai, e, embora já citado, o estigma e o receio são fatores que interferem de forma significativa no cuidado em saúde voltado para a dependência química.

E, como já destacado, o número de mulheres usuárias de algum tipo de substância ilícita tem crescido, com efeito, o número de abusos e dependência química.

4.2.13. Desigualdades/discriminações de gênero sofridas enquanto profissionais atuantes