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CAPÍTULO II À DESCOBERTA DO PROBLEMA

6. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

6.3. Atividades de Vida

As atividades de vida enquadram quer as atividades básicas quer as atividades instrumentais, tão importantes para a manutenção da independência da Pessoa, com relevância no papel que este ocupa na família e na sociedade, mas também na continuidade dos seus projetos de vida.

Avaliamos e analisámos o nível de funcionalidade no que se refere às atividades básicas de vida recorrendo ao Índice de Barthel, bem como a capacidade para as atividades instrumentais de vida, através da Escala de Atividades de Vida Instrumentais de Lawton.

Atividades Básicas da Vida Diária

O Índice de Barthel é um instrumento que incluiu dez (10) atividades que abrangem os cuidados pessoais, o controlo dos esfíncteres e a mobilidade, permitindo avaliar a funcionalidade de cada um dos participantes e situá-lo quanto ao seu grau de independência vs dependência e ainda, avaliar quais as atividades de vida que apresentavam maior grau de dificuldade na sua execução de modo a orientar para a intervenção individualizada, tendo-se constatado que a consistência interna global foi de 0,889.

A análise dos dados obtidos na 1ª avaliação do GE, permitem verificar que o grau de dependência para as atividades de vida se situava ao nível do grau I – Independente (66,7%) na sua maioria, sendo que 20 participante apresenta um valor total de 100, que é o valor máximo possível. Os restantes participantes situam-se no grau II – Pouco dependente (33,3%), com valores

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que se distribuem no intervalo entre 60 e 95 pontos. Relativamente ao GC verificamos que os participantes se situavam nos Graus de Independência I, II e III,

O quadro que se segue (quadro 11) permite verificar a distribuição dos valores encontrados, relativos às atividades básicas, no GE e no GC.

QUADRO 11- DISTRIBUIÇÃO DOS VALORES DAS ATIVIDADES BÁSICAS DE VIDA

Grupo Experiência Grupo Controlo

N % N % Alimentação Independente 29 96,7 28 93,3 Ajuda 1 3,3 2 6,7 Dependente Banho 0 0,0 0 0,0 Independente 22 73,3 12 60,0 Dependente Vestir 8 26,7 18 40,0 Independente 21 70,0 12 40,0 Ajuda 7 23,3 16 53,3 Dependente Higiene Pessoal 2 6,7 2 6,7 Independente 26 86,7 27 90,0 Dependente Defecação 4 13,3 3 30,0 Continente 30 100 29 96,7 Incontinente Ocasional 0 0,0 1 3,3 Incontinente Micção 0 0,0 0 0,0 Continente 30 100 27 90,0 Incontinente Ocasional 0 0,0 3 10,0 Incontinente Casa de Banho 0 0,0 0 0,0 Independente 27 90,0 16 53,4 Ajuda 3 10,0 13 43,3 Dependente 0 0,0 1 3,3 Mudança Cadeira/Cama Independente 24 80,0 17 56,7 Mínima Ajuda Grande Ajuda Dependente Deambulação Independente Ajuda Independente em cadeira de rodas Dependente Escadas Independente Ajuda Dependente 5 1 0 23 6 1 0 23 4 3 16,7 3,3 0,0 76,7 20,0 3,3 0,0 76,7 13,3 10,0 9 3 1 11 14 2 3 13 12 5 30,0 10,0 3,3 36,6 46,7 6,7 10,0 43,3 40,0 16,7

Embora se verifique um nível elevado de independência, no GE, era importante conhecer quais as atividades de vida em que os participantes, apresentavam menor funcionalidade.

Relativamente ao Banho, embora, a maioria (73,3%) se situe num nível de independência, verifica-se que 8 participantes (26,7%) são dependentes, pelo que está encontrada uma área de intervenção. Mas, é importante realçar que dos relatos dos participantes, mesmo aqueles que são independentes, referem algumas dificuldades, nomeadamente no que se refere à fadiga e aumento da

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dispneia, “… fico cansado a tomar banho” (vc4); “… tomar banho é a mulher que me ajuda” (vc7); “Tomar banho, falta – me o ar…. A água, gosto dela bem quente. A limpar-me também custa “ (vc9), pelo que esta intervenção terá que englobar todos os participantes, para se obter uma melhoria da performance na execução desta atividade.

