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PARTE I DA ABORDAGEM CLÍNICA DA PESSOA COM DPOC E OLD ÀS ESTRATÉGIAS DE

4. O AUTO – CUIDADO NO ÂMBITO DA PESSOA COM DPOC E OLD

A Associação Americana de Enfermagem (1980) definiu a enfermagem como uma ciência que se debruça sobre o diagnóstico e tratamento das respostas humanas aos problemas reais ou potenciais de saúde. Historicamente, o termo enfermagem significa essencialmente cuidar, conforme refere Watson

Enfermagem e cuidados de saúde de qualidade, exigem hoje em dia

um respeito humanista pela unidade funcional do ser humano (…). O processo de cuidar indivíduos, famílias e grupos, é um enfoque importante para a

enfermagem, não apenas devido às transações dinâmicas de humano-para-

humano, mas devido aos conhecimentos requeridos, empenhamento, valores humanos, compromisso pessoal, social e moral do enfermeiro no tempo e no

espaço (2002, p.52).

Efetivamente, quando abordamos um problema como o da doença crónica que se instala na pessoa, ele vai afetar também, a sua família, pelo que a nossa intervenção não se pode limitar à pessoa. A família é primordial para ultrapassar a crise instalada e merece do(a) enfermeiro(a) a mesma atenção que a próprio pessoa. Também, Meleis (1987) refere que a interação é um aspeto central em enfermagem, pois cuidar só é uma realidade tendo por base uma relação enfermeiro(a)/pessoa/família e que esta interação assenta numa relação, onde os valores humanistas obrigatoriamente estão presentes, para que em qualquer contexto e independentemente da diversidade de situações, se desenvolvam os cuidados de enfermagem.

Cuidar com qualidade só é possível em parceria com a pessoa e a família. Este é um conceito relevante em todo o processo do cuidar, mas adquire especial importância quando estamos a cuidar de pessoas com alterações crónicas respiratórias, tendo sempre presente que esta é uma pessoa autónoma, com capacidade de decisão e com potencial para a resolução de problemas, e que o papel dos(as) enfermeiros(as) reabilitadores(as), é ser parceiros neste percurso, é estar “com” e ser facilitador da utilização dos recursos que a própria pessoa possui. É evidente, que nos casos de exceção, o nosso papel pode ter que se

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situar na substituição de forma mais ou menos temporária. Assim, é função primordial do enfermeiro(a), neste processo de cuidar/curar ajudar o indivíduo a prevenir, aliviar, resolver ou lidar de forma positiva com os problemas, quer estes sejam reais ou potenciais.

Meleis (2005) diz-nos que a enfermagem, pode ser definida como uma disciplina, pois tem uma forma distinta de olhar os fenómenos e que as teorias de enfermagem permitem desenvolver e explicar os fenómenos centrais, que constituem a essência do conhecimento. Nesse sentido, a nossa opção centra- se na Teoria do Défice do Auto - Cuidado (Orem), por considerarmos que nos orienta para um atendimento personalizado e de qualidade a este tipo de pessoas/famílias.

O autocuidado é uma “atividade executada pelo próprio com as características específicas: tratar do que é necessário para se manter, manter-se operacional e lidar com as necessidades individuais básicas e íntimas e as atividades de vida diária” (CIE, 2007, p.46), que pode estar altamente afetado na pessoa com DPOC, pelo que consideramos importante ter como referência esta teoria para o desenvolvimento do nosso trabalho.

A teoria do défice de autocuidado é considerada por Orem (Taylor in: Tomey e Alligood, 2002) como uma teoria geral que é composta por três teorias relacionadas (figura 4).

FIGURA 4- TEORIA GERAL DO AUTOCUIDADO DE OREM

TEORIA DO AUTOCUIDADO

Descreve o como e proquê as pessoas cuidam de si

TEORIA DO DÉFICE DE AUTOCUIDADO

Descreve e explica porque razão as pessoas podem ser ajudadas através da enfermagem

TEORIA DOS SISTEMAS DE ENFERMAGEM Descreve e explica as relações que têm de ser criadas e mantidas para que se produza enfermagem

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Esta teórica considera o autocuidado como a prática de atividades que favorecem o desenvolvimento e amadurecimento da pessoa e que estas desempenham em seu benefício próprio, com o intuito de preservar a vida com um funcionamento saudável, dando continuidade ao desenvolvimento e bem – estar pessoal.

Na teoria de Orem a normalidade é definida como o que é essencialmente humano e o que está de acordo com as características genéticas e constitucionais e os talentos dos indivíduos. Nesta teoria são definidos requisitos de desvio de saúde do autocuidado, para as pessoas doentes ou que apresentam alguma lesão ou desordem patológica específica, incluindo defeitos ou incapacidades e que são submetidas a tratamentos.

A doença ou lesão afeta quer as estruturas físicas quer psicológicas e ainda, o funcionamento integrado do ser humano na sociedade. Este desvio de saúde, enquanto situação que se prolonga no tempo, vai determinar as necessidades de cuidados.

É nesse tempo que acompanha todo o percurso de vida da pessoa com DPOC, após instalação dos processos patológicos que determinam a doença, que vão afetar as estruturas físicas e psicológicas, mas também, as estruturas sociais e espirituais, que surge a necessidade de cuidados em grau variado, conforme o estadio da doença e a forma de reação da pessoa à mesma. Nestas pessoas, os desvios do autocuidado surgem em consequência quer da doença (ex. dispneia, hipoxia), quer dos tratamentos, como por exemplo a OLD. As consequências da doença e dos tratamentos, nas pessoas com estadios graves ou muito graves, obriga a longos períodos de imobilidade e interferem fortemente na sua capacidade para o autocuidado.

