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CAPÍTULO II À DESCOBERTA DO PROBLEMA

6. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

6.1. Narrativas Experienciais

Dar voz à Pessoa e à sua família é um imperativo da nossa profissão, pautada pelo respeito ao outro e pela ajuda na manutenção da sua dignidade, sendo de primordial importância, quando se está perante uma pessoa com doença crónica, dado que esta interfere fortemente na sua autonomia.

Da análise das narrativas dos participantes no GE, utilizando os procedimentos já referidos, delimitou-se a área temática Perceção dos

Participantes na Fase Inicial da Intervenção de Enfermagem de Reabilitação,

onde emergiram 4 categorias, todas elas com subcategorias, que apresentamos, na figura 8. Podemos constatar que relativamente a esta área temática, foram identificadas 4 categorias- Impacto a nível Sintomático, Impacto a nível das Atividades de Vida, Impactos Psicossociais e Impacto das Medidas Terapêuticas.

Realçamos o facto de as referências encontradas nos testemunhos dos participantes irem de encontro às áreas que são consideradas críticas nas pessoas com este tipo de patologia, nomeadamente os sintomas, as atividades de vida e as interferências psicossociais. Mas, salientamos o facto dos

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participantes, também, se referirem com frequência ao tratamento com OLD e à RR.

FIGURA 8- PERCEÇÃO DOS PARTICIPANTES NA FASE INICIAL DA INTERVENÇÃO DE ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

Relativamente a esta área temática - Perceção dos Participantes na Fase Inicial

da Intervenção de Enfermagem de Reabilitação passamos a apresentar o

quadro síntese que se segue, dando exemplos das unidades de análise encontradas, fazendo referência ao número de Participantes (nP) e número de unidades de registo (nu), sendo que o quadro com a codificação global se encontra em anexo (apêndice 3).

Perceção dos Participantes na F. Inicial da Intervenção em Enfermagem de Reabilitação

Impacto a nível das Atividades de Vida

Subir

Escadas Andar

Arranjo

Pessoal Banho

Vestir Arranjo da Casa

Cozinhar

Impactos Psicossociais

Comunicação Medo

Saudade Tristeza

Sono Convívio social Incapacidade

Incapacidade Ativ.

Religiosas Estética

Impacto das Medidas Terapêuticas

Tratamento

com OLD Aceitaçãoda RR Impacto a Nivel Sintomático

Dispneia Tosse

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QUADRO 6- PERCEÇÃO DOS PARTICIPANTES NA FASE INICIAL DA INTERVENÇÃO DE ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO - SÍNTESE

Categorias Subcategorias nP nu Unidades de Análise

Impa c to a n ív e l S in to tic o Dispneia 10 10

VC1 “ O pior é esta falta de ar …”

VC19 “ … mas esta falta de ar, às vezes é assustadora. “

Tosse 6 6

VC5 “ Tosse só às vezes, mas quando tenho custa muito a sair” VC16 “ Tossir é o mais difícil”

Expetoração 1 1 VC23 “ Tenho muita expetoração, estou sempre com isto, às vezes custa a

sair”

Cansaço 3 3 VC24“Estou habituado a respirar muito depressa, fico cansado”

VC14 “Há dias que estou cansado”

Impa c to a n ív e l da s A tiv ida de s de V ida

Subir Escadas 12 12 VC13 “ … subir escadas até tenho medo… tenho medo que me falte o ar”

VC23 “Já não desço aquelas escadas há uns anos, só de maca.”

Andar 10 10 VC1 “ O que mais me custa é … andar fora de casa”.

VC6 “Andar cansa, …”

Arranjo Pessoal 3 3 VC4 “…fico cansado a fazer a barba, a tomar banho”

VC23 “ Estou para aqui… tenho que ter ajuda em tudo, …, barbear-me (pausa) em tudo…”

Banho 5 5 VC4 “… fico cansado a tomar banho”

VC9 – “Tomar banho, falta-me o ar…. A água, gosto dela bem quente. A limpar-me também custa “

Vestir 1 1 VC22 “Enervo-me muito a vestir, tenho que pedir ajuda.”

Arranjo da Casa 9 10 VC3” … fazer a lide da casa custa.”

VC15 “Não ajudo em casa… o meu marido é que trata de tudo”

Cozinhar 2 2 VC2 “ Quando estou com falta de ar, sabe sou eu que cozinho, mas às

vezes é difícil. “ Impa c tos P sic oss oc ia is

Comunicação 3 3 VC3 “ A falar tenho muita falta de ar, canso-me”

VC30 “ … gostava muito de poder ir … de conversar com os meus amigos.”