A AVD – Vestir continua a apresentar um valor maioritário (70%) ao nível da independência, mas 9 dos participantes (30%) necessitam de ajuda ou são dependentes, nesta atividade. Importa referir que dos 70% que são independentes, muitos referem que demoram muito tempo a efetuar esta atividade ou que, “Enervo-me muito a vestir, tenho que pedir ajuda.” (vc22), ou ainda é

difícil vestir a parte inferior do corpo e calçar os sapatos. Por isso, consideramos que está identificada outra das atividades a intervir.

A Higiene Pessoal é outra das atividades onde se verifica que 4 participantes (13,3%) são dependentes, mas novamente temos relatos de participantes que permitem verificar que o barbear e pentear são atividades entre as outras que englobam a higiene pessoal, onde revelam maior dificuldade, tais como:“…fico cansado a fazer a barba, a tomar banho” (vc4) e “ fazer a barba é o meu filho que tem esse trabalho, eu não consigo …” (vc7)

Dado que através de estratégias simples, poderemos contribuir para uma maior facilidade de execução das tarefas de higiene pessoal, estas atividades serão trabalhadas no programa de intervenção.

O uso da Casa de Banho, também, representa para 3 participantes (10%) um problema, pois necessitam de ajuda.

Relativamente à Mudança da Cadeira/Cama e Mudança da Cama/Cadeira verificamos que 6 participantes (20%) necessitam de ajuda. No entanto, constatamos que na maioria dos outros participantes (80%), poderá ser incrementada uma melhoria de desempenho nesta atividade.

A Deambulação apresenta um número elevado (76,7%) de pessoas independentes, mas revelou-se como uma área onde a necessidade de intervenção seria muito pertinente, não só nos 23,3% dos participantes com necessidade de ajuda, mas na totalidade do grupo. Os relatos dos participantes revelam que embora sendo independentes, realizam esta atividade com alguma ou muita dificuldade, dependendo dos momentos, mais uma vez referindo que provocam dispneia e fadiga.

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O Subir e Descer Escadas, que apresenta valores de independência iguais à atividade anterior (76,7%) e valores de dependência de 10% e de necessidade de ajuda de 13,3%, também, se revelaram como uma área de intervenção de eleição, pelos motivos já referidos.

As AVD´s que implicam maior consumo energético são de maior grau de dificuldade para as pessoas com DPOC, por apresentarem uma limitação do fluxo de expiração, com redução da capacidade vital, onde a dispneia está presente, implicando uma dificuldade acrescida para as atividades de vida, mesmo que sejam independentes para a sua realização, como se pode constatar por alguns dos relatos que se seguem.

“ O que mais me custa é subir escadas e andar fora de casa. As coisas da casa, isso é a minha esposa que trata, nunca tratei, não sei fazer, por isso agora (pausa) também não vou fazer. Gosto muito de ir ao café, mas tem uma subida (pausa) custa”(vc1) “ Quando estou com falta de ar, custa andar, subir escadas nem se fala (pausa), sabe sou eu que cozinho, mas às vezes é difícil. A roupa quem lava é a empregada dos patrões” (vc2)

“ Não gosto nada desta coisa (referindo-se à oxigenoterapia), pois são muitas horas. Eu sei que preciso, pois fico cansado a fazer a barba, a tomar banho, a andar. Subir escadas nem se fala”(vc4)

“ Sabe Sr.ª Enfermeira o que mais me custa é não sair de casa, não ir ver os barcos à doca (pausa), até não é longe, mas tenho medo…. Trabalhar já não penso nisso, também já trabalhei muito, comecei muito cedo, mas… tenho saudades de ver os barcos” (vc8)

“ Já não saio vai com 3 anos… tantas escadas… estou triste, não posso fazer nada. Não ajudo em casa… o meu marido é que cozinha e trata de tudo. Esta falta de ar e este cansaço (pausa) são o pior. Só saio para ir para o hospital e é sempre de ambulância”. (vc15)

Quanto à funcionalidade para se alimentar a maioria dos participantes são independentes e apenas 1 participante necessita de ajuda.