Para dar resposta à teoria do défice de autocuidado, Orem orienta – nos para a teoria dos Sistemas de Enfermagem, que tem por base a enfermagem centrada na ação humana, onde são exercidas atividades de enfermagem direcionadas para as pessoas com limitações no autocuidado ou cuidar dependente, derivadas ou associadas à saúde. Estas ações podem integrar-se num sistema totalmente compensatório, parcialmente compensatório ou de apoio-educação, conforme as limitações expressas e as necessidades de cuidado identificadas.

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A teoria do défice de autocuidado é frequentemente aplicada na enfermagem de reabilitação, pois os enfermeiros reconhecem que os múltiplos níveis de capacidade de autocuidado, concebidos por Orem, são de grande utilidade para um processo de reabilitação eficaz.

Knust e Quarn (1983 in. Hoeman, 2000, p.7) referem que

a chave da utilização da teoria de autocuidado, na enfermagem de

reabilitação, está numa avaliação criteriosa de cada categoria do

autocuidado (desvio universal de desenvolvimento e face à saúde). As

relações entre áreas de avaliação demonstram a unicidade da pessoa e, em última análise, intervenções diretas, de carácter holístico.

De facto, a aplicação desta teoria na enfermagem de reabilitação e especificamente neste tipo de pessoas, parece fazer todo o sentido, uma vez que simultaneamente e em complementaridade os três sistemas podem ser aplicados, por serem sistemas dinâmicos, o que se torna coerente com o processo de reabilitação, caraterizado por ser um processo ativo de gestão de obstáculos, potenciadores de gerarem desvantagens. Esta teoria parece ser, ainda, útil para se aplicar em contextos comunitários, pois pode permitir a avaliação da capacidade de viver com independência.

Sendo o autocuidado uma atividade executada pelo próprio, as alterações nos percursos de vida provocadas pela doença, interfere com a capacidade para se autocuidar, levando à dependência. A pessoa com DPOC, que se confronta com alterações fisiológicas, nomeadamente perda de capacidade para efetuar uma limpeza eficaz das vias aéreas, que apresenta uma diminuição da capacidade ventilatória e consequente ineficácia nas trocas gasosas, vai confrontar-se com um quadro de dispneia, fadiga e perda de capacidade de resistência ao esforço e de endurance muscular.

Este quadro é facilitador da criação de condições para a instalação da dependência na realização das atividades de vida, muito evidenciado na capacidade para o autocuidado, tornando-o dependente de outros.

Assim, o(a) enfermeiro(a) de reabilitação deve intervir nesta área, através de cuidados de enfermagem, no sentido de aumentar a capacidade funcional e

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maximizar as potencialidades existentes, através da recuperação da força muscular, da resistência ao esforço, mas também, de capacitar a pessoa com recursos que lhe permitam fazer face a esta situação, Pamplona e Morais (2007, p.102) realçam que “ A reabilitação respiratória beneficia todos as pessoas com doença respiratória que tem o seu dia-a-dia afetado pela dispneia crónica, a grande maioria dessas pessoas têm doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) …”.

Esta pessoa vai perdendo capacidade para cuidar da sua higiene pessoal, para tomar banho, para se vestir, para se arranjar, para usar o sanitário e ainda, para participar no arranjo da casa, entre outras. É sobre esta perda de capacidade que devemos direcionar a nossa intervenção junto destas pessoas, tendo sempre presente a adequação a cada caso.

Esta patologia que se manifesta na fase adulta, vai encontrar cada indivíduo numa fase do seu ciclo vital em que a autonomia para o autocuidado é uma realidade e que representa no seu percurso de vida, algo importante, que lhe permite percorrer o seu caminho de uma forma independente e desenvolver o seu projeto de vida. A transição de saúde-doença estabelece-se perante a mudança de uma condição saudável para uma condição de doença, na qual o indivíduo se depara com alterações abruptas que provocam sentimentos de inadequação perante a nova situação (Meleis et al., 2005) e necessariamente vai passar por modificações e adaptações que irão ser influenciadas por diversos fatores.

Mas, é de extrema importância realçar que se o alcançar desta independência foi um percurso natural ao longo do seu ciclo vital, a perda ou diminuição da mesma, não deve ser entendida como perda da dignidade. O papel do(a) enfermeiro(a) é primordial para com este indivíduo e sua família, procurando encontrar percursos alternativos que mantenham a dignidade da pessoa, pois deve ser uma prioridade a preparação dos mesmos para a transição eminente e devem-se constituir como facilitadores no processo de aprendizagem de novas competências relacionadas com as experiências de saúde e doença (Meleis et al., 2005).

É importante que cada indivíduo perceba que a forma como cada um entende a doença e passa pelo processo de aceitação da mesma, é um processo flutuante, mas que deve ser visto por todos com a máxima dignidade.

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Aliviar ou resolver problemas, prevenir o seu reaparecimento e lidar de forma positiva com os mesmos é o objetivo principal da intervenção do(a) enfermeiro(a). É importante que a adoção, de um conjunto de medidas terapêuticas específicas de RR sejam implementadas e se constituam como uma ajuda essencial para as pessoas com DPOC submetidas a OLD, minimizando os efeitos dos problemas reais, mas que também contribuam preventivamente para que potenciais problemas não evoluam para situações reais.

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PARTE II - A PESSOA COM DPOC E OXIGENOTERAPIA DE LONGA DURAÇÃO - UM