Medo 5 5 VC8 “ O que mais me custa é não sair de casa, …, mas tenho medo …”

CV18 “ Estou assim há muitos anos, … mas quando estas crises aparecem, fico muito aflita”

Saudade 2 2 VC8 “…Tenho saudades de ver os barcos”

Tristeza 3 4 VC20 “… trabalhei muito, no mar, é triste, já não sirvo para nada.”

VC29 “… Isto é uma tristeza….”

Sono 1 1 VC17 “… mas isto (oxigenoterapia), até me tira o sono, não consigo dormir,

este barulho … vamos ver se me pode ajudar. “ Incapacidade

para o Convívio

Social 9 9

VC1”Gosto muito de ir ao café, mas tem uma subida (pausa) custa” VC20 “ Não saio de casa há 4 anos. Estou sempre com isto (O2). Incapacidade

Participar Ativ. Religiosas

3 3

VC11“ Gosto muito de ir à missa… mas tenho medo por causa da falta de ar”

VC29 “ Tenho saudades de ir ao …. (pausa), até de ir à missa.”

Estética 2 2 VC17 “ Nem ao cabeleireiro vou, tenho medo…”

Im pa c to M e dida s T e ra u tic a Tratamento com OLD 5 5

VC4 “… não gosto nada desta coisa (referindo-se à oxigenoterapia), pois são muitas horas. Eu sei que preciso, mas … (pausa) ”

VC6 “Só queria deixar isto (referindo-se à oxigenoterapia) “ Aceitação da

RR 2 2

VC28 “ Se isso for para melhorar (pausa), para passar melhor, então está bem.”

Relativamente ao impacto a nível sintomático foram identificadas 4 subcategorias, que realçam os sintomas mais frequentes neste tipo de patologia - dispneia, tosse, expetoração e cansaço, sendo concordantes com o quadro descrito para esta situação. Importa realçar que a dispneia é o sintoma mais referenciado pelos participantes (10) e que a expetoração o menos referenciado (1).

Quanto ao impacto da doença a nível das atividades de vida verificamos que ele se situa quer a nível das atividades básicas, quer instrumentais. Em relação às atividades básicas foram encontradas 5 subcategorias- subir

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escadas e andar com o maior número de referências (12 e 10 respetivamente),

demonstrando que a funcionalidade da pessoa é colocada em causa. Seguida da autonomia para o banho (5), o arranjo pessoal (3) e o vestir (1). As atividades instrumentais referidas foram o arranjo da casa (10) e cozinhar (2).

Foram encontradas 8 subcategorias relativamente aos impactos psicossociais – comunicação (3), medo (5), saudade (2), tristeza (4), sono (1), incapacidade para o convívio social (9), incapacidade para participar em atividades religiosas (3) e estética (2), revelando a perceção que as pessoas têm sobre o forte impacto da doença neste domínio que englobam as emoções onde o medo é o mais referenciado, seguido da tristeza e da saudade. A incapacidade para o convívio social e diminuição da capacidade para comunicar demonstram a interferência desta doença na interação com os outros. Também, a dificuldade em participar em atividades religiosas constitui fonte de sofrimento para estas pessoas. Salientamos, ainda, uma referência relacionada com a perturbação do sono, associado pelo doente à necessidade de oxigenoterapia e ainda, a repercussão da doença no sentido estético da pessoa.

No que se refere ao impacto das medidas terapêuticas emergiram 2 subcategorias – tratamento com OLD (5), onde está patente o impacto negativo que esta medida terapêutica tem nas pessoas, pois é associada a perda de autonomia e agravamento da doença e a aceitação da reabilitação respiratória (2), que traduz a esperança de que embora doente algo pode ser melhorado.

Importa realçar que normalmente as limitações percecionadas são associadas à dispneia e à utilização da medida terapêutica, oxigenoterapia, como referido pelos participantes. A dispneia de esforço é um sintoma identificado como muito evidente nesta patologia, principalmente nos estádios III e IV, onde os participantes deste estudo se situam e interfere fortemente na qualidade de vida, pois põe em causa a capacidade funcional e a tolerância à atividade, colocando-o dependente de outro. A oxigenoterapia de longa duração, que implica pelo menos a sua utilização por um período de 15h/dia, embora com efeitos benéficos conhecidos, é também algo que condiciona a ação da pessoa, gera ansiedade e medo, como referem os participantes, constituindo-se por vezes como um estigma que a pessoa suporta, que a torna infeliz, pois é vista como um sinal de agravamento da sua patologia com consequências na sua independência/autonomia.

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A perceção de cada um dos participantes sobre a sua qualidade de vida é salientada por estes dados que emergem das narrativas.

Na descrição dos resultados seguintes, e sempre que se justifique, serão adicionados os relatos ilustrativos dos discursos dos participantes aqui sintetizados.