Todos os participantes deste grupo têm controlo na atividade básica defeção e

micção, pelo que não necessitam de qualquer tipo de intervenção, uma vez que

não se constituem como qualquer problema.

Procederemos à análise dos dados do Grupo controlo, à semelhança do que fizemos para o Grupo experiência.

Neste grupo verificamos que em relação à Alimentação 28 (93,3%) participantes são independentes e 2 (6,7%) necessitam de ajuda. Relativamente ao Banho 12 (40%) eram independentes e 18 (60%) eram dependentes. Na atividade Vestir verifica-se que 12 (40%) são independentes, 16 (53,3%) necessitam de ajuda e 2 (6,7%) são dependentes. Na Higiene

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Pessoal 27 (90%) são independentes e 3 (10%) são dependentes, na atividade Defeção 29 (96,7%) são continentes e 1 (3,3%) é incontinente ocasional. Em

relação à Micção 27 (90%) são continentes e 3 (10%) apresentam incontinência ocasional. Quanto ao Uso da Casa de Banho 16 (53,3%) são independentes, 13 (43,4%) necessitam de ajuda e 1 (3,3%) é dependente. A Mudança

Cadeira/Cama é outra das atividades em que 17 (56,7%) são independentes, 9

(30%) necessitam de ajuda mínima, 3 (10%) grande ajuda e 1 (3,3%) é dependente. A Deambulação é uma atividade em que 11 (36,7%) dos participantes são independentes, 14 (46,6%) necessitam de ajuda e 2 (6,7%) e 3 (10%) são dependentes. Em relação ao Subir/Descer Escadas 13 (43,3%) são independentes, 12 (40%) necessitam de ajuda e 5 (16,7%) são dependentes.

Sendo o autocuidado mais do que um conjunto de capacidades aprendidas, este tem que ser entendido como um processo de capacitação conducente a um grau de funcionalidade eficaz. A Pessoa com DPOC e OLD, face à sua situação de cronicidade e às características da sua doença onde o grau de dependência tende a aumentar, pela incapacidade que se vai instalando devido ao agravamento da sua função pulmonar, deve ser orientada no sentido de manter ou recuperar o melhor nível de funcionalidade nas suas atividades básicas.

Ao analisarmos os valores totais do Índice de Barthel, verificamos que o GE apresenta um grau de independência de M = 95,67 e δ= 14,78. Embora este valor médio de funcionalidade seja elevado a realidade mostra que estas pessoas apresentam diminuição da sua funcionalidade na maioria das atividades, como constatamos quer pelos relatos dos participantes, quer pela perceção dos mesmos sobre a sua qualidade de vida, demonstrados pelos dados obtidos no SGRQ.

O GC a nível da independência para a realização das atividades básicas apresenta um valor médio total de M =83,33.

Estes dados vem confirmar que o GE apresenta um nível de autonomia superior ao GC, verificando-se diferenças significativas entre os dois grupos (t (58)=2, 703; p=0,009).

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Atividades Instrumentais

As atividades de vida instrumentais revestem-se de particular importância no quotidiano de cada pessoa, sendo que quando a capacidade para a sua realização é afetada, repercute-se na qualidade de vida, colocando em causa a independência da pessoa para se cuidar.

A DPOC é uma doença que devido ao seu percurso evolutivo, pode colocar em causa esta capacidade, sendo que a pessoa com necessidades acrescidas de terapêutica com OLD, vê esta situação agravada. Nesse sentido sentimos necessidade de conhecer a perceção dos participantes sobre a sua capacidade para a realização de atividades de vida instrumentais, para desta forma adequarmos a intervenção, face às necessidades emergentes.

