• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 4: O CONTEXTO DE TRABALHO, SIGNIFICADO, POSSIBILIDADES

4.2 A construção das relações sociais e dinâmica do cotidiano de trabalho no CAPS

4.2.14 Sobre a política e os direitos sociais

O uso de drogas é uma questão delicada que deve ser discutida com a sociedade de forma sincera, menos intolerante e sem preconceitos. Caso contrário, teremos dificuldades para estabelecer políticas assertivas e eficazes para reduzir o consumo e as consequências do uso abusivo e indevido de drogas entre as mulheres. Questionados sobre a possibilidade de mudança na política de atenção integral aos usuários (as) de álcool e drogas para que o atendimento melhorasse e os direitos sociais pudessem ser assegurados, os entrevistados ressaltaram a questão de pôr em prática aquilo que as normatizações preceituam. Para a entrevistada “Margaret, 2016”, “não se pensa nada em melhorar e, sim, executar e efetivar o que já existe, para observar e melhorar o que necessita” (MARGARET, 2016).

A ampliação do cuidado foi um dos destaques para esse item, pois, conforme a fala da entrevistada, por meio dos serviços territorializados em cada comunidade poderia se estabelecer estratégias de prevenção, proteção e promoção da saúde com o foco em álcool e outras drogas, pela proximidade do cotidiano dos moradores de cada região.

Já se tem algo bem-intencionado, por exemplo, aqui em Aracaju tem cobertura de 100% praticamente de PSF, isso haveria condições de todo esse território ter uma atenção voltada para o público de álcool e droga, já que é um público que, sim, tem se ampliado e aí se estivesse dentro das comunidades, numa atuação mais efetiva relacionada às famílias, adolescentes e até crianças, mesmos que já começam a ter contato, aos pais ao grupo em geral que fazem esse trabalho, acredito que seria mais efetivo. O CAPS AD é direcionado mais para adulto; é o único para a região de Aracaju toda e o município todo, e ainda que estivessem todas as pessoas, mesmo assim, não ia dar conta; então esse trabalho deveria realmente ser estendido nesse acompanhamento, nesse trabalho seria bem mais efetivo (BARBIE, 2016).

A articulação em rede intersetorial entre as políticas foi um dos itens citados como pontos de apoio, não só para o tratamento do usuário, mas para o desenvolvimento de novas possibilidades no projeto de vida desses, como, por exemplo, o acesso ao mercado de trabalho. Conforme destacam os depoimentos a seguir:

[...] teria que fortalecer as políticas da Assistência Social; são políticas reparadoras, são pessoas que elas não vão ascender socialmente de um dia pra noite, e a sociedade tem uma dívida histórica com essas pessoas, por “n” motivos; [...] e dar mais oportunidade para as pessoas de trabalho, enfim, se você conversar com vários colegas meus, você vai perceber que a droga não é a questão apenas, é a substância que os trazem aqui em um agravante de determinadas situações, mas são problemas sociais, afetivos [...] (CAILLOU, 2016).

Precisavam ser construídas na Política de Álcool e outras Drogas o retorno ao mercado de trabalho, a educação, a noções de cidadania para esclarecer para eles que, embora eles tenham vários direitos, eles têm seus deveres como cidadãos, como pais de famílias [...], de ressocialização; [...] o cuidado então tem que ser uma corrente, tem que trabalhar junto, onde direito de todos e deveres do Estado, mas [...] tem que ser todo mundo trabalhando junto para o bem comum na sociedade. Hoje em dia tem sofrido muito por questões de violência, na maioria das questões de violência tem as drogas envolvidas no meio, [...] envolver também educação, envolver trabalho, tem que envolver religião, tem que envolver família, as instituições sociais e lá no fundo a polícia a Justiça (CLOVER, 2016).

Opinou-se também que o aumento do número de ofertas de oficinas temáticas dentro do próprio CAPS AD deveria ser ofertado com maior variedade, para que as especificidades e o interesse dos usuários (as) pudessem ser contempladas. Para o entrevistado “Bobby, 2016”, “eu abriria mais opções para eles terem mais oportunidades, para aumentar a motivação, aumentar a oferta, as oficinas, para que não fique restrita” (BOBBY, 2016).

Em nível mais abrangente e global, questionou-se a operacionalização de algumas ações dentro da política de atenção integral a usuários de álcool e outras drogas, quanto à inserção dos usuários (as) em cursos, na tentativa de inseri-los no mercado de trabalho; para a entrevistada “Penélope, 2016” é necessário, antes de tudo, avaliar o contexto em que essa política vem sendo desenvolvida, a falta de investimentos do governo federal, tanto em âmbito dos investimentos nos serviços como na capacitação, aperfeiçoamento e remuneração dos profissionais, que acabam aquém das discussões.

Primeiro parar de achar que a condição da saúde mental ela pode ser desvencilhada dos outros aspectos da vida humana [...], encaminhando ele para o trabalho, mas sem discutir o sistema onde essas pessoas serão inseridas. É muito bom profissionalizar uma pessoa, encaminhar, fazer entender que ela precisa correr atrás da vida, do projeto de vida dela, e o governo que não dá chance para as pessoas ter um emprego, o governo que remunera e não reconhece [que] quem trabalha aqui se esforça honestamente, um governo que não dá oportunidade para quem estuda. Eu não consigo ver como vai dar certo uma política, por melhor que ela seja, tenha boas

intenções dentro de um sistema falido de governo que nós temos aqui no âmbito nacional; [...] acho que na maturação nas discussões na visão que precisa ser amadurecida dentro da sociedade, dentro dos profissionais da área de saúde, de como lidar com a saúde mental, eu acho que pode se avançar sim, [...] o avanço pode ser capacitação das pessoas, dos novos profissionais que estão saindo das faculdades, dos profissionais que estão chegando ao sistema; [...] o que eles vão poder fazer quando ele se deparam com dificuldades? [...] (PENÉLOPE, 2016).

O cuidado em saúde não se estabelece isoladamente, é interativo e participativo, o acolhimento dos sujeitos é uma parte desse processo, que envolve a escuta da demanda em saúde e abrange inevitavelmente seu sofrimento e história de vida, esse componente é capaz de reduzir os impactos do adoecimento. Os elementos que permeiam o trabalho no cotidiano necessitam de aprofundamento teórico-crítico/reflexivo, para só assim pensar ações mais efetivas que correspondam às demandas aderidas pelo CAPS AD.