Recorremos, à semelhança com o efetuado para as atividades básicas de vida, a dois grupos (experiência e controlo), tendo por base os mesmos pressupostos, i.e., adequar o PRR às necessidades reias de cada um dos participantes.

O quadro que se segue permite-nos verificar a existência de algumas diferenças na capacidade de realização das atividades instrumentais em apreciação.

Realçamos o facto de as atividades instrumentais que os participantes do estudo referem ter maior dificuldade em realizar e por isso necessitarem de ajuda ou serem incapazes de o fazer são as compras, as tarefas domésticas,

lavagem da roupa e uso de meio de transporte.

Onde revelam maior independência é na capacidade para usar o telefone, na preparação de refeições, responsabilidade em relação à medicação e na gestão dos assuntos económicos.

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QUADRO 12- DISTRIBUIÇÃO DOS VALORES DAS ATIVIDADES INSTRUMENTAIS DE VIDA

Grupo Experiência Grupo Controlo

N % N %

Capacidade para Usar o Telefone

Usa telefone por iniciativa própria 28 93,3 26 86,6 É capaz de anotar bem alguns números familiares 0 0,0 0 0,0 É capaz de atender uma chamada, mas não anotar

Não utiliza o telefone Compras 2 0 6,7 0,0 2 2 6,7 6,7 Realiza todas as compras necessárias independentemente 9 30,0 5 16,7

Realiza independentemente pequenas compras Necessita de ir acompanhado para realizar qualquer compra Totalmente incapaz de fazer compras Preparação das refeições

5 7 9 16,7 23,3 30,0 7 10 8 23,3 33,3 26,7

Organiza, prepara e serve, por si só, adequadamente 18 4 8 60,0 13,3 26,7 9 30,0

Prepara adequadamente as refeições, se lhe são oferecidos os ingredientes Necessita que lhe preparem e sirvam as refeições Tarefas Domésticas

3 18

10,0 60,0

Mantém a casa sozinho ou com ajuda ocasional 8 26,7 1 3,3 Realiza tarefas ligeiras, como lavar a louça ou fazer as camas

Realiza tarefas ligeiras, mas não pode manter um nível de limpeza adequado Necessita de ajuda nas tarefas domésticas Não participa em nenhuma tarefa doméstica Lavagem da Roupa 3 4 9 6 10,0 13,3 30,0 20,0 0 1 8 20 0,0 3,3 26,7 66,7

Lava toda a sua roupa 5 16,7 1 3,3

Lava apenas pequenas peças 6 20,0 8 26,7

A lavagem de toda a roupa está a cargo de outra pessoa Uso de Meio de Transporte

19 63,3 21 70,0

Viaja sozinho em transporte público ou em carro próprio 8 26,7 8 26,7 É capaz de pegar um táxi, mas não usa outro meio de transporte 4 13,3 1 3,3

Viaja em transporte público, quando acompanhado Utiliza táxi ou automóvel somente com ajuda de outros Não viaja de jeito nenhum Responsabilidade em Relação à sua Medicação

4 9 5 13,3 30,0 16,7 2 12 7 6,7 40,0 23,3

É capaz de tomar a medicação na hora e doses corretas Toma a medicação se lhe prepararem as doses previamente Não é capaz de tomar a medicação

25 5 0 83,3 16,7 0,0 24 4 2 80,0 13,3 6,7 Gestão dos seus Assuntos Económicos

Toma a seu cargo os seus assuntos económicos 22 73,4 15 50,0 Realiza as compras de cada dia, mas necessita de ajuda nas compras

grandes Incapaz de lidar com o dinheiro

4 4 13,3 13,3 11 4 36,7 13,3

Voltamos a constatar a necessidade de intervenção no sentido de aumentar a capacidade das pessoas, para a realização das atividades instrumentais. Estes dados vem reforçar que a qualidade de vida destas pessoas está em causa, tornando-os dependentes de outros, limitando-os na sua capacidade de autonomia. Verificamos que a consistência interna global da escala foi de 0,823 e que entre os grupos não se verificam diferenças significativas (t(58)=1,713; p= 0,092).

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